Filosofia. Escrito por Ubaldo Nicola. Os Sofistas;
Protágoras (490 AC 420) e Górgias (485 AC 380). Em meados do século V,
em Atenas, um grupo de intelectuais escandalizou
os filósofos da época ao fazer do saber uma profissão, oferecendo aulas
de retórica e de eloquência aos jovens da classe dirigente que
pretendiam dedicar-se a carreira política. Esse grupo era chamado de
Sofista, do grego sophistés, que significa sábio. como
os atenienses de boa condição social achavam indecoroso pagar para
serem servidos, os Sofistas foram tratados com desprezo pela elite
intelectual. De fato, eram todos Metecos, ou seja, estrangeiros,
excluídos, portanto, da vida política e dos direitos derivados
da posse da cidadania. Obrigados pela sua profissão a deslocar-se
continuamente de cidade em cidade, contribuíram enormemente para que a
cultura grega não se mantivesse nos limites das províncias e afirmaram,
pela primeira vez, o princípio do cosmopolitismo.
a importância do Movimento Sofista na história do pensamento não pode
ser subestimada. Seus fundadores foram os primeiros a colocar os
problemas do homem no centro da reflexão filosófica, antecipando assim a
iminente revolução Socrática; também forjaram o
fundamental conceito de cultura, ou seja, da formação integral do
indivíduo no quadro da sociedade à qual pertencia, e passaram a utilizar
a razão com tal desembaraço que mereceram, na posteridade, o epíteto de
Iluministas Gregos. Protágoras (490 AC 420),
o mais conhecido dos Sofistas, nasceu em Abdera, cidade grega na
Trácia. O apreço que mereceu dos contemporâneos é testemunhado pela
amizade pessoal de Péricles e pela incumbência de escrever as leis para a
colônia de Turim, fundada em 480. Esse prestígio
social, todavia, não o poupou de grandes problemas com a justiça
ateniense; após ter escrito que não se pode afirmar que os deuses
existem, nem que não existem, foi acusado de sacrilégio, condenado e
banido de Atenas, e as suas obras foram queimadas na praça
da cidade. Morreu em um naufrágio, durante a fuga para a Sicília
(Itália). Gorgias (485 AC 380) nasceu em Leontinos, na Sicília, vivendo
mais de noventa anos com perfeita saúde. Sua vida foi marcada por
sucessos e reveses; viajou por toda a Grécia, exercendo
com grande sucesso a arte da retórica; acumulou uma vasta fortuna, e
conduziu a formação de numerosos seguidores. Era acompanhado da merecida
fama de dialético, capaz de cogitar raciocínios irrefutáveis para
sustentar opiniões muito distantes do bom senso
e dos valores comuns, por exemplo, a de que nada existe, a sua tese
mais célebre, ou, então, que Helena, a adúltera responsável pela guerra
de Troia, não era culpada. O homem é a medida de todas as coisas. Existe
uma verdade não opinável? No que consiste o
conhecimento humano? A experiência pessoal é o único critério real da
verdade. Não existem leis eternas e verdades objetivas, somente
opiniões. Mas a relatividade de todo o juízo não deve levar ao
derrotismo; o livre choque de opiniões (dialética) seleciona
sempre a melhor solução, a mais útil. Por isso, mesmo não existindo
qualquer verdade, a tarefa educativa do filósofo permanece essencial, é
significativo que Platão (428-347) respeitasse Protágoras a ponto de
dedicar-lhe um dos seus diálogos. Como todos os
Sofistas, Protágoras sustentava a inexistência de uma verdade objetiva
válida, mas afirmava também a necessidade do estudo e da educação, na
medida em que, se não existem preposições verdadeiras em absoluto,
deve-se saber diferenciar entre as opiniões melhores
e piores, mais ou menos úteis aos indivíduos e as sociedades. A tarefa
do Sofista abrange, portanto, também um aspecto construtivo e
socialmente fecundo ao encaminhar os cidadãos par os valores e as opções
mais adequadas a um determinada situação. O testemunho,
extraído do diálogo Teeteto, de Platão, é uma apologia, ou seja, tenta
exprimir os discursos que Protágoras, se ainda estivesse vivo, faria as
objeções de Sócrates (469 AC 399). Não existe um critério de juízo
objetivo; toda verdade é verdade para um sujeito.
Sócrates. Protágoras afirma que a medida de todas as coisas é o homem;
daquelas coisas que são, pelo que são, daquelas que não são, pelo que
não são, entendendo por medida a norma de juízo e por coisas os fatos
em geral. Logo, o homem é a norma que julga
todos os fatos; daqueles que são pelos que são, daqueles que não são
pelo que não são. Por isso, ele admite somente aquilo que parece a cada
indivíduo, introduzindo, dessa forma, o princípio de relatividade.
Segundo ele, portanto, quem julga as coisas é o
homem. De fato, tudo o que parece aos homens também é, e o que não
parece a nenhum homem tampouco é. Todas as sensações são subjetivas.
Cada indivíduo percebe o mundo a sua maneira. Protágoras. Eu afirmo,
sim, que a verdade é mesmo como escrevi; que cada um
de nós é a medida das coisas que são e que não são; mas existe uma
diferença infinita entre os homem e homem, e exatamente por isso as
coisas parecem e são de um jeito para uma pessoa e, de outro jeito, para
outra pessoa. Ensinar, portanto, significa não buscar
uma impossível verdade, mas predispor o interlocutor a melhorar os seus
conceitos. Estou longe de negar que existam a Sabedoria e o homem
sábio, ou, antes, que chamo sábio aquele que, transmudando aquilo que em
certas coisas parece e é ruim, consegue fazer
com que essas mesmas coisas pareçam e sejam boas. E tu não combatas o
meu raciocínio se detendo em palavras, mas vê de entender assim, cada
vez mais claramente, o que quero dizer. O diferente sabor que os
indivíduos encontram nos alimentos é uma prova do
subjetivismo perceptivo e não pode constituir critério de Sabedoria.
Lembras aquilo que já dissemos antes? Para alguém que está doente, os
alimentos parecem e são amargos; ao contrário, para alguém que está bem,
eles são e parecem agradáveis. Mas não é licito
inferir disso que entre esses dois um é mais sábio que o outro (porque
não é possível) e tampouco se deve dizer que o doente, por ter tal
opinião, é ignorante e que o são é sábio, por ter opinião contrária, mas
sim que é preciso mudar de um estado para outro,
porque o estado de saúde é melhor. E assim, também na educação é
preciso mudar o homem de um hábito pior para um hábito melhor. O sábio é
como um médico, deve prescrever a receita mais adequada ao
interlocutor. Ora, nessas mudanças, o Sofista utiliza os discursos
como o médico usa os medicamentos. Mas ninguém jamais induziu quem quer
que seja a ter opiniões falsas e a ter opiniões verdadeiras; nem é
possível, com efeito, que alguém pense coisas que, segundo ele, não
existem ou coisas estranhas aquelas sobre as quais
ele tenha, naquele momento, uma dada impressão, porque estas são
verdadeiras somente para ele, a cada vez. Deve usar as almas como o
médico cura o corpo. Pois bem, aquele que por um estado de ânimo,
inferior tem opiniões conforme a natureza do seu ânimo, pode,
creio eu, ser induzido por um ânimo superior a ter opiniões diversas,
conformes a esse ânimo superior; são exatamente aquelas fantasias que
alguns, por ignorância, definem verdadeiras, mas digo que são
simplesmente melhores; nenhuma é mais verdadeira. É como
um agricultor, intervém conforme a necessidade. E quanto aos sábios,
amigo Sócrates, eu estou bem longe de considerá-los batráquios (rãs ou
sapos). Quando cuidam dos corpos, eu os chamo de médicos; quando cuidam
das plantas; agricultores. E digo que esses
agricultores introduzem nas plantas, quando alguma adoece, sensações
boas e salutares, não somente verdades, em vez de sensações ruins; e os
sábios e bons oradores fazem com que pareça justo às cidades o bem em
vez do mal. 1. Fenomenismo. Em filosofia, o termo
fenômeno indica o que é aparente em uma coisa, em contraposição ao que
ela é em si mesma. Chama-se de Fenomenismo a ideia de que o conhecimento
humano jamais pode levar em consideração a realidade de modo absoluto e
objetivo, mas somente perceber as suas aparência,
ou seja, exatamente os fenômenos. Os Sofistas lançaram a doutrina
fenomenista conferindo a esta um forte significa subjetivista,
relativista e cético; não existem verdades e tampouco afirmações
universais, tudo depende do sujeito e da situação em que ele se
encontra. 2. Relativismo. Teoria segundo a qual não existem verdades
absolutas, porque qualquer afirmação que se queira é sempre relativa a
um ponto de vista pessoal, à sociedade a que pertence, ao modo de pensar
típico da espécie humana. Às considerações
relativistas de Protágoras e dos Sofistas pareciam encontrar
confirmação na diversidade dos usos e costumes dos diferentes povos. 3.
Retórica. Os Sofistas descobriram que o Logos pode ser usado também para
mentir, para seduzir e impressionar favoravelmente
os ouvintes. Portanto, a linguagem não é simplesmente o espelho da
realidade, como supôs Parmênides, mas um meio pelo qual os homens
estabelecem as posições recíprocas de poder. Quem pensa possuir a
verdade pode buscar argumentos convincentes, fundados na
evidência de raciocínios resolutivos; quem, ao contrário, não possui a
verdade, empregará argumentos persuasivos, válidos somente para um
auditório particular, nem sempre baseados na lógica, mas tocantes, ou
seja, dirigidos ao coração, às emoções. Frequentemente,
o segundo método obtém maior sucesso que o primeiro. Livro Antologia
Ilustrada de Filosofia. Das origens à Idade Média. Abraço. Davi.
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