quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Relacionamento Familiar.



Texto do editor do Mosaico. Usarei algumas frases curtas do pai da psicanálise Sigmund Freud (1856-1939) para pensar alguns aspecto do relacionamento conjugal. 1. “Como fica forte uma pessoa quando está segura de ser amada”. As esposas, companheiras, precisam ter em seus lares, certeza de que aquele que convive ao seu lado, a ama realmente. E isso aparentemente, não podemos esconder delas, pois além de terem um  instinto de amabilidade aguçado, expressam uma intuição a nível sentimental bem superior a nossa. Essa situação desequilibrada, de desamor, reduz os afetos; as palavras saem fragmentadas e o desentendimento toma forma em termos de acareação e investigação. O amor nesse caso deve ser uma renúncia, onde a pessoa que dispensa o carinho preciso praticar atitudes de compaixão, cumprindo sua missão de proporcionar segurança à quem ama. 2.  “Onde abundam as dores brotam os licores”. Sensatamente falando, devemos desmistificar o estereótipo de que os matrimônios devem ser lindos e maravilhosos. Não é fácil encontrarmos casais 100% satisfeitos em seus relacionamentos, talvez entre milhões deles, algumas centenas façam essa afirmativa, mas não representam a “normalidade” geralmente nas convivências. Devemos reconhecer que sempre quando dois polos diferentes se encontram, atraem-se. Esse é o magnetismo de união entre ambos. Esse novo ambiente que é formado, no matrimônio, conterá mais elementos divergentes que similares; natural esse fato, pois do contrário a dualidade não seria possível. Isso é logicamente provado pela física, lei de coulomb, as cargas eletromagnéticas iguais se repelem. Então devemos criar o clima de harmonia e sintonia mútua nessa original divergência e discrepância. Desse modo tomaremos satisfatoriamente os licores como produto advindo do esmagar a uva, apreciando a pérola, depois do doloroso processo pelo qual a ostra, ferida é produzida. 3. “O caráter de um homem, mulher, é formado pelas pessoas que escolheu para conviver”. Essa ideia é razoavelmente correta quando generalizamos ou particularizamos os fatos. Ouvi semana passada na TV um ginecologista fazendo observações sobre o estado de humor das mulheres. Entre as coisas ditas, falou que quando o homem contrai matrimônio com uma mulher, na verdade, está casando-se com “três” em uma personalidade. Extrapolou na alegoria pra mostrar o quanto a alteração hormonal feminina é acentuada em seu temperamento e comportamento. De manhã ela pode está estressado; a tarde é acometida de uma leve ou intensa depressão; a noite um estado de euforia, alegria, toma conta de seu caráter. Desse modo, há uma imprevisibilidade no comportamento. Esses eventos se intercalam no cotidiano; com incidência de alguns em maior ou menor grau, ou apenas um, em alguns casos sobressaindo-se por períodos de dias. Esse geralmente é, em estado consciente ou inconsciente a caracterização volúvel do temperamento  de grande parte das mulheres. Evidentemente as exceções existem em muitas situações de convivências, sendo isso que estou falando, não um aspecto de patologia, doença, mas uma particularidade feminina intrínseca de sua compleição. Claro que a predominância de comportamentos desse tipo, devem ser tratados e investigados por especialistas na área da psicologia e clínica médica. Sendo que, em casos específicos, após exames, justifica-se a necessidade das mulheres serem medicadas, posteriormente ao período da menopausa, ou antes, à fazerem uso de repositor hormonal. Esse assunto deve ser visto com reservas pelos casais, pois segundo estatística comprovada em pesquisas científicas, os hormônios sintéticos quando absolvidos pelo organismo podem ser agente de infiltração de células cancerígenas, principalmente, entre as mulheres que tem um funcionamento normal de seu útero e ovário. Mas alguns medicamentos para esse fim diminuem sensivelmente essa incidência negativa. Os repositores hormonais adesivos, aqueles que são colados na epiderme, pele da mulher, segundo alguns especialistas são mais indicados a pacientes que já retiraram seu ovário ou útero por motivos de doenças. A carga de transformação e responsabilidade que a mulher suporta, principalmente as inseridas no mercado de trabalho, acaba criando esses sintomas, que no fundo, funcionam como excretores de emoções negativas ou positivas internalizados em suas sensações ou sentimentos. Como exemplo cito o aspecto da menstruação, onde é expelido o sangue venoso impróprio à circulação nas artérias. Todo esse processo tem origem na singularidade do corpo físico feminino, que está preparado à assumir em seu útero uma nova vida, onde o estrogênio, hormônio feminino, tem papel fundamental nesse sistema. Ele atua nas células adequando o corpo físico, quadris, mamas e elasticidade da barriga à um futuro evento de gestação, dentre outras importantes funções. O homem não sofre essas reações adversas que a mulher tem que sintomatizar em seu organismo. Ele têm uma constituição diferente onde seu humor é mais estável e menos sujeito a alteração. Salvo casos clínicos comprovados pelo psiquiatra como bipolaridade. transtornos obsessivos e compulsivos ou surtos psicóticos. Dessa maneira, nós homens, teoricamente, podemos ajudar nossas esposas a enfrentar essas circunstâncias adversas, usando o bom senso e aprendendo a lidar com esses momentos de variação temperamental feminina. Na prática devemos ouvir mais, muito mais; falar menos; sendo preciso e pontual nas argumentações. Esperar o melhor momento para fazer observações de assuntos que foram tratados. Não incitar discussões, nem querer impor arbitrariamente nosso ponto de vista. Procurar não ofendê-la moral ou sentimentalmente, pois essa ação provoca desconforto em seu estado psíquico, em alguns casos levando-se anos, a que o fato seja esquecido. Um aspecto mostrado pela experiência, é que algumas mulheres quando ofendem em palavras ou atitudes seu parceiro, na realidade não queriam realizar essa ação, mas devido a impulsos inconscientes alheios a seu controle, acabam agindo agressivamente. Esse fato é percebido, pois elas posteriormente, em alguns casos, se desculpam ou pedem perdão pelo ocorrido. Alguns homens consideram, que as mulheres ou companheiras caladas, são mais difíceis de se lidar. Essa atitude esconde a emoção ou sensação, que deveria ser expressa em palavras ou sentimento, criando assim futuros incômodos que deverão ser resolvido pelo casal.   4. “Um homem que está livre da religião tem uma oportunidade melhor de viver uma vida mais normal e completa”.  Freud em sua infância teve uma experiência difícil com a religião, pois de família judaica foi bastante reprimido e obrigado à participar das liturgias e iniciações a vida comunitária de seu povo; inclusive havia uma esperança entre seus familiares que se tornasse um rabino, coisa que acabou frustrando seus parentes, pois a expectativa não se concretizou. Essa situação trouxe conflito e perturbação em seu consciente, tanto que sua obra foi marcada  por esses aspecto que a religião provoca, quando tenta coercitivamente impor suas crenças e superstições a seus subordinados. Nas obras Totem e Tabus (1927), e o Futuro de Uma Ilusão (1933) são desenvolvidos esse tema.  Mas ele nunca perdeu a fé em seu D’us, e demonstrou que O Eterno se manifesta de várias formas, tendo sua expressão em todas as pessoas, não sendo em nenhuma hipótese propriedade exclusiva de qualquer povo, religião ou espiritualidade. Freud casou-se e teve seis filhos, mas por ser judeu e morar na Áustria, em Viena (1932), com sua família e algumas irmãs à época da ascensão do nazismo foi perseguido junto com seus familiares. Os amigos conseguiram, na clandestinidade, salvo conduto à que sua família fosse para Londres, mas infelizmente quatro de suas irmãs não foram alcançadas por essa petição e sendo presas, foram deportadas à um dos campo de concentração na Polônia, morrendo anos depois. Essa situação o atormentou por anos, e pra piorar contraiu um tumor maligno no maxilar que o perseguiu até a morte em 1939. Penso que nosso dogmatismo e crendice que herdamos da tradição religiosa, muitas vezes, ao invés de produzir entendimento racional, acaba criando conflitos de interesse onde não sabemos mais ao certo o que representa nossa humanidade, e como colocar a espiritualidade no jogo das convivências relacionais. Assim é no casamento onde temos que lidar com muitos destes embaraços. Pra começar se somos cristãos, de início a cerimônia nupcial é realizada num âmbito onde inconscientemente vinculamos nossa convivência aquele determinado movimento religioso. Um conceito que me parece antiquado na convivência conjugal é o machismo estampado nas páginas da Sagradas Escrituras. Não detalharemos o assunto no momento, estando fora da esfera de nossa dissertação, mas a maioria dos textos do Antigo Testamento vem carregado desta conotação. Salvo alguns trechos que falam da profetiza Hulda (II Reis 22) e da juíza Débora (Juízes 4). A exceção mais preponderante ao machismo cristão está no ministério do Mestre Jesus, que contrariando as seitas judaicas e a própria tradição da lei Mosaica, introduziu mulheres e colaboradoras em seu ministério. Exemplo temos: as irmãs Marta e Maria, Maria Madalena, que segundo a tradição era amiga íntima do Mestre. Maria mãe de Jesus, Maria de Cleófas e muitas outras que os evangelhos não mencionam. Inclusive haviam algumas da nobreza judaica que financiavam diretamente o ministério apostólico do Mestre. Infelizmente em suas 13 cartas (epístolas) no Novo Testamento, São Paulo não seguiu a linha deixada pelo Mestre Jesus, quanto a abandonar o machismo das seitas judaica, preferindo usar este argumento de autoridade que o Mosaismo e o Rabinato antigo usaram à excluir as mulheres da posição de liderança e influência na comunidade dos judeus.   São exemplos Efésios 5:22 “Vós  mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos como ao Senhor, porque o marido é o cabeça da mulher”. I Coríntios 11:3 “Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, e o homem a cabeça da mulher”. I Timóteo 2:13 “Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva, e Adão não foi enganado mas a mulher”. I Pedro 3:1 “Semelhantemente, vós mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios maridos”. Esses versículos bastam pra mostrar que todo o arcabouço mitológico da tradição judaica machista foi incorporado pelos escritos do apóstolo Paulo. Nesse prisma a mulher foi comparada a uma “serva ou doméstica”, cuidadora dos filhos e auxiliadora idôneo do homem. O apóstolo Paulo sendo originário da seita dos fariseus, presumo, tinha conhecimento da cabala e da tradição mística dos rabinos que ensinavam a Toráh e o Talmud ocultos, bem como o Zohar livro do Espendor Divino. A criação original mostrada em Gênesis 1 e 2, segundo esses escritos sagrados do judaísmo são alegorias tendo no esoterismo uma interpretação oculta e sensivelmente diferente da versão que conhecemos no cristianismo tradicional. Assim o primeiro homem, no ocultismo da Cabala é chamado de Adam Cadmo. O ser primitivo e originário dos humanoides subjacente aos posteriores que viriam, era um hermafrodita, muito parecido com a figura idealizada por Platão (428 AC 347) em seu diálogo Crítias. Tinha duas cabeças, duas genitálias distintas e opostas, bem como quatro pernas. Como era macho e fêmea concomitantemente não tinha condições de se reproduzir à perpetuação da espécie. Além de forma exótica e sem um similar na natureza primitiva criada. Assim O Eterno fê-lo dormir e os separou, através de uma incisão; e quando acordaram eram dois sendo homem e mulher distintamente. A Cabala acompanha em termo metafóricos a versão das filosofias orientais e platônicas, quando diverge do pecado original advindo, quando a mulher e o homem comeram do fruto proibido por Deus. “O que a Cabala diz sobre o pecado original, e o que significa esta queda do homem? A Cabala afirma que toda a história de Adão e Eva e sua queda é uma alegoria. Ela se refere aos acontecimentos que ocorreram nas Sefirot superiores antes da criação dessa realidade: o nosso universo e nós dentro dele. Não há pecado em nada disso. Nós o chamamos assim porque caímos do nível espiritual em que fomos inicialmente criados para o nosso nível atual, neste mundo, através de todos os 125 níveis evolutivos. Isso é chamado de “pecado”, mas não foi culpa nossa. Ele aconteceu em nossa raiz. Mais tarde, quando nos desenvolvemos ao longo de milhares de anos no nível deste mundo, isso também não foi culpa nossa. Todo esse tempo nós temos nos desenvolvidos inconscientemente, sem saber como e onde nos desenvolvemos. O egoísmo nos empurrou para frente”. http://laitmam.com.br. Como esse conhecimento é esotérico, interno, e em muitos casos, as pessoas humildes e ignorantes não o entenderiam de forma abstrata, fica restrito a um pequeno grupo que consegue separar as doutrinas baseadas no dogmatismo, crendice e superstições daquilo que a Sabedoria Divina expõe a milhares de anos antes de Cristo nos escritos sagrados místicos e esotéricos de muitas tradições orientais. São Paulo tinha acesso a todo esse conhecimento oculto, mas como o cristianismo precisava chegar as massas populares, ele acabou usando uma linguagem literal, escondendo daqueles que não estavam capacitados a ouvir ou ler, o verdadeiro sentido das expressões bíblicas. Assim a mulher desde os primórdios ocupa posição de destaque na criação, inclusive espiritualidades como a Cabala, o Hinduísmo e o Budismo entre outras têm a expressão correspondente da divindade feminina em suas Trindades. Alguns místicos cristãos como Orígenes de Alexandria (185-254), Gregório de Nissa (335-394), Evágrio Pontico (345-399) e na Idade Média mestre Eckhart (1260-1328), implicitamente trazem essa ideia em seus escritos. Alguns destes imaginavam que o Espírito Santo era a parte feminina da Trindade Divina, que expressava o amor e a compaixão à todos os seres da criação. Como São Francisco de Assis que inspirado na tradição Sufista do Islã concebia a natureza fauna e flora como extensões da divindade, que deveriam ser amadas e respeitas como os humanos. Os chamava todos como irmãos, irmãs, pais e mães. Sua compaixão era tão autêntica que quando cruzava com uma lesma em seu caminho, fazia questão de removê-la à um lugar seguro para que não fosse esmagada voluntária ou involuntariamente por um transeunte. Concluindo, grande é nossa responsabilidade em construir um lar solidário e coeso nesse planetário ecossistema chamado Terra. Nosso lar, família, é um micro mundo desse cosmo celeste, que devemos preservar em harmonia e sintonia, à que expressemos exteriormente pela vibração positiva à todo o universo visível e invisível. Nossa felicidade passa pela felicidade de todos os seres sencientes, (não humanos) dos menos evoluídos aos que chegaram a estágios mais desenvolvidos, com consciência interagindo com outros níveis de formas e estruturas. Todos os seres, sem exceção, estão aprendendo a lidar com seu sofrimento, morte e renascimento. Esse processo precisa ser realizado para que todos evoluamos, até chegar ao despertamento e a iluminação búdhica. Abraço. Davi.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário