Budismo Tibetano. Texto do Lama Surya Das (1950- ). Comentaremos a partir de agora Cinco maneiras de ser verdadeiro. Primeiro. Natural e simples. Repousemos sobre o nosso estado natural. Sejamos nós mesmos, nosso ser
intacto. Eis uma instrução meditativa a transportar conosco: tudo que
necessitamos encontra-se na mente natural, primordialmente íntegra e
total.
Segundo. Autenticidade, retidão, sinceridade. Uma paz
nirvânica reside no que é deixado tal como é. Luta e animosidade
revelam-se aqui supérfluos. Não toque em nada, e permaneça de coração e
mente serenos e vigilantes. Observe além do objeto, seja o objeto, e
permaneça livre, luminoso e intacto. Terceiro. Abertura e unicidade. Mantenha
a mente aberta, permaneça receptivo. A pura presença é ausência de
prejulgamentos, é um estado de consciência de neutralidade, de
não intervenção, de atenção globalizada no ser e no instante. Permaneça
aberto a sua experiência. Deixe as coisas tomarem por si mesmas o seu
lugar. Qualquer que seja ele, talvez seja o melhor. Quarto. Consciência e sabedoria. Uma consciência desperta sabe e vê as coisas como elas são. Nossa lucidez
inata é eficiente e sábia por natureza, capaz de discernir o que é
sensato e o que não é. Quinto. Energia ou fluxo espontâneo. Uma
mente livre e tranquila favorece o relaxamento e o ressurgir das
energias inesgotáveis e não reprimidas. Abandonando, renunciando aos
nossos modelos repetitivos e alienantes, flutuamos para tornarmo-nos
unos com a corrente. É a onda natural, a zona sagrada evocada pelos
mestres. Podemos acessar isso à vontade. Guardem esses princípios
na memória praticando os exercícios de meditação natural em seguida.
Lembrem-se de aplica-los também em suas vidas cotidianas que é a
meditação natural por excelência. Os mestres Zen chamam isso de
"Genjo Koan", a experiência de por em prática no plano cotidiano. É
nisso que reside o ser de sabedoria e de amor do Budha. Meditação Dzogchen para a contemplação celeste. Quando
crianças, mesmo antes que a palavra meditação chegasse aos nossos
ouvidos, todos na maior parte, observamos o céu, deitados na relva ou
sobre um rochedo. Éramos todos despertos ou estávamos no paraíso? Quem
sabe (...). Nada impede que esses preciosos instantes restem gravados em
nossa memória, mesmo se, em nossa mente, nada estivesse ainda definido.
Os problemas teológicos não faziam parte de nossas preocupações, não
mais que nossa consciência ou nossos meios de relaxamento. Provavelmente
não tínhamos nada do que fugir ou evitar; não éramos mais que crianças
que sonhavam senão em se divertir, despertando para a vida e para a luz
sem o menor embaraço, naturalmente tranquilos. Constantemente ou não,
estávamos voltando a nossa verdadeira natureza, esta natureza búdhica
que é nossa, o Nirvana que dorme em cada um de nós. Se esses
instantes estão ainda presentes e claramente acessíveis em nossa
memória, dominemos a partir de agora a prática Dzogchen da contemplação
celeste. É bastante então instalar-nos em nossa espreguiçadeira na grama
ou no terraço de nossa casa. Por que a prática da meditação
celeste induz com efeito a observar o espaço, como uma criança contempla
o céu. É uma maneira de liberar nossa mente dos conceitos, de nossas
dúvidas e de nossas hesitações. Tudo que nos pedem, é estarmos felizes
no lugar e no instante no qual vivemos. Um céu azul não é nem mesmo
necessário, a abóbada estrelada e seus espaços infinitos serão muito
favoráveis ao abandono. Aqueles que leram O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint Exupery (1900-1944) se
recordarão da criança escutando as estrelas tilintando como sininhos
sobre a imensidão do Saara. A meditação pela contemplação do céu
torna-se então meditação para a contemplação das estrelas; o que há de
mais natural para o pequeno Budha que reside em cada um de nós? Sejamos a
criança de coração aberto. Observemos o céu e deixemo-nos ir.
Ofereçamos nossos pensamentos e nossos sentimentos às estrelas. Lancemos
aos céus nossos olhares e aos ventos nossa confusão. Da maneira mais convencional, a meditação Dzogchen pela contemplação celeste se pratica na posição sentada. Instalem-se confortavelmente. Façam algumas respirações e relaxem-se (...). Estejam presentes, receptivos, disponíveis. Não há nada que tenham que fazer, nenhum lugar onde devam estar, nada que tenham que conceber ou realizar. Sejam tão naturais como uma criança deixando-se cair sobre a relva. Acalmem sua mente. Deixem-se repousar na consciência e na simplicidade. Após uma profunda inspiração, vocalizem: "Ahhh". Inspirem novamente. Depois vocalizem enquanto expiram: "Ahhh, ahhh". Deixem esse "Ahhh" transportar vocês além de vocês mesmos. "Ahhh". Projetem suas mentes. "Ahhh". Levantem os olhos. Elevem o alcance de sua consciência luminosa. Até que ela forme uma esfera completa. Sejam atentos. Estejam presentes. Permaneçam em seu estado natural de presença e despertar espiritual. Como
uma criança deitada na relva e que olha passar as nuvens, deixem todas
as coisas desfilarem nos céus, como a natureza da mente infinita do
Budha. Permaneçam na totalidade celeste da natureza da mente, onde
tudo encontrará seu lugar, que virá momentaneamente ao corpo e a mente.
Sem entraves, a dança sagrada do fenômeno e do numinoso (vivência em questões sobrenaturais) pareça flutuar em um divino desfile. Apreciem o desfile do Dharmakaya, realidade absoluta. Observem o processo pascoal em suas mentes. Desfilando como as vagas no mar, E aproveitem o espetáculo. Há lugar para todas as coisas. A meditação natural do Dzogchen é às vezes entendida como uma não meditação, por que é frequentemente desprovida de forma e de constrangimento. O Dzogchen sublinha o fato de que todos os constituintes do Caminho podem ser abordados sob uma forma contemplativa, reconhecendo neles o jogo divino da mente búdhica, a realidade absoluta. Para praticar a meditação pela contemplação celeste, não é realmente necessário observar o céu. Esse espaço nos é sempre acessível fechando simplesmente os olhos, ao observar a luz que surge do fundo de nossos olhos. Podemos nos fundir neste espaço que não é outro senão o reflexo puro, luminoso e aberto da natureza da mente. Os adeptos do Dzogchen dedicam-se a estas práticas durante horas, mas é também válido faze-las durante alguns instantes, nem que seja por um minuto. A questão que se coloca, é saber qual o tempo requerido para entrar em contato com nosso infinito interior, para acessar a Visão, a grande imagem englobante. Ora, para isso, é sempre possível usar os mesmos princípios da meditação Dzogchen e aplicá-los sobre uma variada gama de meditações naturais. Podemos, por exemplo, praticar a contemplação da terra, do fogo, da água e mesmo do vento. Quem dentre nós não se deixou fascinar pelas chamas de uma faísca de lenha consumindo-se numa lareira? A experiência pode revelar-se calmante, reconfortante, tanto como esclarecedora e regeneradora. Pessoalmente, gosto de meditar à beira do oceano, lagoa ou rio deixando meus pensamentos desenrolarem-se ao ritmo das vagas. O som do natureza é tão regular que não faço nenhum esforço para minha respiração acalmar-se. Para a prática da contemplação terrestre, podemos também observar as vastas extensões com um sentimento de infinito no qual teremos o sentimento de nos perder. Desertos, montanhas, gargantas e florestas são portanto lugares que nos conduzem à contemplação terrestre. A intenção reside na descoberta de espaços graças aos quais nos é possível projetar nossa mente para o incomensurável, de maneira que nossa natureza humana egoísta seja investida de um sentimento de infinito e do sagrado. O fogo consome tudo; o oceano engole tudo; e o furacão carrega tudo. Os fenômenos terrestres nos dão a impressão de derrisão (riso que provoca zombaria) e de insignificância. Nós somos muito pouca coisa ao olhar para os quatro elementos que são a água, o ar, a terra e o fogo. Entretanto, não é absolutamente necessário basear-nos nos fenômenos naturais para conduzir-nos à meditação; basta um lugar que desperte em nós admiração e respeito. Observar um arranha-céu, o Parthenon, em Atenas; a torre Eiffel, em Paris; a ponte Golden Gate, em São Francisco ou a pirâmide de Queóps no Cairo, conseguirá também o mesmo processo. Por que todo monumento natural ou artificial, pode muito bem conduzir-nos à meditação, na medida em que os sentimentos que eles tenham inspirado forem suficientes para projeta-nos além de nós mesmos. Durante a prática desta meditação Dzogchen, teremos o cuidado de respirar regularmente, em um ritmo natural, e deixar esta impressão de infinito comandar a nossa finitude. Esses encontros com a imensidão contribuem para conduzir-nos à realidade; eles podem também ajudar-nos a estabelecer o contato com ela, e abrir-nos a nossa budheidade natural. No infinito, é preciso também ver o infinitamente pequeno. Adquiri esse mesmo sentimento, pelo fato do respeito e do maravilhar-me, diante das menores criaturas, esses milhões de seres invisíveis que, sob o microscópio, apresentam-se em uma gota d’água. Henry Wadsworth Longfellow (1807-1882) disse-o muito bem nessas linhas; e se houver um conselho a seguir para a meditação natural, é exatamente este: Instalai-vos em vosso devaneio e observai. As cores mutantes das vagas quebrando-se. Sobre a praia ideal de vossa mente. http://www.nossacasa.net/shunya/. Abraço. Davi.
Sem entraves, a dança sagrada do fenômeno e do numinoso (vivência em questões sobrenaturais) pareça flutuar em um divino desfile. Apreciem o desfile do Dharmakaya, realidade absoluta. Observem o processo pascoal em suas mentes. Desfilando como as vagas no mar, E aproveitem o espetáculo. Há lugar para todas as coisas. A meditação natural do Dzogchen é às vezes entendida como uma não meditação, por que é frequentemente desprovida de forma e de constrangimento. O Dzogchen sublinha o fato de que todos os constituintes do Caminho podem ser abordados sob uma forma contemplativa, reconhecendo neles o jogo divino da mente búdhica, a realidade absoluta. Para praticar a meditação pela contemplação celeste, não é realmente necessário observar o céu. Esse espaço nos é sempre acessível fechando simplesmente os olhos, ao observar a luz que surge do fundo de nossos olhos. Podemos nos fundir neste espaço que não é outro senão o reflexo puro, luminoso e aberto da natureza da mente. Os adeptos do Dzogchen dedicam-se a estas práticas durante horas, mas é também válido faze-las durante alguns instantes, nem que seja por um minuto. A questão que se coloca, é saber qual o tempo requerido para entrar em contato com nosso infinito interior, para acessar a Visão, a grande imagem englobante. Ora, para isso, é sempre possível usar os mesmos princípios da meditação Dzogchen e aplicá-los sobre uma variada gama de meditações naturais. Podemos, por exemplo, praticar a contemplação da terra, do fogo, da água e mesmo do vento. Quem dentre nós não se deixou fascinar pelas chamas de uma faísca de lenha consumindo-se numa lareira? A experiência pode revelar-se calmante, reconfortante, tanto como esclarecedora e regeneradora. Pessoalmente, gosto de meditar à beira do oceano, lagoa ou rio deixando meus pensamentos desenrolarem-se ao ritmo das vagas. O som do natureza é tão regular que não faço nenhum esforço para minha respiração acalmar-se. Para a prática da contemplação terrestre, podemos também observar as vastas extensões com um sentimento de infinito no qual teremos o sentimento de nos perder. Desertos, montanhas, gargantas e florestas são portanto lugares que nos conduzem à contemplação terrestre. A intenção reside na descoberta de espaços graças aos quais nos é possível projetar nossa mente para o incomensurável, de maneira que nossa natureza humana egoísta seja investida de um sentimento de infinito e do sagrado. O fogo consome tudo; o oceano engole tudo; e o furacão carrega tudo. Os fenômenos terrestres nos dão a impressão de derrisão (riso que provoca zombaria) e de insignificância. Nós somos muito pouca coisa ao olhar para os quatro elementos que são a água, o ar, a terra e o fogo. Entretanto, não é absolutamente necessário basear-nos nos fenômenos naturais para conduzir-nos à meditação; basta um lugar que desperte em nós admiração e respeito. Observar um arranha-céu, o Parthenon, em Atenas; a torre Eiffel, em Paris; a ponte Golden Gate, em São Francisco ou a pirâmide de Queóps no Cairo, conseguirá também o mesmo processo. Por que todo monumento natural ou artificial, pode muito bem conduzir-nos à meditação, na medida em que os sentimentos que eles tenham inspirado forem suficientes para projeta-nos além de nós mesmos. Durante a prática desta meditação Dzogchen, teremos o cuidado de respirar regularmente, em um ritmo natural, e deixar esta impressão de infinito comandar a nossa finitude. Esses encontros com a imensidão contribuem para conduzir-nos à realidade; eles podem também ajudar-nos a estabelecer o contato com ela, e abrir-nos a nossa budheidade natural. No infinito, é preciso também ver o infinitamente pequeno. Adquiri esse mesmo sentimento, pelo fato do respeito e do maravilhar-me, diante das menores criaturas, esses milhões de seres invisíveis que, sob o microscópio, apresentam-se em uma gota d’água. Henry Wadsworth Longfellow (1807-1882) disse-o muito bem nessas linhas; e se houver um conselho a seguir para a meditação natural, é exatamente este: Instalai-vos em vosso devaneio e observai. As cores mutantes das vagas quebrando-se. Sobre a praia ideal de vossa mente. http://www.nossacasa.net/shunya/. Abraço. Davi.
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