Judaísmo.
Referências bibliográficas do texto: Rabinos Aryeh Kaplan, Adin Steinsaltz e
Simon Jacobson. O tópico das Sefirot é
um dos pilares do estudo da Cabala. As Sefirot são a forma básica do poder
criativo de D’us. Constituem a estrutura e configuração internas do Universo e
servem de ponte entre o Criador e toda a sua Criação. Existem basicamente
dez Sefirot, que são os dez componentes da realidade das forças
Divinas que criam e sustentam o Universo. A alma humana também possui esses dez
atributos Divinos e esta é uma das explicações para o fato de o homem ter sido
criado à imagem de D’us. O Sefer Yetzirá, o Livro da Formação,
considerado a obra mais antiga sobre a Cabalá, divide as Dez Sefirot em
três matrizes e sete múltiplos. As três matrizes são as três Sefirot básicas,
que são os fundamentos da realidade: são os três componentes da mente que nos
permitem perceber as coisas. São conhecidas como as três Sefirot Intelectuais,
mas na realidade, são mais do que ferramentas usadas pelo ser humano para a
concepção e compreensão intelectual: elas representam a capacidade da alma de
perceber, assimilar e relacionar-se com todas as coisas e situações. Essas
três Sefirot básicas são Chochmá, Sabedoria; Biná,
Compreensão; e Daat, Conhecimento. Os sete múltiplos são conhecidos
como as Sefirot emocionais. São também chamados de os "sete dias de
construção" por serem os blocos de construção da criação, incorporados
pelos sete dias nos quais D’us criou o mundo. De fato, a razão para que a
semana seja formada por sete dias é que cada um destes incorpora uma das
sete Sefirot emocionais. Similarmente às três Sefirot intelectuais,
as sete emocionais também são atributos da alma humana. Elas são as sete forças
básicas que motivam o comportamento humano e provocam, dentro de nós, uma
resposta emocional. São, também, um reflexo das qualidades que D’us usa para
fazer funcionar seu Universo. É importante observar aqui, e isto é discutido no
artigo desta edição, A Cabalá de Sucot, que essas sete qualidades
por si sós não são positivas nem negativas: cada uma delas, dependendo de como
é utilizada, pode se prestar a expressões de bondade e santidade, ou de
profanação e maldade. Os cabalistas descrevem as Sefirot como
correspondentes a vários membros e funções do organismo humano. O corpo humano,
padronizado a partir do conjunto das Sefirot, serve como um
paradigma de forças variadas e mesmo opostas que funcionam em equilíbrio e
harmonia sincronizados. De fato, no corpo humano, todos os sentidos e sistemas
biológicos são diferenciados, mas ainda assim, interdependentes. De modo
similar, cada Sefirá é um poder ou modo específico pelo qual D’us
governa e sustenta Seu universo. Cada Sefirá funciona em
perfeita harmonia com as outras Sefirot e contém dentro de si
aspectos de todas as demais. A obra fundamental sobre a Cabalá, Tikunei
Zohar, abre com uma introdução e descrição das sete Sefirot emocionais,
que são também chamadas de Midot, Atributos: Chessed,
Amor é o braço direito; Guevurá, Contenção é o braço esquerdo; Tiferet,
Harmonia é o tórax; Netzach, Domínio é a perna direita; Hod,
Submissão é a perna esquerda; Yessod, Fundamento é o sinal do pacto
sagrado (o órgão sexual); e Malchut, Realeza é a boca. Neste ensaio,
introduziremos, com breve explicação, cada uma das sete Sefirot emocionais.
Chessed, Guevurá e Tiferet. A
primeira das sete Sefirot emocionais é Chessed,
que é comumente traduzida por Amor ou Bondade. Esta tem a conotação de
altruísmo, a doação incondicional, que nada espera em troca. Esta Sefirá engloba
as emoções do amor, atração, generosidade e expansividade, bem como suas várias
derivações e ramificações. É Chessed o que nos impele a nos
aproximarmos do outro, a dar de nós mesmos e de nossas posses. Sendo a primeira
dos sete múltiplos, esta Sefirá faz um paralelo com o primeiro
dia da Criação, o domingo. Como está descrito na Torá, a principal criação no
primeiro dia foi a luz. Uma das propriedades da luz é o fato de brilhar
indiscriminadamente e de ser expansiva, em geral sem limites bem definidos. A
segunda Sefirá da emoção é Guevurá, traduzida como
Contenção ou Poder. Guevurá é essencialmente o oposto de Chessed:
traz em si a restrição, o distanciamento. A Guevurá também se
manifesta através do uso da disciplina, justiça, força e reverência. O conceito
desta Sefirá é intimamente ligado a barreiras e fronteiras e é
também interpretado como Poder, porque se manifesta sempre que há concentração
de força. Um feixe de raios laser, por exemplo, é muito potente porque
concentra luz. O segundo dia da Criação, segunda-feira, quando foi criado o
Firmamento, incorpora a Guevurá. Um firmamento, que é uma barreira,
um limite, é o símbolo desta Sefirá. A Cabalá ensina que Chessed e Guevurá são
as duas emoções humanas básicas. A primeira delas nos aproxima das pessoas, das
coisas, das situações, ao passo que a segunda faz o oposto. Uma pessoa que é
basicamente caracterizada pela Sefirá de Chessed é
propensa a ser mais carinhosa e generosa. É alguém que se doa; dá de seu tempo,
de seu dinheiro, de seu patrimônio. É alguém que busca os demais e com eles se
preocupa. Por outro lado, aquele que se caracteriza pela Sefirá de Guevurá
tende a ser esquivo e muito contido. É alguém que não ama facilmente nem
busca ser amado. Não compartilha com facilidade e lhe é difícil ser generoso,
mesmo consigo próprio. Ademais, é uma pessoa que crê piamente na lei, na ordem
e na justiça. Não é muito tolerante nem consegue perdoar erros e pecados
alheios. Aquele cuja alma está ligada primordialmente à Sefirá de Guevurá tende
a ser disciplinado: é alguém geralmente centrado e organizado e esta disciplina
extraordinária geralmente resulta em torná-lo eficiente e poderoso, ajudando-o
a dominar qualquer assunto ou empreitada a que se dedique. Claramente,
dependendo de como é empregada, a Sefirá de Guevurá pode
ser um ponto extremamente positivo ou extremamente negativo. O mesmo se pode
dizer de cada uma das outras Sefirot emocionais, inclusive de Chessed.
A primeira Sefirá emocional não é necessariamente boa, assim
como a segunda não é necessariamente má. É verdade que o amor é o maior e mais
nobre dos sentimentos, e que deve ser a força que guia nossa vida. Sua
importância é destacada pelo fato de ser a primeira das Sefirot emocionais.
De fato, o principal mandamento no judaísmo é a prática de atos de
generosidade, caridade e bondade, todos estes, manifestações de Chessed.
Somos, também, ordenados a amar a D’us e a servi-Lo e cumprir Seus mandamentos
com júbilo. No entanto, para viver uma vida equilibrada e produtiva, é preciso
também utilizar-se a Sefirá de Guevurá. Aquele que é
quase que praticamente guiado pela Sefirá de Chessed irá
viver uma vida indisciplinada, desorientada, irresponsável e, talvez, não
produtiva. Tentará fazer mais do que consegue e, mais tarde ou mais cedo,
estará esgotado física e mentalmente. Poderá distribuir mais dinheiro do que
suas reservas permitem e, em troca, ter que depender da generosidade alheia.
Pode preocupar-se muito com que os outros pensam, e, ao tentar agradar a todos,
acabará não agradando ninguém. E pode tentar envolver-se com atividades em
excesso e ver-se "em toda parte", desconcentrado, exausto, sem jamais
conseguir fazer algo bem feito e até o fim. Ademais, como se sente atraído por
todos e por tudo, ele pode deparar-se em meio a situações perigosas e se
envolver em relacionamentos e com pessoas destrutivas. Neste mundo, é preciso
viver-se com limites, com Guevurá. Quem desrespeita as restrições e os
limites o faz por sua própria conta e risco. No entanto, viver uma vida
praticamente governada pela Sefirá de Guevurá tampouco
é aconselhável. Aqueles que não dão muito não se devem surpreender de não
receberem muito, nem dos homens nem de D’us. Aquele que não ama não deve contar
com o amor de ninguém. E aqueles que creem que a lei deve ser aplicada sempre
ao pé da letra devem ter em mente que o Altíssimo julga o homem "medida
por medida": a dizer, quem julga os demais com severidade e rigor será
julgado desta forma pelo Juiz do Universo. O modus vivendi ideal
é o do equilíbrio entre as Sefirot de Chessed e
Guevurá. A mistura dessas duas constitui a terceira Sefirá emocional,
Tiferet. Esta Sefirá é definida como Beleza, Compaixão
e Harmonia. Se Chessed é branca e Guevurá é
vermelha, então Tiferet é rosa. A terceira Sefirá da
emoção representa a capacidade de harmonizar e mesclar Chessed com Guevurá.
Uma pessoa que age com Tiferet tende a levar uma vida
equilibrada e harmoniosa. Não doa com exagero nem com mesquinhez. Não é muito
expansivo nem muito retraído. O terceiro dia da Criação, terça-feira, é
associado a Tiferet. Ainda que a Luz tenha sido criada no primeiro
dia e o Firmamento no segundo, no terceiro dia, D’us separou os mares da terra
seca. No terceiro dia da Criação, terça-feira, o dia mais auspicioso da semana
judaica. um equilíbrio harmonioso foi estabelecido entre os mares e a terra,
ambos necessários para a manutenção da vida. Ademais, a vegetação também foi
criada nesse terceiro dia. Uma planta que brota, nítida manifestação de Chessed,
tem também sua parte embutida na terra, servindo de barreira entre o novo ser e
o mundo exterior, um elemento de Guevurá. A planta, portanto,
combina Chessed com Guevurá, resultando em Tiferet.
A esta altura desta nossa análise, é importante enfatizar que a Sefirá deTiferet não
é uma substituta para Chessed e Guevurá. Se tal
fosse o caso, D’us teria criado apenas a Sefirá de Tiferet,
e não as outras duas. O emprego de Tiferet pode parecer uma
escolha segura, mas nem sempre é a ideal. Na vida, com frequência temos que
agir com Chessed, doando incondicionalmente, enquanto em outros
momentos, temos que agir com Guevurá, com total auto contenção. Mas a
vida de uma pessoa, em sua plenitude, deve ser caracterizada pela Sefirá de Tiferet,
pois deve ser harmoniosa. O grande desafio da vida é que esta requer uma
sabedoria extraordinária e um agudo senso de percepção para se saber quando
agir com Chessed, com Guevurá ou com Tiferet.
Nossos erros na vida ocorrem, em geral, quando empregamos uma Sefirá ao
invés de outra. Netzach, Hod e Yessod. A
quarta Sefirá da emoção, Netzach, é definida de
várias maneiras: como Dominância, Vitória, Eternidade e Ambição. A
palavra Netzach advém deMenatzeach, conquistar e
superar, ou vencer. Na Árvore das Sefirot,Netzach, assim
como Chessed, fica do lado direito; como ensina o Tikunei
Zohar, este Atributo corresponde à perna direita do corpo humano. Assim
sendo, Netzach deriva do Amor: quanto mais um ser se doa a
outro, Chessed, mais essa pessoa influencia e talvez subjugue o outro. Netzach é
simbolizado por uma perna humana por ser a Sefirá emocional
que nos leva a lugares. É o que inspira o ser humano a ter ambições e o que o
compele a ir atrás de seus objetivos e sonhos: a vencer os desafios, a
conquistar seus oponentes. Netzach significa estabelecer sua
vontade e, não raro, tentar dominar os outros para que seu objetivo seja
atingido. O treinador de um time esportivo geralmente emprega Netzach:
sua ambição e objetivo são ser vitorioso e vencer a equipe oponente; e, para
tanto, ele precisa impor sua vontade sobre seus jogadores para que estes ajam
de acordo a seus planos e estratégia. A Sefirá de Netzach corresponde
ao quarto dia da Criação, a quarta-feira, quando as estrelas e os corpos
astronômicos foram criados. D’us os criou e os dispôs onde estão sem qualquer
reciprocidade de parte dos mesmos. D’us impôs Sua Vontade sobre eles para que O
servissem e a Seus propósitos. E assim foi. A quinta Sefirá da
emoção é Hod. Assim como Guevurá é o oposto de Chessed, Hod é
o oposto de Netzach. Se o conceito de Netzach é
afirmar a vontade ou identidade de alguém, Hod se manifesta
quando alguém se anula perante outrem. Com efeito, a palavra hebraica Hod tem
a conotação de Hoda’a, submissão; ou também a capacidade de
agradecer mesmo em caso de infortúnio, ou seja, admitindo e aquiescendo em face
de um obstáculo. Um soldado que segue ordens de um superior, sem questionar, se
vale da Sefirá de Hod, da mesma forma que um jogador
que confia em seu treinador age exatamente conforme sua orientação. Na Árvore
das Sefirot,Hod fica ao lado esquerdo, assim como Guevurá. Hod deriva,
portanto, de Contenção: quanto mais alguém se contém Guevurá, mais ele
abre espaço para as necessidades do outro e, assim, mais ele permite que o
outro afirme sua própria individualidade Hod. Para oferecer uma analogia
que explique a diferença entre Netzach e Hod, se a
vida fosse um jogo de xadrez, sempre que D’us, Mestre Enxadrista supremo,
impusesse a ordem, não apenas movendo suas peças do tabuleiro, mas nos forçando
a mover nossas peças segundo Sua Vontade. Ele estaria praticando Netzach.
No entanto, sempre que Ele espera que nós movamos as peças segundo nossa própria
vontade, é Hod que se manifesta. Esta Sefirá é
representada pelo quinto dia da Criação, quinta-feira, quando foram criadas as
primeiras criaturas vivas, os peixes. Estes foram os primeiros seres que se
puderam mover livremente. Assim como a pessoa necessita empregar tanto Chessed quanto Guevurá,
de igual maneira terá que agir com Netzach e Hod.
Para andar de forma adequada e, em especial, para correr, são necessárias as
duas pernas, que simbolizam a quarta e a quinta Sefirot emocionais.
Para funcionar adequadamente no mundo, para se chegar ao destino, é preciso
ser, ao mesmo tempo, assertivo e submisso; às vezes, é preciso liderar; em
outras, ser liderado. É preciso saber quando insistir em nós mesmos e em nossas
ideias, mas também ter a humildade de aceitar a colaboração do outro,
especialmente quando esse outro é mais qualificado ou capacitado do que nós.
Para viver efetiva e produtivamente, é preciso fazer uso de Netzach,
formulando objetivos e metas e se esforçando para vencer limitações e obstáculos,
mas é preciso, também, utilizar Hod no conselho pedido a um
terceiro e na consideração com os que nos cercam. Às vezes, é preciso utilizar
apenas Netzach, fazendo valer sua própria identidade e vontade;
outras vezes, é preciso agir com Hod, concordando com os demais. Na
maioria das situações, o ideal é um equilíbrio harmonioso entre essas
duas Sefirot. Tal harmonia ocorre quando a sexta Sefirá emocional, Yessod,
se manifesta. Assim como Tiferet é a combinação de Chessed e Guevurá, Yessod é
a mistura de Netzach e Hod. Yessod denota
um equilíbrio entre a agressividade de Netzach e a
aquiescência passiva de Hod. Yessod, traduzida como Fundamento, é
basicamente um relacionamento recíproco. A sexta Sefirá emocional
é a média perfeita entre Netzach e Hod. Não se
trata apenas de uma amálgama física, mas de uma mescla da psique, da emoção e
do espírito. Em outras palavras, a medida perfeita para se manter a identidade
própria sem abrir mão da mesma. O paradigma deYessod é o íntimo
relacionamento entre um homem e uma mulher. O relacionamento ideal, segundo o
judaísmo, é o casamento onde há uma parceria, onde um cônjuge completa o outro,
e não quando um sempre domina e o outro sempre se submete. A parte do corpo
humano que corresponde a Yessod é o órgão sexual, que, se
usado propriamente, pode unir duas pessoas na mais íntima de todas as
uniões. Yessod representa o vínculo mais potente que pode
existir entre dois indivíduos, um vínculo tão forte que dá a dois seres humanos
a oportunidade de se tornarem, à semelhança de D’us, criadores da vida. A Sefirá de Yessod é
também a ligação suprema do ser humano com o Divino. O sexto dia da Criação,
sexta-feira, é associado com Yessod, pois foi o dia em que o homem
foi criado. O homem é o fundamento e propósito da Criação. Em nossa vida, D’us
está constantemente nos dando algo Netzach, pois Ele está constantemente
recriando e sustentando toda a existência. Mas, ao mesmo tempo, fazendo uso do
livre arbítrio que Ele nos deu, nós podemos dar-Lhe algo em troca Hod:
podemos trabalhar para aperfeiçoar o seu mundo e viver de acordo com Sua
Vontade, cumprindo, assim Seu objetivo ao criar o Universo. Desta forma, por
assim dizer, nós Lhe damos prazer. Yessod, portanto, é um
relacionamento de reciprocidade. A relação ideal de Yessod é
aquela de um Tzadik com D’us. O Tzadik, o homem
justo, é aquele que está constantemente ligado a D’us: ele dedica sua vida a
cumprir a Vontade Divina e D’us atende praticamente todos os seus pedidos.
Segundo um antigo Midrash, os primeiros seis dias da Criação podem
ser vistos como dois blocos de três dias, sendo que o segundo deles aperfeiçoa
e completa o primeiro. Esse Midrash afirma que no primeiro dia
Chessed, D’us criou a luz. No quarto dia Netzach, três dias mais
tarde, Ele criou as luminárias. No segundo dia, Guevurá, D’us criou
os oceanos ao dividir as águas. No quinto dia, Hod, Ele criou os
peixes, que são a perfeição da água. No terceiro dia, Tiferet, D’us
criou a terra seca. No sexto dia, Yessod, Ele criou o homem, senhor
da terra seca. Malchut. As seis primeiras Sefirot emocionais,
de Chessed aYessod, constituem uma estrutura única,
unificada, que é chamada, na Cabalá, de Ze’ir Anpin, Rosto Pequeno.
A sétima e última Sefirá emocional é Malchut,
traduzida como Realeza. Enquanto as seis primeiras Sefirot emocionais
são masculinas, Malchut é uma Sefirá feminina.
As seis primeiras, Ze’ir Anpin, são vistas como os poderes básicos
de dar e criar, ao passo que a feminina, Malchut, representa o
poder de receber. Em linguagem cabalística, Malchut é também
chamada de Nukvá de Ze’ir Anpin, o feminino de Ze’ir
Anpin. Nukvá é o termo em aramaico para a palavra hebraica para
feminino, Nekevá, e se refere à noiva de Ze’ir Anpin. A
Criação do universo ocorreu através da Sefirá de Malchut. Esta
última de todas as Sefirot, intelectuais e emocionais, é comparada
ao útero feminino: representa o poder de receber Ze’ir Anpin,
abrigá-lo e, em algum momento futuro, devolver algo mais completo e perfeito. O
dia da semana que corresponde a Malchut é o sétimo, o dia
sagrado: Shabat. Malchut relaciona-se ao sétimo
dia da Criação, que é o dia que nos dá o poder de recebermos a energia de todas
as Sefirot e integrá-las em nossa vida. As primeiras seis Sefirot emocionais,
além de se relacionarem aos seis dias da Criação, representam as seis direções
básicas do universo físico tridimensional: Norte-Sul, Leste-Oeste, para cima
para abaixo. Representam, também, os modos fundamentais de se alcançar as seis
direções da Criação. Malchut, por outro lado, é o eixo ou ponto
focal que reside no centro das seis direções, e de onde, ao invés de olhar para
fora, a pessoa olha para dentro de si, absorvendo iluminação espiritual sobre
si própria. Malchut é a ideia de receber: é a ideia de ser um Keli,
um receptáculo. Esta Sefirá é o poder que D’us nos dá para que
possamos ter condições de receber d’Ele. E, mais importante, é em Malchut que
se realiza o propósito de doar: o relacionamento em que o receptor pode
retribuir, tornando-se, assim, doador. Por esta razão, Malchut é
vista como uma Sefirá feminina. Por outro lado, Malchut é
o receptáculo mais sublime, que foi criado para conter a Luz Divina. Representa
a epítome do ato de receber, sendo, portanto, caracterizada como a Sefirá que
não possui nada de seu. Malchut literalmente precisa receber tudo o
que possui das Sefirot que a precedem. Mas, por outro lado,
representa o poder que, em última instância, unifica todos os diferentes
poderes das Sefirot, mantendo-os todos unidos. Sem Malchut,
a Criação estaria incompleta. O Sefer Yetzirá ensina que os seis
dias da semana, que são masculinos, são as seis direções que apontam para o
exterior. O Shabat, por sua vez, que é feminino, é o pólo que atrai
todos os seis pontos, unindo-os. Durante toda a semana, em nosso empenho para
adquirir a espiritualidade, permanecemos no nível "masculino".
No Shabat, chegamos ao nível feminino porque conseguimos absorver
os frutos de todo o empenho da semana que transcorreu. Sem o Shabat,
não teríamos condições de receber a espiritualidade: isto pode ser comparado a
uma situação em que nos empenhamos por algo, sem nunca atingi-lo. Daí a
importância suprema do Shabat para o judaísmo. Ensinam-nos, pois,
que este dia é a fonte de todas as bênçãos: é o dia que recebe o trabalho
espiritual realizado durante os dias da semana, gerando, assim, ainda mais
bênçãos para a semana vindoura. O Shabat pode ser comparado ao
solo onde se planta uma semente. Sem o solo, a semente não poderá virar uma
planta. A dinâmica entre as seis primeiras Sefirot emocionais,
Ze’ir Anpin e Malchut, Nukvá pode ser comparada ao
relacionamento biológico entre um homem e uma mulher que geram a vida: o homem
é o doador, mas é a mulher quem recebe e acalenta, e, ao gerar um ser humano,
acaba doando muito mais do que o início plantado pelo homem. Malchut é,
pois, não apenas um vaso contentor, que apenas recebe: para ser perfeita,
precisa também dar daquilo que recebe. O receptor precisa se transformar em
doador. Em termos monárquicos, por exemplo, Malchut poderia
representar a aceitação pelo povo da soberania do rei, bem como do fato de ele
ser o seu provedor. Eles seriam dependentes de seu rei, mas se este quisesse
que seus súditos interagissem com ele, teria que dar-lhes alguma forma de
liberdade e autonomia. Tornar-se-iam, assim, seus parceiros na condução do
reino. Nosso Rei verdadeiro e eterno é D’us. Como Ele é a Origem de tudo,
estamos constantemente recebendo tudo d’Ele. Mas somos, também, obrigados a
fazer nossa parte na obra de aperfeiçoar o Seu mundo. Se tomarmos o que D’us
nos dá, recursos, talentos e oportunidades que nos são ofertados, e os
utilizarmos para nos aperfeiçoarmos, bem como ao mundo, estaremos fazendo bom
uso de Malchut. Malchut é associada à boca, pois, para
verdadeiramente liderar, é preciso comunicar-se bem para servir de inspiração a
seus adeptos. A Realeza está intimamente ligada às palavras, como se comprova
no fato de que D’us, Rei do Universo, criou e continua a recriar o Universo
através da Fala Divina. Ademais, o homem é rei na Terra porque ele, mais do que
qualquer outra criatura, pode, de fato, comunicar-se de forma efetiva e
sofisticada. Concluímos aqui este estudo introdutório ao assunto das sete Sefirot
emocionais. Alguns trechos desta discussão podem parecer técnicos ou
esotéricos, mas, na realidade, além de ser um pilar para o estudo da Cabalá, o
estudo das Sefirot é um manual para uma maior auto
conscientização e aperfeiçoamento de nosso caráter e comportamento. No artigo A
Cabalá de Sucot, analisamos algumas das aplicações práticas e cotidianas das
sete Sefirot emocionais. Há uma décima primeira
Sefirá, ou seja, Keter. Mas, quando é contada como Sefirá, ela substitui a
terceira Sefirá intelectual, Daat. Keter e Daat são mutuamente excludentes. As
Sefirot são, portanto, consideradas como sendo dez, e não 11. É compreensível a
razão pela qual um mês se constitui de aproximadamente 30 dias: ele segue o
ciclo lunar. É claro, também, por que o ano se baseia no ciclo solar: mesmo o
calendário judaico, que é baseado nos ciclos lunares, leva em consideração o
ciclo solar. Mas, por que a semana é composta de sete dias? Por que um mês não
tem apenas três semanas de dez dias? A Torá estabeleceu a semana com sete dias
porque cada dia da Criação incorpora uma das sete Sefirot emocionais. http://www.morash.com.br. Abraço. Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário