Texto do editor do Mosaico. Usarei algumas frases curtas do pai da
psicanálise Sigmund Freud (1856-1939) para pensar alguns aspecto do
relacionamento conjugal. 1. “Como fica forte uma pessoa quando está segura de
ser amada”. As esposas, companheiras, precisam ter em seus lares, certeza de
que aquele que convive ao seu lado, a ama realmente. E isso aparentemente, não
podemos esconder delas, pois além de terem um instinto de amabilidade
aguçado, expressam uma intuição a nível sentimental bem superior a nossa. Essa
situação desequilibrada, de desamor, reduz os afetos; as palavras saem
fragmentadas e o desentendimento toma forma em termos de acareação e
investigação. O amor nesse caso deve ser uma renúncia, onde a pessoa que dispensa
o carinho preciso praticar atitudes de compaixão, cumprindo sua missão de
proporcionar segurança à quem ama. 2. “Onde abundam as dores brotam os
licores”. Sensatamente falando, devemos desmistificar o estereótipo de que os
matrimônios devem ser lindos e maravilhosos. Não é fácil encontrarmos casais
100% satisfeitos em seus relacionamentos, talvez entre milhões deles, algumas
centenas façam essa afirmativa, mas não representam a “normalidade” geralmente
nas convivências. Devemos reconhecer que sempre quando dois polos diferentes se
encontram, atraem-se. Esse é o magnetismo de união entre ambos. Esse novo
ambiente que é formado, no matrimônio, conterá mais elementos divergentes que
similares; natural esse fato, pois do contrário a dualidade não seria possível.
Isso é logicamente provado pela física, lei de coulomb, as cargas
eletromagnéticas iguais se repelem. Então devemos criar o clima de harmonia e
sintonia mútua nessa original divergência e discrepância. Desse modo tomaremos
satisfatoriamente os licores como produto advindo do esmagar a uva, apreciando
a pérola, depois do doloroso processo pelo qual a ostra, ferida é produzida. 3.
“O caráter de um homem, mulher, é formado pelas pessoas que escolheu para
conviver”. Essa ideia é razoavelmente correta quando generalizamos ou
particularizamos os fatos. Ouvi semana passada na TV um ginecologista fazendo
observações sobre o estado de humor das mulheres. Entre as coisas ditas, falou
que quando o homem contrai matrimônio com uma mulher, na verdade, está casando-se
com “três” em uma personalidade. Extrapolou na alegoria pra mostrar o quanto a
alteração hormonal feminina é acentuada em seu temperamento e comportamento. De
manhã ela pode está estressado; a tarde é acometida de uma leve ou intensa
depressão; a noite um estado de euforia, alegria, toma conta de seu caráter.
Desse modo, há uma imprevisibilidade no comportamento. Esses eventos se
intercalam no cotidiano; com incidência de alguns em maior ou menor grau, ou
apenas um, em alguns casos sobressaindo-se por períodos de dias. Esse
geralmente é, em estado consciente ou inconsciente a caracterização volúvel do
temperamento de grande parte das mulheres. Evidentemente as exceções
existem em muitas situações de convivências, sendo isso que estou falando, não
um aspecto de patologia, doença, mas uma particularidade feminina intrínseca de
sua compleição. Claro que a predominância de comportamentos desse tipo, devem
ser tratados e investigados por especialistas na área da psicologia e clínica
médica. Sendo que, em casos específicos, após exames, justifica-se a
necessidade das mulheres serem medicadas, posteriormente ao período da
menopausa, ou antes, à fazerem uso de repositor hormonal. Esse assunto deve ser
visto com reservas pelos casais, pois segundo estatística comprovada em
pesquisas científicas, os hormônios sintéticos quando absolvidos pelo organismo
podem ser agente de infiltração de células cancerígenas, principalmente, entre
as mulheres que tem um funcionamento normal de seu útero e ovário. Mas alguns
medicamentos para esse fim diminuem sensivelmente essa incidência negativa. Os
repositores hormonais adesivos, aqueles que são colados na epiderme, pele da mulher,
segundo alguns especialistas são mais indicados a pacientes que já retiraram
seu ovário ou útero por motivos de doenças. A carga de transformação e
responsabilidade que a mulher suporta, principalmente as inseridas no mercado
de trabalho, acaba criando esses sintomas, que no fundo, funcionam como
excretores de emoções negativas ou positivas internalizados em suas sensações
ou sentimentos. Como exemplo cito o aspecto da menstruação, onde é expelido o
sangue venoso impróprio à circulação nas artérias. Todo esse processo tem
origem na singularidade do corpo físico feminino, que está preparado à assumir
em seu útero uma nova vida, onde o estrogênio, hormônio feminino, tem papel
fundamental nesse sistema. Ele atua nas células adequando o corpo físico,
quadris, mamas e elasticidade da barriga à um futuro evento de gestação, dentre
outras importantes funções. O homem não sofre essas reações adversas que a
mulher tem que sintomatizar em seu organismo. Ele têm uma constituição
diferente onde seu humor é mais estável e menos sujeito a alteração. Salvo
casos clínicos comprovados pelo psiquiatra como bipolaridade. transtornos obsessivos
e compulsivos ou surtos psicóticos. Dessa maneira, nós homens, teoricamente,
podemos ajudar nossas esposas a enfrentar essas circunstâncias adversas, usando
o bom senso e aprendendo a lidar com esses momentos de variação temperamental
feminina. Na prática devemos ouvir mais, muito mais; falar menos; sendo preciso
e pontual nas argumentações. Esperar o melhor momento para fazer observações de
assuntos que foram tratados. Não incitar discussões, nem querer impor
arbitrariamente nosso ponto de vista. Procurar não ofendê-la moral ou
sentimentalmente, pois essa ação provoca desconforto em seu estado psíquico, em
alguns casos levando-se anos, a que o fato seja esquecido. Um aspecto mostrado
pela experiência, é que algumas mulheres quando ofendem em palavras ou atitudes
seu parceiro, na realidade não queriam realizar essa ação, mas devido a
impulsos inconscientes alheios a seu controle, acabam agindo agressivamente.
Esse fato é percebido, pois elas posteriormente, em alguns casos, se desculpam
ou pedem perdão pelo ocorrido. Alguns homens consideram, que as mulheres ou
companheiras caladas, são mais difíceis de se lidar. Essa atitude esconde a
emoção ou sensação, que deveria ser expressa em palavras ou sentimento, criando
assim futuros incômodos que deverão ser resolvido pelo casal. 4. “Um
homem que está livre da religião tem uma oportunidade melhor de viver uma vida
mais normal e completa”. Freud em sua infância teve uma experiência
difícil com a religião, pois de família judaica foi bastante reprimido e obrigado
à participar das liturgias e iniciações a vida comunitária de seu povo;
inclusive havia uma esperança entre seus familiares que se tornasse um rabino,
coisa que acabou frustrando seus parentes, pois a expectativa não se
concretizou. Essa situação trouxe conflito e perturbação em seu consciente,
tanto que sua obra foi marcada por esses
aspecto que a religião provoca, quando tenta coercitivamente impor suas crenças
e superstições a seus subordinados. Nas obras Totem e Tabus (1927), e o Futuro
de Uma Ilusão (1933) são desenvolvidos esse tema. Mas ele nunca perdeu a fé em seu D’us, e
demonstrou que O Eterno se manifesta de várias formas, tendo sua expressão em
todas as pessoas, não sendo em nenhuma hipótese propriedade exclusiva de qualquer
povo, religião ou espiritualidade. Freud casou-se e teve seis filhos, mas por
ser judeu e morar na Áustria, em Viena (1932), com sua família e algumas irmãs
à época da ascensão do nazismo foi perseguido junto com seus familiares. Os
amigos conseguiram, na clandestinidade, salvo conduto à que sua família fosse
para Londres, mas infelizmente quatro de suas irmãs não foram alcançadas por
essa petição e sendo presas, foram deportadas à um dos campo de concentração na
Polônia, morrendo anos depois. Essa situação o atormentou por anos, e pra
piorar contraiu um tumor maligno no maxilar que o perseguiu até a morte em
1939. Penso que nosso dogmatismo e crendice que herdamos da tradição religiosa,
muitas vezes, ao invés de produzir entendimento racional, acaba criando
conflitos de interesse onde não sabemos mais ao certo o que representa nossa
humanidade, e como colocar a espiritualidade no jogo das convivências
relacionais. Assim é no casamento onde temos que lidar com muitos destes
embaraços. Pra começar se somos cristãos, de início a cerimônia nupcial é
realizada num âmbito onde inconscientemente vinculamos nossa convivência aquele
determinado movimento religioso. Um conceito que me parece antiquado na
convivência conjugal é o machismo estampado nas páginas da Sagradas Escrituras.
Não detalharemos o assunto no momento, estando fora da esfera de nossa
dissertação, mas a maioria dos textos do Antigo Testamento vem carregado desta
conotação. Salvo alguns trechos que falam da profetiza Hulda (II Reis 22) e da
juíza Débora (Juízes 4). A exceção mais preponderante ao machismo cristão está
no ministério do Mestre Jesus, que contrariando as seitas judaicas e a própria
tradição da lei Mosaica, introduziu mulheres e colaboradoras em seu ministério.
Exemplo temos: as irmãs Marta e Maria, Maria Madalena, que segundo a tradição
era amiga íntima do Mestre. Maria mãe de Jesus, Maria de Cleófas e muitas
outras que os evangelhos não mencionam. Inclusive haviam algumas da nobreza
judaica que financiavam diretamente o ministério apostólico do Mestre.
Infelizmente em suas 13 cartas (epístolas) no Novo Testamento, São Paulo não
seguiu a linha deixada pelo Mestre Jesus, quanto a abandonar o machismo das
seitas judaica, preferindo usar este argumento de autoridade que o Mosaismo e o
Rabinato antigo usaram à excluir as mulheres da posição de liderança e
influência na comunidade dos judeus.
São exemplos Efésios 5:22 “Vós
mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos como ao Senhor, porque o marido
é o cabeça da mulher”. I Coríntios 11:3 “Mas quero que saibais que Cristo é a
cabeça de todo homem, e o homem a cabeça da mulher”. I Timóteo 2:13 “Porque
primeiro foi formado Adão, depois Eva, e Adão não foi enganado mas a mulher”. I
Pedro 3:1 “Semelhantemente, vós mulheres, sede sujeitas aos vossos próprios
maridos”. Esses versículos bastam pra mostrar que todo o arcabouço mitológico
da tradição judaica machista foi incorporado pelos escritos do apóstolo Paulo.
Nesse prisma a mulher foi comparada a uma “serva ou doméstica”, cuidadora dos
filhos e auxiliadora idôneo do homem. O apóstolo Paulo sendo originário da
seita dos fariseus, presumo, tinha conhecimento da cabala e da tradição mística
dos rabinos que ensinavam a Toráh e o Talmud ocultos, bem como o Zohar livro do
Espendor Divino. A criação original mostrada em Gênesis 1 e 2, segundo esses
escritos sagrados do judaísmo são alegorias tendo no esoterismo uma
interpretação oculta e sensivelmente diferente da versão que conhecemos no
cristianismo tradicional. Assim o primeiro homem, no ocultismo da Cabala é
chamado de Adam Cadmo. O ser primitivo e originário dos humanoides subjacente
aos posteriores que viriam, era um hermafrodita, muito parecido com a figura
idealizada por Platão (428 AC 347) em seu diálogo Crítias. Tinha duas cabeças,
duas genitálias distintas e opostas, bem como quatro pernas. Como era macho e
fêmea concomitantemente não tinha condições de se reproduzir à perpetuação da
espécie. Além de forma exótica e sem um similar na natureza primitiva criada.
Assim O Eterno fê-lo dormir e os separou, através de uma incisão; e quando
acordaram eram dois sendo homem e mulher distintamente. A Cabala acompanha em
termo metafóricos a versão das filosofias orientais e platônicas, quando
diverge do pecado original advindo, quando a mulher e o homem comeram do fruto
proibido por Deus. “O que a Cabala diz sobre o pecado original, e o que
significa esta queda do homem? A Cabala afirma que toda a história de Adão e
Eva e sua queda é uma alegoria. Ela se refere aos acontecimentos que ocorreram
nas Sefirot superiores antes da criação dessa realidade: o nosso universo e nós
dentro dele. Não há pecado em nada disso. Nós o chamamos assim porque caímos do
nível espiritual em que fomos inicialmente criados para o nosso nível atual,
neste mundo, através de todos os 125 níveis evolutivos. Isso é chamado de
“pecado”, mas não foi culpa nossa. Ele aconteceu em nossa raiz. Mais tarde,
quando nos desenvolvemos ao longo de milhares de anos no nível deste mundo,
isso também não foi culpa nossa. Todo esse tempo nós temos nos desenvolvidos
inconscientemente, sem saber como e onde nos desenvolvemos. O egoísmo nos
empurrou para frente”. http://laitmam.com.br.
Como esse conhecimento é esotérico, interno, e em muitos casos, as pessoas
humildes e ignorantes não o entenderiam de forma abstrata, fica restrito a um
pequeno grupo que consegue separar as doutrinas baseadas no dogmatismo,
crendice e superstições daquilo que a Sabedoria Divina expõe a milhares de anos
antes de Cristo nos escritos sagrados místicos e esotéricos de muitas tradições
orientais. São Paulo tinha acesso a todo esse conhecimento oculto, mas como o
cristianismo precisava chegar as massas populares, ele acabou usando uma
linguagem literal, escondendo daqueles que não estavam capacitados a ouvir ou
ler, o verdadeiro sentido das expressões bíblicas. Assim a mulher desde os
primórdios ocupa posição de destaque na criação, inclusive espiritualidades
como a Cabala, o Hinduísmo e o Budismo entre outras têm a expressão
correspondente da divindade feminina em suas Trindades. Alguns místicos
cristãos como Orígenes de Alexandria (185-254), Gregório de Nissa (335-394),
Evágrio Pontico (345-399) e na Idade Média mestre Eckhart (1260-1328),
implicitamente trazem essa ideia em seus escritos. Alguns destes imaginavam que
o Espírito Santo era a parte feminina da Trindade Divina, que expressava o amor
e a compaixão à todos os seres da criação. Como São Francisco de Assis que
inspirado na tradição Sufista do Islã concebia a natureza fauna e flora como
extensões da divindade, que deveriam ser amadas e respeitas como os humanos. Os
chamava todos como irmãos, irmãs, pais e mães. Sua compaixão era tão autêntica
que quando cruzava com uma lesma em seu caminho, fazia questão de removê-la à
um lugar seguro para que não fosse esmagada voluntária ou involuntariamente por
um transeunte. Concluindo, grande é nossa responsabilidade em construir um lar
solidário e coeso nesse planetário ecossistema chamado Terra. Nosso lar,
família, é um micro mundo desse cosmo celeste, que devemos preservar em
harmonia e sintonia, à que expressemos exteriormente pela vibração positiva à
todo o universo visível e invisível. Nossa felicidade passa pela felicidade de
todos os seres sencientes, (não humanos) dos menos evoluídos aos que chegaram a
estágios mais desenvolvidos, com consciência interagindo com outros níveis de
formas e estruturas. Todos os seres, sem exceção, estão aprendendo a lidar com
seu sofrimento, morte e renascimento. Esse processo precisa ser realizado para
que todos evoluamos, até chegar ao despertamento e a iluminação búdhica.
Abraço. Davi.
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