sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A Vida Criativa.



Budismo Nitiren Daishonin. Por Daisaku Ikeda (1928-  ). A criatividade é uma parte natural da vida. Não é algo restrito a um limitado grupo de pessoas ou algo que somente acontece em locais especiais. Obviamente, ninguém acha o cantarolar de uma pássaro formal ou amedrontador. E quem nunca deixou ser cativado pela beleza de um claro céu azul ou pelo desabrochar de uma cerejeira? Para mim, estes são exemplos do nosso amor natural pela beleza e o verdadeiro espírito da arte e cultura. Geralmente, a vida é dolorosa e cheia de espinhos, como o ramo de uma rosa. A cultura e a arte são as rosas que florescem deste ramo chamado vida. Muitas vezes, parece que o mundo nos trata como parte de uma máquina, e que precisamos de algo para restaurar nossa humanidade. Cada um de nós possui sentimentos que são suprimidos e que estão armazenados em nosso interior: um grito silencioso nas profundezas de nossa alma. A arte fornece uma voz e forma para estes sentimentos, que liberam a nossa própria humanidade. É a emoção, o prazer de expressar nossa vida interior exatamente como ela é. Um amigo que combina a criatividade com uma personalidade realista é o falecido Osvaldo Pugliese (1905-1995), mestre do tango argentino. Ele geralmente dizia: Meus dedos são tão duros como as unhas. Eu sou como um carpinteiro, martelando as teclas do piano. Pugliese nasceu no centro de Buenos Aires, numa vizinhança onde as famílias de imigrantes pobres viviam juntas em cortiços. Eles eram bastante calorosos e davam vazão irrestrita as suas emoções. Seu pai era flautista de uma banda de tango. Um ritmo - selvagem, sofisticado, elegante, humorístico, belo e ardente - que pulsa como um grito melancólico que não pode ser descrito em palavras. E este ritmo estava presente nas veias de Pugliese. Após uma longa aprendizagem, tocando em cinemas e cafés, ele finalmente formou a sua própria orquestra quando completou trinta e três anos. O grupo trabalhou persistentemente para criar um som próprio e foram recompensados com uma explosiva popularidade. Enquanto isto, algumas orquestras que eram populares e que somente se contentavam em seguir a moda acabaram se dissolvendo uma após outra. Certa ocasião, Pugliese disse para os componentes de sua orquestra: Nós estamos navegando no vasto oceano do tango. O mais importante é saber as correntes marítimas que irão aportar no coração das pessoas. Eu acredito que uma música grandiosa, assim como toda arte grandiosa, tem origem no coração do ser humano. Caso o nosso estado de vida interior é fraco, o que irá ser desenvolvido também será fraco. A finalidade da vida é sobreviver, não importando o que aconteça. Uma performance será um fracasso se o músico desistir e parar de tocar no meio de um show. Será impossível tocar o coração da plateia. Assim, a determinação de continuar até o fim, é o ponto fundamental tanto na arte como na vida. O compositor italiano Giuseppe Verdi (1813-1901) escreveu para um jovem - que esperava construir uma carreira artística – para não sucumbir aos aplausos ou críticas. Ele descreve: O artista deve olhar para o futuro, ver um novo mundo em meio ao caos, e caso, bem no final desta longa jornada, ele consiga enxergar uma luz tênue, não deverá temer a escuridão que o cerca. Siga reto e caso tropece ou caia, deve se erguer e continuar caminhando. É como a vida. Nós devemos cerrar os dentes e andar bravamente em direção a luz. Este espírito de dedicação total é a chave da criatividade. Certamente, os momentos que sinto ter sido criativo são aqueles em que me dediquei de corpo e alma na conclusão de uma determinada tarefa. Neste instante, eu senti que que havia vencido a batalha e cresci. A expressão artística é uma exploração dentro de nossa vida interior. Como escreveu Henry David Thoreau (1817-1862): Mire os seus olhos para si e irá encontrar milhares de regiões que nunca foram descobertas. A criatividade significa abrir a pesada entrada para a vida. Esta não é uma tarefa fácil, ao contrário, poderá ser a mais difícil tarefa no mundo, cheia de suor e lágrimas. O ato de abrir a porta da sua própria vida pode ser algo tão difícil como abrir a porta dos mistérios do universo. Eu acredito que a arte e a cultura enriquecem o indivíduo, ao mesmo tempo que alcança, toca, comunica e induz as pessoas a ficarem juntas. A cultura não conhece fronteiras e transcende as diferenças étnicas, nacionais e ideológicas. Nos envolve como seres humanos, produzindo um sentimento de realização, ao mesmo tempo que amplia e abre nosso eu interior. As vibrações do espírito de um artista ressoam dentro de nossos corações. Esta é a experiência essencial da arte. Existem diversas formas de intercâmbio entre países e povos. As interações políticas e econômicas são inclinadas ao foco do lucro e poder. Por esta razão, eu acredito que os intercâmbios culturais são um elemento vital para se construir uma ponte de compreensão entre pessoas de diferentes países tendo como base o próprio povo. O modo mais efetivo para compreender as pessoas é através da sua cultura, através do contato direto com os sons e imagens que os tocam de modo profundo. Eu tenho a plena convicção que a compreensão mútua criada através destes intercâmbios gera a base de uma verdadeira e duradoura paz. A diretora do Centro Cultural das Filipinas Maria Teresa Escoda Roxas (1927-1999), disse em certa ocasião que devido as suas terríveis experiências durante a Segunda Guerra Mundial, ela não foi capaz de aceitar o povo japonês durante muitos anos. Eu compreendi perfeitamente os seus sentimentos – os japoneses cometeram horrendas atrocidades contra pessoas inocentes e em consequência, seus pais foram assassinados pelos militares japoneses que ocupavam o país. Ela me disse: Mas, meus sentimentos mudaram quando eu acompanhei meu marido em uma viagem de negócios para o Japão e tive contato com a arte tradicional. Eu comecei a amar a arte japonesa e através dela, eu pude abrir meu coração ao povo japonês. A arte pode nos levar a transcender o amor e o ódio. A cultura é o laço mais forte que pode unir os seres humanos. Eu fiquei profundamente comovido por estas palavras. Eu acredito que todas as pessoas possuem o poder criativo ilimitado e que se nós utilizarmos este poder em conjunto - e em paralelo, fortalecemos nossos laços como seres humanos – iremos definitivamente construir um mundo pacífico. Desenvolver e desencadear a capacidade humana em prol da criatividade é um dos grandes desafios que iremos enfrentar no limiar do século XXI. Impressionantes saber que já passamos 15 anos do século XXI. http://www.maisbelashistoriasbudistas.com.br. Abraço. Davi.
Fonte: Daily Mirror, 07 de dezembro de 1998

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