domingo, 30 de novembro de 2014

Versos do Bhagavad Gita.

"Conhece a Paz quem esqueceu o desejo de sentir prazer. Eu ofereço minhas respeitosas reverencias ao Senhor Krishna, o Mestre Universal, que é filho de Vasudeva; o removedor de todos os obstáculos; a Suprema Bem aventurança de sua mãe Devaki, e cuja graça faz o mudo falar, e o aleijado cruzar as montanhas.

O rei inquiriu: Sanjaya, por favor, agora diga-me, em detalhes, o que fizeram os meus (os Kauravas) e os Pandavas no campo de batalha antes da guerra começar?

Sanjaya disse: O Senhor Krishna falou as seguintes palavras para o abatido Arjuna, cujos olhos estavam lacrimosos, e que estava sob a compaixão e o desespero.

O Senhor Krishna disse: dizendo sábias palavras, Seu lamento por aqueles não merece o seu pesar. O sábio nunca se lamenta nem pelos vivos e nem pelos mortos.

Da mesma forma que a alma adquire um corpo na infância, um corpo na juventude, e um corpo na velhice, durante a sua vida, similarmente, a alma adquire outro corpo após a morte. Isso não deveria iludir um sábio.

O verdadeiro Ser vive sempre. Assim como a alma incorporada experimenta infância, maturidade e velhice dentro do mesmo corpo, assim passa também de corpo a corpo, sabem os iluminados e não se entristecem.

Quando os sentidos estão identificados com objetos sensórios, experimentam sensações de calor e de frio, de prazer e de sofrimento, estas coisas vêm e vão; são temporárias por sua própria natureza. Suporta-as com paciência!

Mas quem permanece sereno e imperturbável no meio de prazer e sofrimento, somente esse é que atinge imortalidade.

Compreende como certo, que indestrutível é aquilo que permeia o Universo todo; ninguém pode destruir o que é imperecível, a Realidade.

Perecíveis são os corpos, esses templos do espírito, eterna, indestrutível, infinita é a alma que neles habita. Quem pensa que é a alma, o Eu, que mata, ou o Eu que morre, não conhece a Verdade. O Eu não pode matar nem morrer.

O Eu nunca nasceu nem jamais morrerá. E uma vez que existe, nunca deixará de existir. Sem nascimento, sem morte, imutável, eterno, sempre ele mesmo é o Eu, a alma. Não é destruído com a destruição do corpo (material).

Quem sabe que a alma de tudo é indestrutível e eterna, sem nascimento nem morte, sabe que a essência não pode morrer, ainda que as formas pereçam. Assim como uma pessoa coloca uma nova roupa após desfazer-se das velhas, similarmente, a entidade viva, ou a alma individual, adquire um novo corpo após jogar fora o velho corpo.

Armas não ferem o Eu, fogo não queima, águas não molham, ventos não o ressecam. O Eu não pode ser ferido nem queimado; não pode ser molhado nem ressecado, ele é imortal; não se move nem é movido, e permeia todas as coisas, o Eu é eterno.

Inevitável é a morte para os que nascem; todo o morrer é um nascer, pelo que, não deves entristecer-te por causa do inevitável. Engaje-se da mesma forma, no manejo da luta, no prazer ou na dor, ganho ou perda, vitória e derrota, no seu dever. Por fazer sua obrigação deste jeito você não irá incorrer em pecado.

Você tem o controle sobre os feitos apenas da sua responsabilidade, mas não controle ou reclamação sobre os resultados. Os frutos do trabalho não devem ser seu motivo, e você nunca deverá ser inativo.

Um Karmayogi, ou uma pessoa desapegada, torna-se livre tanto da virtude como do vício em sua vida. Portanto, esforce-se por serviço desapegado. Trabalhar o melhor das suas habilidades, sem apegar-se egoisticamente pelos frutos do trabalho, chama-se Karmayoga ou Seva.

A mente, quando controlada pelo vaguear dos sentidos, rouba o intelecto, do mesmo modo que uma tempestade desvia um barco no mar do seu destino, a praia espiritual da paz e da felicidade. As forças da natureza fazem todo o trabalho, mas devido a ilusão uma pessoa ignorante supõem-se a si mesma como executora.

Assim, conhecendo o Ser como o mais alto, e controlando a mente pela inteligência, que é purificada pela prática espiritual, deve-se matar este poderoso inimigo, luxúria, Ó Arjuna, com a espada do conhecimento verdadeiro do Ser.

Toda a vez que há um declínio do Dharma (reto agir; Justiça) e a predominância de Adharma (injustiça), Ó Arjuna, Eu Me manifesto. Eu apareço de tempos em tempos para proteger os bons, para mudar os malvados, e restabelecer a ordem no mundo (Dharma).

Eu criei as quatro divisões da sociedade humana baseado na aptidão e na vocação. De qualquer forma, Eu sou o autor deste sistema de divisão do trabalho; deve-se saber que Eu não faço nada diretamente, e que Eu sou eterno.

Aquele que vê a inação na ação e a ação na inação, é uma pessoa sábia. Tal pessoa é um yogue e possui tudo por completo. O divino espírito é a causa transformadora de tudo. A Divindade (Brahman, o Ser, o Espírito) será realizada por aqueles que consideram tudo como uma manifestação (ou um ato) do Divino.

Verdadeiramente, não há nada mais puro neste mundo do que o conhecimento do Ser Supremo. Aquele que descobre este conhecimento interiormente, de forma natural, no curso do tempo, quando suas mentes estão limpas e livres do egoísmo pelo Karma Yoga.

Mas a verdadeira renúncia (a renúncia da possessão e do fazer com vistas aos resultados), Ó Arjuna, é difícil de alcançar sem o Karmayoga. Um sábio equipado com o karmayoga, rapidamente alcança o Nirvana.

Aquele que faz todo o trabalho como uma oferenda para Deus, abandonando o apego egoísta aos resultados, fica intocado pelas reações kármicas, ou pecados, exatamente como uma flor de lótus jamais é molhada pela água.

Aquele que Me vê em Tudo, e vê tudo em Mim, não se desliga de Mim, e Eu não me desligo dele. Quatro tipo de pessoas virtuosas adoram-Me ou Me procuram, Ó Arjuna; são elas: o aflito; o que busca por auto conhecimento; o que procura riqueza, e o iluminado que experimentou o Ser Supremo.

Após muitos nascimentos o devoto esclarecido recorre a Mim, entendendo que todas as coisas são, na realidade, Minha manifestação. Semelhante alma é muito rara.

O ignorante, incapaz de entender Minha forma imutável, incomparável, incompreensível e transcendental, supõe que Eu, o Ser Supremo, Sou sem forma, e pego uma forma ou encarnação. Portanto, sempre lembre-se de Mim, e faça a suas obrigações. Com certeza, você irá alcançar-Me, se a sua mente, e o seu intelecto, estiverem sempre focados em Mim.

O que é noite para todos os seres é dia para o iogue disciplinado, pois ele é aquele que possui a visão da alma (apavarga); quando todos os seres estão ativamente envolvidos nos prazeres mundanos (bhoga), o iogue considera como noite e se mantém longe dos pensamentos mundanos.

Assim como a água flui para o oceano, e ainda assim o nível do oceano não muda e nem oscila, da mesma forma, aquele que tem a inteligência firme, não é ameaçado pelos prazeres, e atinge a liberação.

Aquele que renuncia aos desejos e se mantém distante do apego, atinge a liberdade e a beatitude (kaivalya). Aquele que é livre de ilusões e se mantém em contato com a consciência divina, até no momento de sua morte, alcança kaivalya e o Senhor Supremo.

Eu sou facilmente alcançado, Ó Arjuna, por aquele que é sempre leal, devotado, e que sempre pensa em Mim, e cuja mente não vai para outro lugar. Eu, pessoalmente, tomo conta tanto do bem estar material como do espiritual dos devotos sempre leais, que sempre se lembram e Me adoram com contemplação sincera.

Ofereça-Me uma folha, uma flor, um fruto ou água com devoção, Eu aceitarei e provarei a oferenda da devoção pelo coração puro.

Pense sempre em Mim; seja devotado a Mim; adore-Me, e faça reverências para Mim. Assim, unindo o seu ser Comigo, colocando-Me como meta suprema e único refúgio, você certamente chegará até a Mim. Eu sou a origem de tudo. Tudo emana de Mim. O sábio que entende isto, Me adora com amor e devoção.

Aquele que dedica todos seus trabalhos para Mim, e para quem Eu sou a meta suprema; que é meu devoto; que não possui apegos ou desejos egoístas; que está livre da maldade para com todas as criaturas, alcança-me, Ó Arjuna.

Portanto, focalize a sua mente em Mim e deixe a sua inteligência residir apenas em Mim, através da meditação e da contemplação. Desde então, você certamente Me alcançará. Aquele que vê o mesmo e eterno Senhor Supremo, residindo como Espírito, igualmente em todos os seres mortais, de fato vê.

Aquele que serve a Mim com amor, e com devoção inabaláveis, transcende os três modos da natureza material e adequa-se ao Nirvana.  Eu estou sentado na psique interior de todos os seres. Memória, auto conhecimento, remoção das dúvidas, e das falsas noções sobre Deus, vêm de Mim. Eu sou, na verdade, o que é para ser conhecido pelo estudo de todos os Vedas. Eu sou, realmente, o autor bem como o estudante dos Vedas.

Luxúria, ira e avareza são os três portões do inferno, que conduzem o indivíduo para a queda (ou cativeiro). Então, aprenda como abandoná-los. O discurso que não é ofensivo, verdadeiro, agradável, benéfico, e é usado para a leitura regular em voz alta das escrituras é chamado de austeridade da palavra.

Pela devoção uma pessoa entende, verdadeiramente, o que, e quem, Eu sou em essência. Tendo Me conhecido em essência, imediatamente, a pessoa liga-se a Mim. O Senhor Supremo, como o controlador habitante na psique interior de todos os seres, motiva-os para trabalhar nos seus Karmas, como um fantoche (do karma criado pelo livre arbítrio), montados numa máquina.

Ponha de lado todas os feitos meritórios e rituais religiosos, e simplesmente renda-se por completo a Mim, com fé firme, amor e devoção. Eu irei libertar você de todos os pecados, as amarrados do Karma. Não sofra.

Aquele que propagar esta filosofia secreta, o transcendental conhecimento do Gita, entre Meus devotos, realizará o mais elevado serviço devocional para Mim, e certamente virá até a Mim, e não haverá ninguém sobre a Terra que seja mais querido por Mim.

Em todo o lugar que estejam, tanto Krishna, o Senhor do Yoga (ou Dharma na forma das Escrituras), e Arjuna, com o arco da obrigação, e proteção, ali haverá prosperidade, vitória, felicidade e moralidade. Esta é a Minha convicção". Que o Senhor abençoe a todos com Bondade, Prosperidade e Paz. Cortesia de www.deldebbio.com.br. Abraço. Davi.

sábado, 29 de novembro de 2014

Pra Sonhar.

Quando te vi passar fiquei paralisado
Tremi até o chão como um terremoto no Japão
Um vento, um tufão
Uma batedeira sem botão
Foi assim, viu
Me vi na sua mão

Perdi a hora de voltar para o trabalho
Voltei pra casa e disse adeus pra tudo que eu conquistei
Mil coisas eu deixei
Só pra te falar
Largo tudo

Se a gente se casar domingo
Na praia, no sol, no mar
Ou num navio a navegar
Num avião a decolar
Indo sem data pra voltar
Toda de branco no altar

Quem vai sorrir?
Quem vai chorar?
Ave Maria, sei que há
Uma história pra sonhar
Pra sonhar

O que era sonho se tornou realidade
De pouco em pouco a gente foi erguendo o nosso próprio trem
Nossa Jerusalém
Nosso mundo, nosso carrossel
Vai e vem vai
E não para nunca mais

De tanto não parar a gente chegou lá
Do outro lado da montanha onde tudo começou
Quando sua voz falou
Pra onde você quiser eu vou
Largo tudo

Se a gente se casar domingo
Na praia, no sol, no mar
Ou num navio a navegar
Num avião a decolar
Indo sem data pra voltar
Toda de branco no altar

Quem vai sorrir?
Quem vai chorar?
Ave Maria, sei que há
Uma história pra contar

Domingo
Na praia, no sol, no mar
Ou num navio a navegar
Num avião a decolar
Indo sem data pra voltar
Toda de branco no altar

Quem vai sorrir?
Quem vai chorar?
Ave Maria, sei que há
Uma história pra contar
Pra contar

Compositor Brasileiro Marcelo Jeneci (1982-    )

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Provérbios. Parte V.

"Filho, preste atenção no que eu digo com a minha Sabedoria e compreensão.

Então você saberá como se comportar, e as suas palavras mostrarão que você tem conhecimento das coisas.

Os lábios da mulher imoral podem ser tão doces como o mel, e os seus beijos, tão suaves como o azeite; porém, quando tudo termina, o que resta é amargura e sofrimento.

Ela está descendo para o mundo dos mortos; a estrada em que ela anda é o caminho da morte. Essa mulher não anda na estrada da vida; ela caminha sem rumo, mas não sabe disso.

Agora escute, meu filho, e não esqueça o que eu estou dizendo! Afaste-se desse tipo de mulher. Não chegue nem perto da porta da sua casa.

Se não, outros passarão a ter o bom nome que você tinha antes, e você morrerá ainda moço, nas mãos de homens cruéis.

Sim, pessoas estranhas tomarão toda a sua riqueza, e o que você ganhou com o seu trabalho acabará nas mãos dos outros.

Você ficará gemendo no seu leito de morte enquanto todo o seu corpo vai sendo destruído pouco a pouco.

Então você dirá: Como eu tinha raiva de conselhos! Nunca aceitei conselhos de ninguém. Não ouvi os meus mestres, nem dei atenção a eles; e quase cai na desgraça diante de todos.

Seja fiel à sua mulher e dê o seu amor somente a ela. Os filhos que você tiver com outras mulheres não lhe farão nenhum bem. Os seus filhos devem crescer para ajudar você e não para ajudar os outros.

Portanto, alegre-se com a sua mulher, seja feliz com a moça com quem você casou; amorosa como uma corça, graciosa como uma cabra selvagem.

Que ela cerque você com seu amor, e que os seus encantos sempre o façam feliz!

Filho, por que dar o seu amor a uma mulher imoral? Por que preferir os encantos da mulher de outro homem?

Deus sabe onde você anda e vê tudo o que você faz. As injustiças que um homem mau comete são uma armadilha, ele é apanhado na rede do seu próprio pecado.

Morre porque não se controla; a sua grande loucura o levará a cova". Abraço. Davi.


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O Cristo Histórico. Parte II.

Continuemos a reflexão da senhora Anne Besant sobre o tema O Cristo Histórico. "Faltava-lhe um tabernáculo humano, uma forma, o corpo de um homem, ora, onde achar um homem mais digno de abandonar seu corpo por um ato de renuncia, alegre e voluntária, um Ser diante do qual os anjos e os homens se inclinavam com a mais profunda veneração, do que este Hebreu (Jesus) entre os Hebreus o mais puro, o mais nobre dos "Perfeitos", cujo corpo sem mancha e caráter íntegro eram como a flor da humanidade? O homem, Jesus apresentou-se voluntariamente ao sacrifício, "ofereceu-se sem mácula" ao Senhor do amor, que tomou este jovem invólucro para tabernáculo e o habitou três anos de vida mortal. (O relacionamento entre o homem Jesus e o Cristo retratado aqui reflete a visão teológica chamada Adocionismo que era a visão do Cristianismo Primitivo, que professava Jesus como Messias, mas afirmava que ele era absolutamente humano. Tornado-se posteriormente divino, por ocasião da sua ressurreição, ponto em que foi adotado como filho de Deus. Salmo 2:7 "Proclamarei o decreto: O Senhor me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei"). Na sua forma convencional cristã, significa que Jesus não era originariamente o Filho de Deus, mas um ser humano adotado por Filiação. Essa ideia é extremamente antiga, remontando ao início do século II. Para Besant, esse ato é retratado como o "eclipsamento" (esconder) do homem Jesus por um "Mestre Supremo". Blavatsky parece ter mantido um ponto de vista semelhante em seu livro A Doutrina Secreta). Esta época é assinalada, nas tradições dos Evangelhos, pelo Batismo de Jesus, quando o Espírito Santo se mostra descendo do céu como uma pomba e ficando sobre Ele (João 1:32), e uma voz celestial exclama: "Este é meu Filho bem amado; escutem-no". Jesus, verdadeiramente "O Filho Bem Amado no qual o pai põe toda a sua afeição" (Mateus 3:17), Jesus "pôs-se desde logo a pregar" (Mateus 4:17) e foi este maravilhoso mistério: "Deus manifestado em carne" (I Timóteo 3:17). Jesus é Deus, mas Ele não está só, porque: Não está escrito em sua lei: Eu disse: vocês são deuses? Se a lei chamou "deuses" a quem a Palavra de Deus foi dirigida, se a Escritura não pode ser rejeitada, como podem dizer àquele a quem o Pai consagrou e enviou ao mundo "você blasfema", porque disse: "Eu sou filho de Deus?" (João 10:34-36). Os homens são verdadeiramente todos deuses pelo Espírito que neles habita; mas o Deus Supremo não se manifesta em todos, como neste Filho Bem Amado do Altíssimo. Podemos, com justiça, dar a esta Presença assim manifestada, o nome de "Cristo"; é este que vem sob a forma de Jesus homem, percorrendo as montanhas e as planícies da Palestina, ensinando e curando, rodeado de discípulos escolhidos entre as almas mais adiantadas. O encanto raro do Seu amor soberano, que espalhava em torno de Si como raios de um sol, atraía-lhe os sofredores, os desanimados da vida; a magia sutilmente terna de sua Sabedora cheia de beleza tornava mais puras, nobres e belas as vidas que entravam em contato com a Sua. Por parábolas e por uma linguagem luminosa imaginada, instruía as multidões ignorantes que se comprimiam em torno dele e, pondo em jogo as forças do Espírito Puro, curava numerosos doentes pela palavra ou pelo contato, reforçando as energias magnéticas de Seu corpo imaculado com a força irresistível de sua Vida Interior. Abandonado por seus irmãos Essênios, entre os quais, a princípio, tentou desenvolver sua missão (cujos argumentos hostis à Sua resolução de viver uma vida laboriosa e de amor formam a narrativa da tentação), porque levava ao povo a sabedoria espiritual, considerada por eles como seu mais precioso tesouro, e também porque seu amor sem limites acolhia os deserdados do mundo, dirigindo-se, nos mais humildes como nos mais elevados, ao Rei Divino. Não percebia se acumularem em torno de Si as nuvens do ódio e da suspeita. Os doutores e magistrados do povo começaram a olhá-lo com inveja e cólera; Sua espiritualidade era, para o materialismo deles, uma censura constante; Seu poder, a demonstração tática, mas permanente, da fraqueza deles. Três anos após o Seu batismo, a tormenta, que O ameaçava, desencadeou-se, e o corpo humano de Jesus expiou o crime de ter servido de santuário à gloriosa Presença de um Instrutor mais do que humano. O pequeno grupo de discípulos escolhidos, aos quais Jesus havia confiado o depósito das suas instruções, ficou privado da presença física de seu Mestre, antes de ter assimilado Sua doutrina, mas eram almas já desenvolvidas, prestes a receberem a Sabedoria e capazes de transmitir aos homens menos adiantados. O mais impressionável era "o discípulo que Jesus amava", jovem, fervoroso e profundamente devotado a seu Mestre, ele partilhava do Seu espírito de inesgotável amor. São João representou, durante o século I que se seguiu à partida física do Cristo, o espírito de devoção mística que aspira ao êxtase, à visão do Divino, a união com Ele. São Paulo, ao contrário, o grande apóstolo que chegou mais tarde, representa, nos Mistérios, o lado da Sabedoria. O Mestre não esqueceu Sua promessa de voltar a eles, quando o mundo não o visse mais (João 14:18,19), e durante mais de cinquenta dias, os visitou, revestido do seu corpo espiritual sutil, continuando as lições  iniciadas quando vivia com eles e educando-os no conhecimento das verdades ocultas. A maioria dos discípulos habitava em comum, num lugar situado nos confins da Judeia; sem despertarem a atenção entre as numerosas comunidades, semelhantes, na aparência, à deles, estudavam as verdades profundas que o Mestre lhes tinha ensinado e desenvolviam em sua alma "os dons do Espírito". Estas lições, começadas quando Ele vivia fisicamente com os discípulos e continuadas depois do abandono do seu corpo, formaram a base dos Mistérios de Jesus, que já vimos guardados pela Igreja Primitiva e que serviram de núcleo aos elementos heterogêneos de onde saiu, mais tarde, o Cristianismo Eclesiástico. Possuímos, num fragmento notável intitulado Pistis Sophia, um documento do mais alto valor, que trata da doutrina secreta e escrito pelo famoso Valentino de Alexandria no século II. Nesta obra, conta-se que, durante os onze anos que seguiram à sua morte, Jesus instruiu seus discípulos até a região dos primeiros estatutos e até a região do primeiro mistério, do mistério que está por trás do véu. Eles não tinham ainda aprendido a divisão das ordens angélicas, das quais algumas são mencionadas por Inácio de Antioquia (?  -107). Em seguida, Jesus, estando "sobre a montanha" com seus discípulos, depois de ter recebido suas vestes místicas, o conhecimento de todas as regiões e as Palavras de Poder que são as chaves delas, prosseguiu a instrução de seus discípulos, fazendo-lhes esta promessa: "Eu lhes tornarei perfeitos em toda a perfeição, desde os mistérios do interior até os mistérios do exterior. Eu os encherei do Espírito, e assim vocês  serão chamados espirituais, perfeitos em toda a perfeição". Então Jesus lhes falou da Sophia ou Sabedoria, e da sua tentativa de elevar-se até o Altíssimo, seguida da sua queda no seio da matéria, de seus apelos a Luz onde depositava sua fé; Ele disse que Jesus fora enviado para os arrancar do caos, coroá-los com Sua Luz e fazer cessar seu cativeiro. Falou-lhe, ainda, do Mistério Supremo, indizível, o mais simples e o mais claro de todos; embora o mais elevado, Mistério que só uma renúncia absoluta ao mundo permite conhecê-lo. Este conhecimento transforma os homens em Cristo, porque tais "homens são outros Eu mesmo e Eu sou esses homens", e o Cristo é o Mistério Supremo. Sabendo disto, os homens são "transformados em luz pura e são conduzidos ao seio da luz". E Jesus executou, para seus discípulos, a grande cerimônia da Iniciação, o batismo "que conduz à morada da verdade e da luz", prescrevendo-lhes que o celebrassem, por sua vez, para outros, os que fossem dignos: "Ocultem este mistério, não o comunique a todos, mas só a quem observar todas as coisas que eu lhes disse nos meus mandamentos". Depois disto, a instrução estando completa, os apóstolos voltaram ao mundo para pregar, ajudados sempre pelo Mestre. Ora, estes mesmos discípulos e seus primeiros companheiros guardaram de memória todas as palavras e parábolas que ouviram pronunciar em público pelo Mestre e reuniram, com grande zelo, as narrações que puderam encontrar, redigindo-as igualmente e fazendo circular estas compilações entre os quais iam, pouco a pouco, se ligando à comunidade. Os resumos assim formados diferem entre si, pois cada membros da comunidade redigia a sua recordação pessoal, acrescentando o que achava de melhor nas narrações dos outros. Os ensinamentos anteriores, dados pelo Cristo a seus discípulos de elite, não foram pessoas julgadas dignas de os receber, a estudantes reunidos em comunidades pouco numerosas, a fim de levarem uma vida retirada, embora em contato com o grupo central. O Cristo Histórico é, portanto, um Ser Glorioso, pertencente a Grande Hierarquia Espiritual que dirige a evolução da humanidade. Ele empregou, durante três anos, o corpo humano do discípulo Jesus e consagrou o último destes três anos a ensinar em público, percorrendo a Samaria e a Judeia; curando doenças e cumprindo atos ocultos notáveis, cercou-se de um pequeno grupo de discípulos educados por Ele no conhecimento das verdades íntimas da vida espiritual; atraía os homens por seu amor e doçura e pela alta sabedoria que respirava em sua pessoa; finalmente, foi morto por blasfêmia por ter ensinado que a Divindade habitava nele como em todos os homens. Ele veio a dar à vida espiritual deste mundo um novo impulso, transmitindo a doutrina interessante e profunda do espírito, mostrando, mais uma vez ainda, à humanidade o caminho estreito que sempre existiu e que conduz ao "Reino dos Céus", ensinando a Iniciação que leva ao conhecimento de Deus, que é a vida eterna, e fazendo entrar neste Reino alguns eleitos capazes de transmitir este saber a outros. Em torno desta Gloriosa Figura, amontoaram-se os mitos que ligam à longa série dos seus predecessores; estes mitos dão, sob uma forma alegórica, a história de todas as trajetórias semelhantes, porque simbolizam a ação do Logos no Universo e a evolução superior da alma humana individual. (Na Teosofia, o Logos normalmente traduzido como o Verbo, tem a ver com o princípio primordial por trás de toda manifestação. O significado esotérico na palavra Logos: fala, ou verbo; é a representação em expressão objetiva, como em uma fotografia, do pensamento oculto. O Logos é o espelho refletindo a Mente Divina, e o Universo é o espelho do Logos, embora este último seja o Esse daquele Universo. Não devemos supor que o Cristo cessou de agir sobre os discípulos depois de ter instituído os Mistérios ou que se tenha limitado a fazer raras aparições. Este Ser Poderoso, que tomara por veículo o corpo de Jesus e que, sem cessar, vela a evolução espiritual da Quinta Raça Raiz, entregou a Igreja nascente nas mãos fortes do santo discípulo que lhe sacrificara seu corpo. Ao atingir a perfeição da evolução humana, Jesus tornou-se um dos Mestres da Sabedoria e ficou encarregado da direção do Cristianismo, guiando-o, protegendo-o e fortificando-o. Era Ele o Hierofante dos Mistérios Cristãos, o Mestre direto dos Iniciados; era a Sua inspiração que alimentava, na Igreja, a chama da Gnose, até o dia em que a multidão ignorante se tornou tão densa que o seu sopro bendito não pôde impedir que a chama se extinguisse. Era o seu trabalho paciente que dava a tantas almas a força de suportar as trevas; e de conservar piedosamente a centelha da inspiração mística, a sede de alcançar o Deus Oculto. Era Ele que derramava ondas de verdade nas inteligências aptas a recebê-las, de tal forma que as mãos, que se apertam através dos séculos, vão passando o archote do conhecimento sem que ele jamais se apague. Era a sua Figura consoladora que se encontrava junto à roda do suplício e da chama das fogueiras, encorajando seus mártires, os que confessavam seu Nome, enchendo o coração deles com sua paz. Era Ele que avolumava a eloquência dominadora de Girolamo Savonarola (1452-1498), guiava a sabedoria de Erasmo de Roterdam (1466-1536), inspirava a Ética profunda de Baruc de Spinosa (1632-1677), na sua divina embriaguez. Era sua energia que impelia Roger Bacon (1214-1292), Galileu Galilei (1564-1642), Paracelso (1493-1541), a sondarem a natureza.  Era sua beleza que atraía Fra Angélico (1387-1455), Rafael Sanzio (1483-1520) e Leonardo da Vinci (1452-1519), que inspirava o gênio de Michelangelo (1475-1564), que brilhava em Murilo, permitindo-lhes levantar estas maravilhas do mundo: o Domo de Milão, São Marcos de Veneza e a catedral de Florença. Eram suas harmonias que cantavam nas missas de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), nas sonatas de Ludwig van Beethoven (1770-1827), nos oratórios de Georg Friedrich Handel (1685-1759), nas fugas de Johann Sebastian Bach (1685-1750), no austero esplendor de Johannes Brahms (1833-1897). Era Sua Presença que amparava os místicos solitários, os ocultistas perseguidos, os investigadores pacientes, no caminho da verdade. Pelo estímulo ou pela ameaça, pela eloquência de um São Francisco de Assis (1182-1226) e pelos sarcasmos de Voltaire (1694-1778), pela doce submissão de um Thomas A. Kempis (1380-1471) e pela rudeza viril de um Martinho Lutero (1483-1546), Ele (Cristo) se esforçou em instruir e despertar a santidade ou o afastamento do mal pelo sofrimento. E, apesar de tantos séculos de luta, jamais deixou sem resposta ou sem consolação um só coração humano, cujo apelo chegasse até Ele. Hoje, ainda, Ele se esforça em desviar para o Cristianismo uma parte do grande rio da Sabedoria que deve descer sobre a humanidade ávida; procura ainda, no seio das Igrejas homens capazes de ouvir a voz da Sabedoria e que possam responder-lhe, quando pedir mensageiros para transmiti-la no seu rebanho: "Estou aqui, envie-me". Abraço. Davi.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O Cristo Histórico. Parte I.

A reflexão a seguir é da senhora Anne Wood Besant (1847-1933) uma teósofa, militante, socialista, maçom, ativista e defensora dos direitos das mulheres; uma das mais notáveis oradoras de sua época, sendo autora de uma vasta obra literária sobre Teosofia. Faremos um breve percurso sobre a vida da senhora Besant. Ela nasceu em 1847 e casou-se em Hasting cidade da Inglaterra, no Condado de East Sussex, com o reverendo Frank Besant, irmão mais velho de Walter Besant. Seu casamento durou seis anos e eles se separam em 1873. Foi dada a seu marido a custódia de seus dois filhos, Mabel e Arthur. Segundo um amigo ela "não podia ser noiva do céu, então tornou-se noiva do Senhor. Frank Besant dificilmente seria um substituto adequado". Ela lutou pelas causas que acreditavam serem justas, iniciando com a liberdade de pensamento, direito das mulheres, secularismo (ela era membro líder da Sociedade Nacional Secular, ao lado de Charles Bradlaugh 1833-1891), controle de natalidade, socialismo Fabiano e direito dos trabalhadores (ras). Feminista, foi a primeira inglesa a defender o uso de anticoncepcionais, chegando a ser presa, 1877, acusada de vender "literatura obscena", a saber, folhetos sobre controle de natalidade. Sua mais notável vitória nesse período foi a greve que ela liderou em 1888 para melhorar a saúde e segurança das trabalhadoras de uma fábrica de fósforo. Durante aquele período a fábrica de fósforo era extremamente poderosa, uma vez que a energia elétrica não estava ao alcance de todos e os fósforos eram essenciais para acender velas, lampiões de gás etc. A greve liderada por Anne Besant marcou história, pois foi a primeira vez que alguém desafiou os fabricantes de fósforo com sucesso, também foi considerada uma marca de vitória dos primeiros anos do movimento socialista na Inglaterra. Em 1889 ela foi solicitada a escrever uma crítica sobre a Doutrina Secreta, um livro escrito por Blavatsky (1831-1899). Depois de ler a obra, ela realizou uma entrevista com a autora, tendo-se tornado membro da Sociedade Teosófica. Algum tempo após o falecimento de Blavatsky, Besant acusou William Quan Judge (1851-1896), líder da seção norte americana da Sociedade teosófica, de falsificar carta dos Mahatmas. Tal conflito causou na época a separação de uma grande parte das Lojas nos USA. Anne Besant em 1903 mudou-se para a Índia e em 1908 foi eleita presidente internacional da Sociedade Teosófica, posição esta que ocupou até o seu falecimento em 1933. Em 1912 Besant, Marie Russak (1865- 1945) e James Ingall Wedgwood (1883-1951) fundaram a Ordem do Templo da Rosa Cruz. Em razão dos numerosos problemas originados na Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial, as atividades tiveram que ser suspensas. Durante esse período (guerra) lutou intensamente pela autonomia da Índia sendo colocada em prisão domiciliar pelas autoridades coloniais inglesas. Em 1917, com a presença de Ghandi (1869-1948) e de outros líderes indianos, Besant, com 70 anos, foi empossada no cargo de Presidente da Congresso Nacional Indiano; um título honorário porém o mais elevado que o povo indiano podia conceder, em reconhecimento a uma mulher que dedicou, com coragem e determinação grande parte de sua vida pela causa humanitária dos indianos. Ela retornou as suas funções como presidente Mundial da Sociedade Teosófica. Wedgwood seguiu trabalhando como bispo da Igreja Católica Liberal e Russak manteve contato na Califórnia - USA com Harvey Spencer Lewis (1883-1939), que ajudou na elaboração dos rituais da Ordem Rosa Cruz AMORC. Em consequência do seu ativismo pelos direitos da mulher, causas humanitárias e interesse pelo Ocultismo; Besant pediu para ingressar na Ordem Maçônica Internacional Le Droit Humain (Co Maçonaria). Em 1902, juntamente com Francesca Arundale (1847-1924), viajou a Paris, onde foi iniciada nos três primeiros graus da Maçonaria. De regresso à Inglaterra Besant criou a Co Maçonaria fundando três Lojas Maçônicas em Londres, três no norte da Inglaterra outras três no sul, e uma Loja na Escócia, mas tarde a Co Maçonaria se espalhou pelo Canadá, Índia, Sri Lanka, América do Sul, Austrália e Nova Zelândia. Na Índia fundou a Liga Nacional Indiana, dedicando-se somente a Sociedade Teosófica, mas também ao progresso e liberdade (contra o rígido sistema de castas sociais) na Índia. Entremos no Texto sobre O Cristo Histórico baseado no livro As Revelações Secretas da Religião Cristã de Anne Besant. Segue a íntegra da reflexão. "O fio da biografia de Jesus pode ser separado, sem dificuldades, de dois outros aos quais se prende; facilitaremos o seu estudo, reportando-nos aos atuais do passado que as pessoas competentes podem verificar por si mesmas e dos quais detalhes, referentes ao Mestre Hebreu, foram dados ao mundo por H. P. Blavatsky (1831-1899) e outros competentes em matéria de investigação oculta. Muitos leitores serão, sem dúvida, tentados a criticar o emprego do vocábulo "competente" ao tratar-se de ocultismo. Entretanto, esta expressão significa simplesmente uma pessoa que, por estudos e um treinamento todo particular, conseguiu adquirir conhecimentos especiais e desenvolver em si mesmo faculdades que lhe permitem exprimir uma opinião baseada sobre um conhecimento pessoal e direto do objeto com o qual se ocupa. Nós dizemos que Aldous Huxley (1894-1963) é competente em biologia, que o vencedor num concurso de matemática é competente nessa matéria ou que Charles Lyell (1797-1875) é competente em geologia. Nós podemos, igualmente chamar competente, em Ocultismo, a um homem que conseguiu, primeiramente, se aprofundar intelectualmente em certas teorias fundamentais concernentes a constituição do homem e do universo, em seguida, desenvolver em si mesmo as faculdades superiores que permitem estudar a natureza em suas obscuras operações. Um homem pode nascer com disposições para as matemáticas e, cultivando essas disposições durante anos, desenvolver consideravelmente suas faculdades de matemáticas. Igualmente, podemos nascer com certas faculdades peculiares à alma e desenvolvê-las por um treinamento e uma disciplina determinada. Consagrando essas faculdades ao estudo dos mundos invisíveis, tornamo-nos competentes em Ciência Oculta e podemos verificar, a vontade, os anais de que já falei acima. Estas verificações são inacessíveis às pessoas ordinárias (senso comum), exatamente como uma obra de matemática, escrita  em símbolos matemáticos, é um livro fechado para os que ignoram esta ciência. O homem nascido com certa disposição e que a desenvolve, consegue adquirir as noções correspondente; aquele que nasce sem disposições especiais ou que, possuindo-as, não as cultiva, deve se resignar a ficar ignorante. Tais são as condições, por toda a parte impostas, a quem quer se instruir; elas aplicam-se ao Ocultismo como a qualquer outra Ciência. Os anais ocultos confirmam, em certos pontos, a narração dos Evangelhos e a contradizem em outros; eles nos mostram a vida de Jesus e permitem libertá-la dos mitos que a envolvem. O menino cujo nome hebreu foi mudado no de Jesus, nasceu na Palestina, no ano 105 AC, sob o consulado de Publius Rutilius Rufus (158 AC 78) e Cnaeus Mallius Maximus. Seus pais (de Jesus) eram pobres, mas de boa família; foi instruído no conhecimento das Escrituras Hebraicas, seu fervor religioso e uma precoce gravidade natural decidiram seus pais consagrá-lo à vida religiosa e ascética (ascetismo era a prática da abstenção dos prazeres e até do conforto material, adotada com o fim de alcançar a perfeição moral e espiritual. O asceta submete-se a dieta rigorosa e a frequentes jejuns). Depois de uma permanência em Jerusalém, onde o rapaz revelou extraordinária inteligência e o ardor em se instruir, indo ao Templo e procurando o contato com os doutores, foi enviado ao deserto da Judeia meridional para ser ai educado numa Comunidade Essênia. Com 19 anos de idade, entrou para o Mosteiro Essênio, que ficava situado perto do monte Serbal, mosteiro muito frequentado pelos sábios que iam da Pérsia e das Índias para o Egito; uma biblioteca magnífica de obras ocultas, das quais algumas originárias da Índia Trans Himalaia, existia nele. Deste asilo (ambiente) de erudição mística, Jesus transportou-se, mais tarde, para o Egito. A Doutrina Secreta, que era a alma da seita (comunidade religiosa) Essênia, tendo-lhe sido inteiramente comunicada, ele recebeu, no Egito, a Iniciação, tornando-se discípulo da Única Loja, cuja tradição sublime remontava ao seu grande Fundador. O Egito, até então, permanecera, para o mundo, um dos centros onde se guardavam os Verdadeiros Mistérios, dos quais os mistérios semi públicos não eram senão um pálido e longínquo reflexo. Os mistérios historicamente conhecidos como egípcios eram a sombra da realidade "sobre a Montanha", e foi no Egito que o jovem (Jesus) hebreu recebeu a consagração solene, que o preparou para o Sacerdócio Real que devia atingir mais tarde. Sua pureza sobre humana, sua transbordante devoção eram tais, que na virilidade plena de sua graça, ele se elevava de maneira extraordinária acima dos ferozes ascetas entre os quais tinha sido criado, derramando sobre os judeus severos que o rodeavam o perfume de sua Sabedoria acompanhada de ternura e suavidade, tal como uma roseira em flor, transplantada para o deserto, ai espalhando seus aflúvios (espécie de emanação que exala do corpo do homem e dos animais. Exalação, perfume, aroma) embalsamados sobre a planície estéril. O encanto dominador de sua imaculada pureza envolvia sua fronte como um radioso halo (círculo de luz. Auréola de luz que aparece sobre a cabeça de uma pessoa santificada ou de uma imagem sagrada), e suas palavras, embora raras, respiravam sempre a doçura e o amor, despertando, nas naturezas mais rudes, uma doçura momentânea, e, nas mais inflexíveis, uma sensibilidade passageira. Jesus viveu, assim, durante 29 anos de sua existência mortal, crescendo em graça. Esta pureza excepcional e este fervor religioso tomaram Jesus, homem e discípulo, digno de servir de templo e habitação a um Poder mais augusto, a uma Presença Imensa. A hora tinha soado em que se ia produzir uma destas manifestações Divinas que, periodicamente, vem ajudar a humanidade quando se faz necessário um impulso novo para apressar a evolução espiritual dos homens, quando aparece no horizonte uma nova civilização. Os séculos iam dar nascimento ao mundo ocidental, e a sub raça Teutônica (povos de origem Germânica, procedente das margens do Mar Báltico. Anteriormente conhecido como o mar da Alemanha, situa-se no nordeste da Europa, circundado pelo península Escandinava, o continente do Leste Europeu e Central, e as ilhas Dinamarquesas), ia levantar o cetro imperial que a mão desfalecida de Roma deixara cair. Antes do seu advento, um Salvador do Mundo devia aparecer e abençoar o Hércules criança (Jesus), ainda no berço. Um poderoso "Filho de Deus" ia encarnar-se na terra, um Instrutor Supremo, cheio de graça e verdade (João 1:14), um ser no qual habitaria, no mais alto ponto, a Sabedoria Divina, verdadeiramente "O Verbo" feito carne, uma torrente de luz e de Vida superabundante, uma fonte onde jorraria em ondas a vida. O Senhor de toda a Compaixão e de toda a Sabedoria, tal é Seu nome, deixando as Regiões Secretas, apareceu no mundo dos homens". Continuamos na parte II. Beijo. Davi.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Biografia de Dom Helder Câmara (1909-1999)

Segue uma brevíssima biografia de um eminente religioso católico brasileiro e ativista dos direitos humanos. "Hélder Pessoa Câmara nasceu em Fortaleza, em 1909. Ainda jovem, aos 14 anos, entrou no Seminário da Prainha de São José, em Fortaleza - Ceará, para cursar filosofia e teologia. Aos 22 anos em 1931, Hélder se ordena sacerdote. Na sequência, passou a exercer o cargo de diretor do Departamento de Educação do Estado do Ceará. Realizou a função por 5 anos, até ser transferido para o Rio de Janeiro. Foi no Rio de Janeiro que desenvolveu algumas de suas principais obras sociais. Fundou a Cruzada São Sebastião, que era destinado a atender favelados, e também o Banco da Providência, que ajudava famílias pobres. Dom Hélder colaborou com revistas católicas, além de exercer funções na Secretaria de Educação do Rio de Janeiro e no Conselho Nacional de Educação. Recebeu um convite para ser assessor do arcebispo do Rio de Janeiro em 1946. Foi o responsável pela fundação do Conselho Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que o elegeu Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro. Em 1964, pouco antes do golpe militar, Dom Hélder foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife. Após escrever um manifesto de apoio à ação católica operária em Recife, foi acusado de demagogia e comunismo, sendo proibido de se manifestar publicamente. Ficou conhecido por ter se tornado um líder contra o autoritarismo e os abusos aos direitos humanos, frequentemente praticados pelos militares. Além disso, atuou em movimentos estudantis, operários, ligas comunitárias contra a fome e a miséria. Foi um defensor da justiça e da cidadania. Mas a repressão estava cada vez mais dura. O assessor de Dom Hélder, o padre Antônio Henrique, foi preso, torturado e morto. Além disso, outros vinte colaboradores de sua arquidiocese são presos e torturados. Em 1970, fez um pronunciamento em Paris, denunciando a prática de tortura a presos políticos no Brasil, aproveitando-se da importância crescente que passava a ter. Dois anos depois, foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz. O governo militar não perdoa: divulga um dossiê acusando, mais uma vez, Dom Hélder de ser comunista. A partir de 1978, com uma lenta e gradual abertura política, Dom Hélder se dedica mais ainda a aplicar a sua teologia da libertação. Aposentou-se em 1985, deixando mais de 500 comunidades eclesiais de base organizadas, com operários, trabalhadores rurais e retirantes em busca de melhores condições de trabalho e de vida. Sempre atuante, Dom Hélder participou da campanha pelas "Diretas Já". E realizou debates e palestras de conscientização para a cidadania em todo o país. Além disso, deixou registrado o seu pensamento em diversos livros, que foram traduzidos para diferentes línguas.Dom Hélder faleceu em 1999, vítima de uma parada cardíaca". Abraço. Davi.

Provérbios. Parte IV.

"Filhos, escutem o que seu pai ensina. Prestem atenção e compreenderão as coisas.

O que eu ensino é bom; portanto, lembrem dos meus conselhos. Quando eu era menino, filho único dos meus pais, o meu pai me ensinava, dizendo: Lembra das minhas palavras e nunca as esqueças.

Faça o que eu digo e você viverá, Procure conseguir Sabedoria e compreensão. Não esqueça, nem se afaste do que eu digo.

Não abandone a Sabedoria, e ela protegerá você. Ame-a, e ela lhe dará segurança.

Para ter Sabedoria, é preciso primeiro pagar o seu preço. Use tudo o que você tem para conseguir a compreensão. Ame a Sabedoria, e ela o tornará importante; abrace-a e você será respeitado.

A Sabedoria será para você um enfeite, como se fosse uma linda coroa. Escute, meu filho. Aceite o que estou dizendo e você terá uma vida longa.

Eu lhe tenho ensinado o caminho da Sabedoria e a maneira certa de viver. Se você andar sabiamente, nada atrapalhará o seu caminho, e você não tropeçará quando correr.

Lembre sempre daquilo que aprendeu: a sua educação é a sua vida; guarde-a bem. Não vá aonde vão os maus. Não siga o exemplo deles.

Não faça o que eles fazem. Afaste-se do mal. Desvie-se dele e passe de lado. Os maus não podem dormir sem terem feito alguma coisa má; eles ficam acordados até conseguirem prejudicar alguém.

Porque para eles a maldade e a violência são comida e bebida.

A estrada em que caminham as pessoas direitas é como a luz da aurora, que brilha cada vez mais até ser dia claro.

Mas a estrada dos maus é escura como a noite; eles caem e não podem ver no que foi que tropeçaram.

Filho, preste atenção no que eu digo. Escute as minhas palavras. Nunca deixe que elas se afastem de você. Lembre delas e ame-as.

Elas darão vida longa e saúde a quem entendê-las. Tenha cuidado com o que você pensa, pois a sua vida é dirigida pelos seus pensamentos.

Nunca fale mentiras, nem diga palavras perversas. Olhe firme para a frente, com toda a confiança; não abaixe a cabeça, envergonhado.

Pense bem no que você vai fazer, e todos os seus planos darão certo. Evite o mal e caminhe sempre em frente; não se desvie nem um só passo do caminho certo". Abraço. Davi.




domingo, 23 de novembro de 2014

O Sal da Terra.


Anda!
Quero te dizer nenhum segredo
Falo nesse chão, da nossa casa
Vem que tá na hora de arrumar...

Tempo!
Quero viver mais duzentos anos
Quero não ferir meu semelhante
Nem por isso quero me ferir

Vamos precisar de todo mundo
Pra banir do mundo a opressão
Para construir a vida nova
Vamos precisar de muito amor
A felicidade mora ao lado
E quem não é tolo pode ver...

A paz na Terra, amor
O pé na terra
A paz na Terra, amor
O sal da...

Terra!
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã

Canta!
Leva tua vida em harmonia
E nos alimenta com seus frutos
Tu que és do homem, a maçã...

Vamos precisar de todo mundo
Um mais um é sempre mais que dois
Pra melhor juntar as nossas forças
É só repartir melhor o pão
Recriar o paraíso agora
Para merecer quem vem depois...

Deixa nascer, o amor
Deixa fluir, o amor
Deixa crescer, o amor
Deixa viver, o amor
O sal da terra

Compositor brasileiro Beto Guedes (1951-    ).

Acreditar ou Não Acreditar na Religião Cristã.

Essa reflexão é do filósofo cristão Blaise Pascal (1623-1662), trazendo como título O que é mais vantajoso: Acreditar ou não acreditar na Religião Cristã. Os leitores perceberão que os argumentos de Pascal são lógicos e racionais dentro da perspectiva filosófica que ele apresenta. Tenta explicar suas ponderações recorrendo a abstrações cognitivas, fugindo de uma crendice ou superstição cristã onde os pressupostos acabam enfraquecendo, chegando a aporia (dificuldade lógica sem solução) do desentendimento só possivelmente compreendido pela fé cega; coisa que Pascal sempre procura evitar. Então os leitores estão diante de primeiramente um filósofo e depois um cristão, que assumindo suas convicções teológicas procura pela sua sinceridade transmitir seu sentimento e opinião em relação a vida humana e espiritual. Não estranhem a defesa contundente de Pascal em relação ao Cristianismo. Isso é devido a inúmeros fatores como: seus temores em relação a morte, pois reconhecia que não viveria muito tempo, o ambiente espiritual onde se enclausurou na Abadia de Port Royal em Paris; o Mosteiro dos Jansenitas, um movimento cristão austero e rígido, baseado em penitências, santidade e pureza de vida. Pascal necessitou usar sua filosofia teológica, pois o século XVII trouxe tendências e práticas de vulgarização, secularismo e ceticismo das doutrinas cristãs contidas no Evangelho. Como o Clero Romano fazia alianças e comprometimentos políticos com os Governos Europeus; a autoridade espiritual da Igreja se fragilizava e grande parte da Cúria era corrompida na venda de cargos eclesiásticos para leigos e homem profanos, sem honra, ética e decoro. Esses assumiam altos postos no Vaticano, e nas principais dioceses das capitais europeias. A população dos fieis desconfiadas, esvaziavam as catedrais, desacreditadas de seus "pastores" e seus superiores hierárquicos, encontrando abrigo e conforto nos recentes movimentos protestantes que começavam a se estruturarem. Assim, nesse ambiente de negativismo e pessimismo surgiu o Movimento de Reforma do Catolicismo Medieval europeu no século XVI, desencadeando rupturas teológicas que favoreceram o surgimento do Protestantismo. Como muitos outros fenômenos religiosos, o Protestantismo primitivo nasceu plural. Desse modo, ao longo de seus primeiros três séculos de existência se desdobrou em instituições e movimentos. Destaca-se no campo institucional eclesiástico as Igrejas Luterana, Calvinista, Anglicana e Metodista; nos espaços de movimentos, por sua vez, apareceram os Anabatistas, Pietistas, Jansenistas e Puritanos. Igrejas e Movimentos que surgem em escala ascendente depois do movimento Metodista, na Inglaterra dos primórdios da revolução industrial por volta das primeiras décadas do século XVIII, são desdobramentos de ênfases dos primeiros três séculos de Protestantismo europeu e, de certa forma, norte americano. Destituídos de uma centralização institucional eclesiástica, como o Cristianismo Católico Apostólico Romano, o Protestantismo tem em seu centro um conflito de interpretação da Bíblia, que o diversifica fazendo-o crescer e expandir pela dinâmica da fissiparidade (reprodução através de fragmentação). Logo, frente à multiplicidade de instituições eclesiásticas e movimentos, sempre deveríamos declinar o termo no plural: Protestantismo Europeu e, de certa forma, Norte Americano. Após essa breve introdução iniciamos o texto de Pascal em sua íntegra. "Nossa alma está lançada no corpo, no qual acha número, tempo, dimensões. Raciocina sobre isso e lhe dá o nome de natureza, necessidade, sem poder acreditar em outra coisa. A unidade agregada ao infinito em nada o aumenta, do mesmo modo que um pé a uma medida infinita. O finito se aniquila em presença do infinito e se torna um simples zero. Assim o nosso espírito diante de Deus; assim a nossa justiça diante da justiça divina. Não há tão grande desproporção entre a nossa justiça e a de Deus como entre a unidade e o infinito. É preciso que a justiça de Deus seja enorme como sua misericórdia; ora, a justiça para com os réprobos (que foi destituído da sociedade; que demonstra perversidade ou malvadeza; detestado) é menos enorme e deve aliviar menos do que a misericórdia para com os eleitos. Sabemos que há um infinito e ignoramos a sua natureza, assim como sabemos que é falso que os números sejam finitos; é, pois, verdade que há um infinito em número, mas não sabemos o que ele é. É falso que seja par, é falso que seja ímpar. Porque, acrescentando-lhe a unidade, ele não muda de natureza; no entanto, é um número, e todo número é par ou é ímpar; isso é verdadeiro para todos os números finitos. Pode-se, pois, saber que existe um Deus sem o que ele é. Conhecemos, pois, a existência e a natureza do finito, porque somos finitos e extensos com ele. Conhecemos a existência do infinito e ignoramos sua natureza, porque ele tem extensão como nós, mas não tem limites como nós. Não conhecemos, porém, nem a existência nem a natureza de Deus, porque ele não tem extensão nem limites. Mas, pela fé, conhecemos sua existência, pela glória, conheceremos sua natureza. Ora, já mostrei que não se pode conhecer bem a existência de uma coisa sem conhecer a sua natureza. Falemos, agora, segundo as luzes naturais. Se há um Deus, ele é infinitamente incompreensível, de vez que, não tendo nem partes nem limites, nenhuma relação possui conosco; somos, pois, incapazes de conhecer não só o que ele é, como também se ele é. Assim sendo, quem ousará empreender resolver essa questão? Não somos nós, que nenhuma relação temos com ele. Quem, pois, censurará os cristãos por não poderem dar satisfação de sua crença, eles que professam uma religião de que não podem dar satisfação? Expondo-a ao mundo, eles declaram que isso é uma tolice, stutitiam (loucura). No entanto, vós vos lastimais porque eles não a provam! Se a provassem, faltariam à sua palavra; é por não terem provas que não lhes falta o senso. Sim; mas, embora isso escuse (justificar, dispensar, desnecessário) os que assim a oferecem e os livre da censura de produzi-la sem razão, não escusa os que a recebem. Examinemos, pois, esse ponto, e digamos: Deus é, ou não é. Mas, para que lado penderemos? A razão nada pode determinar ai. Há um caos infinito que nos separa. Na extremidade dessa distância infinita, joga-se cara ou coroa. Que apostareis? Pela razão, não podeis fazer nem uma nem outra coisa; pela razão, não podeis defender nem uma nem outra coisa. Não acuseis, pois, de falsidade os que fizeram uma escolha de terem feito, não essa escolha, mas uma escolha; porque, embora o que prefere coroa e o outro estejam igualmente em falta, ambos estão em falta; o justo é não apostar. Sim, mas é preciso apostar; isso não é voluntário; sois obrigados a isso; (e apostar que Deus é, é apostar que ele não é). Que tomareis, pois? Vejamos. Já que é preciso escolher, vejamos o que menos vos interessa; tendes duas coisas que perder, o verdadeiro e o bem, e duas coisas que empenhar, vossa razão e vossa vontade, vosso conhecimento e vossa beatitude; e vossa natureza tem duas coisas que evitar, o erro e a miséria. Vossa razão não é mais atingida, desde que é preciso necessariamente escolher, escolhendo um dentre os dois. Eis um ponto liquidado; mas, vossa beatitude? Pesemos o ganho e a perda, preferindo cora, que é Deus. Estimemos as duas hipóteses; se ganhardes, ganhareis tudo; se perderdes, nada perdereis. Apostai, pois, que ele é, sem hesitar. Isso é admirável; sim, é preciso apostar, mas, talvez eu aposte demais. Vejamos. Uma vez que é tal a incerteza do ganho e da perda, se só tivésseis que apostar duas vidas por uma, ainda poderíeis apostar. Mas, se devessem ser ganhas três, seria forçado a jogar, não arriscásseis vossa vida para ganhar três num jogo em que é tamanha a incerteza da perda e do ganho. Há, porém, uma eternidade de vida e de felicidade; e, assim sendo, quando houvesse uma infinidade de probabilidade, das quais somente uma fosse por vós, ainda teríeis razão em apostar um para ter dois, e agiríeis mal, quando obrigado a jogar, se recusásseis jogar uma vida contra três num jogo em que, numa infinidade de probabilidades, há uma por vós, havendo uma infinidade de vida infinitamente feliz que ganhar. Mas, há aqui uma infinidade de vida infinitamente feliz que ganhar, uma probabilidade de ganho contra uma porção finita de probabilidade de perda, e o que jogais é finito. Jogo é jogo; sempre onde há o infinito e onde não há infinidade de probabilidade de perda contra a de ganho, não há que hesitar, é preciso dar tudo; e, assim, quando se é forçado a jogar, é preciso renunciar à razão, para conservar a vida e não ariscá-la pelo ganho infinito tão prestes a chegar quanto a perda do nada. Por conseguinte, de nada serve dizer que é incerto ganhar-se e que é certo arriscar-se, e que a infinita distância entre a certeza do que se expõe e a incerteza do que se deve ganhar iguala o bem finito, que certamente se expõe, ao infinito incerto. Não é assim; todo jogador arrisca com certeza para ganhar incertamente o finito, sem pecar contra a razão. Não há infinidade de distância entre essa certeza do que se expõe e a incerteza do ganho; isso é falso. Há, na verdade, infinidade entre a certeza de ganhar e a certeza de perder. Mas, a incerteza de ganhar é proporcional à certeza do que se arrisca, segundo a proporção das probabilidades de ganho e de perda; de onde se conclui que, havendo tantas probabilidades de um lado como do outro, a aposta deve ser igual; e, então, a certeza do que se expõe é igual à incerteza do ganho; bem longe está de ser infinitamente distante. E, assim, a nossa proposição é de uma força infinita, quando há o infinito que arriscar num jogo em que há tantas probabilidades de ganho como de perda, e o infinito que ganhar. Isso é demonstrativo; e, se os homens são capazes de algumas verdades, essa é uma delas. Eu o declaro e o confesso. Mas, não haverá ainda um meio de ver o segredo do jogo? Sim, a Escritura Sagrada, e o resto, etc. Sim; mas, tenho as mãos atadas e a boca muda; forçam-me a apostar, e não estou em liberdade; não me soltam, e sou feito de tal maneira que não posso crer. Que quereis, pois, que eu faça? É verdade. Mas, conhecei ao menos a vossa impotência para crer, já que a razão a isso vos conduz, e que todavia não o podeis; trabalhai, pois, não pra vos convencerdes pelo aumento das provas de Deus, mas pela diminuição das vossas paixões. Quereis  chegar à fé, mas ignorais o caminho: quereis curar-vos da infidelidade, mas pedis os remédios; aprendei com os que estiveram atados como vós e que apostam agora todo o seu bem; são pessoas que se curaram do mal de que desejais curar-vos. Segui a maneira pela qual começaram; fazendo como se acreditassem, tomando água benta, mandando dizer missas, etc. Naturalmente, isso vos fará crer e vos embrutecer. Mas, é o que receio. E porquê? que tendes que perder?". Beijo. Davi.

sábado, 22 de novembro de 2014

Provérbios. Parte III.

"Filho, não esqueça os meus ensinamentos; lembre sempre dos meus conselhos. Os meus ensinamentos lhe darão uma vida longa e cheia de sucesso.

Não abandone a lealdade e a fidelidade; guarde-as sempre bem gravadas no coração. Se você fizer isso, agradará tanto a Deus como aos seres humanos.

Confie no Senhor de todo o coração e não se apoie na sua própria inteligência.

Lembre de Deus em tudo o que fizer, e Ele lhe mostrará o caminho certo. Não fique pensando que você é sábio; tema o Senhor e não faça nada que seja errado.

Por isso será como um bom remédio para curar as suas feridas e aliviar os seus sofrimentos. Adore a Deus, oferecendo-lhe o que a sua terra produz de melhor.

Faça isso, e os seus depósitos ficarão cheios de cereais, e você terá tanto vinho, que não será capaz de armazenar.

Filho, preste atenção quando o Senhor Deus  o castiga e não desanime quando Ele o repreender.

Porque o Senhor corrige quem ele ama; assim como um pai corrige o filho a quem ele quer bem. Feliz é a pessoa que acha a Sabedoria e que consegue compreender as coisas, pois isso é melhor do que a prata e tem mais valor do que o ouro.

A Sabedoria é mais preciosa do que as joias; tudo o que a gente deseja não se pode comparar com ela. A Sabedoria oferece uma vida longa e também riquezas  e honras.

Ela torna a vida agradável e guia a pessoa com segurança em tudo o que faz. Os que se tornam sábios são felizes, e a Sabedoria lhes dará vida. Com a Sabedoria o Senhor Deus criou a terra; e com seu conhecimento colocou o céu no lugar próprio.

A sua Sabedoria fez os rios nascerem e fez as nuvens darem chuva à terra. Filho, tenha sempre Sabedoria e compreensão e nunca deixe que elas se afastem de você.

Elas lhe darão vida, uma vida agradável e feliz. Você caminhará seguro e não tropeçará. Quando se deitar não terá medo, e o seu sono será tranquilo a noite inteira.

Você não ficará preocupado com os desastres que caem de repente como uma tempestade sobre os maus. Pois, o Senhor Deus lhe dará segurança e nunca deixará você cair numa armadilha.

Sempre que puder, ajude os necessitados. Não diga ao seu vizinho que espere até amanhã, se você puder ajudá-lo hoje.

Não planeje nenhum mal contra o seu vizinho, ele mora ao seu lado e confia em você.

Nunca discuta sem motivos com alguém que não lhe fez nenhum mal.

Não tenha inveja dos violentos, nem faça o que eles fazem, pois o Senhor Deus detesta os que praticam o mal, mas é amigo dos que são direitos.

O Senhor amaldiçoou a casa dos maus, porém abençoa o lar dos que são corretos. Ele zomba dos que zombam dele, mas ajuda os humildes.

Os sábios ganharão prestígio, mas os que não tem juízo passarão cada vez mais vergonha". Abraço. Davi.



A Doutrina das Emanações.

Esse texto é uma reflexão baseada na Ciência Esotérica sobre a doutrina da Trindade Divina e a Origem do Mundo em Gênesis. O livro Ísis Sem Véu, volume III, de Helena P. Blavatsky (1831-1899) será nosso roteiro para adentrarmos nessa abordagem. "Poderíamos acreditar que os eventos dos primeiros séculos do Cristianismo foram apenas os reflexos das imagens lançadas pelo espelho do futuro, ao tempo do Êxodo bíblico. Durante a tempestuosa época de Irineu de Lyon (130-202), a Filosofia Platônica, com a sua mística  submersão na Divindade, não era tão odiosa à nova doutrina ao ponto de impedir os cristãos de se apoiarem nela para a sua abstrusa metafísica de todos os modos e maneiras. Aliando-se com os terapeutas ascéticos, precursores e modelos dos monges e eremitas cristãos, foi em Alexandria, não nos esqueçamos, que eles fincaram as primeiras fundações da doutrina puramente platônica da Trindade. Esta se tornou mais tarde a doutrina Platônico Filônica, tal como a encontramos hoje. (Filon de Alexandria (25 AC 50 DC). Platão (428-347) considerava a natureza divina sob uma tríplice modificação da Causa Primeira, a razão ou o Logos, e a alma ou espírito do universo."Os três princípios árquicos ou originais", diz Edward E. Gibbon (1737-1794). Eram representados no sistema platônico como três deuses, unidos entre si por uma misteriosa e inefável geração. Unindo essa ideia transcendental com a figura  mais hipostática (teologia que forma uma só pessoa; união hipostática do Verbo Divino com a natureza humana) do Logos de Filon, cuja doutrina era a da antiga Cabala. Ela considerava o Rei Messias como o Metatron, ou o Anjo do Senhor, o Legatus descido à carne, mas não o próprio Ancião dos Dias. Os cristãos vestiram, com essa representação mística do Mediador para a raça decaída de Adão, a Jesus, o filho de Maria. Sob essa inesperada veste, sua personalidade se perdeu por completo. No moderno Jesus da Igreja Cristã, encontramos o ideal do imaginativo Irineu, não o adepto dos Essênios, o obscuro reformador da Galiléia. Nós o vemos sob a desfigurada máscara Platônica Filônica. Não como os discípulos o ouviram sobre a montanha. Assim veio a Filosofia Pagã em socorro da edificação do dogma principal. Mas quando os Teurgistas da terceira Escola Neo Platônica, privados de seus antigos mistérios, se esforçaram por unir as doutrinas de Platão com as de Aristóteles (384 AC 322), e, combinando as duas Filosofias, acrescentaram à sua Teosofia as doutrinas da Cabala Oriental, então os cristãos transformaram-se de rivais em perseguidores. Assim que as alegorias metafísicas de Platão fossem discutidas em público sob a forma de dialética grega, todo o elaborado sistema da Trindade Cristã seria desvelado, e o seu prestígio divino ficaria completamente transtornado. A Escola Eclética, alterando a ordem, adotou o método indutivo; e esse método se tornou o seu dobre de finados. De todas as coisas do mundo, as explicações lógicas e racionais tornaram-se as mais odiosas à nova religião de mistério; pois elas ameaçavam revelar todo o pano de fundo da concepção Trinitária, divulgar à multidão a Doutrina das Emanações, e assim destruir a unidade do todo. Isto não podia ser permitido, e não o foi. A história nos lembra dos meios cristãos a que se recorreu para tanto. A Doutrina Universal das Emanações, adotada desde tempos imemoriais pelas maiores Escolas em que ensinaram os filósofos cabalistas alexandrinos e orientais, explica o pânico que instalou-se entre os padres cristãos. Esse espírito de astúcia jesuítica e clerical, que induziu Parkhust, muitos séculos depois, a suprimir, em seu Dicionário Hebraico Inglês, o verdadeiro significado das primeiras palavras do Gênesis, tem sua origem nesses dias de guerra contra a agonizante Escola Neo Platônica. Os padres tinham decidido adulterar o sentido da palavra  "Daimôn" e temeram, acima de tudo, que o verdadeiro sentido esotérico da palavra Reshith fosse revelado às multidões, pois se o seu verdadeiro, assim como o da palavra hebraica Ashdoth (traduzida na Septuagínta por "anjos", quando significa emanações), fosse corretamente compreendido, o mistério da Trindade Cristã se teria esfacelado, levando em sua ruína a nova religião, juntamente com os escombros dos antigos mistérios. Essa é a verdadeira razão pela qual os dialéticos, assim como o próprio Aristóteles, o filósofo indagador, sempre foram odiosos à Teologia Cristã. Mesmo Lutero (1483-1586), enquanto preparava sua obra de reforma, sentindo o chão inseguro sob seus pés, não obstante tenha reduzido os dogmas à sua mais simples expressão, deu plena vazão ao seu medo e ódio por Aristóteles. A quantidade de ofensas que ela acumulou contra a memória  do grande lógico só pode ser igualada, jamais ultrapassada, aos anátemas e calúnias papais contra os liberais do governo italiano. Compilando-as, elas encheriam todo um volume de uma nova enciclopédia de modelos para as diatribes (crítica severa ou mordaz; escrito ou discurso agressivo ou injurioso) monacais (que se relaciona com o gênero de vida dos monges). É natural que o clero cristão jamais se tenha reconciliado com uma doutrina baseada na aplicação da lógica estrita ao raciocínio discursivo. O número daqueles que abandonaram a Teologia por essa razão jamais se fez conhecer. Eles fizeram perguntas e foram proibidos de fazê-las; como resultado, separação, ódio, e amiúde um mergulho desesperado nos abismos do Ateísmo. A concepção órfica do éter como o principal meio entre Deus e a matéria criada foi igualmente denunciada. O éter (na filosofia antiga foi considerado após terra, água, fogo e ar, o quinto elemento da substância primordial. Parmênides 540 AC 479 falou desse misterioso elemento em seus aforismos) órfico lembrava por demais vivamente o Archaeus, a alma do mundo, estando o segundo estreitamente relacionado em seu sentido metafísico com as emanações, por ser a primeira manifestação, Sephirah, ou luz divina. Quando então poderia ele inspirar maior medo, a não ser nesse momento crítico? Orígenes (182-254), Clemente de Alexandria (150-215), Calcídio, Metódio (825-885) e o Cabalista Maimônides (1138-1204), com base na autoridade do Targum de Jerusalém, a maior autoridade ortodoxa dos judeus, afirmavam que as duas primeiras palavras do Gênesis: BE - RESHITH, significam Sabedoria, ou Princípio, e que a ideia de que tais palavra significam "no princípio" jamais foi partilhada fora dos meios profanos, que não tinham permissão para penetrar mais profundamente no sentido esotérico da sentença. Isaac de Beausobre (1659-1738), e depois dele Godfrey Higgins (1772-1833), demonstraram o fato. "Todas as Coisas", diz a Cabala, derivam, por emanação, de um princípio; e esse princípio é o Deus (Desconhecido e Invisível). DEle emana imediatamente um poder substancial que é a imagem de Deus, e a fonte de todas as subsequentes emanações. Esse segundo princípio produz, pela energia (ou vontade e força) da emanação, outras naturezas, que são mais ou menos perfeitas, de acordo com seus diferentes graus de distância, na escala da emanação, da Fonte Primeira de Existência, e que constitui diferentes mundos, ou ordens de seres, todos unidos ao poder eterno de que emanam. A matéria não é senão o efeito mais remoto da energia emanativa da Divindade. O mundo material recebe  sua forma da ação imediata dos poderes bem abaixo da Fonte Primeira do Ser. Beausobre afirma ter Santo Agostinho (354-430), o maniqueu, dito o seguinte: "E se por Reshith entendemos o Princípio Ativo da Criação, e não o seu início, nesse caso perceberemos claramente que Moisés jamais pretendeu dizer que o céu e a Terra por meio do Princípio, que é Seu Filho. Não é ao tempo que ele se refere, mas ao autor imediato da criação, os Anjos, segundo Agostinho, foram criados antes do firmamento, e, de acordo com a interpretação esotérica, o céu e a Terra foram criados depois deles, emanando  do segundo Princípio, adotando assim o sentido exotérico da palavra conferido às multidões. A Cabala, tanto a Oriental, quanto a Judia, mostra que inúmeras emanações (as Sephiroth Judias) originaram-se do Primeiro Princípio, o principal dos quais era a Sabedoria. Essa Sabedoria é o Logos de Filon e Miguel, o chefe dos Aeons gnósticos; é o Ormasde dos Persas; Minerva, deusa da sabedoria, dos gregos, que emanou da cabeça de Júpiter; e a Segunda Pessoa da Trindade Cristã. Os primeiros padres da Igreja não tiveram de quebrar a cabeça em demasia; eles encontraram uma doutrina preparada que existia em todas as Teogonias (genealogia e filiação dos deuses. Conjunto de divindades de um povo Politeísta) milhares de anos antes da Era Cristã. Sua Trindade não é senão o Trio das Teogonias milhares de anos antes da Era Cristã. Sua Trindade não é senão o Trio das Sephiroth, as primeiras três luzes cabalísticas que, segundo Moisés Ben Nachman (1194-1270), "jamais foram vistas por alguém, não havendo nenhum defeito nelas, nem qualquer desunião". O primeiro número eterno é o Pai, ou o Caos Primitivo, invisível e incompreensível dos Caldeus, do qual emana o Inteligível. O Phtah (uma das pessoas da Trindade) egípcio, ou o Princípio de Luz, não a luz em si, e o Princípio de Vida, embora não tenha em si nenhuma vida. A Sabedoria pela qual o Pai criou os céus é o Filho, ou o andrógino cabalista Adão Cadmo. O Filho é ao mesmo tempo o Râ Masculino, ou Luz da Sabedoria. Prudência ou Inteligência, Sephirath, a sua parte feminina, e desse ser dual procede a terceira emanação, Binah ou Razão, a segunda Inteligência, o Espírito Santo dos cristãos. Por conseguinte, trata-se, estritamente falando de uma TETRAKTYS ou quaternidade, consistindo da Primeira Mônada Ininteligível, e de sua tríplice emanação, que constitui propriamente a nossa Trindade. Como então não constatar de imediato que, se os cristãos não tivessem propositadamente desfigurado em sua interpretação e tradução o texto do Gênesis Mosaico, para adaptá-lo às suas próprias concepções, teria sido impossível sua religião com seus dogmas atuais. Uma vez compreendida a palavra Reshith em seu novo sentido de Princípio e não de Início, e aceita a doutrina anatematizada das emanações, a posição da Segunda Pessoa da Trindade torna-se insustentável. Pois, se os anjos são as primeiras emanações divinas oriundas da Substância Divina, que existiam antes do Segundo Princípio, então o Filho antropomórfico (personalidade humana) é, na melhor das hipóteses, uma emanação como aqueles, e pode tanto ser o Deus hipostáticamente quanto nossas obras visíveis são nós mesmos. Que essas sutilezas metafísicas jamais entraram na cabeça do honesto e sincero Apóstolo Paulo é evidente; e tanto mais o é porque, como todos os judeus eruditos, ele estava bem familiarizado com a doutrina das Emanações e jamais pensou em deturpá-la. Como pode alguém imaginar que Paulo identificava o Filho como o Pai, quando ele nos diz que Deus criou Jesus Hebreus 9:11 "um pouco menor do que os anjos", e um pouco maior do que Moisés!  Hebreus 3:3 "Pois  esse Homem foi considerado de maior glória do que Moisés". Ignoramos quais ou quantas falsidades foram interpoladas posteriormente nos Atos dos Apóstolos pelos padres da Igreja; mas é evidente que Paulo sempre considerou a Cristo como um homem "cheio do Espírito de Deus", eis um ponto que não admite discussão: "No Arche era o Logos, e o Logos estava com Theos". João 1:1 "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava Deus, e o Verbo era Deus". A Sabedoria, a primeira emanação de Ain Soph; o Protogonos, a Hipostasis; o Adão Cadmo dos Cabalistas, o Brahma dos hindus; o Logos de Platão (428-347), e o Início de São João, são o Reshith, do livro do Gênesis. Se corretamente interpretado, ele subverte, como assinalamos, o elaborado sistema da Teologia Cristã, pois prova que atrás da Divindade Criadora há um deus Superior; um planejador e arquiteto; e que o primeiro é apenas o Seu agente executor, uma simples Força. Eles perseguiram os gnósticos, assassinaram os filósofos e queimaram os Cabalistas e os Maçons; e quando o dia do grande acerto chegar, e a luz Brilhar na escuridão, o que terão eles para oferecer no lugar da fenecida religião? O que responderão, esses pretensos monoteístas (Monoteísmo: crença em um só Deus. As três grandes religiões monoteístas são o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, embora este último negue a referida designação ao Cristianismo, por sua doutrina da Trindade. Algumas seitas cristãs são exclusivamente monoteístas e negam o dogma da Trindade, como os Monarquianos). O Monarquianismo era a doutrina cristã do século III que negava a Trindade das Pessoas, para afirmar que a Única Verdade era a Unidade Divina, na Pessoa do Pai; o chamado Patripassionismo. Esses adoradores e pseudo servos do único Deus vivo, ao seu Criador? Como  justificarão a longa perseguição daqueles que eram os verdadeiros seguidores do grande Megalistor, o supremo grande mestre dos Rosa Cruzes, o primeiro dos Maçons? Pois ele é o Construtor e Arquiteto do Templo do universo; Ele é o Verbum Sapienti. Todos sabem, escreveu Fausto, o grande líder da seita dos Maniqueu no século IV, "que os Evangelhos não foram escritos por Jesus Cristo, nem por seus apóstolos, mas muito tempo depois por algumas pessoas desconhecidas, que, julgando com razão que não lhes dariam crédito quando contassem coisas que não haviam testemunhado, encabeçaram suas narrativas com os nomes dos apóstolos ou dos discípulos contemporâneos". Ao comentar o assunto, A. Franck, o sábio erudito judeu do Instituto e tradutor da Cabala, expressa a mesma ideia, "Não temos razão", pergunta ele, "em considerar a Cabala como um precioso vestígio da filosofia religiosa do Oriente, que, transportado para Alexandria, se misturou à doutrina de Platão, e sob o nome usurpado de Dionísio, o Areopagita (Pseudo Dionísio é o nome pelo qual é conhecido o autor de um conjunto de textos, Corpus Areopagiticum, que exerceram, segundo os historiadores da filosofia e da arte, uma forte influência em toda a mística cristã ocidental da Idade Média. Esses textos foram muito lidos e admirados pelo Abade Suger (1081-1151) de Saint Denis - França, construtor do primeiro grande exemplar de arquitetura gótica: A Basílica de Saint Denis em Paris). O autor se apresenta como Dionísio, o ateniense membro do Areópago, o único convertido por São Paulo em Atos 17:34 "Todavia, chegando alguns homens a ele, creram; entre os quais Dionísio, areopagita, uma mulher por nome Dâmaris, e com ele outros", no século I. Mas provavelmente os textos foram escritos por um teólogo bizantino sírio do fim do século V ou início do século VI, originalmente em grego, depois traduzidos para o latim por João Escoto Erígena (815-877). Dionísio o Areopagita, foi bispo de Atenas, convertido e consagrado por São Paulo, foi assim capaz de penetrar no misticismo da Idade Média. Diz Louis Jacolliot (1837-1890): "O que é então essa filosofia religiosa do Oriente, que penetrou no simbolismo místico da cristandade? Respondemos: Essa filosofia, traços da qual encontramos entre os magos, os caldeus, os egípcios, os cabalistas hebreus e os cristãos, não é outra senão a dos brâmanes hindus, discípulo dos pitris, ou espíritos residentes nos mundos invisíveis que nos cercam. Mas se os gnósticos foram destruídos pelas perseguições, a Gnose, baseada na secreta ciência, ainda vive. Ela é a terra que ajuda a mulher e está destinada a abrir sua boca para engolir o Cristianismo medieval, o usurpador e assassino da doutrina do Grande Mestre. A Cabala Antiga, a Gnose, ou o conhecimento tradicional secreto, jamais ficou sem os seus representantes, em qualquer época ou país. As Trindades dos iniciados, reveladas à história ou ocultadas sob o véu impenetrável do mistério, foram preservadas e fixadas através das idades. Elas foram conhecidas como Moisés, Aholiab e Bezaleel, o filho de Uri, o filho de Hur, como Platão, Filon e Pitágoras, etc. Na transfiguração, vemo-las como Jesus, Moisés e Elias, os três Trismegisti; e os três cabalistas Pedro, Tiago e João, cuja revelação é a chave de toda a Sabedoria. Descobrimo-las no crepúsculo da história judia como Zoroastro (630 AC 553), Abraão e Terah, e depois como Henoc, Ezequiel e Daniel. Quem, dentre aqueles que sempre estudaram as filosofias antigas, que compreende intuitivamente a grandeza de suas concepções, a infinita sublimidade de seus conceitos sobre a Divindade Desconhecida, pode hesitar, por um instante, de dar preferência às suas doutrinas sobre a Teologia incompreensível, dogmática e contraditória das centenas de seitas cristãs? Quem, tendo uma vez lido Platão (428 AC 347) e penetrado o seu Demiurgo "a quem ninguém jamais viu, exceto o Filho", pode duvidar de que Jesus foi um discípulo da mesma doutrina secreta que instruiu o grande filósofo? Pois, como já mostramos antes, Platão nunca afirmou ser o criador de tudo que escreveu, mas deu todo o crédito a Pitágoras (571 AC 495), que, por sua vez, assinalava o remoto Oriente como a fonte de que derivaram sua informação e sua filosofia. Henry Thomas Colebrooke (1765-1835) mostra que Platão o confessa em suas epístolas, e diz que ele extraiu seus ensinamentos das doutrinas antigas e sagradas. Além disso, é inegável que as Teologias de todas as grandes nações concordam em si e mostram que cada uma é parte de um todo estupendo. Como os demais iniciados, vemos Platão em grandes dificuldades para ocultar o verdadeiro significado de suas alegorias. Toda vez que o assunto toca os maiores segredos da Cabala Oriental, segredo da verdadeira, cosmogonia do universo e do mundo ideal preexistente, Platão esconde sua filosofia na mais profunda escuridão. Seu Dialogo Timeu é tão confuso que só um iniciado pode compreender-lhe o sentido secreto. E Johann Lorenz von Mosheim (1693-1755) pensa que Filon de Alexandria (25 AC 50 DC) encheu suas obras com passagens diretamente contraditórias com o único propósito de ocultar a verdadeira doutrina. Pelo menos uma vez, vemos um crítico na pista certa. E essa própria ideia da Trindade, assim como a doutrina tão amargamente condenada das emanações, qual é a sua mais remota origem? A resposta é fácil, e as provas estão agora às mãos. Na mais sublime e profunda de todas as filosofias, a da universal Religião da Sabedoria, os primeiros traços da qual a pesquisa histórica agora encontra na antiga religião pré Védica da Índia. Como assinala o muito caluniado Jacolliot, "Não é nas obras religiosas da Antiguidade, tais como os Vedas, o Zend Avesta, a Bíblia, que temos de procurar a exata expressão das dignas e sublimes crenças daquelas épocas". A sagrada sílaba primitiva, composta das três letra A U M, na qual está contida a Trimurti (Trindade) Védica, deve ser mantida em segredo, como outro triplo Veda, diz Manu no livro Sagrado Hindu. Svayambhú é a Divindade não revelada; é o Ser que existe por si e de si; é o germe central e imortal de tudo que existe no universo. Três Trindades emanam e nele se confundem, formando uma unidade Suprema. Essas Trindades, ou a tríplice Trimúrti, são: Nara, Nári e Viraj, a Tríada incial; Agni, Vayu e Surya, a Tríada manifesta: Brahma, Vishnu e Shiva, a Tríada Criadora. Cada uma dessas Tríadas torna-se menos metafísica e mais adaptada à inteligência vulgar à medida em que desce. A última torna-se assim apenas o símbolo em sua expressão concreta; conclusão necessária de uma concepção puramente metafísica. (A Metafísica é uma das disciplinas fundamentais da filosofia. Os sistemas metafísicos, em sua forma clássica, tratam de problemas centrais da filosofia teórica. São tentativas de descrever os fundamentos, as condições, as leis, a estrutura básica, as causas ou princípios; bem como o sentido e a finalidade da realidade como um todo ou dos seres em geral. Um ramo central da metafísica é a ontologia, a investigação sobre as categorias básicas do ser e como elas se relacionam umas com as outras. outro ramo central da metafísica é a cosmologia, o estudo da totalidade de todos os fenômenos no universo. Concretamente, isso significa que a Metafísica Clássica ocupa-se das questões últimas da filosofia, tais como: há um sentido último para a existência do mundo? A organização do mundo é necessariamente essa com que deparamos, ou seriam possíveis outros mundos? Existe um Deus? Se existe, como podemos conhecê-lo? Existe algo como um espírito? Há uma diferença fundamental entre mente e matéria? Os seres humanos são dotados de almas imortais? São dotados de livre arbítrio? Tudo está em permanente mudança, ou há coisas e relações que, a despeito de todas as mudanças aparente, permanecem sempre idênticas? O que diferencia a metafísica das ciências particulares é que a metafísica considera o inteiro do ser enquanto as ciência particulares estudam apenas partes específicas do ser). Ao lado do Svayambhu, há as dez Sephiroth dos Cabalistas hebreus, os Prajapatis hindus, o Ain Soph dos primeiros, que corresponde ao Grande Desconhecido, expresso pelo A U M místico dos últimos. Diz A. Franck, o tradutor da Cabala: Os dez Sephiroth ( ... ) dividem-se em três classes, cada uma das quais nos apresenta a divindade sob um aspecto diferente, embora o todo permaneça uma Trindade Indivisível. Os primeiros três Sephiroth são puramente intelectuais no que concerne à Metafísica; expressam a identidade absoluta da existência e do pensamento, e formam o que os modernos cabalistas chamam de mundo inteligível, que é a primeira manifestação de Deus. Os três seguintes ( ... ) fazem-nos conceber. Deus em um de seus aspectos, como a identidade entre bondade e sabedoria, noutro aspecto, eles nos mostram, no Bem Supremo, a origem da beleza e da magnificência (na criação). Por isso, eles se chamam virtudes, ou constituem o mundo sensível. Finalmente, sabemos, pelo último desses atributos, que a Providência Universal, o Artista Supremo, é também Força Absoluta, a causa todo poderosa, e que, ao mesmo tempo, essa causa é o elemento gerador de tudo que existe. São estes últimos Sephirot que constituem o mundo natural, ou a natureza em sua essência e em seu princípio ativo, natura naturans. Essa concepção cabalística revela-se assim idêntica à da filosofia hindu. Todo aquele que ler Platão e seu Diálogo Timeu encontrará essas ideias fielmente reproduzidas pelo filósofo grego. Timeu é um dos diálogos de Platão, principalmente na forma de um longo monólogo do personagem título, escrito por volta de 360 AC. O trabalho apresenta a especulação sobre a natureza do mundo físico e os seres humanos. É seguido pelo Diálogo Críticas. Falantes do diálogo são: Sócrates, Timeu de Locros, Hermócrates e Crítias. Alguns estudiosos acreditam que Crítias que aparece no diálogo não é o mesmo Crítias da Tirania dos Trinta, mas seu avô, que também era chamado Crítias. O diálogo ocorre um dia após Sócrates descrever seu estado ideal. Nas obras de Platão tal discussão ocorre em sua obra A República. Sócrates sente que sua descrição do estado ideal não foi suficiente para fins de entretenimento e que "eu ficaria feliz em ouvir um relato sobre a realização de operações com outros estados". Hermócrates quer obrigar Sócrates e menciona que Crítias sabe exatamente sobre isso para então fazê-lo. Crítias começa a história da viagem de Sólon ao Egito, onde ouve a história de Atlântida e como Atenas costumava ser um estado ideal que, posteriormente, travou uma guerra contra Atlântida. Crítias acredita que se adiantando em suas explicações e menciona que Timeu dirá parte da história da origem do Universo para o homem. A história de Atlântida é adiada e escrita então por Crítias. O conteúdo principal do diálogo segue-se pela exposição de Timeu.  Timeu começa com uma distinção entre o mundo físico e o mundo eterno. O mundo físico é o mundo que muda e perece; é o objeto de parecer e de sensação irracional. O mundo eterno não muda nunca; por isso é apreendido pela razão. Os discursos sobre os dois mundos são condicionados pela natureza distinta de seus objetos. De fato, uma descrição do que é imutável, fixo e claramente inteligível será imutável e fixo, enquanto uma descrição do que muda, provavelmente, também vai mudar e ser apenas provável. Timeu sugere que nada se torna ou muda sem causa, então a causa do universo deve ser um Demiurgo ou um deus, uma figura que Timeu refere-se a como  o pai e criador do universo. E já que o universo é justo, o Demiurgo deve ter olhado para o modelo eterno para transformá-lo e não à um modelo perecível. Assim, usando o mundo eterno e perfeito de "formas" ou ideais como um modelo, ele começou a criar o nosso mundo, que anteriormente só existia em um estado de desordem. No Diálogo Timeu, Platão utiliza a noção de Demiurgo  como inteligência ordenadora do Universo, noção esta que Platão recebeu de Anaxágoras (500 AC 428). Todavia, diferentemente deste Nous de Anaxágoras, o Demiurgo em Platão não seria apenas inteligência, uma vez que haveria nele um caráter artesanal, que constitui, ao lado da persuasão e da ação ordenadora, a atividade prática desse artífice. O Demiurgo contempla e produz, existindo nele atividades teóricas e prática inseparáveis. Ele não seria um simples artesão, mas aquele que produz transferindo para as cópias as virtudes de um modelo. No diálogo, há uma série de analogias ligadas ao trabalho manual do artesão. De fato, o Demiurgo produz a Alma do Mundo, a Alma Humana e a Alma Vegetativa, utilizando técnicas de metalurgia. Constitui o corpo do mundo como uma construção semelhante a de um edifício; na produção da esfericidade do corpo do mundo, na fabricação dos ossos e do esqueleto, utilizando técnicas de cerâmica. Além disso, é qualificado de modelador de cera e conhecedor da arte de entrançar. Além disso, no Timeu encontra-se a teoria das formas inteligíveis, que explicaria a natureza do mundo sensível. Pelas ideias poder-se-ia explicar a natureza do universo ou da totalidade das coisas sensíveis. Estas estão sujeitas a geração e foram criadas de acordo com um modelo (paradigma eterno). Assim, causas imutáveis seriam aplicadas ao que é  instável por natureza e as coisas sensíveis teriam nas formas inteligíveis a própria possibilidade de existência. Além disso, a imposição do segredo era tão escrita para os cabalistas, como o era para os iniciados de Adyta e os Yogues hindus. "Fecha tua boca, para que não fales disso (os mistérios), e teu coração, para que não penses em voz alta; e se teu coração escapar, trá-lo de volta, pois tal é o objetivo de nossa aliança. Esse é o segredo que dá morte; fecha tua boca para não revelá-lo ao vulgo; comprime teu cérebro para que nada escape dele e caia noutra parte". Agrushada Parikshai.  Na verdade, o destino de muitas gerações futuras esteve suspenso por um frágil fio, nos dias do terceiro e quarto século. Não tivesse o Imperador enviado, em 389, a Alexandria (Egito), um edito, a que obrigaram os cristãos, para a destruição de todos os ídolos, nosso próprio século jamais teria tido um panteão mitológico de sua própria lavra. A Escola Neo Platônica jamais atingiria tal profundidade filosófica como quando próxima de seu fim. Unindo a Teosofia mística do velho Egito com a filosofia refinada dos gregos; mais próximos dos antigos mistérios de Tebas e Mênfis como nunca o haviam sido; versados na ciência da predição e da adivinhação, assim como na arte dos terapeutas; amigos dos homens mais agudos da nação judia, que estavam profundamente imbuídos das ideias zoroastrianas, os Neo Platônicos visavam amalgamar a antiga sabedoria da Cabala Oriental com as concepções mais refinadas dos Teósofos Ocidentais. Não obstante a tradição dos cristãos, que, por razões políticas, houveram por bem repudiar, após os dias de Constantino II (316-340), os seus tutores, a influência da nova filosofia platônica é visível na adoção subsequente dos dogmas, cuja origem pode ser remontada com muita facilidade a essa notável Escola. Embora mutilados e desfigurados, eles ainda preservam uma forte semelhança familiar, que nada pode obliterar. Mas, se o conhecimento dos poderes ocultos da Natureza abre a percepção espiritual do homem, alarga-lhe as faculdades intelectuais, e o leva infalivelmente a uma veneração mais profunda do Criador, por outro lado a ignorância, a estreiteza dogmática e um medo infantil de contemplar o fundo das coisas levam invariavelmente ao fetichismo e à superstição. Quando Cirilo (378-444), o Bispo de Alexandria abraçou abertamente a causa de Ísis, a deusa egípcia, e a antropomorfizou em Maria, a mãe de Deus, e a controvérsia Trinitária instalou-se, desde esse momento, a doutrina egípcia da emanação do Deus criador oriundo de Emepht começou a ser torturada de mil maneiras, até que o Concílio concordou com a sua adoção na forma atual, que vem a ser o Ternário desfigurado dos cabalistas Salomão e Filon! Mas como sua origem era ainda por demais evidente, deram o nome de Cristo ao leste, ao Adão Cadmo, ao Verbo, ao Logos, identificando-o em essência e existência com o Pai ou Ancião dos Dias. A Sabedora Oculta, segundo o dogma cristão, tornou-se idêntica e coeterna com a sua emanação, o Pensamento Divino". Abraço. Davi.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Um Dia de Domingo.

Eu preciso te falar
Te encontrar de qualquer jeito
Pra sentar e conversar
Depois andar de encontro ao vento


Eu preciso respirar
O mesmo ar que te rodeia
E na pele quero ter
O mesmo sol que te bronzeia
Eu preciso te tocar
E outra vez te ver sorrindo
Te encontrar num sonho lindo


Já não dá mais pra viver
Um sentimento sem sentido
Eu preciso descobrir
A emoção de estar contigo
Ver o sol amanhecer
E ver a vida acontecer
Como um dia de domingo


Faz de conta que ainda é cedo
Tudo vai ficar por conta da emoção
Faz de conta que ainda é cedo
E deixar falar a voz do coração


Compositor brasileiro Tim Maia (1942-1998)

Contra a Indiferença dos Ateus. Parte II.

Continuamos a reflexão de Blaise Pascal (1623-1662) contra a indiferença dos ateus. "Tal negligência numa questão em que se trata da própria pessoa, da própria eternidade, do próprio Todo, não me irrita mais do que enternece; assombra-me e espanta-me, sendo para mim uma monstruosidade. Não o afirmo pelo zelo piedoso de uma devoção espiritual. Entendo, ao contrário, que se deve ter esse sentimento por um princípio de interesse humano e por um interesse de amor próprio; é preciso não ver nisso, apenas, o que vêm as pessoas menos esclarecidas. É preciso ter a alma muito elevada para compreender que não há ai satisfação verdadeira e sólida. Que todos os nossos prazeres não passam de vaidade. Que os nossos males são infinitos; e que, finalmente, a morte que nos ameaça a cada instante deve colocar-se infalivelmente, dentro de poucos anos, na terrível necessidade de sermos eternos, ou aniquilados, ou infelizes. Nada mais real nem mais terrível do que isso. Por mais corajosos que desejemos ser, é esse o fim que espera mesmo a mais bela vida do mundo. Que se reflita sobre isso e se diga, depois, se não é indubitável que o único bem da vida presente é a esperança de uma vida futura. Que só somos felizes na medida em que dela nos aproximamos, e que, não havendo mais infelicidades para os que têm inteira certeza da eternidade, também não há felicidade para os que não possuem luz alguma. É, por conseguinte, um grande mal permanecer nessa dúvida, sendo ao menos um dever indispensável investigar quando ela existe, porque aquele que duvida e não investiga se torna, então, não só infeliz, mas também injusto. Com efeito, se com isso se mostra tranquilo e satisfeito, se disso faz profissão e se por isso se sente orgulhoso, fazendo disso o motivo de sua alegria e de sua vaidade, não tenho termos para qualificar tão extravagante criatura. Onde se foram buscar tais sentimentos? Que motivo de alegria existe quando só se esperam misérias sem remédio? Que motivos de orgulho pode haver nas obscuridades impenetráveis e como admitir que tal raciocínio seja o de um homem razoável? Não sei quem me pôs no mundo nem o que é o mundo, nem mesmo o que sou. Estou numa ignorância terrível de todas as coisas. Não sei o que é o meu corpo, nem o que são os meus sentidos, nem o que é a minha alma, e até esta parte do meu ser que pensa o que eu digo, refletindo sobre tudo e sobre si própria, não se conhece melhor do que o resto. Vejo-me encerrado nestes medonhos espaços do universo e me sinto ligado a um canto da vasta extensão, sem saber porque fui colocado aqui e não em outra parte, nem porque o pouco tempo que me é dado para viver me foi conferido neste período de preferência a outro de toda a eternidade que me precedeu e de toda a que me segue. Só vejo o infinito em toda parte, encerrando-me como um átomo e como uma sombra que dura apenas um instante que não volta. Tudo o que sei é que devo morrer breve. O que, porém, mais ignoro é essa morte que não posso evitar. Assim como não sei de onde venho, também não sei para onde vou. Sei, apenas, que, ao sair deste mundo, cairei para sempre no nada ou nas mãos de um Deus irritado, sem saber em qual dessas duas situações deverei ficar eternamente. Eis a minha condição, cheia de miséria, de fraqueza, de obscuridade. Concluo, de tudo isso, que devo passar todos os dias da minha vida sem pensar em descobrir o que me deve acontecer. Talvez pudesse encontrar algum esclarecimento nas minhas dúvidas, mas não quero dar-me a esse trabalho, nem dar um passo nesse sentido. Tratando com desprezo os que com isso se preocupam, quero experimentar esse grande acontecimento sem previdência e sem temor, deixando-me passivamente conduzir à morte, na incerteza da eternidade da minha condição futura. Quem desejaria ter como amigo um homem que assim falasse? Quem o escolheria para lhe comunicar as suas intimidades (confidências)? Quem recorreria a ele em suas aflições? Finalmente, a que utilidade, na vida, se poderia destiná-lo? Na verdade, é gloriosos, para a religião, ter como inimigos homens tão insensatos, pois a sua oposição lhe é tão pouco perigosa que serve, ao contrário, para o estabelecimento de suas principais verdades. Com efeito, a fé cristã não visa, principalmente, senão a estabelecer estas duas coisas: a corrupção da natureza e a redenção de Jesus Cristo. Ora, se eles não servem para mostrar a verdade da redenção pela  santidade dos seus costumes, servem ao menos, admiravelmente, para mostrar a corrupção da natureza com sentimentos tão desnaturados. Nada é tão importante para o homem como a sua condição, e nada lhe é tão temível como a eternidade. Por conseguinte, se se acham homens indiferentes à perda do próprio ser e ao perigo, de uma eternidade de miséria, isso não é natural. Procedem de modo inteiramente diverso em relação a todas as outras coisas: temem até as mais insignificantes, e as preveem, e as sentem. O mesmo homem que passa tantos dias e tantas noites cheio de cólera e de desespero por ter perdido um cargo, ou por alguma ofensa imaginária à sua honra, sabe também que vai perder tudo com a morte, sem que por isso se inquiete ou se comova. É uma coisa monstruosa ver, num coração e ao mesmo tempo, essa sensibilidade pelas menores coisas e essa estranha insensibilidade pelas maiores. É um encantamento incompreensível e um adormecimento sobrenatural, marcando uma força todo poderosa que os causa. É preciso haver um estranho abalo na natureza do homem para que possa vangloriar-se de se achar nesse estado em que parece incrível que uma só pessoa possa estar. No entanto, a experiência me faz ver tão grande número delas que seria de nos surpreendermos, se não soubéssemos que quase todas fingem ser assim e que não o são. São pessoas que ouviram dizer que as belas maneiras do mundo consistem em fazer-se de louco. É o que chamam ter sacudido o jugo e o que experimentam imitar. Mas, não seria difícil explicar-lhes quanto se arriscam quando dessa forma procuram a estima. Não é esse o meio de granjeá-la, mesmo quando se trata de pessoas que julgam sensatamente as coisas e que sabem que o único caminho para triunfar é aparentar honestidade, fidelidade, critério e capacidade de bem servir o amigo. De vez que os homens só gostam, naturalmente, do que lhes possa ser útil. Com efeito, que vantagem temos em ouvir um homem dizer que sacudiu o jugo, que não crê na existência de um Deus que vele sobre suas ações, que se considera como único senhor de sua conduta e que não pensa em prestar contas senão a si próprio?  Pensarão, por isso, que nos levarão a depositar-lhes mais confiança e a esperar  seus consolos, conselhos e socorros em todas as necessidades da vida? Pretenderão alegrar-nos dizendo-nos que estão convencidos de que a nossa alma não passa de um pouco de vento e de fumaça, e isso num tom orgulhoso e satisfeito? Será coisa que se diga com alegria? Não será, ao contrário, uma coisa que deva ser dita com tristeza, como sendo a mais triste do mundo? Se pensassem nisso seriamente, veriam que isso é tão mal apanhado, tão contrário ao bom senso, tão oposto à honestidade e tão afastado em tudo dessa boa aparência que mostram, que seriam antes capazes de regenerar do que de corromper os que tivessem alguma inclinação para segui-los. E, com efeito, fazei-os prestar contas dos seus sentimentos e das razões que possuem para duvidar da religião (cristã); dirão coisas tão frívolas e tão baixas que vos persuadirão do contrário. Foi o que muito a propósito lhes disse um dia alguém: "Se continuardes a discorrer dessa maneira, na verdade me convertereis". E tinha razão, de fato, quem não teria horror de se ver com sentimentos em que se têm como companheiros pessoas tão desprezíveis? Eis porque os que não fazem senão fingir esses sentimentos seriam bem desgraçados em contrariar seu natural para tornar-se os mais impertinentes dos homens. Se se desgostam, no fundo do coração, por não terem mais luz, não o dissimulem, pois tal declaração não será vergonhosa. Só há vergonha em não possuí-la. Nada acusa tanto uma extrema fraqueza de espírito como não conhecer qual é a desgraça de um homem sem Deus. Nada marca tanto uma disposição má de sentimentos como não desejar a verdade das promessas eternas; nada é mais covarde do que mostrar valentia contra Deus. Deixem, pois, essas impiedades para os que são de índole bastante má para serem verdadeiramente  capazes disso, sejam ao menos homens de bem, se não puderem ser cristãos. E reconheçam, finalmente, que só há duas espécies de pessoas que podem ser chamadas de razoáveis: ou os que servem Deus de todo o coração porque o conhecem, ou os que o procuram de todo o coração porque não o conhecem. Mas, quanto aos que vivem sem conhecê-lo e sem procurá-lo dignos de seu próprio cuidado que não são dignos do cuidado dos outros, sendo preciso ter toda a caridade da religião (cristã) que eles desprezam para não os desprezar até abandoná-los em sua loucura. Mas,  como essa religião (cristã) nos obriga a observá-los sempre, enquanto estiverem nesta vida. Como capazes da graça que pode esclarecê-los, e a acreditar que podem em pouco tempo tornar-se mais cheios de fé do que nós o somos, podendo nós, ao contrário, cair na cegueira em que eles se acham. É preciso fazer por eles o que desejaríamos que se fizesse por nós se estivéssemos em seu lugar, e chamá-los a ter piedade de si próprios e a dar ao menos alguns passos para tentar descobrir luzes. Dediquem a esta leitura algumas horas que tão inutilmente empregam fora. Se alguma aversão experimentarem, talvez reconheçam ainda assim alguma coisa ou, pelo menos, não perderão muito. Quanto aos que nisso usarem de toda a sinceridade e mostrarem um verdadeiro desejo de descobrir a verdade, espero que se satisfarão e ficarão convencidos das provas de uma religião (cristã) tão divina por mim coligidas (chegar a uma conclusão fazendo inferência sobre o assunto abordado) aqui". Abraço. Davi.