Filosofia. Texto escrito por Ubaldo Nicola. Demócrito
(460 AC 360). Conhecemos apenas duzentos curtos fragmentos dos escritos
de Demócrito, mas isso basta para provar que foi um dos pensadores mais
versáteis da história, a
partir dos títulos de suas obras (cerca de setenta) nota-se o seu
interesse por música, matemática, astronomia, geometria, geografia,
meteorologia, linguística e arte da guerra, além da filosofia,
naturalmente. Com efeito, é mais fácil citar as duas únicas
disciplinas que negligenciou: política e religião. A amplitude desse
programa de investigação levou o filósofo a realizar numerosas viagens
ao Egito e a Pérsia, talvez até mesmo a Etiópia e a Índia. Com certeza
também esteve em Atenas, mas é igualmente certo
que a sua presença passou despercebida. Aristóteles (384 AC 322) e o
médico Hipócrates (460 AC 370) citaram-no várias vezes, mas Platão (428
AC 347), seu contemporâneo, jamais falou a seu respeito. Demócrito
conseguiu combinar o interesse enciclopédico a um
excelente nível de informação, demonstrando estar sempre atualizado no
campo científico e ser sensível as instâncias culturais da sua época. A
própria concepção atomística, o fruto mais conhecido do seu pensamento,
deve ser vista no quadro do desafio teórico
lançado por Parmênides e Zenão. De fato, justamente para resolver os
paradoxos derivados da hipótese de uma divisibilidade infinita do
espaço, Demócrito chegou a elaboração da noção de átomo: a partícula
mínima, o material indivisível e invisível do
qua é formada a realidade. Estabelecida a
existência do átomo, era preciso, em seguida, explicar o mundo a luz da
nova hipótese. Se os átomos podem movimentar-se, premissa que deve ser
levada em consideração quando desejamos explicar
a morte (separação de átomos), a compacidade (característica do que é
compacto) dos corpos (agregação de átomos), o seu Devir (recombinação de
átomos) e uma quantidade heterogênea de outros fenômenos (a percepção
visual, as leis da mecânica), devemos admitir
a existência de um espaço livre, vazio de matéria; o pleno e total ser
do átomo contrapõe-se ao Não Ser do vazio. A Alma também é feita de
átomos. É possível subdividir uma porção de espaço físico ou um objeto
material qualquer ao infinito, em partes cada
vez menores? Ou existe um limite último? Demócrito chegou a elaboração
da hipótese atômica tentando escolher os paradoxos postos por
Parmênides. Encontrou a solução ao negar que, para a matéria do mundo
físico, valesse a mesma divisibilidade infinita de que
gozam os elementos matemáticos. Pode-se subdividir um número ao
infinito, mas partindo-se de uma partícula de matéria progressivamente
chegas-se a um mínimo indivisível (e
invisível); o átomo, expressão grega que significa, literalmente, sem
divisão. O átomo identificado dessa forma, torna-se, com Demócrito o
elemento básico para uma série de complexas especulações;
a sua existência pressupõe, antes de tudo o vazio (no qual os átomos
possam movimentar-se), implica também na homogeneidade estrutural do
universo, formado por combinações diversas dos mesmos átomos, e sugere a
existência de infinitos átomos. Não há senão
átomo e vazio. Princípio de todas as coisas são os átomos e o
vazio.Todo o resto é opinião subjetiva. Existem infinitos mundos,
os quais são gerados e corruptíveis; nada vem do Não Ser, nada pode
perecer e se dissolver no Não Ser. Um Vórtice cósmico seleciona os
átomos segundo a grandeza, originando os quatro elementos.
Os átomos são infinitos sob o aspecto da grandeza e do número. Eles se
movimentam no universo girando em vórtice e, desse modo, geram todos os
compostos: fogo, água, ar, terra e o éter. Todas as coisas são
combinações de átomos. Por também os compostos (fogo,
água, ar, terra) são conjuntos de certos átomos em particular, os
quais, no entanto, não são decompostos nem alterados, exatamente pela
sua solidez. Também a alma e os corpos celestes são combinações de
átomos. O Sol e a Lua também são compostos por tais átomos,
ou seja, por aqueles lisos e redondos; e igualmente a alma, que foram
uma unidade com o intelecto. A diferente combinação de átomos explica
todos os fenômenos. Tudo se produz conforme a necessidade, porque a
causa da formação de todas as coisas é esse movimento
em vórtice (redemoinho) que ele denomina exatamente necessidade.
Determinismo. Consiste na convicção de que todos os fenômenos, tanto os
naturais quanto os psíquicos, estão ligados entre si por conexões
necessárias e dependentes da lei de causa e efeito, excluindo
qualquer explicação que introduza as noções de acaso. Segundo os
Deterministas, conhecendo com precisão qualquer processo em curso, é
sempre possível prever, com igual precisão, os seus resultados. Após ter
sido enunciada pela primeira vez por Demócrito, a
posição determinista ressurgiu com grande força no século XVII, durante
a denominada Revolução Científica, e no século XIX, com o pensamento
positivista. Não há senão átomo e vazio. Se cada coisa é constituída
por uma agregação de átomos, como se explica
a diversidade das próprias coisas? Para responder a essa objeção é
suficiente, segundo Demócrito, pensar como as poucas letras que compõem
um alfabeto podem, combinando-se em si formar um infinito número de
palavras. Entre os átomos existem apenas diferenças
quantitativas (grandeza, forma geométrica) e, portanto, a diversidade
qualitativa das coisas (aparentes) explica-se pelo grande número de
combinações possíveis. As qualidades sensíveis são aparentes. Opinião é a
cor, opinião é o doce, opinião é o amargo, verdade
são os átomos e o vazio, diz Demócrito, considerando que todas as
qualidades sensíveis, que ele supõe relativas a nós, das quais temos as
sensações, decorrem da variada combinação dos átomos, mas que, por
natureza, não existem absolutamente branco, preto,
amarelo, vermelho, doce, amargo (...). Não há senão átomo e vazio,
portanto, as percepções também são combinações de átomos. Os homens
acreditam que o branco e o preto, o doce e o amargo, e todas as outras
qualidades do gênero, são algo de real, quando na
verdade só o que existe é o ente e o nada. Demócrito também usava esses
outros termos, chamando os átomos de entes e vazio de nada. O átomo
não têm qualidades sensíveis, perceptíveis somente nos compostos. Todos
os átomos, sendo corpos minúsculos, não possuem
qualidades sensíveis, e o vazio é um espaço em que tais corpúsculos se
movimentam para cima e para baixo eternamente ou se entrelaçando de
diversas maneiras ou se chocando e ricocheteando, de modo a irem se
desagregando e se agregando em tais compostos, e,
desta forma, produzem todas as outras maiores agregações e os nossos
corpos e as suas afeições e sensações. O átomo jamais sofre qualquer
tipo de modificação. Supõem, também, que os corpos primeiros são
inalteráveis (alguns dentre os atomistas, mais precisamente
os seguidores de Epicuro (341 AC 270),
porque acreditam que sejam infringíveis pela sua dureza; outros, os
seguidores de Leucipo (480 AC 420), porque indivisíveis pela sua
pequenez, ou melhor, que tampouco sofrem (por meio de alguma
forma externa) as modificações as quais todos os homens (que extraem a
sua ciência das sensações) acreditam que eles estão sujeitos. O átomo
não sente os efeitos do ambiente em que se encontra. Nenhum átomo pode
aquecer-se ou resfriar-se, ressecar-se ou umedecer-se,
tornar-se branco ou preto ou receber outras qualidades por qualquer
modificação que se queira. Livro Antologia Ilustrada de Filosofia. Das origens à Idade Moderna. Beijo. Davi.
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