sexta-feira, 31 de março de 2017

ABRA O SEU CORAÇÃO.



Espiritualidade. Texto de Rajneesh Chandra Mohan Jain – Osho (1931-1990). ABRA SEU CORAÇÃO. Osho – Na maior parte da minha vida, eu me mantive à distância, separado e isolado, e, assim, eu tenho estado protegido das pessoas e situações. O meu medo mais íntimo sempre foi o de abrir meu coração totalmente. O vasto amor que eu sinto poderia derramar-se com água de um poço transbordando e seria perdido, desviado ou rejeitado. Minha essência é como uma flor delicada, e se ela florescesse num terreno errado ela poderia com facilidade ser maldosamente machucada ou destruída. Este é o meu medo. Seria este o tempo e o lugar para abrir o meu coração totalmente? Tom Cassidy – Este é um dos medos mais básicos de todos os seres humanos. Este é o medo que tem dado origem aos monges e às freiras. Todo o passado da humanidade foi dominado por esse medo, como um câncer da alma.  Parece muito lógico que, se você compartilhar o seu amor, ele será desperdiçado e logo você ficará infeliz. Essa é a lei comum da economia: se você quiser ter mais dinheiro, não o compartilhe, seja miserável. Ganhe o tanto que você conseguir e dê o mínimo possível. Somente assim você consegue acumular e ficar rico. Isso é verdadeiro no que se refere ao mundo exterior, mas é absolutamente falso quanto ao mundo interior; ali funciona uma lei totalmente diferente. A lei interna é: se você não dá, você perde; se você  dá, você conserva. Quanto mais você dá, mais você tem. Quanto menos você dá, menos você tem. Se você não der nada, nada terá; ficará completamente vazio, um túmulo, e dentro do túmulo não há qualquer possibilidade de uma flor desabrochar. As flores necessitam do sol, da chuva, do vento, das estrelas, do céu, dos pássaros, da Terra. Por mais delicada que ela seja, ela necessita abrir-se para a existência. Em tal abertura, a fragrância é liberada, o esplendor que estava preso é liberado. Tom, você é basicamente um monge. A palavra monge é significativa; ela quer dizer “aquele que vive uma vida solitária”, aquele que vive uma vida sem relacionamentos, sem relações, sem amar, sem compartilhar; aquele que vive uma vida sem janelas, fechado por todos os lados, completamente fechado em si mesmo devido ao medo de que, se abrir, quem sabe o que acontecerá com seu coração sensível, com seu delicado ser interior? Ele tem medo de rejeição, medo de situações, medo do desconhecido. Ele se agarra a si mesmo, mas esse agarrar só lhe traz “morte”. Ele pode seguir arrastando-se por anos, mas isto não é vida, isto é suicídio lento. A própria palavra monge quer dizer aquele que decidiu viver uma vida solitária. Da mesma raiz vem monastério, onde as pessoas vivem solitariamente. Da mesma palavra vêm outros como monopólio, monotonia, monogamia. Tentar viver por si mesmo, desconectado dos outros, é a ideia mais perigosa que alguém pode ter, e uma vez que ela começa a tomar um colorido religioso, fica muito difícil livrar-se dela, pois ela satisfaz o seu ego, ela alimenta tudo o que é errado em você e destrói tudo o que é belo em você. Dentro de um túmulo não há qualquer possibilidade de rosas desabrocharem, mas existe a possibilidade de cobras, escorpiões e aranhas; tudo o que é feio e venenoso. Se o túmulo está completamente fechado, o seu próprio ar se torna venenoso. E milhões de pessoas estão vivendo a vida de monges e freiras. Elas podem não ter ido para o monastério, elas podem estar vivendo com suas esposas e filhos, mas estão fechadas. Eles podem estar vivendo no mundo, mas se protegendo muito, sempre cautelosas e calculando, para que suas vidas não tenham qualquer alegria, dança ou canção. É preciso um pouco de coragem para fazer da vida uma celebração. Você diz, Tom: Na maior parte da minha vida, eu me mantive à distância (...). Você tem sido um suicida! Vida significa estar junto, com a existência, com as árvores, com os rios, com as pedras, com as pessoas, com os animais, com tudo o que é. A única maneira de tornar a sua vida rica é relacionar-se com ela . Quanto mais você se relaciona, mais multidimensionalmente você é, mais rico você é, mais você cresce e desabrocha. Ainda há tempo. Abandone esta ideia estúpida de estar à distância, separado e isolado. Isto você pode fazer depois de morrer! Então você terá tempo, mais do que suficiente. Pelo seu nome, parece que você é um cristão. Então, até o dia do julgamento final, você terá tempo mais do que suficiente. Você poderá viver como um monge em seu túmulo, e você poderá guardar a bíblia e o rosário com você. Mas enquanto você estiver vivo, enquanto está imensa oportunidade estiver sendo dada a você, viva-a, alegre-se com ela. Jesus disse repetidas vezes aos seus discípulos: “alegrai-vos sempre no Senhor, outra vez vos digo – alegrai-vos”, Filipenses 4,4. Jesus não era um monge, ele era um homem vivo. Ele viveu com todo tipo de pessoas, os jogadores, os bêbados, as prostitutas, os pecadores, os cobradores de impostos. Ele viveu – e não com a ideia de que era “mais santo do que você”, ele viveu com grande amizade. Ele gostava das festas que se prolongavam, das danças e da música. E, acredite, ele não estava constantemente evangelizando, ela fazia especulações também. E ele bebia, ele gostava de vinho – e ele compartilhava isso com seus discípulos. O jejum não era o seu caminho, mas sim a festa. Não seja monacal (hábito de reclusão, solidão). Ser um homem é uma oportunidade tão grande que não há necessidade alguma de desperdiça-la. E lembre-se de uma coisa: as coisas das quais você tem medo (...) de abrir meu coração totalmente. O vasto amor que eu sinto poderia derramar-se como água de um poço transbordando (...). Por quem você está sentindo este vasto amor? Só por você mesmo? Porque amar significa ter uma direção, um objeto. O amor é sempre endereçado a alguém. A quem o seu amor é endereçado? Você é como um envelope ainda não aberto: você nem mesmo leu o que está escrito na carta, você nem sabe se existe uma carta dentro ou se está simplesmente carregando um envelope vazio. A não ser que abra o envelope, você nunca saberá. Abra-o! E lembre-se, o poço nunca se esgota porque no fundo ele é conectado ao oceano. O oceano está continuamente alcançando-o em pequenas nascentes. Na verdade, se você não tirar água do poço, ele morrerá, porque as nascentes não serão mais necessárias e ficarão bloqueadas. Não sendo usadas, elas perderão a sua função, e a velha água se tornará estragada e morta, talvez venenosa. É bom para o poço que sua água seja tirada. Quanto mais água você tirar, mais correntes de água fresca chegarão ao poço. O poço não está desconectado da existência. Certamente o seu coração é um poço. Se ele for mantido fechado, você não captará a energia do Universo fluindo para você. Continue se esvaziando e você ficará surpreso; quanto mais se esvaziar, mais cheio você ficará. Por isto é que Gautama, o Budha, enfatiza a palavra shunya, zero. Torne-se um zero! Se quiser tornar-se cheio, a sua mensagem é, simplesmente se torne vazio, um nada, só espaço, puro espaço, um espaço sem limites contendo nada. Apenas esvazie-se totalmente e, você não será capaz de acreditar, um milagre acontece. Quando você está totalmente vazio, a existência toda entra em você. Todas as estrelas estão dentro de você, assim como o sol e a lua. De repente você se vê tão vasto quanto o Universo. Ser nada é a única maneira de ser tudo. Ser ninguém é a única maneira de ser divino. O vazio traz o divino. E não se preocupe com seu amor ficando perdido; nada jamais é perdido. O mundo sempre contém a mesma quantidade de tudo, nem mais nem menos. Isso agora é um fato científico; não existe um simples átomo a menos ou a mais do que o que sempre existiu. A quantidade do Universo permanece absolutamente a mesma, pois de onde alguma coisa nova pode vir? A existência compreende tudo, não existe “algum outro lugar”. E para que outro lugar qualquer coisa pode ir? Não existe outro lugar para se ir, assim, nada jamais é perdido. Talvez possa demorar um pouco mais para se alcançar a pessoa certa, mas sempre se alcança. Cante a canção e não se preocupe! Ela alcançará a pessoa certa no tempo certo. Se não for hoje, será amanhã, se não for nesta sua vida, então em algum outro tempo. Mas ela alcançará, com certeza. Ela sempre encontra a pessoa certa que pode absorvê-la. Simplesmente cante a canção. Não se preocupe com quem ela irá alcançar; toda a sua preocupação deve ser: cantar com totalidade, e isso é tudo. Mais do que isso, não é exigido de ninguém. Não lhe cabe saber se ela será ouvida ou não. Quando uma flor nasce no meio de uma selva, ela não está preocupada se alguém vai passar por ali, ela simplesmente libera a fragrância. Se ela alcançar alguém para cheirá-la, ótimo: se ela não alcançar, qual o problema? A flor desabrochou, ela se ofereceu ao Universo. Agora fica por conta do Universo fazer o que quiser com ela. Nada jamais é perdido, desviado ou rejeitado. Mas as pessoas se sentem muitas vezes rejeitadas porque antes mesmo delas darem algo, já existe a expectativa. Se sua expectativa não for satisfeita, elas se sentem rejeitadas. É a expectativa que está criando problema, não o amor. Dê o amor sem qualquer corda amarando-o. Dê o amor pelo puro prazer de dar. Alegre-se dando-o. O pássaro cuco ao cantar distante, não se preocupa se alguém está gostando ou não. A estrela distante – você pensa que ela está preocupada se um poeta está escrevendo um belo poema sobre ela ou se um Vincent van Gogh (1853-1890) está pintando-a, ou se um fotógrafo ou um astrônomo estão preocupados com ela? A estrela não está interessada nisso. A sua alegria está em continuar brilhando. Simplesmente abra o seu coração, Tom Cassidy. E abra-o totalmente, sem quaisquer expectativas e condições. É certo que ele alcançará o coração certo: isto sempre acontece. Quando eu comecei a cantar a minha canção, não havia ninguém para ouvi-la. Depois as pessoas começaram a chegar. Eu fiquei surpreso: como elas ouviram? Por que essas pessoas continuam vindo? De todas as direções, de todo o mundo as pessoas começaram a vir. Como você chegou aqui? E eu não estava esperando que alguém viesse. Eu estava simplesmente cantando a minha canção, eu estava desfrutando isso. Há poucos dias um sannyasin, perguntou: Osho, eu tive um sonho: eu estava sentado sozinho no Budha Hall e então você chegou. Você sentou-se na cadeira e eu fiquei muito intrigado porque eu estava só e não avia mais ninguém no Budha Hall, todo ele estava vazio. E eu estava preocupado com o que você iria fazer. Não precisa se preocupar, eu farei a minha parte. Eu não posso deixa-lo só. Eu falarei para você por uma hora e meia continuamente. E você também não pode escapar. Quando há muitas pessoas, umas poucas conseguem escapar, mas se você está sozinho, para onde poderá ir? Eu seguirei você! Sem pessoa alguma, ainda que você não esteja lá, eu estarei sozinho no Budha Hall, eu cantarei aminha canção. Tente isso um dia! Eu ainda contarei minhas piadas e se não houver ninguém para rir delas, eu mesmo rirei. Se não for de piada, porque eu já a conheço, estarei rindo do fato de não ter ninguém lá e, ainda assim, eu estar contando uma piada! Que ridículo! Tom, não se preocupe. Você diz: Minha essência é como uma flor delicada (...). Então, permita que ela assim seja! Ela é bela, ela é uma flor delicada. Permita que os outros também participem de sua fragrância, permita que os outros também bebam de sua fonte. Logo a flor morrerá, à tardinha ela já terá ido. Assim, não a esconda, pois mesmo se escondê-la, você não conseguirá salvá-la. De manhã, a rosa abre suas pétalas, ao final da tarde as pétalas definham e a rosa se vai. Antes que ela se vá, permita que ela seja compartilhada, deixe que as crianças brinquem ao seu redor. Deixe todo mundo se alegra! Do contrário, você estará morrendo sem estar realizado. Ela é uma flor delicada, mas quanto mais delicada for, mais rapidamente ela tem que se abrir a existência, ela não pode esperar pelo amanhã – talvez ela não esteja aqui amanhã. E você está preocupado: se ela florescesse num terreno errado (...). Não há terreno errado em lugar algum. Na verdade, se uma rosa consegue florescer num deserto, aquele será o mais belo terreno e ela será uma rosa excepcional. Se ela puder desabrochar entre pedras, então aquela rosa deve ser um Budha, não menos do que isso; um Cristo, não menos do que isso. Num terreno adequado, num jardim, as flores comuns desabrocham, mas as flores extraordinárias desabrocham também entre as pedras e no deserto. Assim, não se preocupe com o terreno e não se preocupe que ela poderia com facilidade ser maldosamente machucada ou destruída. Tudo que nasce será destruído, por isso, antes que ela seja destruída, permita que ela tenha a sua dança. E você está me perguntando: Seria este o tempo e o lugar para abrir o meu coração totalmente? Todo tempo e todo lugar é o lugar certo! E porque você está aqui neste momento, permita que este seja o lugar. Onde você poderia encontrar um espaço melhor, com pessoas mais bonitas, mais receptivas, mais amorosas do que estas que estão à sua volta neste Budhafield? Tom Cassidy, você esperou tempo demais, não espere mais. Este é o tempo. Nunca confie no momento seguinte; o amanhã nunca vem. É agora ou nunca!. www.oshobrasil.com.br. Abraço. Davi.

quinta-feira, 30 de março de 2017

UNIDADE E DIFERENCIAÇÃO.



Teosofia. Texto de Damodar K. Mavalankar (1857). Tradução de Izar G. Tauceda. É um conhecido axioma que a verdade existe apesar do erro humano, e que quem quiser conhecer a verdade deve elevar-se a seu nível e não tentar a ridícula tarefa de arrastá-la para seu padrão. Cada metafísico sabe que a Verdade Absoluta é a Eterna Realidade que sobrevive a todos os fenômenos transitórios. O prefácio do Livro Isis Sem Véu de Helena P. Blavatsky (1831-1891) expressa essa ideia muito claramente quando diz: O homem e partidos, seitas e escolas são apenas meros efêmeros do dia do mundo. Só a VERDADE, colocada sobre sua rocha adamantina é eterna e suprema. A linguagem pertence ao mundo da relatividade, enquanto a Verdade é a Realidade Absoluta. Portanto, é inútil supor que qualquer linguagem, embora antiga ou sublime, possa expressar a Verdade Absoluta. Esta última existe no mundo das ideias, e o ideal pode ser percebido pelo sentido que pertence a esse mundo (...). As palavras podem simplesmente vestir as ideias, mas nenhuma quantidade de palavras pode transmitir uma ideia a alguém  que seja incapaz de percebê-la. Cada um de nós tem dentro de si a capacidade latente ou um sentido adormecido que pode conhecer a Verdade Abstrata, embora o desenvolvimento desse sentido, ou falando mais corretamente, a assimilação de nosso intelecto com esse sentido superior, possa variar em diferentes pessoas, de acordo com as circunstâncias, educação e disciplina. Esse sentido superior, que é a nós vivencia momentos quando, estando em relação com esse sentido superior, compreendemos as verdades eternas. A única questão é como nos focamos inteiramente nesse sentido superior. Compreendendo diretamente essa verdade, pomo-nos diante do ocultismo. O ocultismo ensina a seus aficionados o tipo de treinamento que lhe trará este desenvolvimento. Nunca dogmatiza, mas apenas recomenda certos métodos que a experiência de eras provou ser o melhor para o propósito. E assim como a harmonia da natureza consiste em discordância sinfônica, assim também a harmonia do treinamento oculto (em outras palavras, o progresso humano individual) consiste em detalhes discordantes. O alcance do Ocultismo, sendo um estudo de natureza, tanto em seu aspecto fenomenal como numenal e sua organização, está em exata harmonia com o plano da natureza. Constituições diferentes requerem detalhes diferente de treinamento, e homens diferentes podem captar melhor a ideia em expressões diferente. Essa necessidade fez surgir diferentes escolas de ocultismo, cujo âmbito e ideal são os mesmos, mas diferem em modos de expressão e métodos de procedimentos. Nem mesmo os estudantes da mesma escola necessariamente têm uniformidade de treinamento, isto mostra porque, geralmente, até que certo estágio seja atingido, o Chela (discípulo) é deixado à vontade, e porque nunca recebe instruções verbais ou escritas a respeito das verdades da natureza. Isso também sugere o sentido de deixar o neófito (principiante na investigação oculta) passar por determinado tipo de sono por certo período antes de cada iniciação. E seu sucesso ou fracasso depende de sua capacidade para assimilação da Verdade Abstrata que seus sentidos superiores percebem. Contudo, assim como a unidade é a derradeira possibilidade da natureza, assim há uma certa escola de ocultismo que lida apenas com o processo sintético, e para a qual todas as escolas, que usam métodos analíticos em que só pode existir a diversidade, devem submissão. Um leitor cuidadoso perceberá então o absurdo do dogmatismo que quer para seus métodos uma aplicação Universal. Portanto, o que significa para a filosofia Advaita ser idêntica à Doutrina Arhat, é que a meta final ou a última possibilidade de ambas é a mesma. O processo sintético é um, porque lida apenas com verdades eternas, a Verdade Abstrata, o numenal. E essas duas filosofias são apresentadas juntas, porque em seus métodos analíticos, elas prosseguem em linhas paralelas, uma, vindo do ponto ou centro. Como tal, cada uma é o complemento da outra e pode-se dizer que nenhuma é totalmente completa. Deve ser lembrado aqui que a doutrina advaita não se inicia com Shankaracharya, nem a filosofia Arhat tem sua origem com Gautama Budha. Eles foram apenas os últimos expositores desses dois sistemas que existiram desde tempos imemoriais. Alguns podem compreender melhor a verdade de um ponto subjetivo, enquanto outros devem prosseguir pelo objetivo. Esses dois sistemas são, portanto, tão antigos quanto o próprio ocultismo, enquanto as últimas fases da Doutrina Esotérica são apenas outro aspecto de qualquer destas duas, os detalhes sendo modificados de acordo com as faculdades de compreensão das pessoas interessadas, como também de outras circunstâncias ambientais. Foram inúmeras as tentativas para reviver o conhecimento dessa verdade. Desse modo, sugerir que a presente seja a primeira tentativa na história do mundo é um erro que aqueles, cujo senso apenas despertou para a gloriosa Realidade, estão perto de cometer. Já se afirmou que a difusão do conhecimento não se limita a um processo. Aqueles que o possuem não devem ter ciúmes, guardando-o por qualquer motivo egoísta. Na verdade, tal disposição mental impede a possibilidade de atingir o conhecimento. Eles têm, em todas as oportunidades, tentado por todos os meios disponíveis dar seus benefícios à humanidade. Em certa época, indubitavelmente, eles tiveram que ficar contentes em dá-lo apenas a alguns estudantes escolhidos, que, devemos lembrar, são diferentes da humanidade comum apenas numa coisa essencial: que, através de treinamento anormal, eles entram comparativamente num processo de auto evolução num curto período de tempo, o que a humanidade comum levaria eras incontáveis para atingir durante o curso da evolução comum. Quem conhece a história do Conde São German e as obras do falecido Lord Bulwer Lytton (1803-1873) não precisa que lhe digam que, durante os cem anos passados, foram feitos constantes esforços para despertar nas raças presentes uma noção de conhecimento que lhes assegurasse progresso e garantisse felicidade futura. Além disso, não se deve esquecer que espalhar conhecimento de verdades filosóficas é apenas uma pequena fração do importante trabalho no qual os ocultistas estão engajados. Sempre que as circunstâncias os compelem a sair da vista do mundo, eles ficam mais ativamente engajados em arranjar e guiar a corrente dos acontecimentos, as vezes influenciando a mente das pessoas, em outras, fazendo surgir, tanto quanto possível, essas combinações de forças que fazem surgir uma forma superior de evolução e este outro importante trabalho no plano espiritual. Eles têm que fazer, e estão fazendo este trabalho agora. Assim, em realidade, pouco sabe o público sobre o que eles pedem quando se candidatam ao discipulado. Eles devem, então, jurar a si mesmos assistir os MAHATMAS nesse trabalho espiritual pelo processo de auto evolução porque a energia dispendida por eles no ato de auto purificação tem um efeito dinâmico e produz grandes resultados no plano espiritual. Além disso, eles gradualmente se preparam para assumir um papel ativo no grande trabalho. Talvez agora compreendamos porque O ADEPTO SE TORNA. ELE NÃO É FEITO e porque ele é  a rara eflorescência da época (...). A grande dificuldade que uma mente filosófica comum tem é aceitar a ideia de que  a consciência e a inteligência originam-se na não consciência e na não inteligência. Embora um intelecto metafísico obstruso (cabalístico) possa compreender, ou melhor, perceber subjetivamente o ponto em qualquer caso, o presente estado não desenvolvido da humanidade pode conceber as verdades superiores somente de um ponto de vista objetivo. Assim como somos obrigados a falar do pôr do Sol na linguagem comum, embora saibamos que não é o movimento do Sol a que nos referimos, e assim como no sistema geocêntrico falamos como se a Terra tivesse um ponto fixo, no centro do Universo, para que a imatura mente do estudante possa entender nossos ensinamentos, da mesma maneira a Verdade Abstrata tem de ser notada por um intelecto metafísico não muito aguçado. Assim podemos dizer que o budismo é vedantismo racional, e que o vedantismo é budismo transcendental (...). A Vida Uma permeia TUDO. Podemos também acrescentar que a consciência e a inteligência também permeiam TUDO. Essas três são potencialmente inerentes em toda parte. E não falamos a vida de um mineral, nem de sua consciência e inteligência. Essas existem nele somente potencialmente. A diferenciação que resulta na individualização ainda não está completa. Um pedaço de ouro, de prata, de cobre ou de qualquer outro metal ou uma pedra (...) não tem o sentido de existência separada, porque a mônada mineral (a partícula existência, originária, que evoluirá o ser nos inúmeros processos de renascimento e encarnação até mergulhar no oceano do Logos Divino de onde ela saiu) está individualizada. É só no reino animal que um sentido de personalidade começa a se formar. Mas de tudo isso um ocultista não dirá que a vida, a consciência e a inteligência não existem potencialmente nos minerais. Portanto veremos que, embora a consciência e a inteligência existam em toda parte, nem todos os objetos são conscientes e inteligentes. Quando a latente potencialidade se desenvolve até o estágio da individualização pela Lei da Evolução Cósmica, separa o sujeito do objeto, ou melhor, o sujeito cai em Upadhi, e um estado de consciência ou inteligência pessoal é realizado. Mas a consciência e inteligência absolutas, que não têm Upadhi, não podem ser conscientes ou inteligentes porque não há dualidade, nada que desperte a inteligência ou a consciência. Por isso os Upanishads dizem que Parabrahaman não tem consciência nem inteligência, porque esses estados podem ser conhecidos por nós somente devido a nossa individualização, enquanto não podemos, por nosso estado pessoal diferenciado, conceber a consciência ou inteligência não dualista indiferenciada. Se não houvesse consciência ou inteligência na Natureza, seria absurdo falar da Lei do Karma ou de cada causa produzindo seu correspondente efeito. Numa das cartas publicadas em O Mundo Oculto, o Mahatman diz que a matéria é indestrutível e pergunta se os modernos cientistas podem dizer porque a Natureza conscientemente prefere que a matéria continue indestrutível sob forma orgânica e não inorgânica. Essa é uma ideia muito interessante a respeito do assunto que tratamos. No começo de nossos estudos, estamos aptos a ser enganados pela suposição de que nossa Terra, a cadeia planetária ou o sistema solar sejam o infinito e que a eternidade possa ser medida por números. Muitas e muitas vezes, os Mahatmas advertiram-nos sobre esse erro, e, mesmo assim, agora e então, tentamos limitar o infinito a nosso padrão, em vez de nos esforçarmos para nos expandirmos até seus conceitos. Naturalmente isso levou alguns  a um sentido de isolamento e a esquecer que a mesma Lei da Evolução Cósmica, que nos trouxe a nosso presente estágio de diferenciação individual, tende a nos levar gradualmente a condição indiferenciada original. Esses se deixam imbuir tanto com o sentido da personalidade que tentam rebelar-se contra a ideia da Absoluta Unidade, forçando-se assim a um estado de isolamento e empenham-se em dirigir a Lei Cósmica, que deve ter seu curso; e o resultado natural é aniquilamento  através dos espasmos da desintegração. Isso constitui a ponte, o perigoso ponto na evolução a que se referiu o Alfred  Percy Sinnett (1840-1921) em seu livro Budismo Esotérico. Porque o egoísmo, que é o resultado de um forte sentimento de personalidade, é prejudicial ao progresso espiritual. É isso que constitui a diferença entre magia branca e magia negra. E é essa tendência a que se refere quando fala no fim de uma Raça. Nesse período, toda humanidade se separa em duas classes: os Adeptos da boa Lei e os Feiticeiros (ou Dugpas). Estamos indo rápido para esse período; e, para salvar a humanidade de um cataclisma que deve atingir aqueles que vão contra os propósitos da Natureza, os Mahatmas, que estão trabalhando com ela, estão se esforçando para difundir o conhecimento de maneira a evitar um abuso dela tanto quanto possível. Portanto, devemos lembrar constantemente que o presente não é o ápice da evolução e que, se não quisermos ser aniquilados, não devemos permitir ser influenciados por um sentimento de isolamento pessoal e consequentes  vaidades mundanas. Este mundo não é o infinito, nem nosso Sistema Solar, nem a expansão imensurável de nossos sentidos físicos pode ter conhecimento dele. Todos estes e mais são apenas um ínfimo átomo da Absoluta Infinidade. A ideia de personalidade está limitada a nossos sentidos físicos, que, pertencendo ao RupaLoka (mundo das formas), deve desaparecer, pois não vemos em qualquer parte uma forma permanente. Tudo está sujeito à mudança, e quanto mais vivemos na personalidade transitória, mas incorremos no perigo da morte final, ou aniquilação total. Somente o sétimo princípio, o Adi Budha é a Realidade Absoluta. Contudo, o ponto de vista objetivo acrescenta mais adiante que Dharma, o veículo do sétimo princípio ou seu Upadhi, é coexistente com seu Senhor e Mestre, o Adi Budha; porque se diz que nada pode surgir do nada. Uma forma mais correta de expressar a ideia séria que no estado de Pralaya o sexto princípio existe no sétimo como uma potencialidade eterna para se manifestar durante o período de atividade cósmica. Vistos assim, ambos o sétimo e o sexto princípio é a única Realidade, já que permanece imutável tanto durante a atividade cósmica como também durante o descanso cósmico. Enquanto o sexto princípio, o Upadhi, embora absorvido no sétimo durante o Pralaya, está mudando durante o Manvantar, primeiro diferenciando-se para voltar a sua condição indiferenciada conforme se  aproxima a época para o Pralaya. Ora, a doutrina Vedantina diz que Parabrahman é a Realidade Absoluta que nunca muda, e é, portanto, idêntica ao Adi Budha dos Arhats. Mulaprakriti, esse aspecto de Parabrahman, na época do Manvantara, emana de si Purusha e Prakriti, e, assim, sofre mudanças durante o período de atividade cósmica. Como Purusha é uma força que permanece completamente imutável, é esse aspecto de Mulaprakriti que é idêntico a Parabarhman. Por isso é que Purusha é considerado ser o mesmo que Parabrahman, ou a Realidade Absoluta. Enquanto que Prakriti, a matéria cósmica direrenciada constantemente sofre mudanças, e, portanto, impermanente, forma a base da evolução fenomenal. Esse é um ponto de vista puramente subjetivo do qual o senhor Subba Row (1856-1890) estava discutindo com o falecido Swami de Almora que dizia ser um advaita. Um leitor cuidadoso perceberá que não há contradição envolvida nas afirmações de Subba Row quando ele diz, de um ponto de vista objetivo, que Mulaprakriti e Purusha são eternos, e quando, de um ponto de vista subjetivo, diz que Purusha é a única Realidade eterna. Seu crítico inconscientemente misturou os dois pontos de vista ao separar extratos de dois artigos diferentes escritos de dois pontos de vista diferentes e imagina que o senhor Subba Row cometeu um erro. Agora daremos atenção a ideia dos Dhyan Chohanas, já foi dito acima que o sexto e o sétimo princípios são os mesmos em todos, e essa ideia ficará clara para todos aqueles que lerem com cuidado as notas anteriores sobre isso. Na filosofia Advaita, os Dhyan Chohans correspondem a Iswara, o Demiurgo. Não há Iswara consciente fora do 7º princípio de Maya como vulgarmente entendido. Essa era a ideia que Subba Row queria transmitir quando disse: as expressões que implicam a existência de um Iswara consciente que se encontram aqui e ali nos Upanishads não devem ser feitas literalmente. Portanto a afirmação de Subba Row não é perfeitamente inexplicável nem audaciosa porque é consistente com o ensinamento de Shankaracharya. Os Dhyan Chochans, que representam o agregado da inteligência cósmica, são os artífices imediatos dos mundos, e, portanto, idênticos a Iswara, a Mente Demiúrgica. Mas suas consciências e inteligências pertencem ao sexto e sétimo estados da matéria. São esses que não podemos conhecer enquanto preferimos permanecer em nosso isolamento e não transferir nossa individualidade ao sexto e ao sétimo princípio. Como artífices dos mundos, eles são os primeiros princípios do Universo, embora, ao mesmo tempo, sejam o resultado da Evolução Cósmica. É um entendimento incorreto sobre a consciência dos Dhyan Chohans que deu lugar à noção vulgar corrente de Deus. Os teístas dogmáticos não sabem que está a seu alcance tornarem-se Dhyan Chohans ou Iswara, ou, ao menos, que tem em si esta potencialidade latente par se elevarem a esta eminência espiritual caso trabalhem com a Natureza. Eles não se conhecem e permitem ser afastados e enterrados num sentimento de isolamento pessoal, vendo a Natureza como algo afastado de si. Assim, eles se afastam do espírito da Natureza, que é a única eterna Realidade Absoluta, e apressam sua própria desintegração (...). De um ponto de vista subjetivo, é um absurdo  falar de local e tempo, já que o último é um mero termo relativo e como tal restrito apenas ao fenômeno. O espaço abstrato e a eternidade são indivisíveis, e assim, tentar determinar tempo e lugar como se fossem realidades absolutas, não é metafísico nem filosófico. Contudo, é essencial um ponto de vista objetivo, como já mencionamos. Na economia da Natureza, tudo está certo em seu lugar, e ignorar um certo plano é tão ilógico quanto superestimá-lo. O verdadeiro conhecimento consiste num reto sentido de discernimento: ser capaz de perceber qual fenômeno efetua qual função, e como utilizá-la para o progresso e a felicidade humanos. Tanto os pontos de vista subjetivo e objetivo como os métodos indutivo e dedutivo são essenciais para atingir o verdadeiro conhecimento que é o verdadeiro poder. Agora diremos algumas palavras em conexão com a ideia de Budha. Quando o senhor Subba Row fala sobre o aspecto histórico de Budha, ele provavelmente se refere a Gautama Budha, que foi um personagem histórico. Ao mesmo tempo, devemos lembrar que cada entidade que se identifica com esse raio da sabedoria divina, representado por Gautama, é um Budha. Assim, é evidente que só pode haver um Budha por vez, o mais elevado tipo desse raio particular do Adeptado. Maio de 1884. Extraído do Livro The Service of Humanity. Abraço. Davi.