segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Lao Tse

Lao Tse (571 AC 481) o Supremo Mestre chinês, nascido por volta de 604 AC tem sua existência mesclada de fatos históricos e lendários. Em termos místicos, diziam os antigos que ele foi concebido por sua mãe mediante o raio de uma estrela, que o conduziu durante 160 anos. Lendáriamente, afirmava-se que ele já nascera velho e de cabelos e barbas brancos. Talvez haja nessa lenda a maneira poética de justificar a sabedoria de Lao-Tsé. Sua doutrina, em síntese, pousa no TAO, cuja noção metafísica é aquilo que existiu muito antes dos homens tomarem conhecimento. Quanto ao significado vulgar, TAO quer dizer via ou caminho. Ele porém é muito mais que tão simples definição. Basta dizer que é impossível defini-lo sem o auxÍlio da noção exata de Yin e Yang. Os chineses, em sua linguagem metafórica, dizem que Yin expressa as nuvens e o tempo sombrio, enquanto Yang assume a tipologia de um sol acima do horizonte. Por vezes Yin toma o aspecto obscuro e Yang o luminoso em tudo quanto existe na alma humana e na natureza. Ambos, no entanto, só existem mediante a mútua correlação: um desapareceria sem o outro. Eles equivalem ao ritmo cósmico e telúrico (da terra ou a ela relativo). Yin é passivo e feminino; Yang é ativo e masculino. No I Ching (Livro das Mutações) obra de Fo-Hsi, o Yin é assinalado por uma linha interrompida:                  ; e Yang por uma linha contínua:                 . A combinação dessas linhas forma os trigramas e os  hexagramas.
Os trigramas teriam sido revelados por Fo-Hsi, 2700 AC; segundo a lenda, este sábio os recebera de um Dragão vindo de um rio (...). São dispostos em forma circular em torno de Yin e Yang e, comumente, servem como meio de proteção mágica. Até hoje são usados nas portas dos magos orientais, tanto chineses quanto vietnamitas. Os trigramas, por sua complexidade, merecem estudos mais acurados. Os hexagramas estão reunidos no I Ching. São figuras de seis traços cada uma. Estes traços podem ser contínuos ou descontínuos (—— ou — —). Eles representam o TAO ou princípio universal que rege a ordem. Os hexagramas são ao todo 64: O primeiro, representando Yang, forma um grupo de 6 linhas contínuas: o segundo, expressando Yin, forma o grupo de 6 linhas descontínuas:
Yang                             Yin
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As múltiplas combinações simbólicas dos hexagramas apresentam os elementos constitutivos do Universo e a captação psicológica do indivíduo. Por fim, os hexagramas formam um jogo de profunda complexidade. Até agora tudo que afirmamos acima favorece encontrar o valor do Tao defendido por LaoTsé. Embora haja várias interpretações, oTao, herdado por este pensador da filosofia de Fo Hsi, foi traduzido como razão, palavra (ou Verbo) e senda (caminho espiritual). É interessante lembrar que quando os padres cristãos resolveram verter para o chinês o Novo Testamento, de Jesus, colocaram no capítulo de João o seguinte texto: “No começo era o Tao (Verbo), e o Tao (Verbo) estava com Deus e o Tao (Verbo) era Deus.” Evangelho de João 1:1. Embora Lao Tsé tivesse se inspirado na doutrina de Fo Hsi, mostrou interesse em conservar o sentido tradicional, oculto, da palavra Tao. No seu livro o Tao te King, afirma: “O Tao que pode ser compreendido não é o verdadeiro Tao". Para Fo Hsi o Tao não é a soma de Yin e Yang, uma vez que Yin e Yang subsistem simultaneamente. O Tao porém não deixa de ser o regulador ou equilíbrio entre as polaridades feminina e masculina ou negativa e positiva. O Tao é, melhor dito, o princípio da ordem. Em parte é nesta ordem que Lao Tsé formula seu pensamento, até quando desce à noção ética. Por isso ele deplora a desagregação da sociedade de seu tempo, ausente do princípio moderador. Daí afirmar, com veemência, no Tao te King: “Retirar-se para a obscuridade é o caminho do Céu". A obra de Lao Tsé jamais foi do agrado popular. Teria ele sido, para muitos eruditos, mais um pensador do que propriamente um escritor. Por isso contam-se fatos curiosos a seu respeito. Entre eles ficou a história do imperador chinês, do III século de nossa Era, que, gostando do livro de Lao Tsé, lia-o para os súditos diariamente, mas ameaçava com cruéis castigos o ouvinte que se espreguiçasse ou bocejasse durante a leitura do Tao te King. Não era porém tão insípido o texto taoísta. Nesse ponto, a opinião de Confúcio é-lhe extremamente favorável. Não importando que a direção mental de Confúcio (551 AC 479) e Lao Tsé tomem não raro, caminhos opostos. Este foi mais metafísico, aquele mais pragmático. Quando Confúcio encontrou com Lao-Tsé, tinha 30 anos e o velho mestre 80. Ambos, por seus títulos, atingiram a mesma grandeza: Lao e Kung, possuem o mesmo significado de mestre. As afirmações morais de Lao Tsé se antecipam muitas vezes ao pensamento de Jesus. Diz ele: “Aos que são bons para mim, eu sou bom. E aos que não são bons para mim, eu também sou bom". E mais adiante afirma: “Pague a ofensa com a bondade". Aliás, já tem sido muito estudada a similitude entre o pensamento de Lao-Tsé e do Mestre Nazareno. Lastimavelmente, através do tempo, houve um processo degenerativo dos conceitos básicos, espirituais do verdadeiro Taoísmo. A fonte porém ainda pode ser encontrada em sua pureza por todos que prefiram ler e, meditativamente, vencer as dificuldades da obra de Lao Tsé. Os comentários sobre as grandes doutrinas são quase sempre desabonadores e perigosos quanto à desvirtuação dos textos originais. Em seu sentido mais antigo, o Tao te King era traduzido com mais acerto como o Livro da Perfectibilidade da Natureza. Isto advindo do teor cosmogônico que, por sua vez, abrangia as doutrinas fundamentais da Cosmogênese. Afirmava Lao Tsé, em sua obra, que no princípio não havia nada além do Espaço Infinito. A Vida fez-se por si mesma ou seja do Princípio que existe e desenvolve por si próprio. É aqui que então se enquadra o termo Tao, desconhecido e insondável. Do mesmo modo, a Natureza, para esse filósofo oriental, era incriada, inata e eterna em sua energia. Seu conceito filosófico deixa dúvidas quanto a sua crença em Deus, ou seja, num Deus cultuado e aceito pela maior parte das religiões; pois o Tao que ele adotava em sua dissertação jamais se poderia chamar de uma divindade. Por fim, o Tao permanece envolto em mistério. Se não é Deus como transparece nas afirmações de Fo Hsi e de Lao Tsé, ele é semelhante a um Poder de plena energia onipresente. Isto é o que se deduz das últimas lições que o autor do Tao te King deu a Confúcio: “O Tao não é algo que se possa oferecer como uma dádiva, nem legá-lo aos filhos. A única maneira de possuí-lo seria a de dar-lhe lugar no coração". http://www.correntedapaz.com.br. Abraço. Davi.

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