sexta-feira, 27 de novembro de 2020

EVANGELHO ÁRABE DA INFÂNCIA DE JESUS

 

Livro Apócrifo. O que são livros apócrifos? Há livros apócrifos referentes ao Novo Testamento e Antigo Testamento na Bíblia Sagrada. Apócrifos são os livros que foram escritos pelo povo de Deus, mas não foram considerados pelo Magistério da Igreja como revelados pelo Espírito Santo; portanto, não são canônicos, isto é, não fazem parte do cânon (índice) da Bíblia. As razões que levaram a Igreja a não considera-los como Palavra de Deus é que muitos são fantasiosos sobre a Pessoa de Jesus e sobre outros personagens bíblicos. Além disso, muitos destes possuem até heresias (interpretação, doutrina ou sistema teológico rejeitado como falso pela Igreja) como o gnosticismo (movimento religioso de caráter sincrético e esotérico, desenvolvido nos primeiros séculos da nossa Era a margem do cristianismo institucionalizado, combinando misticismo e especulação filosófica). No entanto, neles há algumas verdades históricas, e isso faz a Igreja Católica considera-los importantes nos estudos. www.formacao.cancaonova.com.

 

Livro Apócrifo do EVANGELHO ÁRABE DA INFÂNCIA DE JESUS

 

Capítulo 1

 

EM NOME do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, Deus único. Começamos, com o auxílio e a ajuda do Deus todo-poderoso, a escrever o livro dos milagres de nosso Salvador, Mestre e Senhor Jesus Cristo, que se intitula o Evangelho da Infância, na paz do Salvador. Que assim seja. Encontramos no livro do grande sacerdote Josefo que viveu no tempo de Jesus Cristo (e que alguns chamam de Caifás), que Jesus falou quando estava no berço e que disse a sua mãe Maria: “Eu, que nasci de ti, sou Jesus, o Filho de Deus, o Verbo, como te anunciou o anjo Gabriel, e meu Pai me enviou para a salvação do mundo”.

 

Capítulo 2

No ano 309 da era de Alexandre, Augusto ordenara que todos fossem recenseados em sua cidade natal. José partiu então e conduzindo Maria, sua esposa, veio a Jerusalém, de onde ele se dirigiu a Belém para inscrever-se, junto com sua família, no local onde ele havia nascido; quando estavam próximos a uma caverna, Maria disse a José que sua hora havia chegado e que não poderia ir até a cidade, “mas, disse ela, entremos nesta caverna”. O sol estava começando a se pôr. José apressou-se em procurar uma mulher que assistisse Maria no parto, e ele encontrou uma anciã que vinha de Jerusalém, e, saudando-a, disse-lhe: “Entra na caverna onde encontrarás uma mulher em trabalho de parto.”

Capítulo 3

E após o pôr-do-sol, José chegou com a anciã à caverna e eles entraram. E eis que a caverna estava resplandecente com uma claridade que superava a de uma infinidade de labaredas, e que brilhava mais do que o sol do meio-dia. A criança, enrolada em fraldas e deitada numa manjedoura, mamava no seio de sua mãe Maria. Ambos ficaram surpresos com o aspecto daquela claridade, e a anciã disse a Maria: “Es tu a mãe desta criança?” Ao responder afirmativamente Maria, disse-lhe: “Não és semelhante às filhas de Eva”, e Maria respondeu: “Assim como entre as crianças dos homens não há nenhuma que seja semelhante ao meu filho, assim também sua mãe não tem par entre todas as mulheres”. A anciã disse então: “Senhora e ama, vim para receber uma recompensa que perdurará para todo o sempre”. E Maria lhe respondeu: “Põe tuas mãos sobre a criança”. Quando a anciã o fez, ela foi purificada, e quando saiu, ela disse: “A partir deste momento, eu serei a serva desta criança, e eu quero consagrar-me a seu serviço, por todos os dias da minha vida”.

Capítulo 4

Em seguida, quando os pastores chegaram e acenderam o fogo, entregando-se à alegria, as cortes celestes apareceram, louvando e celebrando o Senhor: a caverna parecia-se com um templo augusto, onde reis celestiais e terrestres celebravam a glória e os louvores de Deus por causa da natividade do Senhor Jesus Cristo. E esta anciã hebreia, vendo estes milagres resplandecentes, rendia graças a Deus, dizendo: “Eu te rendo graças, ó Deus, Deus de Israel, porque os meus olhos viram a natividade do Salvador do mundo”.

Capítulo 5

Quando chegou o tempo da circuncisão, isto é, o oitavo dia, época na qual o recém-nascido deve ser circuncidado segundo a lei, eles o circuncidaram na caverna, e a velha anciã recolheu o prepúcio e colocou-o em um vaso de alabastro cheio de óleo de nardo velho. Como tivesse um filho que comercializava perfumes, Maria deu-lhe o vaso, dizendo: “Muito cuidado para não vender este vaso cheio de perfume de nardo, mesmo que te ofereçam trezentos dinares”. E este é o vaso que Maria, a pecadora, comprou e que ela derramou sobre a cabeça e sobre os pés de Nosso Senhor Jesus Cristo, enxugando-os com seus cabelos. Quando dez dias se haviam passado, eles levaram a criança para Jerusalém, e, ao término da quarentena, eles o apresentaram no templo, ao Senhor, oferecendo por ele as oferendas prescritas pela lei de, Moisés, que diz: “Toda criança do sexo masculino que sair de sua mãe será chamada O santo de Deus”.

Capítulo 6

O velho Simeão viu o menino Jesus resplandecente de claridade como um facho de luz, quando a Virgem Maria, cheia de alegrias, entrou com ele em seus braços. E uma multidão de anjos rodeava-o, louvando-o e acompanhando-o, assim como os satélites de honra seguem seu rei. Simeão, pois, aproximando-se rapidamente de Maria e estendendo suas mãos para ela, disse ao Senhor Jesus: Agora, Senhor, teu servo pode retirar-se em paz, segundo tua promessa, pois meus olhos viram tua misericórdia e o que preparaste para a salvação que todas as nações; luz de todos os povos e a glória de teu povo de Israel”. A profetisa Ana também estava presente, e ela rendia graças a Deus, e celebrava a felicidade de Maria.

Capítulo 7

E eis o que aconteceu enquanto o Senhor vinha ao mundo em Belém, cidade da Judéia, no tempo do rei Herodes: magos vieram de países do Oriente a Jerusalém, tal como havia predito Zoroastro, e traziam com eles presentes, ouro, incenso e mirra, e adoraram a criança, e renderam-lhe homenagem com seus presentes. Então Maria pegou uma das faixas nas quais a criança estava envolvida e deu-a aos magos que receberam-na como uma dádiva de valor inestimável. E nesta mesma hora, apareceu-lhes um anjo sob a forma de uma estrela que já lhes havia servido de guia, e eles partiram, seguindo sua luz, até que estivessem de volta a sua pátria.

Capítulo 8

Os reis e os príncipes apressaram-se em se reunir em torno dos magos, perguntando-lhes o que haviam visto e o que haviam feito, como haviam ido e como haviam voltado, e que companheiros eles haviam tido então durante a viagem. Os magos mostraram-lhes a faixa que Maria lhes havia dado; em seguida, eles celebraram uma festa, acenderam o fogo segundo seus costumes, e adoraram a faixa, e a jogaram nas chamas, e as chamas envolveram-na. Ao apagar-se o fogo, eles retiraram o pano e viram que as chamas não haviam deixado sobre ele nenhum vestígio. Eles se puseram então a beijá-lo e a colocá-lo sobre suas cabeças e sobre seus olhos, dizendo: “Eis certa-mente a verdade! Qual é pois o preço deste objeto que o fogo não pode nem consumir nem danificar?” E pegando-o, depositaram-no com grande veneração entre seus tesouros.

Capítulo 9

Herodes, vendo que os magos não retornavam a visitá-lo, reuniu os sacerdotes e os doutores e disse-lhes: “Mostrai-me onde deve nascer o Cristo. ”E quando responderam que era em Belém, cidade da Judéia, Herodes pôs-se a tramar, em seu espírito, o assassinato do Senhor Jesus. Então um anjo apareceu a José durante o sono e disse-lhe: “Levanta-te, pega a criança e sua mãe, e foge para o Egito”. E quando o galo cantou, José levantou-se e partiu.

Capítulo 10

E enquanto ele refletia sobre o caminho que ele devia seguir, a aurora o surpreendeu: a correia da sela se havia rompido ao se aproximarem de uma grande cidade, onde havia um ídolo ao qual os outros ídolos e divindades do Egito rendiam homenagem e ofereciam presentes; sempre — que Satanás falava pela boca do ídolo, os sacerdotes relatavam o que ele dizia aos habitantes do Egito e de suas margens. Ora, este sacerdote tinha um filho de três anos que estava possuído por um grande número de demônios; ele profetizava e anunciava muitas coisas, e quando os demônios se apossavam dele, rasgavam suas roupas e ele corria nu pela cidade, jogando pedras nos homens. A hospedaria desta cidade ficava perto deste ídolo; quando José e Maria lá chegaram e se hospedaram, os habitantes ficaram profundamente perturbados, e todos os príncipes e sacerdotes dos ídolos se reuniram ao redor deste ídolo, perguntando-lhe: “Donde vem essa agitação universal, e qual é a causa deste pavor que se apoderou de nosso país?” E o ídolo respondeu: “Esse assombro foi trazido por um Deus desconhecido que é o Deus verdadeiro, e ninguém a não ser ele é digno das honras divinas, pois ele é o verdadeiro Filho de Deus. A sua aproximação, esta região tremeu; ela se emocionou e se assombrou, e nós sentimos um grande temor por causa do seu poder”. E neste momento este ídolo caiu e quebrou-se, tal como os outros ídolos que estavam no país, e sua queda fez acorrerem todos os habitantes do Egito.

Capítulo 11

Mas o filho do sacerdote, acometido do mal que o afligia, entrou no albergue insultando José e Maria, dos quais os outros haviam fugido, e como Maria havia lavado as fraldas do Senhor Jesus e as estendera sobre umas madeiras, o menino possuído pegou uma das fraldas e colocou-a sobre sua cabeça. Imediatamente os demônios fugiram, saindo pela sua boca, e foram vistos sob a forma de corvos e serpentes. O menino foi curado instantaneamente pelo poder de Jesus Cristo, e ele se pôs a louvar o Senhor que o havia libertado e rendeu-lhe mil ações de graça. E quando seu pai viu que ele havia recobrado a saúde, exclamou, admirado: “Meu filho, mas o que te aconteceu, e como foste tu curado?” E o filho respondeu: “No momento em que me atormentavam, eu entrei na hospedaria e lá encontrei uma mulher de grande beleza que estava com uma criança, e ela estendia sobre umas madeiras as fraldas que acabara de lavar; eu peguei uma delas e coloquei-a sobre minha cabeça e os demônios fugiram imediatamente e me abandonaram”. O pai, cheio de alegria, exclamou: “Meu filho, é possível que essa criança seja o Filho do Deus vivo que criou o céu e a terra, e, assim que passou perto de nós, o ídolo partiu-se e os simulacros de todos os nossos deuses caíram, e uma força superior à deles destruiu-os”.

Capítulo 12

Assim se cumpriu a profecia que diz: “Chamei o meu filho do Egito” (I). Quando José e Maria souberam que este ídolo se havia quebrado, foram tomados de medo e de espanto, e diziam: “Quando estávamos na terra de Israel, Herodes queria que Jesus morresse e, com esta intenção, ele ordenou o massacre de todas as crianças de Belém e das vizinhanças, e é de se temer que os egípcios nos queimem vivos, se eles souberem que este ídolo caiu”.

Capítulo 13

Eles então partiram e passaram nas proximidades do covil de ladrões que despojavam de suas roupas e pertences os viajantes que por ali passavam e, após tê-los amarrado, os arrastavam pelo deserto. Estes ladrões ouviram um forte ruído, semelhante ao do rei que sai de sua capital ao som dos instrumentos musicais, escoltado por grande exército e por uma numerosa cavalaria; apavorados, então, deixaram ali “todo o seu saque e apressaram-se em fugir. Os cativos, levantando-se, cortaram as cordas que os prendiam e, tendo retomado sua bagagem, iam retirar-se quando viram José e Maria que se aproximavam e perguntaram-lhes: “Onde está este rei cujo cortejo, com seu barulho, assustou os ladrões a ponto de eles terem fugido e nos libertado?” E José respondeu: “Ele nos segue”.

Capítulo 14

Chegaram em seguida em outra cidade onde havia uma mulher endemoninhada, e quando ela ia buscar água no poço durante a noite o espírito rebelde e impuro apossava-se dela. Ela não podia suportar nenhuma roupa, nem morar em uma casa, e todas as vezes que a amarravam com cordas ou correntes, ela as partia e fugia nua para locais desertos; e ficava nas estradas e perto de sepulturas, e perseguia, apedrejando, aqueles que encontrava no caminho, de forma que ela era, para seus pais, motivo de luto. Maria viu-a e foi tomada de compaixão, e imediata-mente Satanás a deixou e fugiu sob a forma de um jovem rapaz, dizendo: “Infeliz de mim, por tua causa, Maria, e por causa de teu filho!” Quando esta mulher foi libertada da causa de seu tormento, olhou ao seu redor e corando por sua nudez procurou seus pais, evitando encontrar as pessoas; após haver vestido suas roupas, ela contou ao seu pai e aos seus o que lhe havia acontecido. Como eles fizessem parte dos habitantes mais distintos da cidade, hospedaram em sua casa José e Maria, demonstrando por eles um grande respeito.

Capítulo 15

No dia seguinte, José e Maria prosseguiram sua viagem, e à noite chegaram a uma cidade onde estava sendo celebrado um casamento; mas, em decorrência das ciladas do espírito maligno e dos encantamentos de alguns feiticeiros, a esposa ficara muda, de forma que ela não podia mais falar. Quando Maria entrou na cidade trazendo nos braços o filho, o Senhor Jesus, aquela que havia perdido o uso da palavra avistou-o e imediatamente pegou-o em seus braços, abraçou-o e apertou-o junto ao seu seio e cobriu-o de carinho. Imediatamente o laço que travava sua língua partiu-se e seus ouvidos se abriram, e ela começou a glorificar e a agradecer a Deus que a havia curado. E houve naquela noite uma grande alegria entre os habitantes desta cidade, pois acreditavam todos que Deus e seus anjos haviam descido no meio deles.

Capítulo 16

José e Maria passaram três dias nesse lugar, onde foram recebidos com grande veneração e esplendidamente tratados. Munidos de provisões para a viagem, partiram dali e chegaram em uma outra cidade. Como ela era próspera e seus habitantes tinham boa reputação, eles pernoitaram lá. Ora, havia nesta cidade uma boa mulher, e um dia em que ela havia descido até o rio para lavar-se, eis que o espírito mal-dito, assumindo a forma de uma serpente, se havia jogado sobre ela e cingido o seu ventre; e todas as noites estendia-se sobre ela. Ora, quando esta mulher viu Maria e o Senhor Jesus que ela trazia contra o seu seio, rogou à Santa Virgem que lhe permitisse segurar e beijar a criança. Maria consentiu, e assim que a mulher tocou a criança, Satanás abandonou-a e fugiu, e desde então ela não mais o viu. Todos os vizinhos louvaram o Senhor e a mulher recompensou-os com grande generosidade.

Capítulo 17

No dia seguinte, esta mesma mulher preparou água perfumada para lavar o menino Jesus e após o haver lavado, guardou esta água. E havia lá uma jovem cujo corpo estava coberto pela lepra branca; lavou-se ela com esta água e foi imediatamente curada. O povo dizia então: “Não resta dúvida de que José e Maria e esta criança sejam Deuses, pois eles não podem ser simples mortais”. Quando eles se preparavam para partir, esta jovem que havia sido curada da lepra aproximou-se deles e rogou-lhes que lhe permitissem acompanhá-los.

Capítulo 18

Eles consentiram e ela se foi com eles; chegaram a uma cidade onde havia o castelo de um poderoso príncipe; foram até lá e se hospedaram nele. A jovem, aproximando-se da esposa do príncipe, encontrou-a triste, a chorar; então, perguntou-lhe qual a causa daquele pesar. E ela respondeu-lhe: “Não te espantes de me ver entregue à aflição; estou em meio a uma grande calamidade, que eu não ouso contar a ninguém”. A jovem tornou: “Se me confessares qual é teu mal, talvez encontres remédio junto a mim”. A esposa do príncipe disse-lhe: “Não revelarás este segredo a ninguém. Casei-me com um príncipe cujo império, semelhante a um império de um rei, estende-se por vastos estados, e, após haver vivido por muito tempo com ele, ele não teve de mim nenhum descendente. Finalmente, eu concebi, mas trouxe ao mundo uma criança leprosa; após havê-lo visto, ele não quis reconhecê-lo como seu filho, e me disse: `Mata esta criança ou entrega-a a uma ama que a crie num local tão afastado que jamais voltemos a ouvir dela. E pega o que é teu, pois não te verei nunca mais’. Eis porque me entrego à dor, deplorando a calamidade que sobre mim se abateu, e choro por meu marido e por meu filho”. A jovem respondeu-lhe: “Pois não te disse que eu tenho para ti o remédio que te havia prometido? Eu também fui atingida pela lepra, mas fui curada por uma graça de Deus, que é Jesus, o filho de Maria”. A mulher perguntou-lhe então onde estava este Deus do qual ela falava. A jovem respondeu-lhe: “Ele está bem aqui, nesta casa.” Perguntou a princesa: “Como pode ser isso, onde está ele?”. A jovem respondeu: “Aqui estão José e Maria, e a criança que está com eles é Jesus, e foi ele quem me curou dos meus sofrimentos”. “E por que meio, disse a mulher, pode ele te curar? Não vais me contar?” A jovem respondeu: “Recebi de sua mãe a água na qual ele havia sido lavado, e espalhei-a então sobre meu corpo, e minha lepra desapareceu”. A esposa do príncipe ergueu-se então e recebeu José e Maria, e preparou para José um magnífico festim, para o qual muitas pessoas foram convidadas. No dia seguinte, ela pegou água perfumada a fim de lavar o Senhor Jesus, e ela lavou com esta mesma água o seu filho, que ela havia trazido consigo, e logo ele se curou da lepra. Então, ela pôs-se a cantar louvores a Deus e a render-lhe graças, dizendo-lhe: “Feliz da mãe que te gerou, ó Jesus! A água com a qual o teu corpo foi lavado cura os homens que têm tua natureza.” Ela ofereceu presentes a Maria e dela despediu-se, tratando-a com grande deferência.

Capítulo 19

Em seguida, chegaram a outra cidade onde deviam pernoitar. Foram à casa de um homem recém-casado mas que, atingido por um malefício, não podia desfrutar sua esposa; mas após haverem eles passado a noite perto do homem, o encantamento quebrou-se. Quando o dia amanheceu, preparavam-se para prosseguir a viagem, porém, o esposo impediu-os de partir e preparou-lhes um grande banquete.

Capítulo 20

No dia seguinte partiram, e ao se aproximarem de uma outra cidade, viram três mulheres que se afastavam de um túmulo, a verter muitas lágrimas. Maria, tendo-as visto, disse à jovem que os acompanhava “Pergunta-lhes quem são elas e qual a desgraça que se lhes abateu”. Elas não responderam mas puseram-se a interrogá-la dizendo: “Quem sois vós, e para onde ides? Pois o dia está terminando e a noite se aproxima”. E a moça respondeu: “Somos viajantes e procuramos uma hospedaria para passar a noite”. As mulheres responderam: “Acompanhai-nos e passai a noite em nossa casa.” Eles seguiram portanto essas mulheres, e foram levados a uma casa nova, ornada e decorada por diversos móveis. Ora, era inverno, e a jovem moça, tendo entrado no quarto destas mulheres, encontrou-as ainda chorando e se lamentando. Ao lado delas, coberta por uma manta de seda, encontrava-se um mulo com forragem à sua frente. E elas davam-lhe de comer e o beijavam. A jovem disse então: “O minha senhora, como é belo este mulo!” ao que elas responderam chorando: “Este mulo que estás vendo é nosso irmão que nasceu de nossa mãe. Nosso pai deixou-nos com sua morte grandes riquezas, e nós só tínhamos este irmão, para quem tentávamos encontrar um casamento conveniente. Porém, mulheres dominadas pelo espírito da inveja, lançaram sobre ele, sem que soubéssemos, encantamentos. E uma certa noite, um pouco antes do amanhecer, estando fechadas as portas da nossa casa, encontramos nosso irmão transformado em mulo, tal qual o vês hoje. Entregamo-nos à tristeza, visto que não tínhamos mais nosso pai para consolar-nos; consultamos todos os sábios do mundo, todos os magos, os feiticeiros, tentamos de tudo, mas nenhum deles nada pôde fazer por nós. Eis porque sempre que nosso coração está a ponto de explodir de tristeza, nós nos levantamos e vamos junto com a nossa mãe que aqui está, ao túmulo de meu pai e, após haver chorado, retornamos para cá.

Capítulo 21

Ao ouvir tais coisas, a jovem disse: “Tende coragem e parai de chorar, pois a cura de vossos males está próxima, está convosco muito próxima, em vossa morada; eu era leprosa, mas após haver visto esta mulher e a criança que está com ela e que se chama Jesus, e após haver derramado sobre meu corpo a água com a qual a sua mãe o havia lavado, eu me curei. Eu sei que ele pode pôr um fim à vossa desgraça; levantai-vos, aproximai-vos de Maria, conduzi-o aos vossos aposentos, e então revelai-lhe o segredo que acabais de me contar, e suplicai-lhe piedade”. Ao ouvirem tais palavras proferidas pela jovem, elas se apressaram em ter com Maria, e o levaram até o quarto e lhe disseram, chorando: “Maria, Nossa Senhora, tem compaixão de tuas servas, pois nossa família está desprovida de seu chefe e não temos um pai ou um irmão que nos proteja. Este mulo que aqui vês é nosso irmão, e algumas mulheres, com seus encanta-mentos, reduziram-no a este estado. Rogamos-te, pois, que tenhas piedade de nós”. Então Maria, comovida e chorando como as mulheres, ergueu o menino Jesus e colocou-o sobre o dorso do mulo, dizendo: “Meu filho, cura este mulo através do teu grande poder e faze com que este homem recobre a razão, da qual foi privado”. Nem bem estas palavras haviam saído dos lábios de Maria e o mulo já havia retomado a forma humana. E mostrou-se sob os traços de um belo rapaz, e não lhe restava nenhuma deformidade. E ele e sua mãe e suas irmãs adoraram Maria e, erguendo o menino acima de suas cabeças, o beijavam, dizendo: “Feliz de tua mãe, ó Jesus, Salvador do mundo! Felizes os olhos que gozam da felicidade da tua presença”.

Capítulo 22

As duas irmãs disseram à mãe: “Nosso irmão retomou sua forma primitiva, graças à intervenção do Senhor Jesus e aos bons conselhos desta jovem, que nos sugeriu recorrer a Maria e ao seu filho. E agora, já que nosso irmão não está casado, pensamos que seria conveniente que ele desposasse esta moça.” Após haverem feito este pedido a Maria e haver ela consentido, fizeram para as bodas preparativos esplêndidos, e a dor transformou-se em alegria e o choro cedeu espaço ao riso. Elas só fizeram cantar e regozijar-se, enfeitadas com magníficas vestimentas e jóias preciosas. Ao mesmo tempo, entoavam cânticos de louvor a Deus, dizendo: “O Jesus, Filho de Deus, que transformaste nossa aflição em contentamento e nossas lamúrias em gritos de alegria!” José e Maria lá permaneceram por dez dias; ac partirem, receberam demonstrações de veneração de parte de toda a família que despediu-se deles chorando muito, principalmente a moça, que se desfazia em lágrimas.

Capítulo 23

Chegaram, em seguida, um deserto, e como lhes haviam dito que era infestado de ladrões, prepararam-se pare atravessá-lo durante a noite. E eis que de repente avistaram dois ladrões que dormiam, E perto deles muitos outros ladrões seus companheiros, que também estavam entregues ao sono. Estes dois ladrões chamavam-se Tito e Dímaco. Ora o primeiro disse ao outro: “Eu te peço que deixes estes viajantes irem em paz, para que nossos companheiros não os vejam”. Tendo Dímaco recusado Tito disse-lhe: “Dou-te 40 dracmas e fica com o meu cinto como penhor”. E deu-lhe cinto e, ao mesmo tempo, pediu que não desse o alarme. Maria, vendo este ladrão tão disposto a servi-los, disse-lhe “Que Deus te proteja com sua mão direita e que ele te conceda a remissão de teus pecados’. E o Senhor Jesus disse a Maria: “Daqui a 30 anos, ó minha mãe, os judeus me crucificarão em Jerusalém, e estes dois ladrões serão postos na cruz a meu lado, Tito à minha direita e Dímaco à minha esquerda, e neste dia Tito me precederá no Paraíso”. E quando ele assim falou, sua mãe respondeu-lhe: “Que Deus afaste de ti semelhante desgraça, ó meu filho!” E foram dar em seguida em uma cidade cheia de ídolos, e quando eles se aproximavam, ela foi trans formada em um monte de areia.

Capítulo 24

Vieram ter, em seguida, a um sicômoro, que chamam hoje de Mataréia, e o Senhor Jesus fez surgir neste lugar uma fonte onde Maria lavou sua túnica. E o bálsamo que produz este país vem do suor que escorreu pelos membros de Jesus.

Capítulo 25

Foram então a Mênfis, e tendo visitado o faraó, permaneceram três anos no Egito, e o Senhor Jesus fez muitos milagres que não estão consignados nem no Evangelho da Infância, nem no Evangelho Completo.

Capítulo 26

Depois de três anos, eles deixaram o Egito e voltaram para a Judéia; mas quando já estavam próximos, José teve medo de entrar lá porque acabara de saber que Herodes estava morto e que seu filho Arquelau havia-lhe sucedido; mas o anjo de Deus apareceu-lhe e disse-lhe: “O José, vai para a cidade de Nazaré e estabelece ali tua residência”.

Capítulo 27

Quando chegaram a Belém, havia uma proliferação de doenças graves e difíceis de serem curadas, que atacavam os olhos das crianças e lhes causava a morte. E uma mulher que tinha um filho atacado por esse mal, levou-o a Maria, e encontrou-a banhando o Senhor Jesus. E a mulher disse: “O Maria, vê meu filho que sofre cruelmente”. Maria, ouvindo-a, disse-lhe: “Pega um pouco desta água com a qual eu lavei meu filho e espalha-a sobre o teu”. A mulher fez como lhe havia recomendado Maria, e seu filho, depois de uma forte agitação, adormeceu e quando acordou, estava completamente curado. A mulher, cheia de alegria, foi até Maria, que lhe disse: “Rende graças a Deus por ele haver curado o teu filho”.

Capítulo 28

Esta mulher tinha uma vizinha cujo filho fora atingido pela mesma doença e cujos olhos estavam quase fechados; ele gritava e chorava, noite e dia. E aquela cujo filho havia sido curado disse-lhe: “Por que não levas teu filho a Maria como eu fiz quando o meu estava prestes a morrer e ele foi curado pela água do banho de Jesus?” E a mulher foi pegar também daquela água, e assim que ela derramou sobre seu filho, ele foi curado. Levou então seu filho em perfeita saúde para Maria, que lhe recomendou que rendesse graças a Deus e que não contasse a ninguém o que havia acontecido.

Capítulo 29

Havia na mesma cidade duas mulheres casadas com um mesmo homem, e cada uma delas tinha um filho doente. Uma se chamava Maria e seu filho, Cleofás. Esta mulher levou seu filho a Maria, mãe de Jesus, e ofereceu-lhe uma bela toalha, dizendo-lhe: “à Maria, recebe de mim está toalha e, em troca, dá-me uma das tuas fraldas”. Maria consentiu e a mãe de Cleofás confeccionou, com esta fralda, uma túnica, com a qual vestiu seu filho. E ele ficou curado e o filho de sua rival morreu no mesmo dia, o que causou profundos ressentimentos entre estas duas mulheres. Elas se encarregavam, em semanas alternadas, dos trabalhos caseiros, e um dia em que era a vez de Maria, a mãe de Cleofás, ela estava ocupada aquecendo o forno para assar o pão, e precisando de farinha, deixou seu filho perto do forno. Sua rival, vendo que a criança estava sozinha, pegou-a e jogou-a no forno em brasa e fugiu. Maria retornou logo em seguida, mas qual não foi o seu espanto quando ela viu seu filho no meio do forno, rindo, pois ele havia subitamente esfriado, como se jamais houvesse sido aquecido, e ela suspeitou que sua rival o havia jogado ali. Tirou-o de lá e levou-o até a Virgem Maria, e contou-lhe o que havia acontecido. E Maria disse-lhe: “Cala-te, pois eu receio por ti se divulgares tais coisas”.

Em seguida, a rival foi buscar água no poço, e vendo Cleofás brincando, e vendo que não havia ninguém por perto, pegou a criança e jogou-a no poço. Alguns homens que haviam vindo para tirar água viram a criança sentada na água, sem nenhum ferimento, e por meio de cordas, tiraram-na de lá. E ficaram tão admirados com esta criança que renderam-lhe as mesmas homenagens devidas a um Deus. E sua mãe, chorando, carregou-o até Maria e disse-lhe: “O minha senhora, vê o que minha rival fez ao meu filho, e como ela o fez cair no poço. Ah! ela acabará, por certo, causando-lhe a morte.” Maria respondeu-lhe: “Deus punirá o mal que te foi feito”. Alguns dias depois, a rival foi buscar água no poço e seus pés enroscaram-se na corda, de modo que ela caiu nele, e quando acorreram, acharam-na com a cabeça partida. Ela morreu, portanto, de uma forma funesta; a palavra do sábio se cumpre em si: “Cavaram um poço e jogaram a terra em cima, mas caíram no poço que eles mesmos haviam preparado”.

Capítulo 30

Uma outra mulher da mesma cidade tinha dois filhos, os dois doentes; um morreu e o outro estava agonizando; sua mãe tomou-o nos braços e levou-o até Maria, e aos prantos, disse-lhe: “ó minha senhora, vem em meu auxílio e tem piedade de mim; eu tinha dois filhos e acabo de perder um, e vejo o outro a ponto de morrer. Imploro a misericórdia do Senhor”. E pos-se a gritar: “Senhor, tu és pleno em clemência e compaixão; tu me deste dois filhos, me levaste um deles, pelo menos deixa-me o outro.” Maria, testemunha de sua extrema dor, sentiu pena e disse-lhe: “Coloca teu filho na cama de meu filho e cobre-o com suas roupas”. E quando a criança foi colocada na cama ao lado de Jesus, seus olhos já cerrados pela morte abriram-se, e chamando sua mãe em voz alta, pediu-lhe pão, e quando lhe deram, comeu-o. Então sua mãe disse: “ó Maria, eu sei que a virtude de Deus habita em ti, a ponto de teu filho curar as crianças que o tocam.” E a criança que assim foi curada é o mesmo Bartolomeu de quem se fala no Evangelho.

Capítulo 31

Havia ainda no mesmo lugar uma leprosa que foi ter com Maria, mãe de Jesus, dizendo-lhe: “ó minha senhora, tem piedade de mim”. E Maria respondeu-lhe: “Que ajuda pedes tu? Queres ouro, prata ou queres te curar da lepra?” A mulher respondeu: “Que podes fazer por mim?” E Maria disse: “Espera um pouco até que eu tenha banhado e posto meu filho na cama”. A mulher esperou e Maria, após o haver deitado, estendeu à mulher um vaso cheio da água do banho de seu filho e disse-lhe: “Pega um pouco desta água e espalha-a sobre o teu corpo”. E assim que a doente obedeceu, curou-se e ela rendeu graças a Deus.

Capítulo 32

Ela partiu em seguida, após haver permanecido três dias junto de Maria, e foi para uma cidade onde morava um príncipe que havia desposado a filha de um outro príncipe; mas, quando ele viu sua esposa, percebeu entre seus olhos as marcas da lepra sob a forma de uma estrela, e o seu casamento foi declarado nulo e não válido. E esta mulher vendo o desespero da princesa, perguntou-lhe a causa destas lágrimas, e a princesa respondeu-lhe: “Não me interrogues, pois a minha desgraça é tanta que eu não posso revelá-la a ninguém.” A mulher ouvindo a voz desta infeliz, subiu até o telhado de seu castelo e viu-a com as mãos unidas acima da cabeça, a verter copiosas lágrimas, e todos aqueles que a rodeavam estavam desolados. E ela perguntou se a mãe desta possuída vivia ainda. E quando lhe responderam que o seu pai e sua mãe estavam ambos vivos, ela disse: “Tragam sua mãe até mim.” E quando chegou, ela perguntou-lhe: “E a tua filha que está assim possuída?” E a mãe tendo respondido que sim, chorando, a princesa disse: “Não revela o que vou te contar; eu já fui uma leprosa, mas Maria, a mãe de Jesus Cristo, me curou. Se queres que tua filha tenha a mesma felicidade, leva-a a Belém e implora com fé a ajuda de Maria, e eu creio que voltarás cheia de alegria, trazendo tua filha curada.” Imediatamente a mãe levantou-se e partiu; foi procurar Maria e expôs-lhe o estado de sua filha. Maria, após tê-la ouvido, deu-lhe um pouco da água na qual ela havia lavado seu filho Jesus, e disse-lhe para derramá-la sobre o corpo da possuída. Em seguida deu-lhe uma fralda do menino Jesus e disse-lhe: “Pega isto e mostra-o a teu inimigo, todas as vezes que o vir”, e despediu-as com suas bênçãos.

Capítulo 33

Quando, após haver deixado Maria, elas retornaram à sua cidade, e quando veio o tempo no qual Satanás costumava atormentá-la, ele apareceu-lhe sob a forma de um grande dragão; ao ver a sua aparência, a jovem foi tomada pelo pavor, mas sua mãe disse-lhe: “Não temas, minha filha, deixa que ele se aproxime mais de ti e mostra-lhe esta fralda que nos deu Maria, e veremos o que ele poderá fazer.” E quando o espírito maligno, que havia tomado a forma de um dragão, estava bem perto, a doente, tremendo de medo, colocou sobre sua cabeça a fralda e desdobrou-a, e de repente, dela saíram chamas que se dirigiam à cabeça e aos olhos do dragão, e ouviu-se uma voz que gritava: “Que há entre ti e mim, ó Jesus, filho de Maria? Onde encontrarei um abrigo que me livre de ti. E Satanás fugiu apavorado, abandonando esta jovem, é nunca mais apareceu. E ela viu-se assim curada e, grata, rendeu graças a Deus, assim como todos os que haviam presenciado este milagre.

Capítulo 34

Havia nesta mesma cidade uma outra mulher cujo filho era atormentado por Satanás. Ele se chamava Judas, e sempre que o espírito maligno apoderava-se dele, ele tentava morder todos os que estavam à sua volta e, se estivesse sozinho, mordia suas próprias mãos e membros. A mãe deste infeliz, ouvindo falar de Maria e de seu filho Jesus, foi com seu filho nos braços até Maria. Nesse meio tempo, Tiago e José haviam trazido o menino Jesus para fora da casa, para que ele pudesse brincar com as outras crianças, e eles estavam sentados fora da casa e Jesus com eles. Judas aproximou-se também e sentou-se à direita de Jesus, e quando Satanás começou a agitá-lo como sempre o fazia, ele tentou morder Jesus, e como ele não podia alcançá-lo, dava-lhe socos no lado direito, de forma que Jesus começou a chorar. Mas, neste momento, Satanás saiu desta criança sob a forma de um cão enraivecido. E esta criança era Judas Iscariotes que traiu Jesus, e o lado em que ele havia batido foi aquele que os judeus trespassaram com a lança.

Capítulo 35

Quando o Senhor Jesus havia completado o seu sétimo ano, ele brincava um dia com outras crianças de sua idade; para divertir-se, eles faziam com terra molhada diversas imagens de animais, de lobos, de asnos, de pássaros, e cada um elogiando seu próprio trabalho, esforçando-se para que fosse melhor que o de seus companheiros. Então o Senhor Jesus disse para as crianças: “Ordenarei às figuras que eu fiz que andem e elas andarão.” E as crianças lhe perguntaram se ele era o filho do Criador, e o Senhor Jesus ordenou às imagens que andassem e elas imediatamente andaram. Quando ele mandava voltar, elas voltavam. Ele havia feito figuras de pássaros que voavam quando ele ordenava que voassem e que paravam quando ele dizia para parar, e quando ele lhes dava bebida e comida, eles comiam e bebiam. Quando as crianças foram embora e contaram aos seus pais o que haviam visto, eles disseram: “Fuji, daqui em diante, de sua companhia, pois ele é um feiticeiro, deixai de brincar com ele.”

Capítulo 36

Um certo dia em que brincava e corria com outras crianças, o Senhor Jesus passou em frente à loja de um tintureiro que se chamava Salém. Havia nesta loja tecidos que pertenciam a um grande número de habitantes da cidade, e que Salém se preparava para tingir de várias cores. Tendo Jesus entrado na loja, pegou todas as fazendas e jogou-as na caldeira. Salém virou-se e vendo todas as fazendas perdidas, pôs-se a gritar e a repreender Jesus, dizendo: “Que fizeste tu, ó filho de Maria? Prejudicaste a mim e a meus concidadãos; cada um pediu uma cor diferente, e tu apareceste e puseste tudo a perder.” O Senhor Jesus respondeu: “Qualquer fazenda que queiras mudar a cor, eu mudo.” E ele se pôs a retirar as fazendas da caldeira, e cada uma estava tingida da cor que desejava o tintureiro. E os judeus, testemunhas deste milagre, celebraram o poder de Deus.

Capítulo 37

José ia por toda a cidade levando com ele o Senhor Jesus, e chamavam-no para que fizesse portas, arcas e catres, e o Senhor Jesus estava sempre com ele. E sempre que a obra de José precisava ser mais comprida ou mais curta, mais larga ou mais estreita, o Senhor Jesus estendia a mão, e ela ficava exatamente do jeito que queria José, de forma que ele não precisava retocar nada com sua própria mão, pois ele não era muito hábil no ofício de marceneiro.

Capítulo 38

Um dia, o rei de Jerusalém mandou chamá-lo e disse: “Eu quero, José, que me faças um trono segundo as dimensões do lugar onde costumo sentar-me.” José obedeceu, e pondo mãos à obra, passou dois anos no palácio para elaborar este trono. E quando ele foi colocado no lugar onde deveria ficar, perceberam que de cada lado faltavam dois palmos à medida fixada. Então o rei ficou bravo com José, que temendo a raiva do monarca, não conseguiu comer e deitou-se em jejum. Então, o Senhor Jesus perguntou-lhe qual era a causa do seu receio, e ele respondeu: “E: que a obra na qual trabalhei durante dois anos está perdida.” E o Senhor Jesus respondeu-lhe: “Não tenhas medo e não percas a coragem; pega este lado do trono e eu o outro, para que possamos dar-lhe a medida exata.” E José tendo feito o que lhe havia pedido o Senhor Jesus, e cada um puxando para um lado, o trono obedeceu e ficou exatamente com a dimensão desejada. Os assistentes, vendo este milagre, ficaram estupefatos e deram graças a Deus. Este trono fora feito com uma madeira do tempo de Salomão, filho de Davi, e que era notável por seus nós que representavam várias formas e figuras.

Capítulo 39

Um outro dia, o Senhor Jesus foi até a praça, e vendo as crianças que se haviam reunido para brincar, juntou-se a elas; mas estas, tendo-o visto, esconderam-se, e o Senhor Jesus foi até uma casa e perguntou às mulheres que estavam à porta onde as crianças haviam ido. E como elas responderam que não havia nenhuma delas na casa, o Senhor Jesus disse-lhes: “Que vocês estão vendo sob este arco?” Elas responderam que eram carneiros com três anos de idade, e o Senhor Jesus gritou: “Saí, carneiros, e vinde em direção ao vosso pastor.” E imediatamente as crianças saíram, transformadas em carneiros, e eles saltavam ao seu redor, e estas mulheres tendo visto isto, foram tomadas de pavor. E elas adoraram o Senhor Jesus, dizendo: “ó Jesus, filho de Maria, nosso Senhor, tu és verdadeiramente o bom Pastor de Israel; tem piedade de tuas servas que estão em tua presença e que não duvidam, Senhor, que tu vieste para curar, e não para perder.” Em seguida, o Senhor tendo respondido que as crianças de Israel estavam entre os povos como os Etíopes, as mulheres disseram: “Senhor, conheces as coisas, e nada escapa à tua infinita sabedoria; pedimos e esperamos a tua misericórdia, que devolvas a estas crianças sua antiga forma.” E o Senhor Jesus disse então: “Vinde, crianças, para que possamos brincar.” E imediatamente, na presença das mulheres, os carneiros retomaram a aparência de crianças.

Capítulo 40

No mês de Adar, Jesus reuniu as crianças e colocou-se como o seu rei: elas haviam estendido suas roupas no chão para fazê-lo sentar-se sobre elas, e elas haviam colocado sobre sua cabeça uma coroa de flores, e, como os satélites que acompanham um rei, elas se haviam enfileirado à sua direita e à sua esquerda. Se alguém passava por lá, as crianças faziam parar à força e diziam-lhe: “Vem e adora o rei, para que obtenhas uma feliz viagem.”

Capítulo 41

Nisto, chegaram alguns homens que carregavam uma criança em uma liteira. Este menino havia ido até a montanha com seus colegas para apanhar lenha, e, tendo encontrado um ninho de perdiz, pôs a mão para retirar os ovos, mas uma serpente escondida no ninho mordeu-o, e ele chamou seus companheiros para socorrê-lo. Mas quando chegaram, eles o encontraram estendido no chão e quase morto; então alguns familiares vieram e levaram-no à cidade. Quando chegaram ao local onde o Senhor Jesus estava sentado em seu trono como um rei, com outras crianças à sua volta, como sua corte, estas foram ao encontro dos que carregavam o moribundo e disseram-lhes: “Vinde e saudai o rei.” Como eles não queriam aproximar-se por causa da tristeza que sentiam, as crianças traziam-nas à força. E quando estavam na frente do Senhor Jesus, ele perguntou-lhes por que estavam carregando aquela criança; responderam que uma serpente a havia mordido, e o Senhor Jesus disse às crianças: “Vamos juntos e matemos a serpente.” Os pais da criança que estava prestes a morrer suplicaram para que os deixassem ficar, mas elas responderam: “Não ouvistes o que o rei disse: ‘Vamos e matemos a serpente’, e não deveríeis seguir suas ordens?” E apesar da sua oposição eles retornaram à montanha, carregando a liteira. Quando chegaram perto do ninho, o Senhor Jesus disse às crianças: “Não é aqui que se esconde a serpente?” E eles responderam que sim, e a serpente, chamada pelo Senhor Jesus, saiu e submeteu-se a ele. E o Senhor lhe disse: “Vai e suga todo o veneno que espalhaste nas veias desta criança.” A serpente, arrastando-se, sugou todo o veneno que ela havia inoculado, e o Senhor em seguida amaldiçoou-a e, fulminada, morreu logo em seguida. E o Senhor Jesus tocou a criança com sua mão, e ela foi curada. E como ela se pusesse a chorar, o Senhor Jesus lhe disse: “Não chores, serás meu discípulo.” E esta criança foi Simão de Cananéia, de quem se faz menção no Evangelho.

Capítulo 42

Um outro dia José havia mandado seu filho Tiago para apanhar lenha, e o Senhor Jesus se havia juntado a ele para ajudá-lo; e quando chegaram ao lugar onde ficava a lenha, Tiago começou a apanhá-la e eis que uma víbora o mordeu, e ele se pôs a gritar e a chorar. O Senhor Jesus, vendo-o naquele estado, aproximou-se e soprou o local da mordida, e Tiago foi imediatamente curado.

Capítulo 43

Um dia, o Senhor Jesus estava brincando com outras crianças em cima de um telhado, e uma delas caiu e morreu na hora. As outras fugiram e o Senhor Jesus ficou sozinho em cima do telhado. Então os pais do morto chegaram e disseram ao Senhor Jesus: “Foste tu que empurraste nosso filho do alto do telhado.” E como ele negasse, eles repetiram mais alto: “Nosso filho morreu e eis aqui quem o matou.” E o Senhor Jesus respondeu: “Não me acuseis de um crime do qual não tendes nenhuma prova; mas perguntemos à própria criança o que aconteceu.” E o Senhor Jesus desceu e colocou-se perto da cabeça do morto e lhe disse em voz alta: “Zeinon, Zeinon, quem foi que te empurrou do alto do telhado?” E o morto respondeu: “Senhor, não foste tu a causa da minha queda, mas foi o terror que me fez cair.” E o Senhor tendo recomendado aos presentes que prestassem atenção a estas palavras, todos os que estavam presentes louvaram a Deus por este milagre.

Capítulo 44

Maria havia mandado um dia o Senhor Jesus tirar água do poço. E quando ele havia cumprido a tarefa e colocava sobre a cabeça o cântaro cheio, ele partiu-se. E o Senhor Jesus tendo estendido o seu manto, levou para sua mãe a água recolhida, e ela admirou-se e guardou em seu coração tudo o que havia visto.

Capítulo 45

Um outro dia, o Senhor Jesus brincava na beira do rio com outras crianças, e eles haviam cavado pequenas valas para fazer escorrer a água, formando assim pequenas poças. O Senhor Jesus havia feito doze passarinhos de barro, e os havia colocado ao redor da água, três de cada lado. Era um dia de Sábado, e O filho de Hanon, o Judeu, veio e vendo-os assim entretidos, disse-lhes: “Como podeis em um dia de Sábado fazer figuras com a lama?” E ele se pôs a destruir tudo. E quando o Senhor Jesus estendeu as mãos sobre os pássaros que havia moldado, eles saíram voando e cantando. Em seguida, o filho de Hanon, o Judeu, aproximou-se da poça cavada por Jesus para destruí-la mas a água desapareceu, e o Senhor Jesus disse-lhe: “Vê como esta água secou; assim será com a tua vida.” E a criança secou.

Capítulo 46

Um outro dia, o Senhor Jesus voltava à noite para casa com José, quando uma criança passou correndo na sua frente e deu-lhe um golpe tão violento que o Senhor Jesus quase caiu, e ele disse a esta criança: “Assim como tu me empurraste, cai e não te levantes mais.” E no mesmo instante, a criança caiu no chão e morreu.

Capítulo 47

Havia em Jerusalém um homem, chamado Zaqueu, que instruía os jovens. E ele dizia a José: “José, por que não me envias Jesus para que ele aprenda as letras?” José concordou e também Maria. Levaram pois a criança para o professor, e assim que ele o viu, escreveu o alfabeto e pediu-lhe que pronunciasse Aleph. E quando ele o fez, pediu-lhe para dizer Beth. O Senhor Jesus disse-lhe: “Dize-me primeiro o que significa o Aleph, e aí então eu pronunciarei Beth.” E o professor preparava-se para chicoteá-lo, mas o Senhor Jesus pôs-se a explicar o significado das letras Aleph e Beth, quais as letras de linhas retas, quais as oblíquas, e as que tinham desenho duplo, as que tinham pontos, aquelas que não tinham e porque tal letra vinha antes da outra, enfim, ele disse muitas coisas que o professor jamais ouvira e que não havia lido em livro algum. E o Senhor Jesus disse ao professor: “Presta atenção ao que vou dizer.” E ele pôs-se a recitar clara e distintamente Aleph, Beth, Ghimel, Daleth, até o fim do alfabeto. O mestre ficou admirado e disse: “Creio que esta criança nasceu antes de Noé”; e virando-se para José, acrescentou: “Tu o conduziste para que eu o instruísse, uma criança que sabe mais que todos os doutores.” E ele disse a Maria: “Teu filho não precisa de nossos ensinamentos.”

Capítulo 48

Conduz iram-no em seguida a um professor mais sábio, e assim que o viu: “Dize Aleph”, pediu-lhe ele. E quando ele disse Aleph, o professor pediu-lhe que pronunciasse Beth. E o Senhor Jesus respondeu-lhe: “Dize-me o que significa a letra Aleph, e então eu pronunciarei Beth.” O mestre irritado levantou a mão para bater nele, mas sua mão secou instantaneamente, e ele morreu. Então José disse a Maria: “Daqui por diante, não devemos mais deixar o menino sair de casa, pois qualquer um que se oponha a ele é fulminado pela morte.”

Capítulo 49

Quando contava doze anos de idade, levaram Jesus a Jerusalém por ocasião da festa, e quando ela terminou, eles voltaram; mas o Senhor Jesus permaneceu no templo, em meio aos doutores e aos velhos e aos sábios dos filhos de Israel, que ele interrogava sobre diferentes pontos da ciência, mas também respondia-lhes as perguntas. Jesus perguntou-lhes: “De quem é filho o Messias?” E eles responderam: “Este é filho de Davi.” Jesus respondeu: “Por que então Davi, movido pelo Espírito Santo, chama-o Senhor, quando diz: ‘O Senhor disse ao meu Senhor: `Senta-te à minha direita para que eu coloque teus inimigos aos teus pés’?” Então um importante rabino interrogou-o, dizendo: “Leste os livros sagrados?” O Senhor Jesus respondeu: “Eu li os livros e o que eles contêm”, e ele explicava-lhes as Escrituras, a lei, os preceitos, os estatutos, os mistérios que estão contidos nos livros das profecias, e que a inteligência de nenhuma criatura pode compreender. E o principal entre os doutores disse: “Eu jamais vi ou ouvi tamanha instrução; quem credes que seja esta criança?”

Capítulo 50

Havia lá um filósofo, astrônomo sábio, que perguntou ao Senhor Jesus se ele havia estudado a ciência dos astros. E Jesus respondendo-lhe, expôs o número de esferas e de corpos celestes, sua natureza e sua oposição, seu aspecto trinário, quaternário e sêxtil, sua progressão e seu movimento de leste para oeste, o cômputo e o prognóstico e outras coisas que a razão de nenhum homem escrutou.

Capítulo 51

Havia também entre eles um filósofo muito sábio em medicina e ciências naturais, e quando ele perguntou ao Senhor Jesus se ele havia estudado a medicina, este expôs-lhe a física, a metafísica, a hiperfisica e a hipofisica, as virtudes do corpo e os humores e os seus efeitos, o número de membros e de ossos, de secreções, de artérias e de nervos, as temperaturas, calor e seco, frio e úmido, e quais as suas influências; quais as atuações da alma no corpo, suas sensações e suas virtudes, a faculdade da palavra, da raiva, do desejo, sua composição e dissolução e outras coisas que a inteligência de nenhuma criatura jamais alcançou. Então o filósofo ergueu-se e adorou o Senhor Jesus, dizendo: “Senhor, daqui em diante serei teu discípulo e teu servo.”

Capítulo 52

E enquanto assim falavam, Maria apareceu junto com José, e fazia três dias que procuravam por Jesus; vendo-o sentado entre os doutores, interrogando-os e respondendo-lhe alternada-mente, ela lhe disse: “Meu filho, por que agiste assim conosco? Teu pai e eu te procuramos, e tua ausência causou-nos muita aflição.” Ele respondeu: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que convinha que eu permanecesse na casa de meu Pai?” Mas eles não entendiam as palavras que ele lhes dirigia. Então os doutores perguntaram a Maria se ele era seu filho, e ela tendo respondido que sim, eles exclamaram: “O feliz Maria, que deste à luz tal criança.” Ele voltou com os pais para Nazaré, e ele lhes era submisso em tudo. E sua mãe conservava todas as suas palavras em seu coração. E o Senhor Jesus crescia em tamanho, em sabedoria e em graça diante de Deus e diante dos homens.

Capítulo 53

Ele começou desde esse dia a esconder os seus segredos e seus mistérios, até que completou trinta anos, quando seu Pai, revelando publicamente sua missão às margens do Jordão, fez soar, do alto do céu, estas palavras: “E meu filho Amado no qual coloquei toda minha complacência”, e foi quando o Espírito Santo apareceu sob a forma de uma pomba branca.

Capítulo 54

E a ele que humildemente adoramos, pois ele nos deu a existência e a vida, e ele nos fez sair das entranhas de nossas mães; ele tomou, por nós, o corpo de homem, e ele nos redimiu, cobrindo-nos com sua misericórdia eterna e concedendo-nos a graça do seu amor e de sua bondade. A ele portanto, glória, poder, louvores e domínio por todos os séculos. Que assim seja. Fim.

www.astrologosastrologia.com.pt. Abraço. Davi.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

OS ANALECTOS - LIVRO XX

 

Confucionismo. www.https//rt.br. OS ANALECTOS – LIVRO XX. 1. Yao disse: “Oh! Shun, A sucessão, ordenada pelo Céu, recaiu sobre a tua pessoa. Apega-te com firmeza ao caminho do meio. Se o Império for reduzido ao estado de caos, As honras concedidas a ti pelo Céu estarão terminadas para sempre”. Foi com essas mesmas palavras que Shun comandou Yü. [T’ang] disse: “Eu, Lü, o pequeno, ouso oferecer um touro negro e fazer esta declaração perante o grande senhor. Não ouso perdoar aqueles que transgrediram. Apresentarei vossos servos como são, de modo que a escolha seja apenas Vossa. Se eu transgredir, não permitais que os dez mil reinos sofram por minha causa; mas se os dez mil reinos transgredirem, a culpa é minha, apenas”. A dinastia Chou foi imensamente abençoada, e os homens bons abundaram. Tenho parentes próximos, Mas melhor para mim é ter homens benevolentes. Se o povo transgredir Que recaia sobre a minha cabeça apenas”. [207] * * * Decida sobre pesos e medidas após cuidadosa consideração e restabeleça postos oficiais que caíram em desuso, e as medidas governamentais serão fortalecidas em toda parte. Restitua reinos que foram anexados, reviva linhagens que foram extintas, promova homens que se retiraram da sociedade, e os corações de todas as pessoas comuns do Império o admirarão. O que era considerado de importância: as pessoas comuns, comida, luto e sacrifícios. Se um homem é tolerante, ele conquistará o povo. Se é coerente com as próprias palavras, as pessoas comuns confiarão nele. Se é rápido, atingirá resultados. [208] Se é imparcial, as pessoas comuns ficarão satisfeitas. [209] 2. Tzu-chang perguntou a Confúcio: “Como deve ser um homem para que ele possa fazer parte de um governo?”. O Mestre disse: “Se ele enaltece as cinco práticas excelentes e foge das quatro práticas perniciosas, ele pode participar do governo”. Tzu-chang disse: “O que significam as cinco práticas excelentes?”. O Mestre disse: “O cavalheiro é generoso sem gastar, faz com que os outros trabalhem sem que padeçam, tem desejos sem ser ambicioso, é casual sem ser arrogante e é admirado sem parecer orgulhoso”. Tzu-chang disse: “O que significa ‘ser generoso sem gastar’?”. [210] O Mestre disse: “Se um homem beneficia o povo comum utilizando as coisas ao redor deles que eles acham benéficas, não se trata de ser generoso sem gastar? Se um homem, ao fazer com que os outros trabalhem, escolhe fardos que os outros conseguem carregar, quem vai se queixar? Se, ao desejar benevolência, um homem a obtém, onde está a ambição? O cavalheiro jamais ousa negligenciar as boas maneiras, esteja ele com muitas ou poucas pessoas, com jovens ou velhos. Não se trata de ser informal sem ser arrogante? O cavalheiro, com seu traje e chapéu bem-ajustados e com seu olhar altivo, tem uma atitude que inspira admiração às pessoas que o vêm. Não se trata de ser admirado sem parecer orgulhoso?”. Tzu-chang disse: “O que significam as quatro práticas perniciosas?”. O Mestre disse: “Impor a pena de morte sem antes tentar reformar é ser cruel; esperar resultados sem antes avisar é ser tirânico; insistir em prazos quando se dão ordens tardias é causar dano. Quando algo precisa ser dado a alguém, ser sovina ao fazê-lo é ser impertinente”. 3. Confúcio disse: “Um homem não pode se tornar um cavalheiro a menos que entenda o Destino; ele não pode ocupar o seu lugar a menos que entenda os ritos; ele não pode julgar os homens a menos que entenda as palavras”. www.https//rt.br. Abraço. Davi

terça-feira, 24 de novembro de 2020

MUNDAKA

 

OM (...).

Com nossos ouvidos, ouçamos o que é bom.

Com nossos olhos, possamos nós, que vos veneramos.

Encontrar descanso.

OM (...). Paz – Paz – Paz.


Hinduísmo. Livro Os Upanishades – Sopro Vital do Eterno. MUNDAKA. DO INFINITO OCEANO da existência surgiu Brahman, primogênito e o primeiro entre os deuses. Dele jorrou o Universo e ele se tornou seu protetor. O conhecimento de Brahman, alicerce de todo conhecimento, ele revelou a seu filho primogênito, Atharva. Atharva, por sua vez, ensinou esse mesmo conhecimento de Brahman a Angi. Angi ensinou-o a Satyabaha, que o revelou a Angiras. Certa vez, Sounaka, o famoso chefe de família, dirigiu-se a Angiras e perguntou-lhe respeitosamente: Sagrado senhor, o que é aquilo através do qual todo o resto é conhecido? Aqueles que conhecem Brahman, replicou Angiras, dizem que existem dois tipos de conhecimento, o superior e o inferior. O inferior é o conhecimento dos Vedas (O Rig, O Sama, O Yajur e o Atharva), e também o conhecimento da fonética, dos cerimoniais, da gramática, da etimologia, da métrica e da astronomia. O mais elevado é o conhecimento daquilo através do qual se conhece a realidade imutável. Através disso, é totalmente revelado aos sábios aquilo que transcende os sentidos, que não tem causa, que é indefinível, que não tem olhos nem ouvidos, nem nãos nem pés, que tudo permeia, que é mais sutil do que o mais sutil – o que dura eternamente – a origem de tudo. Como a teia vem da aranha, como as plantas crescem do solo e o cabelo do corpo do homem, assim jorra o Universo do eterno Brahman. Brahman quis que fosse assim, e extraiu de si mesmo a causa material do Universo, disso veio a energia primordial, e da energia primordial a mente, da mente os elementos sutis, dos elementos sutis os diversos mundos, e de ações realizadas por seres nos diversos mundos a cadeia de causa e efeito – a recompensa e punição das ações. Brahman tudo vê, tudo sabe, ele é o próprio conhecimento. Dele nascem a inteligência cósmica, o nome, a forma, e a causa material de todos os seres criados e das coisas. Finitos e transitórios são os frutos dos rituais de sacrifício. Os iludidos, que os encaram como os mais elevados bens, permanecem sujeitos ao renascimento e a morte. Vivendo no abismo da ignorância, porém sábios em seu próprio conceito, os iludidos dão voltas e voltas, como cegos levados por cegos. Vivendo no abismo da ignorância, embora sábios em seu próprio conceito, os iludidos se creem abençoados. Apegados a palavras, não conhecem Deus. As ações levam-nos apenas ao céu, onde, para sua tristeza, suas recompensas rapidamente se esgotam, e são lançados de volta à Terra. Ao considerarem a religião como sendo a execução de rituais e a prática de ações de caridade, os iludidos permanecem ignorantes do bem mais elevado. Após aproveitar no céu a recompensa das suas boas ações, eles penetram novamente no mundo dos mortais. Porém, as almas sábias e tranquilas e que possuem autocontrole – que estão satisfeitas em espírito, e que praticam a austeridade e a meditação na solidão e no silêncio – são libertadas de toda impureza, e atingem, através do caminho da liberação para o imortal, o que verdadeiramente existe, o imutável Eu. Que o homem dedicado à vida espiritual examine cuidadosamente a natureza efêmera de tal prazer, seja aqui ou no além, como pode ser obtido através de boas ações, e perceba assim que não é pelas ações que se ganha o Eterno. Que não dê atenção às coisas transitórias, e sim que, absorto na meditação, renuncie ao mundo. Para conhecer o Eterno, que se aproxime humildemente de um Guru dedicado a Brahman e que conheça bem as escrituras. A um discípulo que se aproxima reverentemente, que é tranquilo e possui autocontrole, o mestre sábio, sinceramente e sem restrição, fornece esse conhecimento através do qual é conhecido o que verdadeiramente existe, o Eu imutável. O Imperecível e o Real. Assim como inúmeras fagulhas sobem de um fogo flamejante, das profundezas do Imperecível surgem todas as coisas. Para as profundezas do Imperecível elas tornam a descer. Dotado de luz própria é esse Ser, e não possui forma. Ele habita dentro de tudo e fora de tudo. Ele nunca nasceu, é puro, maior do que o maior, não possui alento, não possui mente. Dele nascem o sopro vital, a mente, os órgãos dos sentidos, o éter, o ar, o fogo, a água e a Terra, e ele mantém tudo isso unido. O céu é a sua cabeça, o Sol e a Lua os seus olhos, as quatro fases os seus ouvidos, as escrituras reveladas a sua voz, o ar o seu fôlego, o Universo o seu coração. Dos seus pés veio a Terra. Ele é o mais profundo Eu de todos. Dele surge o céu iluminado pelo Sol, do céu a chuva, da chuva o alimento, e do alimento a semente que o homem dá a mulher. Assim, todas as criaturas descendem dele. Dele saem os hinos, os cantos devocionais, as escrituras, os rituais, os sacrifícios, as oblações, as divisões do tempo, o que age e ação, e todos os mundos iluminados pelo Sol e purificados pela Luz. Dele nascem deuses de diversas descendências. Dele nascem anjos, homens, feras, pássaros, dele nascem a vitalidade e o alimento para sustenta-la, dele vêm a austeridade e a meditação, a fé, a verdade, a continência e a lei. Dele jorram os órgãos dos sentidos, suas atividades, e seus objetos, junto com a consciência desses objetos. Todas essas coisas, partes da natureza do homem, saem dele. Nele os mares e as montanhas têm sua origem, dele jorram os rios, e dele nascem as ervas e outros elementos que sustentam a vida, com a ajuda dos quais o corpo sutil do homem subsiste no corpo físico. Assim, Brahman é tudo em tudo. Ele é ação, conhecimento, bondade suprema. Conhecê-lo, oculto no lótus do coração, é desatar o nó da ignorância. Dotado de luz própria é Brahman, sempre presente nos corações de todos. Ele é o refúgio de todos, e a meta suprema. Nele existe tudo o que se move e respira. Nele existe tudo o que é. Ele é ao mesmo tempo aquilo que é grosseiro e tudo aquilo que é sutil. Ele é adorável. Ele está além do alcance dos sentidos. Ele é supremo. Atingi-o! Ele, o dotado de luz própria, mais sutil do que o mais sutil, em quem existem todos os mundos e todos os que neles habitam – esse é o Imperecível Brahman. Ele é o princípio da vida. Ele é a palavra, e ele á a mente. Ele é real. Ele é imortal. Atingi-o, Oh! Meu amigo, a única meta a ser atingida! Juntai-vos ao Upanishad, o arco incomparável, a flecha e acertai o alvo – o imperecível Brahman. OM é o arco, a flecha é o ser individua, e Brahman é o alvo. Mirai com o coração tranquilo. Perdei-vos dentro dele, do mesmo modo como a flecha se perde no alvo. Nele estão reunidos o céu e a Terra, junto com a mente e todos os sentidos. Conhecei-o, apenas o Eu. Desisti de conversas fúteis. Ele é a ponte da imortalidade. Dentro do lótus do coração ele habita, onde, como os raios de uma roda, os nervos se encontram. Meditai nele como OM. Facilmente podereis atravessar o mar da escuridão. Esse Eu, que tudo compreende, que tudo sabe, e cuja glória está manifesta no Universo, mora dentro do lótus do coração, o trono brilhante de Brahman. Ele é conhecido pelos puros de coração. O Eu existe no homem, dentro do lótus do coração, e é o mestre da vida e do seu corpo. Com a mente iluminada pelo poder da meditação, os sábios o conhecem, o abençoado, o imortal. O nó do coração, que é a ignorância, se afrouxa, todas as dúvidas se dissolvem, todos os efeitos malignos das ações são destruídos, quando ele, que é ao mesmo tempo pessoal e impessoal, é percebido. No fulgurante lótus do coração habita Brahman, que não possui paixões e é indivisível. Ele é puro, ele é a luz das luzes. Ele é alcançado pelos conhecedores do Eu. O Sol não o ilumina, nem a Lua, nem as estrelas, nem o relâmpago – nem, na verdade, fogos acesos sobre a Terra. Ele é a luz que dá luz a tudo. Quando ele brilha, tudo brilha. Esse Brahman imortal está na frente, esse Brahman imortal está atrás, esse Brahman imortal se estende para a direita e para a esquerda, para cima e para baixo. Verdadeiramente, tudo é Brahman e Brahman é supremo. Como dois pássaros de plumagem dourada, inseparáveis companheiros, assim o Eu individual e o Eu imortal se empoleiram nos galos da mesma árvore. O primeiro prova as frutas doces e amargas da árvore, o último, nada experimentando, observa calmamente. O Eu individual, iludido pelo esquecimento da sua identidade com o Eu divino, confundido pelo seu ego, sofre e fica triste. Porém, quando reconhece o Venerável Senhor como seu verdadeiro Eu e contempla sua glória, não sofre mais. Quando o que vê contempla o Fulgurante, o Senhor, o Ser Supremo, então, transcendendo tanto o bem como o mal, e libertando-se das impurezas, une-se a ele. O Senhor é a única vida que brilha em cada criatura. Ao vê-lo presente em tudo, o homem sábio é humilde, não se coloca a frente de nada. Seu deleite está no Eu, sua alegria está no Eu, ele serve ao Senhor em tudo. Como ele, de fato, são os verdadeiros conhecedores de Brahman. Esse Eu fulgurante deve ser percebido dentro do lótus do coração através da continência, da firmeza na verdade e na meditação e pela visão super consciente. Com suas impurezas extintas, os que vêm o percebem. Só a verdade tem sucesso, e não a falsidade. O caminho da verdade é aberto através da verdade, o caminho que é seguido pelos sábios, libertos dos desejos, e que os leva a morada eterna da verdade. Brahman supremo, ele é auto luminoso, está além de todo pensamento. Ele é mais sutil, do que o mais sutil, mais veloz do que o mais veloz, mais próximo do que o mais próximo. Ele habita o lótus do coração de todos os seres. Os olhos não o vêm, a palavra não pode pronunciá-lo, os sentidos não podem alcança-lo. Ele não é abençoado nem por austeridades nem por rituais de sacrifícios. Quando o coração se torna puro através da discriminação, então, na meditação, o Eu Impessoal é revelado. O Eu sutil dentro do corpo que vive e respira é percebido naquele estado de consciência puro onde não existe dualidade – aquele estado de consciência através do qual o coração bate e os sentidos executam suas funções. Seja do céu, ou dos prazeres celestes, seja dos desejos, ou dos objetos do desejo, qualquer pensamento que surja no coração do sábio é satisfeito. Assim, que aquele que procura seu próprio bem venere e adore o sábio. O sábio conhece Brahman, o alicerce de tudo, o puro ser fulgurante em quem está contido o Universo. Os que veneram o sábio, e o fazem sem pensar em si, cruzam a fronteira do nascimento e da morte. Aquele que, meditando a respeito de objetos dos sentidos, vem a ansiar por eles, nasce aqui e ali, vezes e vezes sem fim, levado pelo desejo. Porém aquele que percebeu o Eu, e dessa forma satisfez toda fome, alcança a liberação até mesmo nesta vida. O Eu não é conhecido através do estudo das escrituras, nem através das sutilizas do intelecto, nem através de muito aprendizado. Porém é conhecido por aquele que anseia por ele. A esse verdadeiramente, o Eu revela seu verdadeiro ser. O Eu não é conhecido pelos fracos, nem pelos descuidados, nem pelos que não meditam corretamente. Mas pelos que meditam corretamente, pelos sérios e pelos “fortes”, ele é completamente conhecido. Após conhecerem o Eu, os sábios se enchem de felicidade. Tornam-se abençoados, tranquilos na mente e livres de paixões. Percebendo em todos os lugares o Brahman que tudo permeia, profundamente absortos na contemplação do seu ser, penetram nele, o Eu de todos. Após terem verificado e percebido completamente a verdade do Vedanta, após terem-se estabelecidos na pureza de conduta por seguirem a Yoga da renúncia, esses grandes atingem a imortalidade nesta mesma vida, e, quando seus corpos os abandonam na hora da morte, atingem a liberação (nirvana). Quando a morte surpreende o corpo correm para o mar e, ao fazerem isso, perdem o nome e a forma, assim o homem sábio, liberto do nome e da forma, alcança o Ser Supremo, o Auto luminoso, o Infinito. Aquele que conhece Brahman torna-se Brahman. Ninguém que ignore Brahman nasce jamais na sua família. Ele passa além de todo sofrimento. Ele supera o mal. Liberto dos grilhões da ignorância, torna-se imortal. Que a verdade de Brahman seja ensinada somente àqueles que obedecem à sua lei, que são dedicados a ele, e que são puros de coração. Que ela jamais seja ensinada aos impuros. Salve os sábios! Salve as almas iluminadas! Essa verdade sobre Brahman foi ensinada em tempos remotos a Shounaka por Angira. Salve os sábios! Salve as almas iluminadas! OM (...). Paz – Paz – Paz. Livro Os Upanishades – Sopro Vital do Eterno. Abraço. Davi.