sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Yoga Sutra de Patanjali. A Tradução.

Hinduísmo. Quem se propõe a realizar a tarefa da tradução dos aforismos do sábio Patanjali enfrenta um obstáculo inesperado: o grande número de traduções já existentes, assinadas por nomes de pensadores expressivos e respeitados entre os praticantes e estudiosos do Yoga. Ainda que o tradutor tenha uma saudável independência em relação a outras opiniões, ele dificilmente escapa da tentação de examinar o que outros autores e tradutores fizeram para elucidar determinados termos do original sânscrito. E o peso da autoridade que determinados nomes representam interfere de forma vigorosa na maneira como o empreendedor estabelece os seus próprios critérios de tradução. É muito comum o questionamento sobre as traduções, por parte dos leitores, baseado sobre outras traduções, e não sobre os termos originais da obra. Comentários do tipo “Eu li numa tradução de fulano que esse tópico deve ser entendido dessa maneira ou daquela (...)” são muito frequentes quando se trata de literatura polêmica. E os Sutras do Yoga constituem um texto bastante polêmico. Sem fazer pouco caso da autoridade de tantos autores de comentários aos Sutras, bem como dos seus tradutores, percebemos claramente ao examinar as dezenas de traduções disponíveis na atualidade que se disseminaram amplamente alguns erros de método. Embora poucos, esses erros prejudicam o resultado do tradutor. Alias é justamente a elevada qualificação de alguns dos tradutores, e o respeito que eles conquistaram entre os estudiosos da filosofia e os praticantes do Yoga, que ajuda a manter vivas essas falhas na linha do tempo. A distorção mais comum é resultado de uma opinião corrente entre os adeptos do Yoga, segunda a qual não é possível compreender o texto dos Sutras sem a ajuda de comentários elucidativos. A presença de um mestre seria indispensável, mas na falta deste há os comentários escritos que procuram dirimir as dúvidas com extensas explanações a respeito dos principais tópicos tratados em cada frase. Embora não esteja longe da verdade essa opinião, o problema que ela gerou foi o de deixar os tradutores muito preocupados com a elucidação de cada frase individualmente, o que tornou muito complicada a leitura sequencial do texto. Os Sutras eram textos construídos para facilitar a memorização de um assunto determinado, normalmente um sistema filosófico. A memorização era feita com facilidade em razão do modo pelo qual as frases eram construídas, de maneira que cada uma fosse a sequência lógica e natural da frase anterior, e a preparação para os termos e conceitos da frase seguinte. A leitura, portanto, deve ser tão encadeada e natural quanto a própria sequência das frases. De nada adianta, portanto, traduzir uma frase de uma maneira tão independente das demais que se torne difícil entender o vínculo linear que as une. A maior parte das outras falhas de tradução resultaram da tentativa de entender conceitos filosóficos indianos utilizando as interpretações ocidentais como referência. Apenas como exemplo, a tradução de Viparyaya, que significa apenas inventividade, por conhecimento errôneo, falso, perverso, incorreto, e tantos outros adjetivos que foram utilizados em quase todas as traduções é, sem qualquer dúvida, um erro grosseiro de avaliação do verdadeiro significado do termo. Não é concebível que uma manifestação do aspecto mais elevado da mente humana possa ser encarada como um princípio defectivo, defeituoso por definição. Nem a frase original em sânscrito diz isso, por certo, embora utilize uma terminologia que pode dar alguma margem à interpretação equivocada. Para escapar das armadilhas habituais das traduções de textos dessa natureza, devemos partir do geral para o particular, e não o inverso. Neste trabalho optamos por buscar a compreensão dos temas gerais abordados no texto em cada um de seus quatro capítulos, traçando um plano geral da obra e descendo gradualmente aos detalhes até que cheguemos à elucidação de cada termo duvidoso, frase a frase. A ideia subjacente ao conjunto sempre prevalece sobre eventuais ambiguidades dos detalhes. Para permitir ao leitor acompanhar esse mesmo procedimento, e, portanto, extrair melhor proveito da leitura, reunimos alguns dos comentários que consideramos importantes para elucidar o texto nos capítulos que apresentamos a seguir. Desse modo, ao iniciar a leitura do texto, o estudante já terá alguma noção do que encontrará em cada capítulo. Comentários muito breves acompanham ainda o corpo traduzido dos Sutras, juntamente com notas e observações em pontos críticos da leitura. Ao final, o texto é reproduzido literalmente, grafado em sânscrito (no alfabeto original, Devanagari, e no alfabeto de transliteração adotado internacionalmente para o sânscrito) e também traduzido para o português. Essa reprodução do original serve aos estudantes da língua, bem como aos críticos, estudantes de Yoga e curiosos, que queriam ter uma visão panorâmica da correspondência dos termos. O que você, leitor, poderá seguramente extrair da leitura, seja qual for a motivação que o trouxe até este texto, é que o entendimento dos Sutras é bastante fácil, e exige apenas um mínimo de dedicação. As dificuldades só aparecem quando decidimos converter essas doutrinas em uma realização prática. Este foi o grande desafio apresentado pelo sábio Patanjali. Abraço. Davi.

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