quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Existe A Verdade. Parte V.

Filosofia. Escrito por Ubaldo Nicola. Os Sofistas; Protágoras (490 AC 420) e Górgias (485 AC 380). Em meados do século V, em Atenas, um grupo de intelectuais escandalizou os filósofos da época ao fazer do saber uma profissão, oferecendo aulas de retórica e de eloquência aos jovens da classe dirigente que pretendiam dedicar-se a carreira política. Esse grupo era chamado de Sofista, do grego sophistés, que significa sábio. como os atenienses de boa condição social achavam indecoroso pagar para serem servidos, os Sofistas foram tratados com desprezo pela elite intelectual. De fato, eram todos Metecos, ou seja, estrangeiros, excluídos, portanto, da vida política e dos direitos derivados da posse da cidadania. Obrigados pela sua profissão a deslocar-se continuamente de cidade em cidade, contribuíram enormemente para que a cultura grega não se mantivesse nos limites das províncias e afirmaram, pela primeira vez, o princípio do cosmopolitismo. a importância do Movimento Sofista na história do pensamento não pode ser subestimada. Seus fundadores foram os primeiros a colocar os problemas do homem no centro da reflexão filosófica, antecipando assim a iminente revolução Socrática; também forjaram o fundamental conceito de cultura, ou seja, da formação integral do indivíduo no quadro da sociedade à qual pertencia, e passaram a utilizar a razão com tal desembaraço que mereceram, na posteridade, o epíteto de Iluministas Gregos. Protágoras (490 AC 420), o mais conhecido dos Sofistas, nasceu em Abdera, cidade grega na Trácia. O apreço que mereceu dos contemporâneos é testemunhado pela amizade pessoal de Péricles e pela incumbência de escrever as leis para a colônia de Turim, fundada em 480. Esse prestígio social, todavia, não o poupou de grandes problemas com a justiça ateniense; após ter escrito que não se pode afirmar que os deuses existem, nem que não existem, foi acusado de sacrilégio, condenado e banido de Atenas, e as suas obras foram queimadas na praça da cidade. Morreu em um naufrágio, durante a fuga para a Sicília (Itália). Gorgias (485 AC 380) nasceu em Leontinos, na Sicília, vivendo mais de noventa anos com perfeita saúde. Sua vida foi marcada por sucessos e reveses; viajou por toda a Grécia, exercendo com grande sucesso a arte da retórica; acumulou uma vasta fortuna, e conduziu a formação de numerosos seguidores. Era acompanhado da merecida fama de dialético, capaz de cogitar raciocínios irrefutáveis para sustentar opiniões muito distantes do bom senso e dos valores comuns, por exemplo, a de que nada existe, a sua tese mais célebre, ou, então, que Helena, a adúltera responsável pela guerra de Troia, não era culpada. O homem é a medida de todas as coisas. Existe uma verdade não opinável? No que consiste o conhecimento humano? A experiência pessoal é o único critério real da verdade. Não existem leis eternas e verdades objetivas, somente opiniões. Mas a relatividade de todo o juízo não deve levar ao derrotismo; o livre choque de opiniões (dialética) seleciona sempre a melhor solução, a mais útil. Por isso, mesmo não existindo qualquer verdade, a tarefa educativa do filósofo permanece essencial, é significativo que Platão (428-347) respeitasse Protágoras a ponto de dedicar-lhe um dos seus diálogos. Como todos os Sofistas, Protágoras sustentava a inexistência de uma verdade objetiva válida, mas afirmava também a necessidade do estudo e da educação, na medida em que, se não existem preposições verdadeiras em absoluto, deve-se saber diferenciar entre as opiniões melhores e piores, mais ou menos úteis aos indivíduos e as sociedades. A tarefa do Sofista abrange, portanto, também um aspecto construtivo e socialmente fecundo ao encaminhar os cidadãos par os valores e as opções mais adequadas a um determinada situação. O testemunho, extraído do diálogo Teeteto, de Platão, é uma apologia, ou seja, tenta exprimir os discursos que Protágoras, se ainda estivesse vivo, faria as objeções de Sócrates (469 AC 399). Não existe um critério de juízo objetivo; toda verdade é verdade para um sujeito. Sócrates. Protágoras afirma que a medida de todas as coisas é o homem; daquelas coisas  que são, pelo que são, daquelas que não são, pelo que não são, entendendo por medida  a norma de juízo e por coisas os fatos em geral. Logo, o homem é a norma que julga todos os fatos; daqueles que são pelos que são, daqueles que não são pelo que não são. Por isso, ele admite somente aquilo que parece a cada indivíduo, introduzindo, dessa forma, o princípio de relatividade. Segundo ele, portanto, quem julga as coisas é o homem. De fato, tudo o que parece aos homens também é, e o que não parece a nenhum homem tampouco é. Todas as sensações são subjetivas. Cada indivíduo percebe o mundo a sua maneira. Protágoras. Eu afirmo, sim, que a verdade é mesmo como escrevi; que cada um de nós é a medida das coisas que são e que não são; mas existe uma diferença infinita entre os homem e homem, e exatamente por isso as coisas parecem e são de um jeito para uma pessoa e, de outro jeito, para outra pessoa. Ensinar, portanto, significa não buscar uma impossível verdade, mas predispor o interlocutor a melhorar os seus conceitos. Estou longe de negar que existam a Sabedoria e o homem sábio, ou, antes, que chamo sábio aquele que, transmudando aquilo que em certas coisas parece e é ruim, consegue fazer com que essas mesmas coisas pareçam e sejam boas. E tu não combatas o meu raciocínio se detendo em palavras, mas vê de entender assim, cada vez mais claramente, o que quero dizer. O diferente sabor que os indivíduos  encontram nos alimentos é uma prova do subjetivismo perceptivo e não pode constituir critério de Sabedoria. Lembras aquilo que já dissemos antes? Para alguém que está doente, os alimentos parecem e são amargos; ao contrário, para alguém que está bem, eles são e parecem agradáveis. Mas não é licito inferir disso que entre esses dois um é mais sábio que o outro (porque não é possível) e tampouco se deve dizer que o doente, por ter tal opinião, é ignorante e que o são é sábio, por ter opinião contrária, mas sim que é preciso mudar de um estado para outro, porque o estado de saúde é melhor. E assim, também na educação é preciso mudar o homem de um hábito pior para um hábito melhor. O sábio é como um médico, deve prescrever a receita mais adequada ao interlocutor. Ora, nessas mudanças, o Sofista utiliza os discursos como o médico usa os medicamentos. Mas ninguém jamais induziu quem quer que seja a ter opiniões falsas e a ter opiniões verdadeiras; nem é possível, com efeito, que alguém pense coisas que, segundo ele, não existem ou coisas estranhas aquelas sobre as quais ele tenha, naquele momento, uma dada impressão, porque estas são verdadeiras somente para ele, a cada vez. Deve usar as almas como o médico cura o corpo. Pois bem, aquele que por um estado de ânimo, inferior tem opiniões conforme a natureza do seu ânimo, pode, creio eu, ser induzido por um ânimo superior a ter opiniões diversas, conformes a esse ânimo superior; são exatamente aquelas fantasias que alguns, por ignorância, definem verdadeiras, mas digo que são simplesmente melhores; nenhuma é mais verdadeira. É como um agricultor, intervém conforme a necessidade. E quanto aos sábios, amigo Sócrates, eu estou bem longe de considerá-los batráquios (rãs ou sapos). Quando cuidam dos corpos, eu os chamo de médicos; quando cuidam das plantas; agricultores. E digo que esses agricultores introduzem nas plantas, quando alguma adoece, sensações boas e salutares, não somente verdades, em vez de sensações ruins; e os sábios e bons oradores fazem com que pareça justo às cidades o bem em vez do mal. 1. Fenomenismo. Em filosofia, o termo fenômeno indica o que é aparente em uma coisa, em contraposição ao que ela é em si mesma. Chama-se de Fenomenismo a ideia de que o conhecimento humano jamais pode levar em consideração a realidade de modo absoluto e objetivo, mas somente perceber as suas aparência, ou seja, exatamente os fenômenos. Os Sofistas lançaram a doutrina fenomenista conferindo a esta um forte significa subjetivista, relativista e cético; não existem verdades e tampouco afirmações universais, tudo depende do sujeito e da situação em que ele se encontra. 2. Relativismo. Teoria segundo a qual não existem verdades absolutas, porque qualquer afirmação que se queira é sempre relativa a um ponto de vista pessoal, à sociedade a que pertence, ao modo de pensar típico da espécie humana. Às considerações relativistas de Protágoras e dos Sofistas pareciam encontrar confirmação na diversidade dos usos e costumes dos diferentes povos. 3. Retórica. Os Sofistas descobriram que o Logos pode ser usado também para mentir, para seduzir e impressionar favoravelmente os ouvintes. Portanto, a linguagem não é simplesmente o espelho da realidade, como supôs Parmênides, mas um meio pelo qual os homens estabelecem as posições recíprocas de poder. Quem pensa possuir a verdade pode buscar argumentos convincentes, fundados na evidência de raciocínios resolutivos; quem, ao contrário, não possui a verdade, empregará argumentos persuasivos, válidos somente para um auditório particular, nem sempre baseados na lógica, mas tocantes, ou seja, dirigidos ao coração, às emoções. Frequentemente, o segundo método obtém maior sucesso que o primeiro. Livro Antologia Ilustrada de Filosofia. Das origens à Idade Média. Abraço. Davi.

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