Do editor do Mosaico. Neste domingo (16/08) teremos as manifestações
populares, provavelmente acontecendo nas principais capitais e grandes cidades do nosso país. Desta vez, amparadas pelos partidos de oposição ao governo, onde a orientação
é se expressar pela renúncia da presidenta Dilma. Inclusive o candidato derrotado na eleição presidencial passada, Senador Aécio Neves confirmou sua presença nas manifestações, mas não esclareceu em que cidade apoiará o movimento. Então segue uma breve
reflexão sobre o momento político em que o Brasil está atravessando. Como não
tenho pretensões partidária e nem ideologia de engajamento social, ponderarei
algumas ideias que estão sendo abordadas principalmente pela mídia internet,
televisiva e impressa. Tentarei desvincular meus pensamentos de supostos
vínculos de simpatia por esse ou aquele movimento; buscando na imparcialidade e
neutralidade, se é que posso assumir essa posição, uma razoável apreciação de
fatos que lemos ou ouvimos nesses momentos, fazendo também algumas
contextualizações sócio históricas à uma melhor compreensão dos eventos. Deixo
claro que, o que escrevo, agora, não tem aspiração de influenciar nenhum dos
leitores que imagino já devem ter suas opiniões formadas, bem como seus
conceitos alicerçados no cenário que tem se desenhado desde o final das
eleições em 26/10/2014, quando a Presidente Dilma foi reeleita ao segundo
mandato. Por sinal estas eleições foram marcadas por farpas de ambos os lados
(situação e oposição), uma guerra de palavras e insultos velados e explícitos que,
ainda hoje, rendem mágoas e ressentimentos entre os que se envolveram nas
campanhas políticas dos postulantes ao cargo público eletivo máximo do
Executivo Federal. Sabemos que o ano de 2015, tem sido muito difícil em
praticamente todas as áreas, desde a econômica envolvendo impostos, tributos e
taxas, empregos, inflação, déficit público e também a social onde
serviços básicos como saúde, segurança e educação estão sendo desde anos
sucateados pela máquina pública federal, estadual e municipal. Bem como a redução
de postos de trabalho em todo o país, e acordos com os empresários para manter
trabalhadores das montadoras de veículos automotores, reduzindo os seus
salários. O ano começou com os escândalos de corrupção, tráfego de influência e
delapidação de recursos públicos desvendados pela Operação Lava Jato. O
Ministério Público Federal, Polícia Federal e a Justiça Federal, através de
seus procuradores, delegados e policiais estão conseguindo elucidar, o que está
sendo, o maior desvio de verbas públicas já realizado na história do Brasil.
Políticos de renome, executivos das maiores construtoras e empreiteiras; até
almirante da Marinha do Brasil estão sendo investigados por receberem propina
de esquemas que fraudavam licitações em todo o Brasil. O foco da investigação
policial tem sido a estatal Petrobras, detentora do monopólio de refino,
comercialização e distribuição do petróleo em território nacional. Os
procuradores da república, delegados federais e um juiz federal que cuida
especificamente do caso, dizem que, segundo as investigações, dessa empresa
nacional foram desviados mais de 2 bilhões de dólares entregues
fraudulentamente a atravessadores e “laranjas”, em nome dos mandantes desse
esquema criminoso, depositados em paraísos fiscais, sendo que muitos desses
milhões de dólares roubados estão retidos em bancos da Suíça, aguardando
processo formal de repatriação para o Brasil. Os tentáculos da depravação ética
se estendem também nos contratos, acordos e convênios de grandes projetos
hidroelétricos, refinarias, portos, rodovias federais e até a construção de uma
usina nuclear na cidade de Angra dos Reis no estado do Rio de Janeiro. Há muito
a ser apurado ainda, mas as averiguações avançam e esse absurdo montante deve
aumentar consideravelmente. De positivo temos que muitos desses bandidos já
estão presos, e outros sob o instituto da delação premiada, aguardam a
conclusão das investigações para serem condenados pela justiça por seus crimes
contra o patrimônio público. A grave crise econômica e política pela qual passa
o Brasil, tem sua origem dentre outros fatos no envolvimento de muitos membros
do parlamento brasileiro. Basta dizer que os dois presidentes da Câmara Alta e
da Câmara Baixa foram denunciados pelo Ministério Publico Federal, na pessoa do
Procurador Geral da República à Suprema Corte brasileira por receberam propina
do esquema fraudulento da Petrobras. As cifras desses valores são geralmente de
milhões de reais, moeda brasileira. Mais de 40 parlamentares (deputados e
senadores) do Congresso Nacional, foram também indiciados como participantes do
esquema espoliador do dinheiro público, sendo que as diligências à provar suas
participações estão em curso no órgão judicial competente, por que segundo a
Constituição Federal eles têm fórum privilegiado. Esses fatos nos
entristece profundamente, mostrando que muitos colocam sua honra e ética
civilizatória de lado, vendendo-se e corrompendo-se por valores monetário,
explicitamente ilícitos, que seriam destinados ao bem estar e dignidade dos
cidadãos brasileiros. O que temos visto hoje é que há um jogo de interesses
pessoais sobrepondo a necessidade urgente de enfrentarmos as dificuldades
econômicas, sociais e políticas pela qual o Brasil está passando. Os políticos,
principalmente os investigados, assumem posições antipatriótica, tentando
pressionar o governo, não votando ou votando contra as medidas de ajuste fiscal
e tributário para conter gastos, diminuir a alta da inflamação, normalizar o
câmbio e fazer com que os investidores internacionais voltem a aplicar seus
dólares no país; comprando ações de empresas brasileiras e investindo em suas
filiais aqui residentes. Esse “xadrez” político tem bloqueado o diálogo, e
endurecido as posições, fazendo surgir discrepâncias jurídicas, ao meu ver,
tais como a sugestão de impeachment ou renúncia da Presidenta Dilma. A mídia
(internet, televisão e jornal impresso) em geral, salvo alguns casos
específicos como a Rede Globo, SBT e Record, tem exercido um papel ofensivo e
intransigente nessa questão do que estão chamando de vácuo político ou
ingovernabilidade. Como a maioria do povo, não tem opinião própria, precisando
de terceiros para formar seu ponto de vista, acaba sendo manipulado por esses
veículos de informação, que em sua maioria deseja a saída da mandatário máxima
do Poder Executivo. É estranho um país onde nossos representantes, eleitos,
colocam seus ponto de vista e interesses particulares acima dos da nação e do
povo. Acho que um dos maiores problema atualmente da sociedade brasileira é o
machismo esclerosado e estereotipado em todos os seguimentos de nossa cultura.
Aja vista que, em termos políticos, das 594 cadeira em nosso parlamento, apenas
63, pouco mais de 10% são ocupadas por mulheres nessa atual legislatura.
Proporção bem maiores encontramos em países europeus, asiáticos e em algumas
nações africanas. Também as mulher representam em proporção absoluta 52% dos
mais de 200 milhões e 400 mil do total da população brasileira, e segundo o
IBGE atualmente 38% dos lares em nosso país são chefiados por mulheres. Numa
perspectiva como essa, de expressividade da atuação feminina nos vários setores
da sociedade, grande parte dos eleitores insatisfeitos com o resultado das
eleições de outubro passado, ainda estão ávidos à retirar de seu posto,
conquistado com legitimidade pelo voto da maioria, nossa única mandatária
que comanda o Brasil. Como nunca tivemos uma Presidenta mulher não obtemos
interesse em continuar sendo governado por uma representante feminina. Nossa
cultura ainda é de colonização e subordinação realizada pela masculinidade, e
esse fato fere o orgulho narcisista que o dominador europeu transportou à nosso
inconsciente. Quando uma mulher comanda, transparece o falso adágio popular do
"sexo frágil", um anacronismo sem lugar na pós modernidade, que impulsiona supostamente o direito de retirá-la do cargo, mesmo
não havendo sustentação plausível na legislação que autorize tal procedimento.
Lembrando que na América do Sul temos representantes femininas como mandatárias
nacionais, caso de Cristina Kirchner (2007-2015) que está terminando seu
segundo mandato como presidenta Argentina. Michelle Bachelet (2010-2014) foi
reeleita ano passado para o segundo mandato como presidenta do Chile. A
poderosa Ângela Merkel eleita pelo povo alemão em 2005, já está em seu terceiro
mandato como primeira ministra alemã. Esses fatos por si só, falam da mudança
de paradigma que nós brasileiros ainda não assimilamos a contento. Bachelet
amarga índice de 31% de popularidade, mês de maio, no Chile, mas mesmo assim,
não há nenhum movimento para sacá-la da presidência daquele país. O que dizer
da dama de ferro inglesa Margareth Thatcher, que comandou seu país (1979-1990)
onze anos, como primeira ministra do Reino Unido. Se fala da reprovação do
governo Dilma pela população, 70% dos brasileiros acham ruim o desempenho de
seu governo, segundo os institutos de pesquisa, no mês de agosto, como
condição de uma possível renúncia, comparando os índices a época do governo
José Sarney (1985-1990) e Fernando Collor (1990-1992). Penso ser irrazoável a
confrontação pois no primeiro exemplo tínhamos inflação de 1.972% ao ano, com
desabastecimento de produtos da cesta básica e mercadorias. Moratória, dívida
externa e fuga de capitais externos. No segundo exemplo tínhamos congelamento
de preços e salários, bloqueio de contas e confisco de poupanças, (milhares de
pessoas foram roubadas pelo governo Collor e nunca recuperaram tais valores)
demissão em massa de funcionários públicos e disponibilidade de outros. Além de
uma inflação beirando aos 500% ao ano. Sarney cumpriu seu mandato integralmente
e o Collor sofreu impeachment. Esses aspecto mostram a dissonância em
grosseiramente comparar os três governos (Sarney, Collor e Dilma) como
justificativa de ruptura política, que traria mais neuroses à sociedade
brasileira, além de abrir uma enorme brecha à que grupos oportunistas se
aproveitassem da fragilidade da situação, infundindo elementos antidemocráticos
e messiânicos tipo chavismo (Hugo Chaves), da Venezuela e o peronismo (Juan
Domingo Peron), dos anos 70 na Argentina. Previsões do Banco Central do Brasil,
dão conta que teremos até o final de 2015, índice de inflamação na casa dos 10%
anuais, incomparavelmente distantes dos dois governos brasileiros mencionados
anteriores. Assim, acho contraproducente a discussão envolvendo a suposta tese
de renúncia ou impeachment de nossa presidenta. Não temos, ao meu ver, ambiente
ou situação presumivelmente política e econômica que justifique tal fato; além
do que o momento é de fortalecimento da democracia e respeito as instituições
que abrigam a normatização das leis e legislações pertinentes. Se tivéssemos
num regime parlamentarista, talvez, houvesse juridicamente essa alternativa,
que poderia ser votada pelos deputados e senadores como uma monção de censura
ou desconfiança. Como estamos no regime presidencialista, inexiste esse
procedimento como saída política. Os leitores podem julgar o discurso,
dissertação, conservadora, mas no momento acho que seja o mais sensato e
admissível nessa crise que enfrentamos. Mesmo nessa liberdade que alcançamos,
pós ditadura militar, onde todos podemos nos expressar, criticar e sugerir
alternativas que tragam saídas para o progresso e desenvolvimento do pais,
devemos lembrar que, os limites e parâmetros baseados no bom senso e
comedimento, devem ser respeitados pra que não fujamos ao razoavelmente
aceitável em termos de convivência comum e harmonia comunitária fraterna.
Queremos um país solidário e ordeiro, onde cada um seja capaz de assumir sua
cota de responsabilidade no processo de bem estar do povo brasileiro. Se não
tomamos o interesse em praticarmos gestos de amor e fraternidade para com nosso
próximo, cooperando naquilo que pudermos à mitigar sua dor ou sofrimento, como
imaginar que o país vai crescer e os governos devem contrair, quase sozinhos,
essa gigantesca tarefa da paz e prosperidade geral. Usei o artifício da
generalização, em alguns casos, para tentar abarcar o universo histórico como
parâmetro de uma visão mais contextualização em relação ao tópico específico no
qual nos debruçamos nessa dissertação. Então cabe a nós brasileiros decidirmos
os rumos pelo qual o nosso país vai continuar caminhando; parece que queremos
colocar essa responsabilidade exclusivamente nos políticos e a burocracia
estatal, relevando nossa fundamental contribuição, pois sem ela as mudanças que
todos queremos não serão realizadas não importando quem esteja no comando da
nação. A troca de nome ao meu ver, nesse agora, não traria nenhum fruto. Desse
modo com nossa pequena parcela de virtuosidade, meritoriedade e humanidade
agiremos de forma decisiva nesse processo. Concluo com algumas frases do
filósofo francês Jean Paul Sartre (1905-1980) “Quando os ricos fazem a guerra,
são sempre os pobres que morrem. A violência seja qual for a maneira, é sempre
uma derrota. As boas ações elevam o espírito, e predispõem-nos a praticar
outras. Ser-se livre não é fazer aquilo que queremos, mas querer-se aquilo que
se pode”. Abraço. Davi.
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