quinta-feira, 30 de abril de 2020

EGO - O FALSO CENTRO


Espiritualidade. www.oshobrasil.com.br. Escrito por Osho (1931-1990). EGO - O FALSO CENTRO. "O primeiro ponto a ser compreendido é o ego. Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio eu. E quando uma criança nasce, a primeira coisa da qual ela se torna consciente não é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro. Isso é natural, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos esses sentidos abrem-se para fora. O nascimento é isso. Nascimento significa vir a esse mundo: o mundo exterior. Assim, quando uma criança nasce, ela nasce nesse mundo. Ela abre os olhos e vê os outros. O outro significa o tu. Ela primeiro se torna consciente da mãe. Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu próprio corpo. Esse também é o “outro”, também pertence ao mundo. Ela está com fome e passa a sentir o corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo. É dessa maneira que a criança cresce. Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco, contrastando com você, com tu, ela se torna consciente de si mesma. Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do que ela pensa a seu respeito. Se a mãe sorri, se a mãe aprecia a criança, se diz “você é bonita”, se ela a abraça e a beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma. Assim, um ego começa a nascer. Através da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é ela boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse centro é um centro refletido. Ele não é o ser verdadeiro. A criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensa a seu respeito. E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe sorri, então, também, um ego nasce – um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida, sentindo-se inferior, sem valor. Isso também é ego. Isso também é um reflexo. Primeiro a mãe. A mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas. O ego é um fenômeno cumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não. O verdadeiro só pode ser conhecido através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ele é uma disciplina. O verdadeiro só pode ser conhecido através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você. O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto social. A sociedade significa tudo o que está ao seu redor, não você, mas tudo aquilo que o rodeia. Tudo, menos você, é a sociedade. E todos refletem. Você irá à escola e o professor refletirá quem você é. Você fará amizade com as outras crianças e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco, todos estarão adicionando algo ao seu ego, e todos estarão tentando modificá-lo, de modo que você não se torne um problema para a sociedade. Eles não estão interessados em você. Eles estão interessados na sociedade. A sociedade está interessada nela mesma, e é assim que deveria ser. Eles não estão interessados no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhes que você se torne uma peça eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão. Assim, estão interessados em dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Ensinam-lhe a moralidade. Moralidade significa dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Se você for imoral, você será sempre um desajustado em um lugar ou outro (...). Moralidade significa simplesmente que você deve se ajustar à sociedade. Se a sociedade estiver em guerra, a moralidade muda. Se a sociedade estiver em paz, existe uma moralidade diferente. A moralidade é uma política social. É diplomacia. E toda criança deve ser educada de tal forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é tudo, porque a sociedade está interessada em membros eficientes. A sociedade não está interessada no fato de que você deveria chegar ao autoconhecimento. A sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado. O eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se ouviu dizer que a sociedade estivesse controlando o eu - não é possível. E a criança necessita de um centro; a criança está absolutamente inconsciente de seu próprio centro. A sociedade lhe dá um centro e a criança pouco a pouco fica convencida de que esse é o seu centro, o ego dado pela sociedade. Uma criança volta para casa. Se ela foi o primeiro lugar de sua sala de aula, a família inteira fica feliz. Você a abraça e beija; você a coloca sobre os ombros e começa a dançar e diz 'que linda criança! você é um motivo de orgulho para nós.' Você está dando um ego para ela, um ego sutil. E se a criança chega em casa abatida, fracassada, foi um fiasco na sala - ela não passou de ano ou tirou o último lugar, então ninguém a aprecia e a criança se sente rejeitada. Ela tentará com mais afinco na próxima vez, porque o centro se sente abalado. O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. E é por isso que você está continuamente pedindo atenção. Você obtém dos outros a ideia de quem você é.  Não é uma experiência direta. É dos outros que você obtém a ideia de quem você é. Eles modelam o seu centro. Mas esse centro é falso, enquanto que o centro verdadeiro está dentro de você. O centro verdadeiro não é da conta de ninguém. Ninguém o modela. Você vem com ele. Você nasce com ele. Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Esse é o eu. E o outro centro, que é criado pela sociedade - o ego. Esse é algo falso -  é um grande truque. Através do ego a sociedade está controlando você. Você tem que se comportar de uma certa maneira, porque somente assim a sociedade irá apreciá-lo. Você tem que caminhar de uma certa maneira; você tem que rir de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma moralidade, um código. Somente assim a sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado, você já não sabe onde está, você já não sabe quem você é. Os outros deram-lhe a ideia. E essa ideia é o ego. Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora. E a não ser que você o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar viciado no falso centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o eu. E lembre-se: vai haver um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará se despedaçando, quando você não saberá quem você é, quando você não saberá para onde está indo; quando todos os limites se dissolverão. Você estará simplesmente confuso, um caos. Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego. Mas tem que ser assim. Temos que passar através do caos antes de atingir o centro verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser desperdiçadas (,,,). Até mesmo o fato de ser infeliz lhe dá a sensação de "eu sou". Afastando-se do que é conhecido, o medo toma conta; você começa sentir medo da escuridão e do caos - porque a sociedade conseguiu clarear uma pequena parte de seu ser... É o mesmo que penetrar numa floresta. Você faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço de terra, você faz um cercado, você faz uma pequena cabana; você faz um pequeno jardim, um gramado, e você sente-se bem. Além de sua cerca - a floresta, a selva. Mas aqui dentro tudo está bem: você planejou tudo. Foi assim que aconteceu. A sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela limpou apenas uma pequena parte completamente, e cercou-a. Tudo está bem ali. Todas as suas universidades estão fazendo isso. Toda a cultura e todo o condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que ali você possa se sentir em casa. E então você passa a sentir medo. Além da cerca existe perigo. Além da cerca você é, tal como você é dentro da cerca – e uma mente consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum lugar, o seu centro verdadeiro está oculto. Precisamos ser ousados, corajosos. Precisamos dar um passo para o desconhecido. Por um certo tempo, todos os limite ficarão perdidos. Por um certo tempo, você vai se sentir atordoado. Por um certo tempo, você vai se sentir muito amedrontado e abalado, como se tivesse havido um terremoto. Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Esse centro é a sua alma, o eu. Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentar novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos, nasce uma nova ordem. Mas essa não é a ordem da sociedade - essa é a própria ordem da existência. É o que Bhuda chama de Dhamma, Lao Tse chama de Tao, Heráclito (535 AC 475) chama de Logos. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência. Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas. No máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo. Você pode enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas (...). O ego tem uma certa qualidade: a de que ele está morto. Ele é de plástico. E é muito fácil obtê-lo, porque os outros o dão a você. Você não precisa procurar por ele; a busca não é necessária. Por isso, a menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido, você ainda não terá se tornado um indivíduo. Você é simplesmente mais um na multidão. Você é apenas uma turba. Se você não tem um centro autêntico, como pode ser um indivíduo? O ego não é individual. O ego é um fenômeno social - ele é a sociedade, não é você. Mas ele lhe dá um papel na sociedade, uma posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com ele, você perderá toda a oportunidade de encontrar o eu. E por isso você é tão infeliz. Como você pode ser feliz com uma vida de plástico? Como você pode estar em êxtase ser bem-aventurado com uma vida falsa?  E esse ego cria muitos tormentos. O ego é o inferno. Sempre que você estiver sofrendo, tente simplesmente observar e analisar, e você descobrirá que, em algum lugar, o ego é a causa do sofrimento. E o ego segue encontrando motivos para sofrer (...). E assim as pessoas se tornam dependentes, umas das outras. É uma profunda escravidão. O ego tem que ser um escravo. Ele depende dos outros. E somente uma pessoa que não tenha ego é, pela primeira vez, um mestre; ele deixa de ser um escravo. Tente entender isso. E comece a procurar o ego - não nos outros, isso não é da sua conta, mas em você. Toda vez que se sentir infeliz, imediatamente feche os olhos e tente descobrir de onde a infelicidade está vindo, e você sempre descobrirá que o falso centro entrou em choque com alguém. Você esperava algo e isso não aconteceu. Você espera algo e justamente o contrário aconteceu - seu ego fica estremecido, você fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz, tente descobrir a razão. As causas não estão fora de você. A causa básica está dentro de você - mas você sempre olha para fora, você sempre pergunta: 'Quem está me tornando infeliz?' 'Quem está causando a minha raiva?' 'Quem está causando a minha angústia?' Se você olhar para fora, você não perceberá. Simplesmente feche os olhos e sempre olhe para dentro. A origem de toda a infelicidade, da raiva e da angústia, está oculta dentro de você, é o seu ego. E se você encontrar a origem, será fácil ir além dela. Se você puder ver que é o seu próprio ego que lhe causa problemas, você vai preferir abandoná-lo - porque ninguém é capaz de carregar a origem da infelicidade, uma vez que a tenha entendido. Mas lembre-se, não há necessidade de abandonar o ego. Você não o pode abandonar. E se você tentar abandoná-lo, simplesmente estará conseguindo um outro ego mais sutil, que diz: 'tornei-me humilde' (...). Todo o caminho em direção ao divino, ao supremo, tem que passar através desse território do ego. O falso tem que ser entendido como falso. A origem da miséria tem que ser entendida como a origem da miséria - então ela simplesmente desaparece. Quando você sabe que ele é o veneno, ele desaparece. Quando você sabe que ele é o fogo, ele desaparece. Quando você sabe que esse é o inferno, ele desaparece. E então você nunca diz: “eu abandonei o ego”. Você simplesmente irá rir de toda essa história, dessa piada, pois você era o criador de toda essa infelicidade (...). É difícil ver o próprio ego. É muito fácil ver o ego nos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar. Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente o observe. Não tenha pressa em abandoná-lo, simplesmente o observe. Quanto mais você observa, mais capaz você se torna. De repente, um dia, você simplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por si mesmo, somente então ele realmente desaparece. Porque não existe outra maneira. Você não pode abandoná-lo antes do tempo. Ele cai exatamente como uma folha seca. Quando você tiver amadurecido através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um dia você simplesmente vê a folha seca caindo (...) e então o verdadeiro centro surge. E esse centro verdadeiro é a alma, o eu, o deus, a verdade, ou como quiser chamá-lo. Você pode lhe dar qualquer nome, aquele que preferir." www.oshobrasil.com.br. Abraço. Davi.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

OS ANALECTOS - LIVRO IX


Confucionismo. www.https//rt.br. OS ANALECTOS – LIVRO IX. 1. As ocasiões em que o Mestre falava sobre lucro, Destino e benevolência eram raras. 2. Um homem de um vilarejo em Ta Hsiang disse: “Grande é Confúcio (551 AC 479)! Ele acumulou muito conhecimento, mas não se sobressaiu pessoalmente em campo nenhum”. O Mestre, ao ouvir isso, disse aos seus discípulos: “Em que deveria eu tornar-me proficiente? Em dirigir? Ou no arco? Acho que preferiria dirigir”. 3. O Mestre disse: “Os ritos prescrevem um boné cerimonial de linho. Hoje, usamos seda preta no lugar. Isso é mais frugal, e eu sigo a maioria. Os ritos prescrevem que a pessoa se prostre antes de subir os degraus. Hoje faz-se isso após tê-los descido. Isso é casual, e, embora indo de encontro à maioria, sigo a prática de prostrar-me antes de subir”. 4. Havia quatro coisas com as quais o Mestre recusava ter qualquer relação: recusava-se a fazer conjecturas [99] ou a ser dogmático; recusava-se a ser inflexível ou egocêntrico. 5. Quando estava em estado de sítio em K’uang, o Mestre disse: “Com o rei Wen morto, a civilização (wen) não depende agora de mim? Se o Céu quer que a civilização seja destruída, aqueles que vierem depois de mim não terão qualquer coisa a ver com ela. Se o Céu não quer que esta civilização seja destruída, então o que os homens de K’uang podem fazer contra mim?”. 6. O t’ai tsai [100] perguntou a Tzu-kung: “Com certeza o Mestre é um sábio, não é mesmo? De outra forma, por que teria ele tantas habilidades?”. Tzu-kung disse: “É verdade, o Céu colocou-o no caminho da sabedoria. Entretanto, ele tem vários outros talentos”. O Mestre, ao ouvir isso, disse: “Como o t’ai tsai me conhece bem! Eu era de origem humilde quando jovem. É por isso que tenho várias habilidades manuais. Mas deveria um cavalheiro ter várias habilidades? Não, de modo algum”. 7. Lao [101] disse: “O Mestre disse ‘Nunca recebi um cargo oficial. É por isso que sou um faz-tudo’”. 8. O Mestre disse: “Possuo conhecimento? Não, não possuo. Um camponês me fez uma pergunta, e minha mente ficou completamente vazia. Revirei a pergunta por todos os lados até que consegui extrair tudo dela”. [102] 9. O Mestre disse: “A fênix não aparece, tampouco o rio revela um mapa. [103] É o meu fim”. 10. Quando o Mestre encontrava homens que estavam de luto ou de chapéu e trajes cerimoniais, ou que eram cegos, ele punha-se de pé, mesmo que fossem mais jovens do que ele, e, ao passar por eles, apressava o passo. [104] 11. Yen Yüan, suspirando, disse: “Quanto mais o observo, mais alto ele parece. Quanto mais o pressiono, mais duro ele se torna. Vejo-o à minha frente. De repente, está atrás de mim. “O Mestre é bom em conduzir alguém passo a passo. Ele me estimula com a literatura e me traz de volta às coisas essenciais por meio dos ritos. Eu não conseguiria desistir nem que quisesse, mas, uma vez que dei o melhor que pude, ele [105] parece levantar-se acima de mim e não consigo segui-lo, por mais que eu queira.” 12. O Mestre estava muito doente. Tzu-lu disse a seus discípulos para servirem de empregados. [106] Quando sua saúde melhorou, o Mestre disse: “Yu vem enganando há muito tempo. Ao fingir que eu tinha empregados quando não os tinha, a quem ele estaria enganando? Estaríamos enganando os céus? Além disso, não preferiria eu morrer nas mãos de vocês, meus amigos, do que nas mãos de empregados? E, mesmo que não me fossem dados funerais requintados, eu não morreria em negligência”. 13. Tzu-kung disse: “Se tivesse um belo pedaço de jade, você o guardaria com cuidado em uma caixa ou tentaria vendê-lo por um bom preço?”. O Mestre disse: “Claro que o venderia. Claro que o venderia. Estou apenas esperando pela oferta certa”. 14. O Mestre queria se estabelecer entre as nove tribos bárbaras do Leste. Alguém disse: “Mas o senhor conseguiria suportar seus modos selvagens?”. O Mestre disse: “Uma vez que um cavalheiro se estabelecesse entre eles, que selvageria ainda existiria?”. 15. O Mestre disse: “Foi depois da minha volta de Wei para Lu que a música voltou à ordem, com o ya e o sung [107] sendo designados para os devidos lugares”. 16. O Mestre disse: “Servir a altos oficiais quando no exterior e àqueles mais velhos que eu quando em casa; ao preparar funerais, não poupar a mim mesmo e beber pouco – essas são as coisas comuns que não me causam problema algum”. 17. Certa vez de pé, junto a um rio, o Mestre disse: “Tudo o que passa é, talvez, como este rio. Dia e noite, ele nunca desacelera”. 18. O Mestre disse: “Ainda estou para conhecer o homem que tenha tanta afeição pela virtude quanto pela beleza feminina”. [108] 19. O Mestre disse: “É como fazer um monte: se paro antes de encher a última cesta de terra, então não chegarei ao fim. É como aterrar o chão: se sigo adiante apesar de ter nivelado apenas o conteúdo de uma cesta de terra, então farei progressos”. 20. O Mestre disse: “Se há alguém que consegue me ouvir com atenção incansável, trata-se de Hui, suponho”. 21. O Mestre disse sobre Yen Yüan: “Vi-o progredir, mas não o vi dar completa vazão ao seu potencial. Que pena!”. 22. O Mestre disse: “Há, não é verdade?, plantas jovens que não conseguem produzir botões, e botões que não conseguem produzir frutas?”. 23. O Mestre disse: “Deve-se admirar os jovens. Como podemos ter certeza de que as gerações futuras não serão iguais à presente? Creio que apenas quando um homem atinge a idade de quarenta ou cinquenta anos sem se destacar de nenhuma maneira pode-se dizer que ele não merece ser admirado”. 24. O Mestre disse: “Não se pode senão concordar com palavras exemplares, mas o importante é retificar a si mesmo. Não se pode senão ficar satisfeito com palavras elogiosas, mas o importante é reformar a si próprio. Nada posso fazer com o homem que concorda com esses preceitos mas que não retifica a si próprio, ou com o homem que fica lisonjeado mas que não reforma a si próprio”. 25. O Mestre disse: “Fazer o melhor pelos outros e ser coerente com o que diz: faça disso o seu princípio norteador. Não aceite como amigo ninguém que não seja tão bom quanto você. Quando cometer um erro, não tenha medo de corrigilo”. [109] 26. O Mestre disse: “Pode-se privar os Três Exércitos do seu comandante, mas nem mesmo um homem comum pode ser privado do seu livre-arbítrio”. 27. O Mestre disse: “Se há alguém que pode usar um gorro surrado e remendado com velhos fios de seda e ainda assim conseguir permanecer junto a um homem que veste pele de raposa ou de texugo sem se sentir envergonhado, este é, creio, Yu. Nem invejoso nem ambicioso, Que pode ser ele, senão Bom?”. [110] Portanto, Tzu-lu constantemente recitava esses versos. O Mestre comentava: “O caminho resumido nesses versos dificilmente tornará alguém bom”. 28. O Mestre disse: “Apenas quando chega o frio percebe-se que o pinheiro e o cipreste são os últimos a perder as folhas”. 29. O Mestre disse: “O homem sábio nunca fica indeciso; [111] o homem benevolente nunca fica aflito; [112] o homem corajoso nunca tem medo”. [113] 30. O Mestre disse: “Um homem apropriado para ser o parceiro de alguém nos estudos não é, necessariamente, apropriado como o parceiro na busca pelo Caminho; um homem apropriado para ser um parceiro na busca pelo Caminho não é, necessariamente, apropriado como alguém com quem compartilhar um compromisso; um homem apropriado como alguém com quem compartilhar um compromisso não necessariamente é apropriado como parceiro para o exercício da excelência moral”. 31. As flores da cerejeira, Como ondulam no ar! Não é que eu não pense em você, Mas sua casa fica longe demais. [114] O Mestre comentou: “Ele não a amava de verdade. Se amasse, não existiria algo como ‘longe demais’”. www.https//rt.br. Abraço. Davi

terça-feira, 28 de abril de 2020

UMA CONGREGAÇÃO INVISÍVEL


Cristianismo. Igreja Católica Liberal. Texto de Geoffrey Hodson (1886-1983). Livro O Lado Interno do Culto na Igreja. “Capítulo IV. UMA CONGREGAÇÃO INVISÍVEL. Os efeitos internos da Missa de Réquiem, realizada no Dia de Todas as Almas na Pro Catedral de Santa Maria da Igreja Católica Liberal, em Londres – Reino Unido. As almas desencarnadas assistem frequentemente aos serviços físicos das igrejas, porém na ocasião especial da Missa de Réquiem vê-se presente um grande número delas. Muitas chegam algum tempo antes do início do serviço, concentrando-se a maior parte ao redor das alas da igreja e na galeria, e ocupando grande parte do espaço sob o teto. Em suas consciências mais elevadas muitos membros da congregação física podiam saudar a seus amigos super físicos. A alegria de muitas reuniões felizes que assim ocorrem não foi em nada afetada pelo fato de pouco ou nenhum conhecimento dos desencarnados ter penetrado na consciência física dos encarnados. A maior parte da congregação física havia criado nítidas formas pensamento de seus amigos particulares falecidos e estas foram mais tarde substituídas pelos próprios amigos. Em alguns casos os desencarnados trouxeram consigo seres com quem haviam feito amizade no outro lado. Estes, junto a outros visitantes e os frequentadores super físicos da Igreja, humanos e angélicos, formaram uma congregação muito grande nos mundos ocultos. A congregação super física ficou de frente para o altar no início do serviço, e daí em diante foi gradualmente se aproximando cada vez mais do mundo físico. Desde o começo eles viram nitidamente os candelabros, porque a luz da vela de cera é visível nos mundos ocultos e algumas vezes é usada como um sinal para os do outro lado do véu. A chama de luz e força emanada do Sacramento Reservado também é claramente vista, bem como os anjos ministrantes e as correntes de força fluindo através dos vários símbolos e joias. Entretanto, estranhamente alguns nada vêm, apesar de sua visão não ser limitada como a nossa, por possuirmos corpo físico. O efeito geral, entretanto, era para revelar o interior do plano físico da igreja, como se tivesse sido aberta uma cortina de um palco. Este afastamento do véu não se estendeu na mesma proporção da igreja. O conjunto da congregação ficou isolado das vibrações e fenômenos do mundo externo. Um grande anjo, a quem nos referiremos mais tarde, vigiava este isolamento e mantinha a congregação super física dentro de sua aura, e assim ajudava a criar as condições em que o véu poderia ser seguramente afastado. Os anjos da Eucaristia têm também o cuidado de incluir, tanto os vivos como os desencarnados no edifício interno espiritual, de forma que todos possam compartilhar tanto quanto possível das influências derramadas. Eles ajudavam as pessoas no que era necessário e possível, e gradualmente, como resultado de suas carinhosas ministrações e do serviço, as congregações física e super física eram unidas uma à outra. No final do serviço os desencarnados estão aptos a ver o edifício físico, seus amigos, e especialmente os sacerdotes e os servidores no interior do Santuário. Isto os enchia de intensa felicidade, embora alguns experimentassem vaga saudade e mesmo anseio de retornar à vida e camaradagem do plano físico. Uns poucos não haviam achado a nova vida tão feliz quanto poderia ter sido, e sentiam-se solitários ali. Para muitos, sua consciência interna se desvanecia um tanto à medida que a percepção física aumentava, embora alguns poucos retivessem sua visão de seus próprios mundos. Alguns penetravam na aura de seus amigos e permaneciam de pé ou sentados com eles, porém a maioria dos que tinham amigos físicos presentes flutuavam bem acima deles. Quase todos sentiam a alegria da reunião e de receber os pensamentos e recordações amorosas de seus amigos e parentes. Gradativamente, à medida que todos se tornavam completamente harmonizados, as palavras e a música eram ouvidas com crescente clareza. Isto os tornava muito ditosos, evocando antigas recordações. Para eles era um grande prazer ouvir as vozes atuais de seus amigos particulares, deixados no plano físico. Ouviam muito atentamente o sermão, e no Credo todos inclinavam suas cabeças. Alguns deles evidentemente conheciam bem as palavras e ajoelhavam-se no exato momento, porém, todos acompanhavam com compreensão e assentimento reverentes. Decorrido algum tempo, todas as considerações pessoais cederam lugar ao ato de adoração conjunta, quando as duas congregações se integraram no ritmo e poder do serviço. Pouco a pouco, com poucas exceções, se tornaram unificadas e harmonizadas, e os anjos puderam tratá0las como uma unidade. As exceções foram os que não haviam sido acostumados ao culto da igreja; estes permaneciam um tanto afastados, observando com interesse, mas não participando. O Anjo da Presença resplandecia em toda a perfeita beleza espiritual do Senhor, cujo amor e bênção fluíam continuamente através Dele. Todos eram envolvidos nesse maravilhoso fluxo, especialmente os sentados à parte, pois o Anjo parecia volver sua atenção para eles com o mias terno e compassivo amor, que paulatinamente vencia seu afastamento e os atraía. Um grande anjo de tipo inteiramente novo para o autor apareceu na extremidade ocidental da igreja. Embora fosse essencialmente um anjo de amor, e vertesse uma qualidade especial de amor e proteção sobre os desencarnados, sua aparência externa era tal que nos fazia pensar no Anjo da Morte. Parecia ser um representante do grande Deus da Morte, cuja mão poderosa corta o cordão de prata que ata a alma ao corpo durante a vida terrena. Sua fisionomia era enérgica e inspirava tímido respeito com sua inescrutável expressão de poder  e mistério. Era de cor verde escuro e da altura do corpo da igreja. Mantinha a congregação invisível muito coesa no interior de sua consciência e exercia uma influência protetora sobre a mesma, de forma que nenhum dano poderia ocorrer aos vivos como aos mortos. Ele permanecia imóvel e impassível, zelando como se mencionou acima, o isolamento da igreja do mundo externo, e dando a impressão de uma estátua enorme, viva e verde escura do Anjo da Morte. No mundo do além, como neste mundo, existem muitos seres indesejáveis que tomariam vantagem imediata das condições especiais, do íntimo intercâmbio de forças entre os dois mundos. Esta proteção angélica era, portanto, adicionada ao isolamento propiciado pela consagração original da igreja e pelas “paredes” do edifício eucarístico. Parece também ter havido uma rarefação do véu no mundo externo, porém isto se restringiu aos níveis mais elevados dos planos concernentes. Isto parece ser o resultado de certas mudanças que ocorrem em todo sistema solar nesta época do ano. A influência do espiritual, como distinta do material, parece ser de algum modo aumentada e a divisão entre o espírito e a matéria como um conjunto, parece ser marcante. Talvez haja uma lei cíclica sob a qual, nesta época do ano, todos os véus se tornam definidamente mais tênues, de sorte que os níveis sem forma e com forma se tornam mais intimamente associados e os planos dentro destas divisões mais intimamente sincronizados. Os sub planos mais elevados dos mundos mental, emocional e etérico, são fundidos e mutuamente entrelaçados de maneira que o pulsar da vida e força no mundo material e através do mesmo é muito mais livre do que normalmente. Dentro da igreja, onde se criam condições especiais, isto se estende através de todos os sub planos, decrescentemente, e daí a necessidade de medidas especiais de precaução. Aparentemente é função do Anjo da Morte manter a necessária proteção, pois a ele concerne a passagem de poder, consciência e vida de plano para plano, e a transferência da consciência humana do plano físico ao plano emocional, na morte. Ele pode exercer uma função, que é complementar e o inverso da de Nossa Senhora, a qual preside a todo nascimento humano. Sugere-se correspondência, porém o autor não está habilitado a dar um pronunciamento definido sobre o assunto. Retornando ao serviço em si, notou-se que a repetição de um nome em uma cerimônia liga instantaneamente o seu dono aonde quer que esteja, com o oficiante, e através dele, com o poder da cerimônia. Quando foi recitada a prece pelos falecidos, os designados fulguravam subitamente com uma luz maior, a bênção do Senhor verteu-se do Santuário sobre eles, e fez o princípio crístico brilhar dali para dentro deles. Os não efetivamente presentes tiveram sua atenção atraída para os ali mencionados. Em alguns casos vieram imediatamente para a igreja, chamados pelo poder do Senhor Cristo e pelo amor dos que os lembraram. Os próprios anjos trouxeram para a igreja muitos daqueles cujos nomes foram mencionados, ao mesmo tempo que adicionavam outros, não mencionados. Muitos anjos se assemelham a lindos “pastores”, cada um com seu rebanho destas “ovelhas” humanas, que haviam reunido e trazido à presença do Senhor. Muitos auxiliares humanos invisíveis estavam também muito ocupados em trazer gente desencarnada para a igreja, e em ajuda-los a assimilar a atmosfera e a bênção do serviço. O Anjo Construtor incluía todos estes em sua esfera de trabalho, e o Anjo da Presença saudava-os com o seu glorioso sorriso de amor e ternura à medida que chegavam. Era maravilhosos contemplar a expressão e o sorriso do Anjo da Presença. Seu sorriso revela muitíssimo mais do qualquer sorriso humano pode expressar; inclui um jubiloso reconhecimento de um velho e muito amado amigo, uma profunda compreensão espiritual de todas as suas mais elevadas esperanças e possibilidades, e o terno amor compassivo de um pai para com o seu filho predileto. A expressão na face do Anjo é sempre a de exaltação espiritual, enquanto que o irradiante poder, a vida e o amor fluem através dele continuamente. Quando, pois, ele sorri, a beleza e amor profundamente compassivo revelados excedem a toda concepção humana, e nenhuma palavra pode retratar com propriedade a maravilha deste gloriosos Representante angélico de Nosso Senhor. Uma tal visão do Bom Pastor e Seus servos angélicos e seu rebanho demonstrou prontamente que Ele conhece cada indivíduo deste planeta, que todos os homens estão envolvidos no abraço de Seu amor, e que, de fato “por baixo estão os eternos braços”. O Anjo da Presença reconhecia, cumprimentava, abençoava, e enviava amor a cada indivíduo que chegava, e extraía o mais elevado no interior de cada um, em resposta. A medida desta resposta variava consideravelmente. Alguns nessa hora estavam preocupados e concentrados em si e não responderam completamente; todos eram definidamente auxiliados, cada um na medida em que estava apto a receber e assimilar a bênção vertida e o Cristo interno podia ser despertado. Aqueles que estavam lutando com grandes dificuldades quando a bênção os atingiu – frequentemente acompanhada por um anjo – se sentiam de repente livres da tensão e iluminados com as soluções de seus problemas. Para muitos era um nítido ponto de retorno no longo ciclo de encarnações: pode mesmo influenciar o restante de sua peregrinação para a perfeição. Como fez  Filho Pródigo, desde então “se levantarão e irão a seu Pai”. Teve lugar uma verdadeira conversão e determinaram-se desde esse dia a dedicar-se à vida espiritual e ao trabalho profícuo. Vê-se, só por este fato, o valor não somente do cerimonial espiritual em conjunto, porém especialmente, da Missa de Réquiem (Missa dos mortos do latim Missa defunctorum – é uma Missa da Igreja Católica oferecida ao repouso da alma de uma ou mais pessoas falecidas) e das orações pelos mortos: porque muitos que são insensíveis e estão espiritualmente adormecidos durante toda a sua vida terrena, podem mudar completamente depois da morte. O final do serviço, a congregação invisível foi se aproximando cada vez mais do Santuário, e grande parte dela parecia receber o Sacramento através de seus amigos encarnados. As auras de todos os seus membros brilhavam com crescente intensidade à medida que os momentos passaram e no encerramento muitos deles se sentiam espiritualmente exaltados e iluminados. Logo depois do “Ite, missa est” (Ide em paz, que Deus vos acompanhe), o véu entre o invisível e o visível parecia tornar-se mais denso, como se a cortina fosse de novo fechada sobre o palco da vida terrena. Alguns dos desencarnados, embora nem todos, que ficaram para a bênção final, permaneciam por algum tempo ao lado de seus particulares amigos físicos e mesmo os acompanhavam até fora da igreja. Possivelmente podiam participar da vida deles durante o resto do dia, de uma forma que normalmente não é possível. Uns poucos permaneciam na igreja para orar, porém a maior parte da congregação invisível dispersou-se depois de ministrada a bênção final. Observando estas coisas, parecia que de muitas maneiras a religião seria muito mais fácil para os desencarnados, que para os vivos, pois aqueles podem ver muito  mais do lado oculto do serviço, do que nós. O brilho irradiante da Hóstia (pão e vinho – símbolo do corpo e do sangue de Cristo) e emanação do poder de Cristo através da Cruz, o esplendor e a beleza do Anjo da Presença, se manifestam claramente ante seus olhos. No conjunto, a sua resposta ao serviço era muito maior do que a nossa. Percebia-se quanto o corpo físico impede nossa realização e resposta às grandes verdades e forças espirituais corporificadas pela igreja, e quanto poder, beleza e conhecimento o cérebro físico nos impede de perceber. Parte do valor da cerimônia da igreja é que estimula e acelera nossos corpos e cérebros para um maior grau de sensibilidade e capacidade responsiva; de forma que o véu se alonga mais e mais à medida que nossa Mãe espiritual nos conduz a maiores profundezas da vida religiosa. Depois de alguns anos de serviços e de preces devemos nos tornar tão responsivos às coisas mais profundas como os membros desencarnados da congregação. Por fim, nossa realização será igual à dos santos anjos e não mais necessitaremos da Igreja, salvo como um gloriosos campo de serviço para o  mundo”. Livro O Lado Interno do Culto na Igreja.

Redator do Mosaico. A invocação a Imaculada Virgem Maria, Nossa Senhora, é uma das preciosidade do cristianismo. Os que têm experiência com o misticismo desse mantra se beneficia em todas as área de sua vida, pois através dele contatamos a Divina Providência que nos acolhe em nossos medos, temores e fraqueza. Além de fortalecer nosso ser interior (emoção, sensação e percepção) para prosseguirmos a Senda Espiritual com uma mente serena, tranquila e centrada naquilo que realmente produz nossa evolução. A Santíssima Mãe de Deus, é a geradora de nossa primordial vida (mônada), que viajando por vários mundos, chegou ao nosso sistema solar. Passamos, como essa “centelha” divina, por vários planetas de nosso Sistema Solar e aportamos na Terra. Os vários renascimentos que vivemos, evoluindo como mineral, vegetal, animal, e hoje humanos, são a forma de continuarmos nossa evolução cósmica. Nossa Senhora, no misticismo cristão têm completa autoridade sobre os anjos (devas) e demônios (asuras), ordenando ou impedimos qualquer ação dessas hostes quando exorbitam a imutável e inexorável lei do carma que nos pune segundo nossos pecados e nos recompensa conforme nossos boas atitudes e méritos. Assim, aqueles que praticam esse chamamento com o sentimento puro, consciência limpa e o desejo espiritual da evolução ao Brahma (O Logos Divino) alcançará a graça do despojamento do apego terreno e transitoriedade mundana. Focando sua mente na individualidade superior que nos eleva às coisas divinas e eternas.

Oração do Cristão:

AVE MARIA, CHEIA DE GRAÇA. O SENHOR É CONVOSCO, BENDITA SOIS VÓS ENTRE AS MULHERES. BENDITO É O FRUTO DO VOSSO VENTRE JESUS. SANTA MARIA, MÃE DE DEUS, ROGAI POR NÓS PECADOS, AGORA E NA HORA DE NOSSA MORTE. AMÉM. Abraço. Davi.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

O ESPAÇO E O TEMPLO SAGRADO IV


Religião Afro-brasileira. O Candomblé da Bahia – Rito Nago. Tradução de Maria Isaura Pereira de Queiroz (1918-2018). Capítulo II. O ESPAÇO E O TEMPLO SAGRADO IV.  A terceira função da “água de Oxalá” é a purificação dos membros da seita. Purificação que talvez ao mesmo tempo seja um rito de fecundação: açoitar os vegetais. Munida de pequeno ramo ou de um pedaço de cipó, a ialorixá bate nas costas dos membros da seita. Esta disciplina tem por efeito trazer o perdão das ações más praticadas no decorrer do ano. Frazer insistiu pertinazmente sobre o caráter de fecundação de ritos análogos; e devemos notar, a favor de sua teoria, que está flagelação simbólica tem lugar no momento da festa dos inhames novos, no momento em que a natureza oferece todos os seus frutos. Pensamos, todavia, que a cerimônia tem antes como fim prolongar a purificação dos homens. Manuel Raimundo (1851-1923) Querino não incorre em erro quando a interpreta como uma espécie de "resgate" ou de "perdão dos pecados", realizada no momento em que se abre o ano novo africano. A "água de Oxalá” nos aparece, pois, com seu tríplice caráter de festa agrária, de abertura do tempo sagrado, e finalmente de purificação da comunidade; com efeito, o tempo sagrado é igualmente o ritmo da vegetação e o ritmo social. Natureza, sobrenatural e social formam uma única e idêntica realidade. Depois desta purificação anual, o ritmo das grandes festas pode começar, as iniciações podem se desenrolar, os filhos de santo podem desempenhar suas obrigações para com o "dono da cabeça". Todavia, esta continuidade mística que une a água de Oxalá do ano anterior à água de Oxalá do ano seguinte, é rompida em certo momento por um período profano. Um período de expulsão dos Orixá, que se acredita terem voltado para a África, e que se estende do Carnaval ao fim da Semana Santa. É evidente que este período de "desconsagração" do candomblé, ou de sua "desafricanização", tem origem nos constrangimentos da escravidão. Os senhores não permitiam aos negros dançar no decorrer da Semana Santa; todo o mundo devia então ostentar tristeza e os escravos, bem contra a vontade, foram obrigados a obedecer às ordens recebidas. Os candomblés fecham, pois, as portas durante a Semana Santa; mas o fechamento é precedido por uma cerimônia especial, o Iorogun, - expulsão provisória dos Orixá. O catolicismo, todavia, não faz mais do que fornece a data do lorogun, e não sua função. Efetivamente, o tempo sagrado se compõe sempre de períodos de caos e de recriação do mundo, de destruição da ordem normal e de restabelecimento da harmonia perdida. Há momentos de confusão; e justamente Carnaval e Semana Santa oferecem esta imagem da confusão que irrompe no mundo. Durante o Carnaval, os homens se vestem de mulher e as mulheres de homem, as classes sociais se misturam no frenesi dos três dias e três noites de dança ininterrupta, todos os tabus de contato e de mistura que asseguram a perpetuação do cosmos são violados. Normalmente, está a natureza dividida em certo número de compartimentos estanques, de domínios separados que devem permanecer separados, sem comunicar entre si, para que as coisas não recaiam na desordem primitiva; o Carnaval destrói esta compartimentação do real, fazendo tudo participar de tudo. A Semana Santa, por seu turno, destrói aos olhos do cristão os próprios fundamentos da hierarquia cósmica; esta hierarquia supõe que as coisas subsistem pela irradiação das forças divinas; ora, justamente matando o Cristo, o homem revolta-se contra tal estratificação e, destruindo o logos que assegurava a racionalidade do real, corre assim o risco de tornar a atirar a terra na noite do caos primitivo. O africano da Bahia pode muito bem aceitar estas datas do calendário ocidental, pois também tem necessidade, todos os anos, de fazer o mundo passar pela noite do caos antes de restabelecer ritualmente a ordem e a harmonia. O Iorogun é considerado como a partida dos Orixá para a guerra; as rivalidades latentes entre as divindades, mas até então contidas, vão daí por diante rebentar livremente, desencadeando lutas violentas, Xangô contra Ogun, Xangô contra Ossain, Ogun contra Odé, Oxun e Yansan contra seu marido comum (...). Para compreender bem o significado desta cerimônia, é preciso, pois, confrontá-la com a da água de Oxalá. Os diversos compartimentos do real, que se prendem cada qual a uma divindade distinta, se destroem na luta dos deuses que não é senão outra imagem do caos, em lugar de formarem agrupamentos complementares e ordenados. Por sua vez a água de Oxalá, isto é, do maior de todos os Orixá, daquele que reina no céu e que, em suma, substituiu Olorun quando este último se aposentou - a água de Oxalá, pois, lavando indistintamente todos os fetiches do candomblé, penetrando-os por conseguinte com a mesma força unificadora e purificante, restabelece a ordem desaparecida entre os diversos domínios do real que recobram sua complementaridade e, também, seu funcionamento harmonioso, em benefício de todos os mortais. Quer isso dizer que o candomblé não aparece no Carnaval? Longe disso; mas não aparece então como instituição religiosa. Existe na Bahia uma expressão, que se ouve de vez em quando, e que chamou minha atenção a de "candomblé de brincadeira". O termo é equívoco, parece designar uma caricatura da festa religiosa, uma comédia irreverente representada com as coisas sagradas. Não é nada disso. Os "candomblés de brincadeira" não são simples divertimentos, podem ter uma função séria. Vejamos, com efeito, onde os encontrei. Em primeiro lugar, entre os pescadores de Itapoan (praia). Antes de começar a estação da pesca, pedem a Yemanjá, senhora do Oceano, que lhes seja favorável, que lhes encha as redes de xaréu, oferecendo-lhes presentes e celebrando então "candomblés de brincadeira": Dê-me licença, aí dê-me licença, ai âlo de Yemanjá âlo de Yemanjá. Como se vê, o que se realiza não deixa de ser algo de sério, uma vez que se trata de pedir à senhora do Oceano permissão para entrar no seu domínio. Encontra-se ainda a expressão "candomblé de brincadeira" no afoché. A maior parte dos afochés são de nação banto, mas conheço pelo menos um que é nagô. Consiste, em resumo, na chegada da confraria até as ruas barulhentas da cidade, agora não mais sob a forma de um conjunto de sacerdotes e de fiéis, mas antes sob o aspecto de uma corte real, com o rei, a rainha, os príncipes, os guardas, as damas de honra. Ora, este desfile da corte no meio da alegria exuberante do Carnaval, é precedido por um padê de Exú e por uma série de cânticos em honra de todos os Orixá ao pantéon africano, cada qual por sua vez. Ainda aqui, trata-se de um "candomblé de brincadeira". Todavia, também aqui a função primeira era séria. Com efeito, o mais célebre destes afochés era o de Otum, Oba da África, no Cantais. Os dois termos de Oba, rei, e de Otum, chefe da direita, indicam muito bem que primitivamente tal procissão era a visita que o soberano fazia a seu povo no momento em que este se divertia, e então o candomblé que o precedia não era senão o símbolo da festa religiosa realizada antes da festa profana. Para reminiscência africana. Mas que significa a expressão candomblé de brincadeira? Simplesmente que se trata de um candomblé sem transe e sem possessão das filhas de santo pelos respectivos orixás. Como me dizia eu rainha de maracatu (o maracatu é o paralelo pernambucano do afoché da Bahia). Os santos não podem descer, pois os tambores que empregamos não "comeram". Trata-se dos ilus, e não dos três tambores "batizados" das cerimônias religiosas. O lorogun afugentou os Orixá; porém, se daí por diante não é possível mais nenhuma possessão, pode-se ainda assim celebrar um candomblé inteiramente idêntico ao verdadeiro, salvo esta ausência absoluta de transe, - candomblé assinalado pelo emprego de instrumentos de música profanos. Os pescadores de que falei atrás não possuem tambores que beberam o sangue dos animais sacrificados; suas danças não podem também ser acompanhadas de transes. O termo de "candomblé de brincadeira" não tem outro significado. Não se trata de uma brincadeira, nem de uma falta de respeito, nem de um sinal de ceticismo religioso; trata-se, ao contrário, de uma homenagem, mas de uma homenagem na qual os homens permanecem s6s, sem receber a visita divina. O candomblé pode, pois, continuar a funcionar mesmo "fechado", mas então tem a forma de reminiscência das antigas cortes reais, e não de uma instituição religiosa. Todavia, ainda assim o afoché não é admitido pelas seitas mais tradicionais, pelos terreiros mais antigos, que lhe atribuem como que um odor de sacrilégio. Assim, o ano nos aparece menos como uma sucessão de meses do que como uma duração formada por momentos heterogêneos, cortados por um período de caos, e começando por uma recriação do mundo. O que acabamos de afirmar para o ano, vale também para a semana. Os dias de que se compõe não são apenas uma sequência de horas marcadas pelos relógios de parede ou pelos relógios-pulseira (tão ao gosto de nossos afro-brasileiros); cada um dos dias está em correspondência com uma ou várias divindades da mesma natureza, o que lhe dá coloração religiosa especial, diferenciando-o misticamente daquele que o precede e daquele que o segue. As correspondências podem variar de uma cidade para outra; as relações entre esta e aquela divindade, entre este e aquele dia não são exatamente as mesmas na Bahia, no Recife – PE e em Porto Alegre – RS, sem falar do Rio de Janeiro, Mas as variações não são de surpreender, pois também as encontramos na África. A distribuição dos Aroun Osé não é igual em Ibadan e em Ifé. A ordem que vamos dar a seguir corresponde, em geral, nos candomblés da Bahia, ao xiré, isto é, à ordem em que são cantados os cânticos e executadas as danças no decorrer das festas públicas, e também algumas vezes, como no caso do Gantois, à ordem dos rituais de celebração das divindades durante as grandes festas anuais: A segunda-feira é consagrada a Exú e a Omolú. A terça-feira é consagrada a Anamburucú e Oxunmarê. A quarta-feira, a Xangô e Yansan. A quinta-feira, a Oxossi e a Ogun. A sexta-feira, a Oxalá (Obatalá). Ao sábado a Yemanjá e a Oxum. Ao domingo, finalmente, é o dia de "todos os Orixá". É compreensível que Exú inicie a semana, pois é o deus das "aberturas": assim como está à porta do candomblé para vigiar a entrada, guarda também a entrada do tempo. Como dissemos, Exú, como intermediário entre as divindades e os humanos, reclama o primeiro sacrifício; deve forçosamente também se encontrar aqui em primeiro lugar. Mas por que lhe ajuntaram Omolú? São possíveis duas interpretações, que aliás não se contradizem uma à outra. Exú é o rapaz que não presta, que gosta de pregar peças, de vagabundear o dia inteiro; tornou-se um dos auxiliares dos feiticeiros, dos mágicos e, por isso, é temido. Omolú é o deus da varíola, das doenças da pele, das epidemias que com tanta frequência dizimaram escravos no Brasil, e por isso é igualmente uma divindade perigosa que é preciso amansar logo no início da semana. Pois estes dois deuses, na verdade, só são cruéis para aqueles que não lhes rendem a homenagem devida. São ambos, ao contrário, favoráveis se lhes forem ofertados os alimentos ou os sacrifícios que reclamam de seus fiéis. Não é sem razão que E. Carneiro chama Omolú de "médico dos pobres", de protetor dos negros humildes da Bahia. Mas a esta primeira razão pode juntar-se ainda outra. Exú e Omolu são duas divindades da terra; Frobenius insistiu muito na ligação entre Exú-Legba e o espaço, e é desnecessário voltar a ela aqui. Por seu lado, Le Hérissé descobriu que Sakpata-Omolú é, mais ainda do que apenas a divindade da varíola, o "fetiche do solo", para empregar sua própria expressão, ou, para empregar a dos africanos, o "rei da terra". A varíola não é senão o castigo enviado por Omolú a todos que o desdenham ou deixam de adorá-lo, não constituindo sua característica fundamental. Em resumo a segunda-feira, portanto, é consagrada ao culto dos deuses da Terra. Depois de ter captado a boa vontade de Exú e Omolú, ordena o respeito que se comece pelas divindades mais antigas. Reconhecemos aqui um traço africano, ligado às classes de idade e à diferença dos sexos. A terça-feira é o dia de Ananburucú, ou Nananburucú, ou mais simplesmente e mais afetuosamente ainda Nanan, que é considerada na Bahia "a mais velha das divindades das águas", a "vovó" ao mesmo tempo querida e venerada. Oxunmarê ou Oxumarê é também uma divindade das águas, pois representa o arco-íris, e a função do arco-íris é levar até o céu a água dos lagos ou do mar e com ela alimentar as nuvens. Não diremos, porém, que a terça-feira é o dia das águas como a segunda-feira é o dia da terra. Reservaremos tal designação para o sábado. Qual é, pois, a verdadeira ligação entre Nanan e Oxunmarê? Ainda aqui há duas interpretações possíveis. As vovós-velhas são sempre boas para os netinhos; estes podem pedir o que quiserem, na certeza de serem atendidos. Por outro lado, Oxunmarê é um intermediário entre o céu e a terra, que une por meio de seu longo véu multicor; portanto, sendo favorável, pode muito mais depressa levar as orações dos fiéis aos deuses lá de cima. O segundo dia, se esta interpretação for fundada, seria, pois, o dia dos intercessores. Mas existe ainda outra causa de ligação entre aquelas duas divindades, que é talvez a mais importante (os negros atuais da Bahia desconhecem as razões em· que seus pais fundamentaram as correspondências, o que nos obrigou também a interpretá-las, em lugar de unicamente recolhermos as informações). Nanan e Oxunmarê são originários da região que a gente da Bahia designa sob o nome de Gêge Mahi, são divindades dahomeanas incorporadas ao pantéon yoruba (mas já incorporadas na África). A terça-feira, portanto, seria o dia da homenagem nagô ao país de gegê. A terça-feira ao contrário, não oferece nenhuma dificuldade. É consagrada ao deus do raio, Xangô, e à sua mulher principal, Yansan, que preside à tempestade, à chuva torrencial, aos vendavais. Embora Xangõ possua duas outras esposas, Oba e Oxum, é natural vê-lo figurar aqui com aquela de suas mulheres que o auxilia no trabalho de "lançador de raios". Um mito conta-nos que Xangô possuía certa "magia", lançava fogo pela boca; mas Yansan roubou-a e, daí por diante, também se tomou capaz de fazê-lo; e se não lança fogo pela boca, pelo menos "traça no ar círculos cintilantes" com sua espada, imitando o raio. Shango e Yansan "saíram juntos para a terra dos malês. Ali chegados, acharam tudo no mesmo. Eles continuam rezando seus rosários e nem ligaram a Shango. Ele então mandou que Yansan lhe guardasse as costas e interpelou os malês. Eles ficaram assim, sem se explicar direito. Shango então descarregou o corisco (...) enquanto Yansan arrastava a sua espada e raspando o ar com ela fazia o relâmpago. Os malês, que não conheciam o relâmpago, ficaram com medo e caíram no chão fazendo reverência a Shango. Aí o chefe dos malês cantou: "E oba emode emole loce" -  reconhecendo a chefia de Shango e é com esse canto que se abre o, culto dos malês. A quarta-feira é, pois, o dia consagrado à adoração do fogo. A quinta-feira também não oferece maiores dificuldades. As duas divindades que lhe correspondem são, com efeito, Oxossi, que é o patrono dos caçadores, e Ogun, que é o dos ferreiros. Por outro lado, estão duplamente ligados um ao outro, em primeiro lugar porque são irmãos, e em segundo lugar porque são o que chamamos de "divindades do ar livre". A quinta-feira é, pois, ao mesmo tempo o dia dos deuses cujas pedras se encontram fora do pegi da casa, e o dia da homenagem dos grupos de artesãos ou de castas àqueles que presidem às suas atividades sociais. Página 123. Livro O Candomblé da Bahia – Rito Nago. Abraço. Davi


domingo, 26 de abril de 2020

SUNNAH OU HADITH


Islamismo. www.ccib.org.br. SUNNAH E HADITH. Hadith são uma série de ensinamentos, dizeres e ações do Profeta Muhammad (saws), transcritas e coletadas acuradamente por seus devotos e companheiros. Explicam e interpretam os versículos corânicos. A Sunnah ou Hadith são a segunda fonte da qual os ensinamentos do Islam são esboçados. Hadith significa literalmente um dito transmitido ao homem, mas em terminologia islâmica significa os ditos do Profeta (paz esteja com ele), sua ação ou prática de sua aprovação silenciosa da ação ou prática. Hadith e Sunnah são usados intercaladamente, mas em alguns casos são usados com significados diferentes. Para lidar com o tópico é necessário conhecer a posição do Profeta no Islam, porque a indispensabilidade do Hadith depende da posição do profeta. Analisando o problema, podemos visualizar 3 possibilidades: 1. A obrigação do profeta era apenas transmitir a mensagem e nada mais foi requerido dele. 2. Ele tinha, que não apenas transmitir a mensagem, mas também agir de acordo com ela, e explicá-la. Mas tudo era para um período especificado e depois de sua morte o Quran se torna suficiente para a humanidade. 3. Ele não tinha nenhuma dúvida para transmitir a Mensagem Divina, mas era também sua obrigação agir de acordo com ela e explicá-la para as pessoas. Suas ações e explicações são origem dos ensinamentos para sempre. Seus ditos, ações, práticas e explicações são origem de luz para todo muçulmano em todas as épocas. É unanimidade que apenas a terceira alternativa é correta a respeito da posição do profeta no Islam. O Quran contém dúzias de lembretes da posição importante do profeta. Todo muçulmano deve ter o bom exemplo do profeta como um ideal de vida. No seguinte versículo, ele tem sido feito um ‘Hakam’ para os muçulmanos por Allah (swt). O Todo Poderoso. Ninguém continua muçulmano se não aceitar as decisões e julgamentos do profeta: "Qual! Por Teu Senhor, não crerão até que te tomem por juiz de suas dissensões e não objetem ao que tu tenhas sentenciado. Então, submeter-se-ão a ti espontaneamente" [An-Nisa 4:65]. Enquanto explicando as qualidades dos muçulmanos, o Quran diz: "A resposta dos fiéis, ao serem convocados diante de Allah (swt) e seu Mensageiro, para que julguem entre eles, será: escutamos e obedecemos" [An-Nur 24:51]. Em muitos lugares o Quran tem dado seu veredito neste assunto. O Quran diz: "Obedecei a Allah (swt) e a seu Mensageiro" [An-Nisa 59] e "Aceitai, pois, o que vos der o mensageiro e abstende-vos de tudo quanto ele vos proíba" [Al-Haxr 59:7]. O Quran é muito claro ao expressar sua visão na posição do profeta. De acordo com o Quran o profeta tem quatro capacidades e ele deve ser obedecido em cada uma delas. Ele é o Mu`allim e Murabbee, ele é Shaari` que explica o Livro, ele é o legislador e juiz, e ele é o administrador. Em todas estas capacidades ele é um exemplo ideal para os muçulmanos. Cito uns poucos versos do Livro Sagrado que tratam deste tópico. "Allah (swt) agraciou os fiéis, ao fazer surgir um Mensageiro de sua estirpe, que lhes ditou os Seus versículos, redimiu-os, e lhes ensinou o Livro e a Prudência, embora antes estivessem em evidente erro" [Al-Imran 3:164]. "E a ti revelamos a Mensagem, para que elucides aos humanos, a respeito do que foi revelado, para que meditem" [An-Nahl 16: 44]. "São aqueles que seguem o Mensageiro, o Profeta iletrado, o qual encontram mencionado em sua Tora e no Evangelho, o qual lhes recomenda o bem e lhes proíbe o ilícito, prescreve todo o bem e veda-lhes o imundo, avalia-os dos seus fardos e livra-os dos grilhões que os deprimem. Aqueles que nele creram, honraram-no, defenderam-no e seguiram a Luz que com ele foi enviada, são os bem-aventurados"[Al-Araf 7:157]. "Ó fiéis, obedecei a Allah (swt), ao Seu Mensageiro e às autoridades, dentre vós! Se disputardes sobre qualquer questão, recorrei a Allah (swt) e ao Seu Mensageiro, se crerdes em Allah (swt) e no dia do Juízo Final, porque isto vos será preferível" [An-Nisa 4:59]. "Não é dado ao fiel nem à fiel agir conforme o seu arbítrio, quando Allah (swt) e Seu Mensageiro é que decidem o assunto. Sabei que quem desobedecer a Allah (swt) e ao Seu Mensageiro desviar-se-á evidentemente" [Al-Ahzab 33:36]. Em todos estes versículos, o Quran tem explicado vários aspectos da personalidade do Profeta. Alguém pode julgar a importância do Profeta a partir destes versículos. Recordo-me de outro importante versículo do Quran, que é na verdade um veredicto contra aqueles que não acreditam no Hadith como uma autêntica origem de Lei: "A quem combater o Mensageiro, depois de haver sido evidenciada a Orientação, seguindo outro caminho senão o dos fiéis, abandoná-lo-emos em seu erro e o introduziremos no inferno. Que péssimo destino!" [An-Nisa 4:115]. O Quran pressiona os muçulmanos a obedecerem ao Profeta, e anuncia que a profecia de Muhammad (saws) (saws) (paz esteja com ele) está acima das limitações de tempo e espaço. Ele é último Profeta e um Mensageiro de Allah (swt) para toda a humanidade de todos os tempos vindouros. O Hadith não é nada além de uma reflexão da personalidade do Profeta, que dever ser obedecida a todo custo. Qualquer estudante do Quran verá que o Livro Sagrado geralmente trata os princípios indispensáveis da religião de forma ampla, entrando em detalhes em apenas alguns raros casos. Os detalhes são tratados pelo Profeta que, ou mostra pela sua prática como uma injunção deverá ser tratada, ou dá uma explanação verbal. A Sunnah ou o Hadith do Profeta não era, como normalmente suposto, uma necessidade que fora sentida apenas depois de sua morte, já que era muito necessária também em seu tempo de vida. As duas mais importantes instituições religiosas do Islam são a oração e o zakat; e quando a injunção relatando a oração e o zakat foram entregues, e eram repetidamente reveladas em Meca e Medina, contudo nenhum detalhe era mostrado. Então era o profeta mesmo que por suas próprias ações deu os detalhes para o adorador e disse: (Salloo kamaa ra'aytamoonee usaallee) "Rezem como vocês me vêem rezando". O pagamento do zakat é uma injunção que frequentemente é repetida no Quran, e foi o profeta quem deu as regras para o pagamento e a coleta. Existem outros exemplos já que o Islam abrange a totalidade da esfera das atividades humanas, centenas de outros pontos têm sido explicados pelo Profeta pelo seu exemplo nas ações e palavras. O ulemá tem discutido a questão do Hadith detalhadamente como um "wahyun khafee" e uma sabedoria profética. Eu não vou entrar em detalhes, mas uma coisa pode ser declarada claramente: existem casos nos quais o profeta, não tendo recebido a revelação, fez um esforço pessoal para formular uma opinião por sua própria sabedoria. Ou isto era corrigido pela revelação ou era reprovado. A importância da Sunnah mesmo como segunda fonte do Islam era um assunto estabelecido pelos companheiros do profeta. Eu cito apenas um dos muitos exemplos: que de Mu`az ibn Jabal que disse para o profeta que ele deveria decidir de acordo com a Sunnah caso não encontrasse solução no Quran para o problema. Cita o Dr. Hamidullah: "A importância dos Hadiths é ainda maior pelo fato de que o profeta Muhammad (saws) (saws) não apenas ensinava, mas aproveitava para colocar em prática seus ensinamentos em todos os assuntos importantes da vida. Após sua designação como Mensageiro de Allah (swt), ele viveu por 23 anos. Ele enriqueceu sua comunidade com uma religião que ele mesmo praticava escrupulosamente. Ele fundou um Estado, ao qual ele administrava como chefe supremo, mantendo a paz e a ordem interna, liderando o exército para a defesa externa, julgando e decidindo os litígios dos seus súditos, punindo os criminosos, e legislando sobre os assuntos da vida. Ele casou e deixou um exemplo de vida familiar. Outro fato importante é que ele não se colocou acima da lei comum, a mesma que ele impunha aos outros. Sua conduta não era apenas um comportamento particular, senão uma interpretação e aplicação minuciosa dos seus ensinamentos" [Introdução ao Islam, página 45]. O homem, no entanto, que abraçou o Islam necessita de ambos, o Quran e a Sunnah. Na verdade o Hadith é tão importante que sem ele, o Livro Sagrado e o Islam não podem ser completamente compreendidos ou ser aplicados na vida prática do fiel. A Sunnah ou Hadith são a segunda fonte de ensinamentos do Islã.  Hadith significa em terminologia islâmica os ditos do Profeta (SAAS), sua ação ou prática de sua aprovação silenciosa da ação ou prática. Hadith e Sunnah são usados intercaladamente, mas em alguns casos são usados com significados diferentes. A diferença entre o Alcorão e a Suna, é que o texto do Alcorão e o seu significado vem de Allah (swt), ao Anjo Gabriel só coube levar essa mensagem ao profeta e a ele só coube receber, preservar, transmitir essa mensagem para as pessoas e explicar o que necessitava de explicação.  Enquanto que a Suna as tradições os significados são de Allah (swt) e o texto do profeta, diz Allah (swt) o Altíssimo: “Nem fala por capricho. Isso não é senão a revelação que foi revelada”. (53: 3 e 4). www.ccib.org.br. Abraço. Davi.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

A RESISTÊNCIA JUDAICA DURANTE O HOLOCAUSTO


Editor do Mosaico. Comemorou-se no mês de janeiro (26) o Dia Internacional do Holocausto. Evento criado para lembrar as vítimas do Holocausto e combater o antissemitismo pelo mundo. Esse é um fato histórico ricamente documentado com sobreviventes, judeus, ainda vivos. Memória, que a humanidade jamais deve esquecer, para que, perversidades e crueldades desse vulto, contra pessoas humanas indefesas e inocentes, não temam lugar novamente em nossa sociedade contemporânea. Dos nove milhões de judeus que residiam na Europa antes do Holocausto, mais de dois terços foram mortos. Mais de um milhão de crianças, dois milhões de mulheres e quatro milhões de homens morreram durante o período da 2ª Guerra Mundial (1939-1945) nos campos de extermínio. Segue o nome de alguns deles: Auschwitz - Polônia. Belzec - Polônia. Bergen Belsen – Alemanha. Bordufus – Noruega. Breitenau – Alemanha. Buchenwald – Alemanha. Chelmno – Polônia. Gross Rossen – Polônia. Lwow – Ucrânia. Natzweiller Struthof – França. Treblinka – Polônia. Dachau – Alemanha e muitos outros. 

Judaísmo. www.morasha.com.br. A RESISTÊNCIA JUDAICA DURANTE O HOLOCAUSTO. Recentemente os historiadores passaram a considerar o número de judeus brutalmente assassinados pelo Terceiro Reich em torno de 7 milhões – e não mais 6 milhões. A pergunta muitas vezes feita é por que estes não resistiram? Por que não lutaram? Por que se deixaram levar “como ovelhas”? Quem pergunta tem a objetividade do tempo transcorrido desde então e nenhuma vivência pessoal de um horror que a mente humana não consegue assimilar. Mas a pergunta precisa ser respondida. Uma guerra sem fronteiras havia sido declarada pela Alemanha de Adolf Hitler (1889-1945) contra o Povo Judeu, sem restrição de homens ou armamentos. O fato colocava os judeus numa situação extremamente difícil. Eles não possuíam um Estado, tampouco forças de combate treinadas; e nem aliados. Eram uma minoria civil desarmada, espalhada em todos os países da Europa. No Leste Europeu eram desprezados. Hoje, temos provas e testemunhos de que houve centenas de atos, individuais e de grupo, de resistência judaica aos nazistas nos países da Europa Ocidental e Oriental. Essa resistência se manifestou de forma diferente dependendo do país, do grau de antissemitismo da população local e do momento histórico. Um dos grandes desafios na historiografia da resistência judaica durante o Holocausto é a definição do que deve ser considerado como “resistência” a um poder opressor. Deve-se considerar apenas a ação armada? Historiadores concordam que há duas categorias básicas: a resistência civil, não violenta, e a armada. E, mesmo a armada é subdividida entre a ofensiva e a chamada acorrentada. A resistência ofensiva inclui operações armadas não convencionais, ações de guerrilheiros ou de sabotagem. Um exemplo da resistência ofensiva foi a luta dos partisans1 nos territórios sob domínio alemão. A acorrentada, por sua vez, implica em ações armadas em situações em que são praticamente nulas as esperanças de sobrevivência. O Levante do Gueto de Varsóvia, há 75 anos, em abril de 1943, assim como os levantes ocorridos em outros guetos e campos de concentração, são exemplos de resistência acorrentada. Há testemunhos sobre centenas de atos individuais de mulheres e homens judeus, que, sendo levados à morte, tentaram ferir seus algozes com facadas e até mesmo mordidas. E, é um fato histórico de que dezenas de milhares de judeus participaram da resistência armada, engrossando as fileiras dos movimentos nacionais de resistência, os partisans, na luta contra o inimigo comum. (Apenas em território polonês, com raríssimas exceções, os grupos de resistência não aceitavam judeus em suas fileiras). Nunca é demais enfatizar que os partisansoperavam apenas em ações de guerrilhas. Um enfrentamento aberto, com armas em punho, contra os alemães ocorreu em apenas três ocasiões – em Varsóvia, Paris e Eslováquia, no final do verão europeu de 1944. Nas três ocasiões os resistentes sabiam que as forças Aliadas estavam próximas. Em toda a Europa sob domínio nazista foram muito frequentes os casos de ajuda por parte de judeus a seus correligionários “em perigo ou em fuga”, de salvamento de crianças, de proteção aos que se escondiam. E, enquanto aumentavam os esforços nazistas para erradicar os judeus da História, dia após dia eles registravam a vida sob ocupação nazista, inclusive nos campos de concentração. Escrever era uma forma de resistir, era deixar a prova dos crimes nazistas. Na Polônia, trancafiados em guetos, isolados e sem qualquer meio de comunicação com o exterior, os judeus criaram uma ativa resistência civil, entre outras, organizações assistenciais, religiosas e educacionais clandestinas. E conseguiram realizar levantes armados em cinco dos principais guetos, em 45 dos menores, em cinco campos de concentração e extermínio, e em 18 campos de trabalhos forçados. A fuga era uma maneira de resistir. Mas, mesmo quando os judeus tinham os meios e a oportunidade, as dificuldades eram enormes. A pergunta era “para onde ir? ”. Praticamente nenhum país lhes abrira suas portas. Os que tiveram tempo de escapar para outros países da Europa não foram rápido ou longe o suficiente; judeus alemães e austríacos foram capturados na França, Bélgica e assim por diante. Sem ajuda era quase impossível se esconder, e sobreviver. A população não judaica muitas vezes era hostil; no melhor dos casos, indiferente a eles e à sua sorte. Em sua caça aos judeus, os nazistas contavam com a ajuda entusiasmada de ucranianos, lituanos e poloneses. E aquele que decidisse ajudar um judeu, sabia que, se descoberto, seria executado. Ademais, qualquer tipo de resistência por parte de uma nacionalidade qualquer era fortemente inibido pela polícia nazista e seus métodos de terror. Porém, aos judeus os nazistas reservavam um “tratamento especial”. A punição a um não judeu suspeito de um ato de resistência era, em muitos casos, a execução sumária; a tortura era usada para extrair informações. Porém, para um resistente judeu a execução sumária era a melhor opção, pois, via de regra, ele devia “ser morto da maneira que mais conduzisse à disciplina e que impedisse qualquer outro tipo de resistência”. O sadismo nazista não teve limites. No Leste da Europa, os resistentes judeus eram esfolados, queimados vivos, jovens judias recebiam injeções de veneno que provocavam espasmos musculares antes da morte. Em Minsk, o comandante das SS cegava os judeus capturados com ferro em brasa e os enviava de volta para seus companheiros, como um “alerta”. Mas, acima de tudo, a resistência era inibida pela política alemã de “responsabilidade coletiva”. Essa tática de retaliação atribuía a responsabilidade a famílias, até a comunidades inteiras por atos individuais de resistência. No caso judaico, a retribuição podia atingir todos os habitantes de um gueto. Caso um judeu fosse encontrado fugindo, de posse de um rádio, um telefone ou uma arma, dezenas ou até centenas de judeus eram assassinados em represália. E, na eventualidade de um judeu ferir ou matar um alemão, os números chegavam a milhares. Portanto, a pergunta a ser feita é “como pôde haver uma resistência? ”. Na Europa Ocidental. Nos países da Europa Ocidental são muitos os exemplos de resistência judaica – individual e organizada, civil e armada. Na França, por exemplo, às vésperas da eclosão da 2ª Guerra, quando as autoridades francesas anunciaram que evacuariam crianças francesas de Paris, os líderes dos Éclaireurs Israélites, (Escoteiros Judeus) organizaram a saída das crianças judias das famílias de imigrantes e montaram lares de infância coletivos no sul da França. Os Éclaireurs Israélites e outros movimentos judaicos juvenis tiveram papel crucial quando a perseguição ativa aos judeus chega ao país. Por toda a Europa havia judeus engajados em ajudar seus correligionários “em perigo ou em fuga”. A partir da França, a entidade judaica Oeuvre de Secours aux Enfants (OSE), adotando o lema “Il faut sauver les enfants! ” (É preciso salvar as crianças), organizou uma rede clandestina de resgate de crianças judias de toda Europa, que ficou conhecida como Circuit Garel. A OSE os transportava para o sul da França, acomodando-os em lares e orfanatos. Em 1943, com a intensificação das deportações, conseguiram contrabandeá-las para a Suíça. Como mencionamos acima, milhares de judeus combateram nas fileiras dos movimentos nacionais de resistência na França, Bélgica, Itália, Iugoslávia, Grécia e Eslováquia. Na França, foi grande o número de judeus na Resistência Francesa, La Résistance. Muitos inclusive ocuparam posições de liderança. Um dos grupos da Résistance era a Armée Juive (Exército Judeu), que operava no sul da França. Quando os britânicos criaram a Special Operations Executive (SOE) para espionar os inimigos e organizar os movimentos de resistência, entre os agentes de campo infiltrados atrás das linhas alemãs havia muitos judeus, principalmente mulheres. Na Grécia, o rabino Barzilai e os líderes comunitários que faziam parte do Judenrat de Atenas decidiram não atender nenhuma exigência nazista e agiram rapidamente. Foram queimadas todas as informações sobre a comunidade, o rabino raspou a barba, juntando-se aos partisans nas montanhas e incentivando todos os judeus a fugir. Entre os que se juntaram aos partisans gregos, destacam-se 40 indivíduos integrantes do grupo que explodiu a ponte da principal ferrovia, ligando o norte ao sul da Grécia. A resistência não armada no Leste Europeu. Os guetos no Leste Europeu eram centros de morte lenta. Os judeus morriam de fome e de frio, pois a quantidade oficial de alimentos e combustível que os nazistas destinavam a eles era ínfima e constantemente reduzida. Morriam nas ruas por nenhum motivo além de serem judeus. Em Varsóvia, a taxa de mortalidade chegou a mil por semana. Os judeus procuraram resistir à política nazista de inanição e desumanização. No início do seu confinamento – quando ninguém podia sequer imaginar a possibilidade de um extermínio em massa ou de câmaras de gás – a preocupação girava em volta da sobrevivência física, moral e espiritual. Na maioria dos guetos maiores, uma “comunidade paralela”, uma rede de organizações sócias, assistências, e políticas underground, incluindo movimentos juvenis, passou a funcionar. Seus líderes haviam saído das fileiras das instituições judaicas, dos movimentos juvenis sionistas e dos partidos de esquerda do pré-guerra. Alimentos, mercadorias e medicamentos eram contrabandeados para dentro dos muros do gueto, muitas vezes por crianças. Era o contrabando que mantinha o gueto vivo. A “comunidade paralela” criou refeitórios, orfanatos, clínicas e abrigos para refugiados e os mais pobres. Organizava ensino clandestino e atividades culturais. Em Varsóvia, os “comitês das residências” atuavam para cuidar dos que moravam em seus complexos habitacionais. Em muitos casos, as atividades sociais davam cobertura a movimentos políticos ilegais. Sendo a prática da religião judaica proibida, uma resistência religiosa entra em ação para ajudar os judeus a observarem leis e feriados religiosos. Em casa de orações clandestinas havia diariamente minyanim; apenas emVarsóvia eram cerca de 600. Os rabinos continuavam a lecionar, a escrever comentários, a realizar casamentos, Brit milot, Bar Mitzvás. Jovens continuaram a estudar em yeshivot clandestinas. Os médicos judeus não tinham acesso a medicamentos para salvar os doentes já enfraquecidos pela fome. Ao se dar conta de que a guerra contra a fome estava perdida, passaram a estudar os efeitos da inanição em seu próprio corpo e nos cadáveres. Suas conclusões foram publicadas após a guerra, em Paris. Sob domínio nazista era “ilegal” que os judeus possuíssem rádio, telefone ou que publicassem um jornal. No entanto, a maioria dos grupos políticos clandestinos lutava contra o isolamento judaico publicando jornais e boletins clandestinos. As notícias eram compiladas de transmissões soviéticas ou da BBC, em rádios escondidos. Muitos, judeus e não judeus, registram a vida sob julgo nazista, mas os arquivos mais completos foram coletados pelo grupo “Oyneg Shabbes “, fundado em Varsóvia pelo historiador Emanuel Ringelblum. As palavras de ordem de Ringelblum eram “reunir material, juntar impressões e registrá-las, imediatamente”. Ele acreditava que os arquivos permitiriam ao mundo pós-guerra ouvir as vozes dos que foram silenciados. Eram registros dos crimes cometidos pelos nazistas, e da vida, e morte dos judeus no gueto de Varsóvia e no resto da Polônia. Um parêntese precisa ser aberto a respeito dos Judenrats, os Conselhos Judaicos criados pelos nazistas para executarem suas ordens. As atitudes de vários desses Conselhos são até hoje questionadas e criticadas, mas não cabe aqui analisar suas ações ou razões. Porém, é preciso ressaltar que muitos foram forçados a assumir o cargo, sob pena de morte, e que os Conselhos eram impotentes frente aos nazistas. Suas tentativas de aliviar as condições de vida nos guetos raramente tinham sucesso. O ponto de inflexão. A operação Barbarossa, a invasão da União Soviética iniciada em junho de 1941, marcou o ponto de inflexão da política alemã em relação aos judeus. Com a invasão, dá-se início à matança rápida e indiscriminada de todo e qualquer judeu, independente de idade ou sexo. Crianças de colo não eram poupadas. A velocidade, e sigilo e ardis usados pelos alemães e seus colaboradores eram essenciais para o “bom andamento das operações”. Quando havia qualquer tipo de resistência, esta era brutal e imediatamente silenciada. Dia após dia, cidade após cidade, os nazistas destruíram sistematicamente comunidades judaicas inteiras. Não foram poucas as vezes em que foram “ajudados” pela população local. Os alemães sabiam e exploraram ao máximo o antissemitismo reinante no Leste europeu. Apesar do esforço alemão para manter a “Solução Final” em sigilo absoluto, alguns judeus rastejaram com vida das valas onde os nazistas os havia jogado junto com centenas de outros que haviam sido mortos a tiro. Eles revelavam aos judeus que os encontraram “o crime sem nome” que vivenciaram. A princípio, a maioria dos líderes dos movimentos judaicos clandestinos receberam os relatos dos assassinatos em massa com ceticismo; os que acreditaram não conseguiram interpretar o verdadeiro alcance dos acontecimentos. Em 1942, os testemunhos de judeus que haviam fugido de campos de extermínio fizeram-nos estremecer. A resistência polonesa também alertara seus contatos em Varsóvia sobre o que acontecia com os judeus em Treblinka. Um dos membros do Bund é então enviado para investigar, e volta com a confirmação de que se tratava de um campo de morte, onde os judeus eram assassinados em câmaras de gás. Outros couriers, foram despachados paraaveriguar e repassar as informações. Eles também voltam com a confirmação dos massacres. Esses jovens, em sua maioria mulheres, haviam criado uma rede de comunicação para conectar vários guetos. Com documentos falsos viajavam por toda a Polônia levando informações, jornais clandestinos e dinheiro; compravam e contrabandeavam armas para dentro dos guetos e organizavam rotas de fuga. Ao receber confirmação dos assassinatos em massa e das câmaras de gás, as lideranças compreenderam a realidade da “Solução Final”. Perceberam que para evitar uma revolta em massa, os judeus eram ludibriados de forma a pensar que apenas estavam sendo levados a campos de trabalho. Os nazistas eram “ajudados” pela tendência do ser humano de racionalizar e de negar o pior. “Por que os nazistas nos matariam se podiam explorar nossa mão de obra? Vamos trabalhar nas piores condições possíveis, como escravos, mas vamos sobreviver”. Para os movimentos clandestinos, a estratégia de não-provocação até então adotada, facilitava os planos dos nazistas. Decidiram que era imprescindível convencer outros judeus a resistir às deportações, convencendo-os de que eram o passo inicial para a liquidação judaica. E decidiram que era preciso enviar as informações para os Aliados, na esperança de que algo fosse feito em seu socorro. Iludiam-se pensando que a falta de ajuda decorria da falta de conhecimento... Resistência armada. Vimos acima que a ferramenta nazista mais potente contra a resistência era a tática da “responsabilidade coletiva”. A pessoa podia estar decidida a lutar, a enfrentar a tortura e a morte. Mas estaria preparado para ver que suas decisões levaram os nazistas a assassinar seus familiares, seus amigos, quem sabe, o gueto inteiro? Os inimigos eram implacáveis e as represálias, selvagens. E, o crime supremo – matar um alemão – era vingado com rios de sangue judaico. Os exemplos não terminam. Em Dolhyhnov, próximo a Vilna, toda a população do gueto foi assassinada após a fuga de dois meninos que se recusaram a voltar atrás. Em Bialystok os alemães atiraram em 120 judeus, em plena rua do gueto, após um judeu ter matado um policial alemão, e ameaçaram destruir o gueto inteiro se ele não se rendesse – o que acabou acontecendo... Os movimentos juvenis e os partidos de esquerda e o Judenrat – que diferiam em muitos assuntos – estavam de acordo em que uma resistência armada só poderia acabar em morte para os judeus. E, enquanto houvesse a possibilidade de sobrevivência, ainda que para uma minoria, teriam que aguardar. Mas eles se preparariam... Em 1942 são criadas organizações de resistência armada. A primeira delas, a FPO, Organização dos Partisans Unidos, foi formada em Vilna. Um de seus comandantes, o poeta Abba Kovner, foi um dos primeiros a entender as intenções nazistas. Num discurso inflamado em uma reunião underground, Kovner conclama seus irmãos, judeus, a resistir. “Não acredite naqueles que pretendem enganar-nos.... O plano de Hitler é eliminar todos os judeus da Europa. É melhor cair como guerreiros do que viver à mercê dos assassinos. Levantem-se! Ergam-se com suas últimas forças!” O ZOB (Zydowska Organizacja Bojowa, Organização de Combatentes Judeus, em polonês) deu seus primeiros passos em Varsóvia, em 1942, após a Grande Deportação. Esse movimento de resistência seria decisivo na organização do Levante do Gueto de Varsóvia. A finalidade e velocidade da Solução Final deixava duas opções aos grupos de resistência – que sobreviveram às deportações: organizar fugas em massa ou ficar nos guetos e lutar. Os que optaram pela fuga, procuraram abrigo nas florestas. Alguns juntaram-se às unidades de partisans soviéticos, outros conseguiram formar grupos separados. Mas, muitos morreram de fome ou pelas mãos de partisans ou camponeses poloneses: o ódio da população em relação aos judeus era mais forte do que o ódio que nutriam pelos alemães. A situação dos que ficaram para lutar era desesperadora e o tempo corria contra eles. Rodeados por uma força militar alemã treinada e equipada estavam em inferioridade numérica e seu “armamento” era irrisório; e era extremamente difícil e perigoso obter armas. Os combatentes judeus não recebiam armas, alimentos ou remédios “caídos dos céus”, jogados pelos Aliados, como os demais grupos de resistência. Os couriers ou os judeus que viviam no lado “ariano” tinham que comprar ou roubar armas, e contrabandeá-las para dentro dos guetos sem serem detectados. No entanto, estavam preparados para lutar e morrer; sua honra e a honra do Povo Judeu estavam em jogo. Sabiam que não sobreviveriam, mas “por que não resistir quando a alternativa era a morte em momento e local escolhidos pelos nazistas?”, escreveu um dos combatentes do Levante do Gueto de Varsóvia, “Estamos sendo impelidos pelo desespero aliado ao desejo de vingança. Nossos familiares foram abatidos como gado e atirados em covas sem nome. O simples pensamento de dar um fim à vida de alguns alemães, que fosse, já é um poderoso incentivo”. Nos guetos maiores, os combatentes das organizações clandestinas sabiam que não podiam contar, de modo geral, com o apoio dos Judenrat, nem com a população geral do gueto. Muitos líderes desses conselhos eram ambivalentes quanto a ajudar a resistência porque esperavam que a maior parte da população do gueto pudesse ser salva com seu trabalho, e viam a rebelião armada como um plano suicida. Apenas em Kovno e Minsk, os líderes do Judenrat cooperaram com o movimento clandestino. A resistência mais bem-sucedida, uma fuga em massa, ocorreu em Minsk. Entre 6 mil a 10 mil judeus fugiram para as densas matas, e alguns milhares sobreviveram até o final da guerra. Em muitos guetos menores, nos territórios ocupados no leste da Polônia e da então URSS, os membros dos Judenrat eram atuantes no movimento ou cooperavam com a resistência. Em muitos desses guetos irromperam revoltas espontâneas durante sua liquidação final. O exemplo mais famoso e dramático de resistência judaica armada durante o Holocausto foi o Levante do Gueto de Varsóvia, em abril e maio de 1943, que assumiu um significado muito além da revolta em si. Tornou-se um momento decisivo na História Judaica, como reconheceu Mordechai Anielewicz, líder da ZOB, ao escrever sua derradeira carta duas semanas antes de sua morte. Revolta nos campos. Durante a Guerra, no período de 1939-1945, milhões de pessoas passaram por uma extensa rede de milhares de diferentes campos erguidos na Alemanha e nos países europeus ocupados por esse poder. Acredita-se que 5,7 milhões de judeus, entre homens, mulheres e crianças foram mortos nos campos nazistas. A maioria foi envenenada por gás Zyklon-B logo após sua chegada em um dos seis campos de extermínio estabelecidos em território polonês: Chelmno, Belzec, Sobibor, Treblinka, Auschwitz-Birkenau e Majdanek. A atmosfera de total terror e isolamento, nos campos, bem como a inanição crônica da maioria dos prisioneiros inibiram completamente sua vontade e suas possibilidades de resistir. A rotina diária nos campos era organizada de forma brutal. Incluía um sistema elaborado de duros castigos pelas menores “infrações”, vigilância acirrada e intermináveis chamadas para a contagem dos prisioneiros. Cercas de arame farpado e de alta voltagem, cães selvagens amestrados e torres de segurança deixavam pouca esperança de fuga. Quem tentava resistir ou fugir era morto de imediato. Mas, apesar desses enormes obstáculos, houve vários atos de resistência em diversos campos. Mesmo nos de extermínio, à sombra das câmaras de gás e crematórios, os judeus encontraram formas de resistir a seus opressores: lutar contra a desumanização. Havia tentativas organizadas pelos movimentos clandestinos para informar ao mundo a brutalidade nazista, as cruéis condições físicas e a sistemática aniquilação de judeus nesses campos do inferno. Os judeus rezavam, acendiam velas de Chanucá; um par de tefilin era um bem precioso... Três levantes corajosos e ousados ocorreram nos centros de morte de Treblinka, Sobibor e Auschwitz-Birkenau. De forma semelhante às rebeliões nos guetos, as revoltas organizadas nesses centros, onde a humanidade chegou ao seu nível mais baixo, surgiam do puro desespero e desesperança. Yehuda Bauer, Professor Emérito de História e Estudos do Holocausto na Universidade Hebraica de Jerusalém, e Consultor Acadêmico no Yad Vashem, é um dos historiadores e pesquisadores que, em seu livro Rethinking the Holocaust (“Repensando o Holocausto”), respondeu à pergunta: “Por que os judeus não resistiram? ”. Ele escreveu: “A análise sobre a reação ativa judaica à opressão nazista poderia resumir-se de maneira quase triunfalista: havia uma resistência não armada, havia a santificação da vida, havia a resistência armada... Ao se revoltar contra o regime hitlerista, que visava exterminar toda a população judaica, os judeus não se envolveram em um ato de heroísmo. Eles simplesmente quiseram preservar a substância moral e material de nosso povo. Seu sucesso lhes garantiu a imortalidade”.

BIBLIOGRAFIA
Dawidowicz, Lucy, The War Against the Jews: 1933-1945. Gutman, Israel, Resistência: O levante do gueto de Varsóvia. Kassow, Samuel D,Who Will Write Our History?: Rediscovering a Hidden Archive from the Warsaw Ghetto. Ebook Kindle Gilbert, Martin, The Holocaust. Ebook Kindle. 1A expressão é geralmente usada para se referir aos grupos armados organizados que combatiam o domínio nazista na Europa ocupada, durante a 2ª Guerra Mundial.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

A ETERNIDADE DO SER HUMANO - A RESSURREIÇÃO


Islamismo. www.ibeipr.com.br. Preparado pelo Centro Islâmico da Inglaterra – Londres. Traduzido do persa por Shaij Feisal Morhell. A ETERNIDADE DO SER HUMANO. Tratar o tema da Ressurreição do ser humano, em realidade é responder a uma pergunta geral e universal. Também é responder a uma necessidade individual e social, no sentido que, ao demonstrar a vida depois da morte se satisfaz uma das mais importantes necessidades da humanidade, isto é, o desejo de subsistir (o amor à imortalidade e à eternidade). Mais importante do que tudo, a crença na ressurreição e a vida eterna dirigem, motiva e dá propósito à vida terrena do ser humano e mantém os momentos inapreciáveis de sua vida afastados da banalidade e a falta de propósito. Por outra parte, ao debater o tema da Ressurreição se enfoca em uma importante questão histórica, filosófica, científica e social, já que isso é o que implica esta crença doutrinal e religiosa que foi o objeto de um profundo atendimento por parte de todas as religiões Divinas, incluído o mesmo Islã, e para a qual brindaram muita importância. É tanto assim que o Sagrado Alcorão, sempre que mencionou a crença na Ressurreição e a vida depois da morte, fê-lo a seguir da crença em Deus. É tal a importância que o Sagrado Alcorão dá a este tema, que os exegetas deste Livro sagrado manifestaram que um terço do Sagrado Alcorão, diretamente ou indiretamente, trata sobre a Ressurreição. Deve, entender-se que o conceito de Ressurreição é muito amplo e abarca uma variedade de temas dentro de si mesmo; no entanto, desde que o presente ensaio só trata a Ressurreição de uma forma breve, é natural que muitos dos aspectos secundários, e inclusive alguns fundamentais relacionados ao tema não estejam contemplados totalmente, ou bem não se tenham estendido de uma maneira detalhada. Apesar disso, nós tivemos presente este fato e apresentamos a discussão de maneira que o leitor se veja desnecessário de ter que se familiarizar com uma série de extensos e detalhados estudos. Este estudo em nossa opinião será especialmente útil para os leitores jovens que, por meio de uma análise breve, desejam obter tudo o que se precisa saber sobre a Ressurreição e conseguir ter uma informação adequada sobre este tema. Esta obra está formada por três partes, a saber: Parte 1: A eternidade do ser humano. Parte 2: Morte ou um novo nascimento? Parte 3: Os efeitos multilaterais da crença na Ressurreição. A primeira parte trata criticamente o conceito de Ressurreição e suas implicâncias. Depois, em um capítulo aparte, procedemos a tratar a possibilidade da Ressurreição e as provas que para isso se apresentaram. A seguir, discutimos a necessidade da Ressurreição do ser humano depois da morte. Devido a sua importância, analisamos em detalhe esta parte, especialmente o tema da condição imaterial da Alma. No último capítulo, discutimos a ressurreição corporal e assim concluímos a primeira parte. Na segunda parte, a natureza e realidade da morte foram objeto de nosso atendimento e análise. Seguidamente, a visão do Sagrado Alcorão e as tradições islâmicas referentes à morte foi sujeitas a análises. Neste capítulo, também se enfocou o tema da filosofia da morte. No capítulo que segue a esta parte, trataram-se e analisado as causas e fatores que levam a temer à morte. No último capítulo desta parte, tratamos a maneira em que este mundo está vinculado ao além, sendo isso tratado desde a perspectiva do Alcorão. Na terceira parte, na parte final do livro, enfocamos nossa discussão em expor um resumo dos importantes efeitos da crença na Ressurreição. Cabe fazer notar que os temas se discutiram neste livro de umas maneiras fluídas, acessíveis e livres de qualquer complexidade e de gírias desnecessárias. Em outras palavras, conquanto o conjunto dos temas se encontra associado com temas filosóficos, acadêmicos e místicos, não só é compreensível para os entendidos do tema, senão que ao mesmo tempo, também é completamente compreensível para os adolescentes e jovens. Parte 1
A eternidade do Ser Humano.  Capítulo 1
Os diferentes pontos de vista com respeito ao significado da Ressurreição. Antes de proceder a tratar as provas da eternidade do ser humano, é necessário que clarifiquemos nossa própria concepção da vida “depois da morte” e “a eternidade do ser humano”. Já que há diferentes concepções a este respeito, selecionamos e analisado as quatro mais importantes. 1. Através de nossas obras ou descendência, conseguimos uma presença viva e desta maneira atingimos a eternidade. Podemos denominar a esta concepção da eternidade como “a Eternidade na Recordação”. Artesãos, escritores e artistas deixam em suas obras um pouco de si mesmos (como suas crenças, esperanças, preocupações e cosmovisões). Eles almejam que o que fizeram, transcenda e alcance uma disposição estável dentro de sua sociedade de forma que seus nomes se prolonguem além do que suas próprias vidas. Outros atingem a imortalidade através do papel que desempenharam na história. 2. A descendência do ser humano prolonga e estende sua existência e desta maneira atinge a imortalidade. Todos os seres humanos compartilham o desejo da imortalidade e a subsistência, e a reprodução é um meio para escapar do sentimento de mal-estar produto de vislumbrar a extinção inevitável do ser humano. É assim que nós procuramos o prolongamento de nossas vidas nas vidas de nossos filhos. Muitas pessoas almejam ter um filho varão para que seus nomes familiares se perpetuem. Eles chamam a seus meninos com seus próprios nomes ou o de seus antepassados e aprimoram seus filhos para aceitar suas crenças, ideais e valores, e inclusive escolher sua profissão. 3. Depois da morte, experimentamos uma união com a Verdade Última a qual finalmente é Uma. Em nossas vidas mundanas nos esquecemos de nossa unidade fundamental com uma entidade única (Deus), e equivocadamente consideramos que somos diferentes à entidade única. Haverá um dia em que compreenderemos que nossa separação da Entidade Única não era nada mais que uma ilusão e mediante nossa libertação (das restrições dessa ilusão) outra vez nos uniremos com Ele. 4. Podemos denominar a quarta concepção de eternidade como “a Vida Individual depois da Morte”. Segundo este ponto de vista, depois da morte física, ou bem as pessoas continuam vivendo, ou bem é depois de um período de tempo que novamente começam suas vidas. Cada uma destas quatro concepções, sobretudo a terceira e quarta podem ter interpretações diferentes, em algumas das quais podemos enfocar a discussão da Ressurreição no sentido que queremos tratar. Em qualquer caso, deve fazer-se notar que a primeira e segunda concepção não serão objeto de nosso estudo, já que: Primeiramente, tanto nossa concepção, como as de todas as outras religiões Divinas, não se correspondem com as duas primeiras, senão que implicam algo mais geral, sutil, e transcendente. Em segundo lugar: No que faz às duas primeiras concepções, nós não nos sentimos com os materialistas e aqueles que negam a Ressurreição, no sentido que inclusive eles as aceitam. Em terceiro lugar: A primeira concepção não é global, já que não inclui a todas as pessoas, senão que se restringe aos artesãos, artistas, escritores, etc., sendo que a Ressurreição considerada pelo Islã e as outras religiões Divinas incluem a todas as pessoas. Por outro lado, a segunda concepção carece dos aspectos morais e espirituais que normalmente se esperam da crença na Ressurreição. Em outras palavras, a crença na Ressurreição se considera uma fonte de espiritualidade e virtudes, sendo que, a segunda concepção deixa no esquecimento estes fundamentais resultados. Quanto à terceira concepção, ainda que em princípio não é incompatível com as crenças do Islã e outras religiões Divinas com respeito à Ressurreição, e inclusive pode chegar a aceitar-se em geral, no entanto, não podemos circunscrever à mesma a concepção islâmica da Ressurreição, sobretudo, quando consideramos as objeções que enfrenta. Por exemplo, segundo esta concepção, o ser humano depois da morte se une com a Entidade Única, e nesse estado não adverte sua individualidade ou inclusive sua distinção, similar a uma gota de água que se une com o oceano. Esta teoria sustenta que uma vez que a gota se une com a Entidade inteira (o oceano), esta não preserva sua identidade. É por isso que em adiante nossa discussão sobre a Ressurreição será em base à quarta concepção, por suposto, considerando particularidades que assinalarmos durante nossa exposição. Capítulo 2.
É a Eternidade do Ser Humano possível? Aqueles que negam a eternidade do ser humano sustentam que a concretização de tal assunto é radicalmente impossível. Eles explicam a impossibilidade de tal assunto mediante duas objeções: 1) Eles sustentam que Deus não tem o Poder para ressuscitar ao ser humano depois da morte, ou conceder-lhe uma nova vida sendo uma vez morto. 2) Sua segunda objeção é que é impossível recompor corpos que se deterioraram e se voltou pó, e em semelhante estado eles não podem voltar atrás à forma de um ser humano. Para isso citaram considerações dos filósofos sobre as condições que devem satisfazer-se para que alguma coisa possa existir. Os filósofos (islâmicos ou não) sustentam que para que qualquer coisa possa existir devem cumprir-se duas condições, a saber: 1. O poder e a vontade do executor. 2. Capacidade de recepção no receptor. Para abreviar, se, por exemplo, o poder ou à vontade do executor existissem, mas ao receptor lhe faltasse à capacidade de recepção do assunto em questão, este pode contar-se como impossível. Aqui também, alguns são da crença que o Poder de Deus é infinito, mas recompor os corpos deteriorados forma em si um ato impossível. O Sagrado Alcorão, em resposta à primeira objeção procede a explicar o Poder Infinito de Deus, e compara a Ressurreição do homem depois da morte com a grande criação dos Céus e a Terra e nos recorda que, Aquele Mesmo que criou este universo inteiro possui o Poder para dar vida aos mortos. «Talvez Quem criou os Céus e a Terra não seja capaz de criar (de novo) o que tanto faz a eles? Claro que sim! Ele é o Criador, o Sapientíssimo.»[1]. É evidente que a criação dos céus e a terra é mais colossal que a criação do homem. Então, desde que Deus é bastante Poderoso como para criar a Existência inteira, não será Ele o bastante Poderoso como para criar de novo ao ser humano, que é por sua vez uma parte de toda a Existência? O Sagrado Alcorão em resposta à segunda objeção também alude à primeira criação do homem e diz: «E eles dirão: “Quem nos devolverá (à vida)?”. Responderão: “Quem vos criou a primeira vez”.»[2] Em outro versículo declara: «Nos propõe um exemplo e se esquece de sua própria criação. Diz: “Quem dará vida aos ossos estando eles podres? Responderão: “Lhes dará vida Quem os originou a primeira vez, e Ele é Ciente de toda criação”.» [3] O versículo anterior alude ao argumento filosófico que sustentam que se duas ou mais coisas são similares, no que faz a sua contingência (ou possibilidade de existir) ou à carência da mesma, terão a mesma possibilidade de existir ou não-existir; isto é, se um é possível (para existir) o outro também será possível (para existir), e vice-versa, se um é impossível (para existir), o outro também será impossível (para existir). Assim, Deus, que criou ao homem a primeira vez, também é Poderoso para criá-lo uma vez mais, e inclusive a segunda criação não só será possível, senão que em aparência será mais fácil de realizar (por suposto, assumindo que os termos “difícil” e “fácil” pudessem caber na Presença Santa de Deus), já que na primeira criação não estava o fator da experiência, nem tinha um modelo, enquanto na recriação, se encontram tanto a experiência como o modelo. [4] Em qualquer caso, desde a perspectiva do ser humano, é mais simples a recriação do que a primeira criação, conquanto com respeito a Deus, as duas são similares e igualmente fáceis. Para demonstrar que Deus é capaz de ressuscitar ao homem, o Sagrado Alcorão se refere à vivificação da terra e o crescimento das plantas, e considera a Ressurreição dos humanos como similar à vivificação da terra que têm lugar todos os anos na primavera. Talvez o homem não observe como é que as folhas das árvores caem todos os outonos e então se apodrecem e voltam a terra, mas na próxima primavera, as novas folhas e botões vestem as plantas, e a terra se volta fresca e verde? Apesar de tudo isto, quando se expõe sua própria Ressurreição e renascimento, ele considera que isto é impossível e estranho e faz questão de negá-lo. O Sagrado Alcorão diz: «E Deus é Quem envia os ventos que levantam uma nuvem; então Nós o conduzimos a um território morto e mediante a isso lhe damos vida a terra depois de morta. Assim mesmo é a Ressurreição.»[5] Portanto o mesmo Deus que todos os anos traz à vida e renova a terra morta, terá o poder para criar ao homem de novo, depois da morte. Porque, fazendo crescer novamente as plantas todos os anos, Deus em realidade, converte a terra morta em células viventes, através do crescimento renovado de plantas e árvores. Além disto, se enfocamos nosso atendimento no começo da criação da vida na Terra, concluiremos que, ao princípio, nada existia na mesma e que depois do surgimento da vida apareceram às plantas pela primeira vez na superfície terrestre. Este maravilhoso e assombroso fenômeno continua sendo um mistério para os estudiosos. No entanto, é claro que a vida vegetal surgiu desta mesma terra morta. A Criação do Embrião. Outro exemplo que se cita no Sagrado Alcorão com o propósito de atrair nosso atendimento e demonstrar o Poder Ilimitado de Deus, é a criação do embrião. Declara que aqueles que estão em dúvida e se encontram vacilantes respeito à possibilidade da Ressurreição, devem refletir em como Nós os criamos de uma gota de sêmen. Então, Nós convertemos este esperma-gota num ‘alaqah’ (o grumo de sangue). Depois disso lhe fizemos crescer no útero e finalmente lhe demos a forma de um humano completo. Nós os trouxemos ao mundo por meio de suas mães. «Talvez não seria mais do que uma gota de esperma emitido? Depois se converteu em algo que se agarra, do qual Ele o criou e aperfeiçoou-a forma. E então fez dele um casal, o varão e a fêmea. Talvez não possa Ele trazer o morto à vida?» [6] O versículo anterior e outros que tratam sobre o Além, consideram a volta à vida depois da morte como um fenômeno natural e similar à criação do embrião e o nascimento de um menino, ou como o surto e crescimento das plantas; em conseqüência, considera a Ressurreição como qualquer outro ato divino, ao invés daqueles que negam a Ressurreição e a veem como um fenômeno estranho e impossível, e não pensam que na Natureza possa encontrar algo semelhante.
Em resumo, é possível dizer que fundamentalmente devemos equilibrar nossa perspectiva sobre a Ressurreição e observar à mesma através do objetivo dos versículos do Sagrado Alcorão. Em tal caso, não só não consideraremos que a Ressurreição é impossível, senão que compreenderemos que é algo necessário e inevitável, o qual trataremos na seção seguinte.
A Transformação da Energia. As pessoas no passado pensavam que a energia se esgotava e se destruía depois do uso. Por exemplo, pensavam que a energia solar depois de irradiar-se para a Terra e os outros planetas se destruía; mas hoje a ciência demonstrou que essa energia não se destrói senão que se transforma e se manifesta em outras formas diferentes de energia. Em outras palavras, a energia continua existindo em novas condições e num novo ambiente. O Sagrado Alcorão, também utilizou este tema para demonstrar a possibilidade da Ressurreição, dizendo: «E nos propõe uma parábola e se esquece de sua própria criação. Dizendo: “Quem dará vida aos ossos encontrando-se estes desintegrados?”. Dize: ”Lhes dará vida Quem os originou pela primeira vez; Ele é o Conhecedor de toda a Criação. Ele é Quem vos dispôs o fogo da árvore verde, e eis que vocês com ele acendeis (o fogo)”.» [7] A interpretação mais apropriada para os versículos anteriores segundo alguns dos exegetas do Alcorão, e que foi confirmada pelos recentes avanços e descobertas científicas, é que as plantas e as árvores, ao longo de suas vidas absorvem regularmente luz e calor do sol, e, além disso, também absorvem água e outras substâncias necessárias da terra por meio de suas raízes, e pela combinação destes, geram a celulose que forma o corpo e a madeira das árvores. É assim que as plantas, para absorver as substâncias vitais da terra, devem utilizar o calor e luz do sol como uma energia ativa. É devido à utilização desta luz e calor que as árvores dia a dia crescem e se desenvolvem, e acumulam uma grande quantidade de energia solar dentro de si transformando-a em madeira. No processo de queimar um pedaço de madeira, libera-se a energia solar contida na árvore voltando à forma de luz e calor. Segundo os versículos do Sagrado Alcorão, a Ressurreição do ser humano não é diferente a isto, e é por isso mesmo que, estes versículos fazem referência à primeira criação do homem, e depois disso à Ressurreição e a outra realidade semelhante que é a transformação da energia. Outro ponto interessante que se encontra no versículo é que, normalmente nós consideramos que a madeira seca é mais conveniente para ser queimada, sendo que no versículo se faz referência a uma árvore verde. Quiçá, a razão esteja em que o verdor das árvores e suas folhas são condições para a absorção do calor e a luz do sol. Em palavras mais claras, é a árvore viva e verde o que pode transformar a energia do sol em madeira e acumulá-la em seu interior, sendo que a árvore seca não possui semelhante capacidade. Desta maneira, vemos que o versículo diz: “Esse Deus que dispôs o fogo (para queimar) a partir da árvore verde, tem o Poder de ressuscitar ao ser humano depois da morte.” [8] Em resumo, uma das coisas às que o Sagrado Alcorão fez referência para estabelecer a possibilidade ou a necessidade da Ressurreição dos humanos, é à volta da energia ou a transformação da mesma sob condições diferentes. Os Motivos para negar a Ressurreição. Observamos que os negadores da Ressurreição não têm nenhuma prova filosófica, dados experimentais ou inclusive um argumento convincente em apoio do que sustentam. Seus argumentos sempre se centram ao redor do incrível de dar vida aos ossos deteriorados e desintegrados, e só se restringem a isso. Devido a isto, o Sagrado Alcorão não procede a contestar suas dúvidas e objeções, já que, fundamentalmente, estas pessoas não sustentam nenhum argumento científico para suas pretensões, ao invés, na surata Al-Quiáma, depois de referir as palavras daqueles que negam a Ressurreição, procede a indicar seus motivos para negá-la, que consistem em: a promiscuidade, a libertinagem e em poucas palavras, escapar do ônus do compromisso e a responsabilidade, desde que a aceitação da Ressurreição implica comprometer-se e aceitar responsabilidades, coisa que algumas pessoas não aprovam e ainda  são da crença que um deve dedicar-se a procurar o prazer e os benefícios materiais deste mundo tanto como seja possível. Esta é a razão principal para recusar a Ressurreição e a crença em Deus. Com respeito a isto, o Sagrado Alcorão diz: «Supõe o homem que não reuniremos seus ossos? Claro que sim! Nós temos o poder de re-configurar as pontas de seus dedos. Mas, o homem deseja corromper seu devir.»[9] Os idólatras e os que negam a Ressurreição expuseram outros argumentos em apoio de sua postura que não são nada mais que palavreados sem sentido. Estes argumentos não contêm nenhuma demonstração racional, ou filosófica, lógica ou científica. Eles dizem que a crença na Ressurreição é só uma fábula herdada dos antigos! Em outras palavras, só pelo fato de que a crença em Deus e na Ressurreição, que são comuns a todas as religiões divinas, têm estado presentes entre as pessoas religiosas desde tempos imemoriáveis e se consideraram dentre os princípios da religião, os idólatras e os que negam a Ressurreição, em lugar de apresentar evidências que demonstrem a inexatidão destas crenças, simplesmente afirmam que estas não são senão mitos e lendas do passado. O Sagrado Alcorão expõe seu argumento como segue: “E aqueles que descreem dizem: “Talvez quando nos tenhamos tornado pó bem como nossos pais, seremos extraídos (da terra)? Por verdadeiro que já se nos tinha antes prometido isto, a nós e a nossos pais. Isto nada mais é do que fábulas dos antigos”.» [10] Qualquer pessoa sensata percebe que tal palavreado ocioso não merece nenhuma resposta ou contestação, porque a Antiguidade histórica de uma ideia não significa seu desacerto, e uma pessoa justa deve aceitar ou deve recusar uma matéria em base à prova e evidência e não em base a se a matéria em questão é antiga ou nova. É por esta razão que o Sagrado Alcorão não se ocupa em responder estas afirmações, senão que, mas bem argumenta a possibilidade e a necessidade da Ressurreição. Estes raciocínios são tão fortes e elucidadores que qualquer pessoa que reflete o suficiente neles, não só verá adequadamente demonstrada a crença na Ressurreição, senão que inclusive se lhe aclararão o resto das dúvidas e dilemas.
[1] Surata Iá-Sin; 36: 81.
[2] Surata Al-Isrá; 17: 51.
[3] Surata Iá-Sin; 36: 78-79.

[4] É claro que estas palavras ou vocábulos apresentam um significado desde nossa perspectiva, a das criaturas e seres humanos limitados, mas em relação a Deus, o Infinito, carecem de sentido. O Imam Ali (A.S), referindo-se ao fato de que Deus não precisou de raciocínio e experiência para originar a criação, diz o seguinte: “Deus originou a criação, e a começou sem necessidade de razoamento e análise, e sem ter-se valido de experiência alguma”. (Nahy Al-Balágah, dissertação Nº 1).

[5] Surata Fáter; 35: 9.
[6] Surata Al-Quiáma; 75: 37-40.
[7] Surata Iá-Sin; 36: 78-80.
[8] Tomado de Peiám -e- Qur’ân (A Mensagem do Alcorão), t.5, p.194.
[9] Surata Al-Quiáma; 75: 3-5.
[10] Surata An-Naml; 27: 67-68. www.ebeipr.com.br. Abraço. Davi