Krishna viveu aproximadamente no ano 5000 AC. Nenhuma das
grandes figuras místicas do oriente apresenta tão forte semelhança com
Jesus quanto o sempre venerável Krishna (ou Krichna, traduzível como
Negro). Considerado Avatar (ou encarnação) de Vishnu, o “Salvador”, ele
foi filho de Devaki e sobrinha de Kansa (que a senhora Helena P. Blavatsky 1831-1891 compara ao rei
Herodes bíblico) que mandou buscar entre os pastores suas crianças,
matando aos milhares as recém-nascidas. Em
sentido geral, o relato biográfico da maneira como Krishna foi
concebido, bem como o seu nascimento e o transcorrer de sua infância
possui bastante similitude com a descrição dos Evangelhos,
referentemente a Jesus Cristo. Krishna era filho de Vasudeva e da virgem
Devaki e primo de Arjuna (o São João hindu). Ainda dentro do
paralelismo cristão, para escapar à perseguição imposta por Kansa,
Krishna, recém-nascido, é conduzido secretamente por seus pais a uma
família de pastores que vivia incognitamente para lá das margens opostas
do rio Yamunâ. Ainda misteriosamente antecipando os atos do Mestre Nazareno, Krishna, embora
menino, ensinava as doutrinas sagradas ao povo. Adulto, curava doentes
mediante ações magnéticas e expulsava demônios dos transtornados. Nem
no término de sua vida o Grande Mestre hindu, Krishna, deixa de assemelhar-se a
Jesus: é preso a uma árvore e tem seu corpo transpassado por uma flecha. Os
fatos similares acontecidos na vida de Krishna e de Jesus encontram
controvérsias de interpretações nos conceitos de autores voltados para os
temas religiosos e históricos: alguns admitem que a tradição hindu
insere os fatos relatados no Cristianismo ao contexto oriental; outros
acham que, ao contrário, é o Cristianismo que adota as narrações
relativas a Krishna na biografia de Cristo; o que parece mais razoável e coerente. Há
porém uma terceira posição ante as duas suposições acima expostas; quer
dizer, a grandeza da Força Espiritual pode motivar efeitos e fatos
semelhantes, assim como duas Estrelas diferentes emitem luzes idênticas.
Essa Força Espiritual pode também imprimir identificação ao meio e à
forma de Grandes Seres, como Krishna, Christo, Budha objetivando-se dentro das
mesmas medidas estabelecidas pelo Milagre do Espaço que suplanta o
limite histórico dos tempos, não importando que a existência de Krishna
tenha precedido de 5.000 anos a vinda de Jesus Christo. Ante os olhos do
Senhor do Cosmos tudo pode acontecer. Para
os sábios orientais, foi exatamente cinco mil anos após a morte de
Krishna que teve início a Kali Yuga ou Idade Negra, também chamada de
Idade do Ferro. Alguns mestres emprestam a esta Idade Negra o longo
período, no qual ainda estamos, da perda da Justiça, da Paz e do Amor no
seio da Humanidade. Como
os cristãos, relativamente à volta do Cristo, os hindus admitem que,
terminada a Idade Negra ou Kali Yaga, Krishna ressurgirá para inaugurar
uma Era de Luz e Justiça, encerrando o período trevoso do mundo. Em
realidade, fora inúmeros fatos relativos à existência terrena do Avatar
de Vishnú, é no Bhagavad Gîtâ que Krishna toma a representação da
Divindade Suprema, cuja missão foi descer a nosso planeta como Âtman ou
Espírito Imortal para iluminar e salvar a Humanidade. Daí, como Jesus,
ser ele chamado também de Salvador. O
fato é que não se pode admirar o valor divino desse Manifestante do
Altíssimo sem o estudo do Bhagavad Gîtâ, nem compreender esta obra sem
mencionar o Mahâbhârata, do qual é um fragmento ou seção básica relativa
à didática do Hinduísmo. O
Mahâbhârata, teve sua tradução direta do sânscrito somente neste
nosso século. Principalmente a parte atinente ao Bhagavad Gîtâ, só em
1910 foi traduzida em língua espanhola pelo eminente sábio Roviralta
Borrel (1856-1926). Não se pode esquecer a versão feita pelo Mahatma Gandhi (1869-1948) para o gujarati,
seu idioma materno, e posteriormente para o inglês. Havendo no entanto o
Mahatma adaptado o referido poema épico a seus princípios doutrinários.
Chega mesmo a dizer, justificando-se: “Como o homem, o significado das
obras se transforma. Ao examinar a história da linguagem, vemos que o
significado das palavras essenciais mudou e se expandiu. Isto sucede com
o Gîtâ". Quanto
à origem do Mahâbhârata, acredita-se que este poema hindu, comparável
na feitura poética à Ilíada, de Homero, foi composto por Vyâsa, que
literalmente quer dizer aquele que desenrola ou investiga, destrincha, e
também amplia ou disserta. Melhor dito, o que interpreta e revela um
mistério. Em tempos mais antigos houve muitos Vyâsas na Àryâvarta (nome
remoto e esotérico da Índia). É pois plausível que o Mahâbhârata seja
uma compilação feita por um desses sábios Vyâsas, no afã de juntar ao
grande poema de 220.000 versos (o maior em todo o mundo) as lendas, as
tradições e as figuras mitológicas desse povo oriental, o mais rico de
imagens míticas, místicas e transcendentais. É precisamente este
monumento literário que revela e destaca, perante a admiração e a fé, a
inefável imagem de Krishna, para sempre louvada e venerada pela alma
humana. O Bhagavad Gîtâ, que toma a figura de Krishna como seu herói, é obra
profundamente simbólica, cujo mister é levar o homem a lutar com seu ego
ligado à trevas de perigosas paixões. Possuído
de impecávei sugestão literária, esta obra sintetiza em seus versos, na
batalha de Kurú, a interminável luta entre o bem e o mal, mormente no
que diz respeito ao conflito travado no interior do próprio indivíduo,
expresso no desafio guerreiro entre Kuravas e Pândavas. O
saudoso sábio brasileiro Edmundo Cardillo escreve (1856-1926), com grande
felicidade, no prefácio do Bhagavad Gîtâ para Editora Três:
“Graficamente, o jogo de xadrez com suas peças brancas e negras, traduz o
campo de Kurukshetra, onde o peão avança paulatinamente por
transformar-se, ganhando a oitava casa, numa peça do valor mais alto,
mais sujeito nos seus passos a duras investidas". O
Bhagavad Gîtâ, Canto do Senhor, é livro de cabeceira de milhões de
criaturas, no Oriente e no Ocidente. Logicamente criaturas iluminadas
pela Sabedoria Esotérica e integradas nos mistérios revelados pelo
sublime e enigmático texto. Pois é nesta obra que Krishna descerra toda
sua magnitude, estabelecendo seu diálogo com Arjuna, pelo divino ser
auxiliado em sua dura peleja. É logo mostrado o drama da consciência
gritante no guerreiro que, de fato, representa cada um de nós mortais,
em nossas dúvidas humanas. Arjuna
pergunta: “(...) como poderei combater contra Bhîna e Drôna, se, entre todos
os homens, eles são os mais dignos de meu respeito?” De imediato
Krishna aproveita a dúvida do guerreiro discípulo para abrir um tema que
supera os conflitos d’alma. Fala-lhe da futilidade da existência humana
e da imortalidade do espírito. Importa pois que lute dignamente. Durante
o transcorrer da grande batalha, que na realidade é a própria
existência humana, Krishna o Mestre ensina os princípios básicos da
ligação com o Eu Divino através da Yoga e da verdadeira ética baseada em
nobres ações e desprendimento dos vãos desejos. Em sua preleção não
deixa de lembrar os segredos da reencarnação ou renascimentos contínuos. Não
se trata pois de uma obra restrita ao campo guerreiro, militar, onde
matar e morrer são opções da fatalidade. Não. A batalha cruel é o mundo
kármico, (nossas ações visíveis ou invisíveis tem reações em nossa encarnação atual e nas futuras) em que vivemos. É precisamente neste mundo de dualismo e
contradições que Krishna, em diálogo com Arjuna, deixam desabrocharem as
pérolas da Sabedoria que advertem o discípulo que nem tudo é terra,
sangue e sofrimento. Pois em meio às contendas a paz se torna aureolada
de Amor quando o Senhor diz, com suavidade: “Fixa tua mente em mim, penetra em mim o teu entendimento porque, sem dúvida alguma, após a morte, viverás em mim nas Alturas". http//www.correntedapaz.com.br. Abraço. Davi.
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