Texto de Alexis Trass Walker
(1969- ). O ato de orar origina-se no
desejo básico do ser humano de levar vidas felizes e plenas e de morrer de
maneira tranquila. A oração busca abrir os corações e mentes para algo, mas, o
quê é esse algo? varia de acordo com as diferentes crenças a
respeito de a quem ou quê a pessoa ora. Por exemplo, o animismo concebe cada
rocha, árvore, montanha, etc., como possuidores de um espírito, o qual pode ser
contatado através da oração ou outros rituais religiosos. Na sua maioria, os
deístas consideram a oração improdutiva, e vêm seu propósito como uma forma de
organizar os pensamentos. Algumas pessoas pensam que Deus é um ser remoto e
distante a quem só se pode aceder através de intermediários, tais como membros
do clero ou santos. Outros acreditam que Deus encontra-se no corpo de cada
indivíduo e não vêm a fé como um ato religioso; e sim como uma relação pessoal
com Deus. Uma crença bastante difundida, que vincula os crentes de diferentes
religiões teístas ao redor do mundo, é aquela de que uma ou mais deidades
existem como pessoas vivas, que podem ser contatadas mediante a oração. Não importa a que credo religioso uma pessoa possa
aderir, a oração tem demonstrado produzir um estado de calma e serenidade, um
senso de pertencer, e sentimentos de amor que podem ser benéficos à saúde
física e mental da pessoa e ao seu bem estar espiritual. Por exemplo,
investigadores do Centro Médico da Universidade Duke, Carolina do Norte - USA, realizaram estudos
relativos à taxa de sobrevivência de adultos de idade avançada. Eles
encontraram que os adultos de maior idade que participavam de atividades
privadas religiosas tais como estudos bíblicos, oração, ou meditação apresentavam uma vantagem quanto à sobrevivência em
relação com aqueles que não tinham este tipo de atividades. Há
paralelos entre elementos do Budismo Nitiren e a oração cristã. Entre aquelas
coisas que com maior frequência preocupam às pessoas, e pelas quais oram, estão
os assuntos relacionados com saúde e doença. Tanto as cartas de Nitiren
Daishonin como a Bíblia referem-se ao tema de sobrepor-se às enfermidades. Em
sua carta “A
transformação do carma determinado”, Daishonin escreve: “Para as mulheres mudarem seus carmas determinados
praticando o Sutra de Lótus é tão natural como o arroz amadurecendo no outono
ou o crisântemo florescendo no inverno. Quando eu, Nitiren, orei por minha mãe, não somente sua doença foi
curada, mas ela foi capaz de viver por quatro anos mais. A senhora também é
mulher e agora caiu doente; portanto, é a época para a senhora basear sua fé no
Sutra de Lótus e aprender que benefícios este lhe trará”. (Escrituras de Nitiren Daishonin, vol.
I, pág. 218). A Bíblia relata a história de um dos
reis da Judeia, o Rei Ezequias, que adoeceu gravemente e estava a ponto de morrer.
Orou para Deus por ajuda e Deus escutou suas preces, viu suas lágrimas e
decidiu prolongar-lhe a vida por mais quinze anos. Isaías
38:1-5 "Naqueles dias Ezequias adoeceu de uma enfermidade mortal; e veio a ele o profeta Isaías, filho de Amós, e lhe disse: Assim diz o Senhor: põe em ordem a tua casa, porque morrerás, e não viverás. Então virou Ezequias o seu rosto para a parede, e orou ao Senhor. E disse: Ah! Senhor, peço-te, lembra-te agora, de que andei diante de ti em verdade, e com coração perfeito, e fiz o que era reto aos teus olhos. E chorou Ezequias muitíssimo. Então veio a palavra do Senhor a Isaías, dizendo: Vai, e dizes a Ezequias: Assim diz o Senhor, o Deus de Davi teu pai: Ouvi a tua oração, e vi as tuas lágrimas; eis que acrescentarei aos teus dias quinze anos". Deus o curou através do uso de medicina, fazendo que Ezequias
aplicasse um emplasto de figos à chaga que estava ameaçando sua vida, Isaías
38:21 "E dissera Isaías: Tomem uma pasta de figos, e a ponham como emplasto sobre a chaga; e sarará". Outros paralelos podem estabelecer-se.
Os cristãos vêm a oração como aquilo que é capaz de trazer para uma situação
determinada o poder de um Deus universal. Os budistas acessam o poder da Lei
Mística Universal. Os cristãos oram para obter força para combater o mal; os
budistas oram por paz e serenidade durante tempos difíceis e para conseguir a
solução aos problemas da vida. Da mesma maneira, poderíamos ter em mente
pensamentos, desejos e preocupações na medida que oramos. Há, porém, diferenças fundamentais entre as orações
dos cristãos e as orações no Budismo Nitiren. Tomemos o exemplo antes citado
sobre doença. Daishonin explica à monja leiga Toki, a receptora da carta A transformação do carma determinado, que ela pode mudar seu destino praticando o
budismo, e explica que o curso de sua vida não é dirigido por uma divindade ou
força externa, mas unicamente pela própria Toki. Sua capacidade para
sobrepor-se à doença depende de sua luta e de sua fé. No outro caso, o Rei Ezequias não tinha a opção de
escolher se seria curado ou não. Ele tinha que suplicar-lhe e lembrar-lhe a
Deus que tinha se mantido na senda correta da vida. Foi só quando Deus viu suas
lágrimas que o rei foi sanado. A
oração cristã é direcionada para fora, no sentido de que os cristãos oram a
Deus, seja para louvá-lo, agradecer-lhe ou suplicar sua graça. Louvar a Deus
significa alegrar-se na perfeição divina e, portanto, glorificar a Deus. Salmos 9:1,2 “Eu te louvarei, Senhor, de todo meu coração; em ti
me alegrarei e saltarei de prazer; cantarei louvores ao teu nome, Oh Altíssimo”. Mostrar gratidão é o melhor meio para obter novas bênçãos de
Deus. I Tessalonicenses 5:18 “Em
todas as circunstâncias, dai graças, pois esta é a vontade de Deus a vosso
respeito, em Cristo Jesus”. Finalmente, a forma de receber a graça de Deus é pedi-la. Lucas 11:9 "Por isso, eu vos digo: Pedi e vos será dado; buscai
e achareis; batei à porta e ela vos será aberta” . A
oração cristã tem o objetivo de reconhecer o poder e a bondade de Deus. Deus é
quem dá tudo aquilo que é bom, os fiéis devem demonstrar seu espírito de
súplica, a fim de tornar-se merecedores das dádivas de Deus. A oração é um ato
que implica suprema reverência a Deus, o que faz que os fiéis recorram a Deus
para todas as coisas porque desejam que sua oração seja respondida como uma
dádiva. As pessoas devem humilhar-se perante Deus com o sincero reconhecimento
de suas fraquezas humanas e falta de méritos. Jesus
relata a parábola de dois homens que vão orar ao templo; um é um fariseu e o
outro é um arrecadador de impostos. O fariseu dá graças a Deus por ele ser um
homem justo, não é um extorsionário, ou um adúltero, e particularmente,
agradece pelo fato de não ser um arrecadador de impostos. Ele procede a
enumerar suas virtudes. O arrecadador de impostos, por outro lado, admite ser
um pecador e implora a misericórdia de Deus. Lucas 18: 14 Jesus diz, então: “Porque quem se exalta será humilhado e quem se
humilha será exaltado". A
oração budista é direcionada para o interior. Recitar Nam myoho rengue kyo não
equivale a pedir soluções através da intervenção de forças externas. Em vez
disso, é um meio para fazer acúmulo dos recursos próprios de nosso interior, a
fim de enfrentar a vida. É um ato mediante o qual louvamos nosso estado de
Buda, ou estado de iluminação, e fazemos surgi-lo de dentro de nossas vidas. Em
vez de implorar ou desejar, as pessoas oram com forte determinação de forma que
elas mesmas possam solucionar seus problemas, fazer seus sonhos realidade e
concretizar sua missão como Bodhisattvas da Terra. Quando os budistas Nitiren oram, é para buscar
assistência dentro de seus próprios recursos espirituais, sua budicidade
inerente, a qual é parte e idêntica com a natureza de Budha que existe no
cosmos e em todas as coisas. O budismo vê às pessoas como detentoras do poder
para transformar suas vidas; não existe uma força ou deidade que concede
desejos baseada no bom ou mal comportamento. A oração budista é otimista e
efetiva, não importa que falhas ou faltas possua uma pessoa no momento de orar. Numa de suas
muitas cartas, Nitiren Daishonin cita uma passagem de Palavras e frases
do Sutra de Lótus: “Por ser a Lei suprema, a Pessoa é digna de
respeito. Como a Pessoa é digna de respeito, a terra é sagrada”. (Escrituras
de Nitiren Daishonin, vol. III, pág. 290). Os budistas Nitiren são incentivados a olhar dentro
de si à procura das soluções aos problemas da vida. Daishonin afirma,
igualmente, “Contudo, mesmo que recite e conserve o Nam myoho
rengue kyo, se pensa que o estado de Buda existe fora do seu coração, isto já
não é mais Lei Mística; é um ensino contrário a ela”. (Sobre
atingir o estado de Budha”, Escrituras de Nitiren Daishonin, vol. I, pág.
107). Os Budistas Nitiren dependem do poder de suas próprias vidas. A Lei
Mística existe também em todas as coisas, a oração acessa não só o poder do
indivíduo, como também o poder do universo inteiro. Seja qual for a maneira que as pessoas escolham
orar, o assunto importante é que suas orações tragam às suas vidas
tranquilidade e paz. A oração, seja dirigida a Deus ou ao Gohonzon, traz
consigo oportunidades para compartilhar aquilo que reside no coração das
pessoas. No Budismo Nitiren o que importa primordialmente é desenvolver um
estado de felicidade que não possa ser destruído pelas cambiantes
circunstâncias de nosso meio ambiente. O presidente da Soka Gakkai
Internacional (SGI), Ikeda, cita Nitiren Daishonin: “Não há maior felicidade
para os seres humanos que orar o Nam myoho rengue kyo” (A
felicidade neste mundo”, Escrituras de Nitiren Daishonin, vol.
III, pág. 199) e explica, “Enquanto o senhor mantiver uma fé
firme, e recite o daimoku de forma determinada ao Gohonzon, não importa o que
aconteça, certamente o senhor será capaz de levar uma vida repleta de
plenitude”. (My dear friends in America, p. 92). http://www.maisbelashistoriasbudistas.com.br.
Abraço. Davi.
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