Budismo Nitiren Daishonin. Por Daisaku
Ikeda (1928- ). Simples atos como ouvir,
compartilhar e lembrar se tornam uma grande base de apoio para aqueles ao nosso
redor. Qual é
a chave para direcionar a adormecida energia vital em prol da felicidade e
desenvolvimento? Eu acredito que uma ação baseada na compaixão é um dos pontos
que colaboram neste processo de transformação. Enquanto os desejos
pessoais direcionam a energia do mundo exterior para nós, a compaixão expande
nossa energia para o ambiente, ao mesmo tempo que alcançamos e enriquecemos a
vida daqueles ao nosso redor. Por estranho que pareça, quanto maior for a
energia dispendida em prol de outros, maior será a sensação de bem-estar que
iremos desfrutar. A
compaixão pode ser descrita de modo simples, como a capacidade de ouvir
encarecidamente os problemas de alguém em estado de aflição. Certa ocasião, eu
ouvi o relato de uma enfermeira que cuidava de uma velha senhora com 87 anos.
Ela sempre permanecia calada em sua cadeira de rodas, com um feição entediada,
lábios cerrados e sobrancelhas franzidas. Em seu
primeiro encontro, a enfermeira gostaria de fazê-la sorrir, ser capaz de mudar
seu semblante. A partir de então, em todos os momentos que a encontrava, ela
segurava suas mãos e buscava o diálogo. Certo dia, na cafeteria do hospital, a
anciã começou a desabafar tudo o que havia sofrido em sua existência. A
enfermeira, enquanto segurava sua mão, somente a escutava e inclinava sua
cabeça como forma de aceitação. Quando a paciente terminou sua história, a enfermeira
encaminhou-a até o seu quarto. No caminho, a senhora sussurrou para sua nova
amiga, "ninguém nunca havia me ouvido desta forma". Assim, a partir
desta data, um belo sorriso se estampou em sua face. A compaixão reside
nestes simples atos: ouvir, compartilhar e lembrar. Quando a compaixão se
tornar o nosso estilo de vida, nossos sofrimentos e contratempos mudam de
significado. Seremos capazes de observá-los como algo necessário para que
possamos compreender o sofrimento alheio, enquanto buscamos a melhor solução
para amenizá-lo. Existem momentos em que uma pessoa somente pode achar conforto
na voz de alguém que tenha passado pelo mesmo tipo de sofrimento. Uma atitude com base na
compaixão não significa olhar aquele que sofre, com um ar de superioridade e
lamentar por sua agonia. Ao contrário, é uma profunda empatia baseada no
respeito mútuo como seres humanos. A compaixão pode ser comparada a um quarto
confortável e bem iluminado na qual convidamos nossos amigos. Neste local,
sentamos juntos para discutir sobre a vida como iguais, aprendendo mutuamente e
lutando juntos em prol do auto aperfeiçoamento. Da mesma forma que nunca
iremos sofrer totalmente sozinhos, pois sempre haverá alguém que irá sofrer por
nossa infelicidade; não há felicidade que existe somente por ela mesma. A
felicidade não é como um bolo que pode ser cortado cuidadosamente em fatias,
para que todos possam ter o seu fino pedaço. O aumento da felicidade de cada
indivíduo gera um crescente aumento de energia positiva que vibra em todo o
mundo. Aqueles que apreciam genuinamente a alegria manifesta de um amigo são
capazes de desfrutar uma profunda felicidade dentro de si. De fato, a nossa
felicidade vibra na mesma intensidade em que ajudamos outros a encontrá-la. Em contraste, um estilo
de vida egocêntrico e obsessivo representa uma forma de miséria interior, que
causa profundas feridas em si e aqueles ao redor. O egoísmo é a principal fonte
do sofrimento no mundo. Entretanto, a compaixão é muito além do que agir de modo
simpático. Algumas vezes, requer que apontamos as fraquezas ou distorções de
outro ser humano. Afinal, esta é a causa do sofrimento humano, as barreiras que
bloqueiam o seu próprio desenvolvimento. É um ato covarde, quando observamos
estas falhas e não as mencionamos para que a própria pessoa se torne ciente
desta situação. Isto é ser um falso amigo. Assim, a compaixão e a coragem estão
intimamente relacionadas. Eu lembro algumas palavras de um filme muito popular em minha
juventude: "É preciso ser forte para viver, mas se não existe carinho, não
há muito significado em viver". Por isto, é preciso uma extrema força para
se envolver com o sofrimento alheio, ao mesmo tempo que lutamos juntos para
ultrapassá-los. O ato
de ajudar o próximo é a chave para sobrepujar o próprio sofrimento. Eleanor
Roosevelt (1884-1962) permanece como uma das mulheres mais admiradas no século
XX. Ela desempenhou um papel fundamental no estabelecimento da Declaração Universal
dos Direitos Humanos. Seu caráter era tal que no final da sua existência ela
conseguiu obter o respeito por parte de seus mais ferrenhos críticos. Mesmo
assim, esta mulher, que foi capaz de ajudar tantas pessoas, começou sua
existência como uma garota tímida e desajeitada que poderia ser tudo, menos
feliz. Em seus
primeiros anos de vida, não tinha nenhum amigo, pois foi criada por seus tios.
Assim, ela compreendeu desde cedo que a única maneira de vencer o seu
sofrimento seria dando maior atenção ao sofrimento das pessoas ao seu redor.
Desta forma, ela concentrou-se em prol da solução real dos problemas, ao invés
de meramente se preocupar com a opinião alheia. Gradualmente, o seu
carinho e dedicação ao povo - como a primeira-dama dos Estados Unidos -
conquistou a admiração e os corações de milhões de pessoas. A compaixão desperta a
sabedoria. Os pais estão constantemente pensando em como ajudar seus filhos a
obterem uma vida melhor e bem sucedida. A compaixão pode ser estendida muito
além do círculo familiar ou de amizades, podendo mesmo abranger aquelas pessoas
que não apreciamos sua companhia, a partir do momento em que compreendemos o
quão intimamente a vida nos correlaciona. Eu gostaria de
compartilhar uma bela imagem provinda de uma antiga parábola indiana que
ilustra a interconexão de todos os seres vivos. O ato de decorar o teto de um
palácio mítico é como uma enorme rede. A cada intersecção desta rede desponta
uma brilhante joia que reflete a imagem de todas as outras joias penduradas.
Assim, cada uma delas contém dentro de si, todas as outras gemas. Cada ser
humano é necessário para o incessante brilho de todo o conjunto. Sem a
existência de outras, uma única e isolada joia não pode manifestar todo o seu
brilho. De
forma semelhante, somente através do ato de cuidarmos de outros que seremos
capazes de expandir nossa própria vida, expandindo seu brilho e vitalidade. http://www.maisbelashistoriasbudistas.com.br. Abraço. Davi.
Fonte: Mirror Weekly, 6 de julho de 1998
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