Hinduísmo. Texto
clássico fundamental do Sistema Filosófico do Yoga. Versão Integral em
português. Traduzidos do sânscrito e comentados por Carlos Eduardo G. Barbosa
(1957- ). Sendo ele instrutor no Curso
de Formação de Professores de Yoga do Instituto Narayana. Prefácio. Alguma
coisa pode ser considerada como uma preciosidade em função das circunstâncias
ou do momento no qual ela (a obra) está inserida. Para um ourives, uma pedra preciosa,
bem formada, sem impurezas e de lapidação perfeita é de uma preciosidade
inigualável para seus fins e propósitos. Entretanto, para um enfermo num leito
de hospital, um litro de sangue tem um valor e importância inestimáveis. E o
que dizer da água para um caminhante sedento no deserto? Por outro lado, qual
seria o valor de um litro de sangue para um ourives, de um copo de água para um
enfermo e de uma joia para um sedento caminhante no deserto? Os Sutras de
Patanjali são mais do que uma preciosidade. Eles são um legado à humanidade que
se perpetua no tempo, pois contém uma sabedoria única e imprescindível à
verdadeira transformação e realização do ser humano, com relação a sua natureza
superior. Sem este saber a existência humana se reduz à sobrevivência mundana.
O que torna o presente livro uma preciosidade, além do seu conteúdo, é a tradução
e a objetividade dos comentários do amigo Carlos Eduardo Gonzales Barbosa.
Conhecedor de fato do Sanscrito, a língua original hindu na qual foram escritos
os Sutras de Patanjali, e professor de Cultura da Índia para instrutores de
Yoga há vários anos, ele apresenta a sabedoria dos Sutras tal como ela foi
escrita, sem incorrer no erro de tantas outras versões que fizeram traduções em
cima de traduções. Também não se alonga desnecessariamente em comentários que,
via de regra, afastam o leitor da sequência de ideias concatenadas que os
Sutras apresentam e do verdadeiro espírito da obra original. Esta clareza na
tradução e objetividade de comentários favorece um rápido envolvimento com o
conteúdo do texto, além de simplificar o entendimento dos ensinamentos contidos
na obra. Com isso o leitor sente-se familiarizado com a cultura do Yoga e,
portanto, encorajado à sua prática, contrariando deste modo certas ideias
correntes de que os ensinamentos do Yoga são de difícil compreensão e de
impossível realização. Assim, ao chegar em nossas mãos esta versão
diferenciada, é pertinente nos questionarmos sobre certos cuidados no nosso
relacionamento com o seu conteúdo. Muitas vezes, ao entrarmos em contato com
uma cultura diferente da nossa, caímos no erro de reduzirmos a outra cultura
aos nossos próprios padrões de interpretação. Isso pode ter consequências
desastrosas, tratando-se dos Sutras de Patanjali, não só por causa das
sutilezas do assunto, mas também, porque eles foram escritos por um Iluminado,
por um ser que apresentou as verdades a partir de um nível não ordinário de entendimento. Esta
situação pode ser elucidada com a história do Rei Midas, que transformava em
ouro tudo o que tocava, inclusive a comida necessária a sua sobrevivência. Ele
estava tão obcecado com seu propósito de transformar tudo em ouro, isto é,
transformar tudo aos seus próprios valores e interesses, que perdia de vista o
valor intrínseco de cada coisa. A cultura ocidental e a oriental são
complementares, desde que se tenha uma clara visão de ambas. Consequentemente,
ao querer interpretar os Sutras de Patanjali sem estar atento aos nuances da
cultura oriental, pode-se cair no erro do Rei Midas, ou seja, o de perder o
valor intrínseco de cada aforismo. “O mito do rei Midas é bastante conhecido tanto
entre gregos quanto por romanos. Como todo mito da Antiguidade Clássica, o
objetivo com a difusão das peripécias de Midas era lançar luz sobre a ganância
humanas. Midas era rei da Frígia e filho do camponês Górdio. A sua realeza foi
herdada do pai, após este ter sido escolhido pelo povo do local, que entendia a
chegada de Górdio como o cumprimento de uma profecia de um oráculo. A profecia
dizia que o rei da Frígia chegaria em uma carroça e, enquanto a população
estava discutindo sobre este destino, chegou Górdio com a mulher e o filho em
uma carroça. Após sua morte, Midas tornou-se o rei. Certo dia, Midas recebeu a
visita de alguns camponeses que levaram a ele um velho, bêbado e perdido, que
haviam encontrado em um dos caminhos do reino. Midas reconheceu o velho: era
Sileno, mestre e pai de criação de Baco. Midas cuidou de Sileno e o levou a
Baco. O deus da vinha e do vinho, muito benevolente, concedeu um pedido a
Midas. Este, sem refletir muito, pediu o
dom de transformar em ouro tudo o que por ele fosse tocado. Mesmo percebendo a
ânsia gananciosa de Midas, Baco realizou o pedido. O rei Midas voltou para casa
feliz e também surpreso com a capacidade por ele adquirida. Transformou várias
coisas em ouro pelo caminho: pedras, folhagens, frutos (...). Ao chegar a sua
casa, ordenou aos criados que servissem a ele um banquete. Ao tocar no pão,
este foi transformado em ouro. Ao pegar a taça de vinho e tocar com seus lábios
na bebida, esta se transformou em ouro líquido. Midas ficou desesperado ao
perceber que jamais poderia se alimentar novamente. Sua filha, Phoebe, vendo
seu desespero tentou socorrê-lo e, ao tocá-lo, transformou-se em uma estátua de
ouro. Mais desesperado ainda Midas orou, intercedeu a Baco, pedindo que este o
livrasse daquilo que , na verdade, era uma maldição. Baco consentiu e disse a
Midas que deveria se banhar na fonte do rio Pactolo para que pudesse se lavar
do castigo. Ao se lavar, Midas passou às águas do rio o poder de tudo
transformar em ouro, sendo que a areia do Pactolo se tornou dourada.
Arrependido de sua ganância, Midas voltou aos campos, passando a morar longe
das cidades”. http://www.historiadomundo.com.br.
Este cuidado é indispensável ao interagirmos com este conhecimento. Desta
forma, a leitura deste livro proporcionará as bases para uma transformação de
vida e não meramente um conhecimento intelectual do assunto. Para aqueles que
querem ir além do rotineiro cotidiano, a leitura e estudo dos Sutras de
Patanjali levam ao entendimento claro e objetivo sobre a natureza metafísica do
ser humano, sobre o sentido da experiência terrena e sobre os caminhos para a
libertação, enquanto indivíduos encarnados. Dezembro de 1998. Fernando José
Gramaccini. Membro da Sociedade Teosófica. Abraço. Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário