Nesse
IX capítulo do Bhagavad Gita é dito a quem tem a verdadeira fé, inabalável
esperança e o divino amor; pode ser comunicada a mais sublime Ciência e
revelado o Soberano Segredo, que é a presença Divina na Humanidade. “Fala o
Verbo Divino, Khrisna: A ti, Oh Arjuna, cujo coração está livre de contradição,
ensinarei agora a misteriosa Ciência Suprema, a Ciência dos Reis (1) e o Real
Segredo (2), cujo conhecimento te tornará para sempre livre do mal e da
desventura. Esta Ciência é o mais alto conhecimento, o mais profundo mistério,
o perfeito Purificador, compreensível pela intuição, eterna, infalível e
facilmente praticável. (1) Raja Vidya. (2) Raja Guhya. Aqueles que não a
possuem, não podem chegar a Mim, e por isso, depois de desencarnados voltam a
se reencarnarem neste mundo. Todo este universo, tanto em suas partes, como em
sua totalidade, é uma emanação minha, e Eu o penetro com minha natureza
invisível. Eu que sou o Imanifesto. Todas as coisas de Mim provem, mas Eu não
tenho origem nelas; em Mim estão todas as coisas, mas Eu, em minha Divindade,
não estou circunscrito por elas. Não penses que todas as coisas sejam Eu mesmo.
Eu sou o sustentador de tudo, penetro tudo, mas não sou limitado nem encerrado
nisso. Como o vasto volume de ar, em toda a parte presente e em constante
atividade, é sustentado e contido dentro do éter universal, assim todas as
coisas em Mim estão, no Imanifesto. Pondera bem, Oh Arjuna, sobre este
mistério. No fim de um Kalpa (3), todos os seres e todas as coisas refletem em
minha natureza imaterial e, no princípio de outro Kalpa, torno a emanar de Mim
todas as coisas e todos os seres. (3) Um Kalpa, período de atividade criadora,
é um dia de Brahma, que dura 4.320.000.000 de anos solares. Corresponde ao que
os teósofos, (Teos é Deus e Sofia é Sabedoria. Assim Teosofia é a Sabedoria
Divina) chamam uma Cadeia Planetária. Por meio da minha Natureza material,
emano todas as classes de seres e coisas que constituem o universo, dando-lhes
nova existência: a minha vontade os vivifica; a natureza por si mesma é
impotente para fazê-lo. Mas todas estas obras, Oh príncipe! Não me alteram e
não me limitam; sou superior e indiferente a elas. Obedecendo à minha vontade,
a natureza cria e destrói, produzindo os seres animados e inanimados, eis a razão por que o universo
se move. Os que carecem da verdadeira Luz espiritual, desprezam-me, quando
apareço em forma humana, porque desconhecem a minha verdadeira natureza e
ignoram que sou o Senhor Supremo do Universo. Vaidosos são eles em suas
esperanças, egoístas em suas ações, tolos em seu saber e sem conhecimento da
Verdade, vivendo nos planos inferiores da consciência, onde a malícia, a
brutalidade e o engano dominam. Mas os homens iluminados, que têm desenvolvido
a sua natureza superior, participam do
meu Ser Divino e adoram-me com o ânimo sincero, com a dedicação completa dos
seus corações, porque me reconhecem como a Infinita e Eterna Origem de tudo.
Tendo vivo conhecimento do meu poder, com seriedade me procuram, com vontade
firme, fé inabalável e coração puro me adoram, nunca se desviando do caminho
que a mim leva. Outros me adoram pelo sacrifício de conhecimento, contemplando
em todas as coisas a minha Unidade e minha Natureza indivisível. Eu sou
presente em toda adoração, sim, Eu mesmo sou a adoração. Eu Sou o sacrifício, a
oblação e os perfumes sacrificiais. Eu sou a prece e a invocação. Eu Sou o fogo
que consome o sacrifício. Eu Sou o Pai do Universo e igualmente a Mãe. Eu Sou a
origem e o conservador de tudo. Eu Sou o objeto do verdadeiro conhecimento. Eu
Sou a palavra mística AUM. Eu Sou o Rig, Salma e Yajusta Veda, Isto é toda a
Ciência. Eu Sou o Caminho, o Criador e o Sustentador, o Juiz e a Testemunha, o
Abrigo e a Morada, o Amigo, o Princípio e o Fim, a Criação e a Destruição, o
Espaço e o Conteúdo, o Semeador e a Semente Eterna que dá frutos perpetuamente.
Eu produzo o calor e a luz do Sol. Eu mando e retenho a chuva. Eu Sou a Morte e
a Imortalidade. E não obstante, Sou Um e Sempre o Mesmo. Os que seguem as
prescrições dos Vedas (4), oferecendo muitos sacrifícios, bebendo Soma (5)
sagrado e purificando-se dos pecados, e imploram o caminho do céu, serão
admitidos no céu de Indra (6) e ali obterão o alimento celeste e gozarão os
prazeres dos deuses. (4) Um dos livros sagrados Hindus. (5) É a bebida sagrada
dos brâmanes, extraída de uma planta rara, corresponde à ambrósia ou néctar dos
gregos e à Eucaristia dos cristãos. (6) O céu Indra é o mais alto dos céus
onde, porém, ainda existe a ilusão da separatividade dos seres, e por isso, não
pode ser o estado perfeito e eterno. Também ali há mocidade e velhice, isto é,
as forças espirituais exaurem-se, o espírito entra na inconsciência tornando-se
a reencarnar na terra ou em algum dos planetas. Quando, porém, tiverem passado
neste estado de delícias tanto tempo quanto mereceram pelas suas boas obras,
hão de voltar a esta terra e renascer neste mundo terrestre; porque, ainda que
tenham seguido as prescrições dos Livros Sagrados, eram observadores de
formalidades e não chegaram ao conhecimento do Eterno. Dedicaram-se ao que é
transitório e, por isso, é transitório o efeito da sua devoção. Mas, quem a Mim
unicamente adora e em Mim procura o refúgio, lhe darei a Ventura imperecível.
Entretanto, não te esqueças, Oh caríssimo! De que mesmo aquele que adora outros
deuses, porque não me conhece, a mim adora, sem o saber. Se ele assim faz com
fé e amor, Eu aceito a sua adoração e o recompenso segundo seu merecimento.
Pois Eu Sou o Senhor de todos os sacrifícios, e recebo-os todos. Mas aqueles
que não me conhecem em verdade, não podem chegar a mim e, por isso, hão de
caminhar de renascimento em renascimento. Cada um chega ao objeto de sua
devoção. Os que adoram os antepassados, com eles morarão. Os que adoram os
espíritos inferiores, à sua esfera irão. E aqueles que adoram a mim, em minha
Essência, comigo se unirão. Sabe também, Oh Arjuna! Que Eu aceito toda a
oferenda que se Me faça com amor, seja uma folha, uma flor, uma fruta ou apenas
gotas de água. Eu não olho o valor da oferenda, mas olho o coração de quem a faz.
Por isso, qualquer coisa que faças, quer comas ou bebas, quer recebas, ou dês,
quer jejues ou ores, sempre pensa em Mim e oferece tudo a Mim. E oferecendo a
Mim todas as tuas ações, serás livres dos vínculos da ação e das suas
consequência. A tua mente torna-se, assim bem equilibrada e harmonizada, e
capaz de unir-se a Mim. A todos os meus filhos no mundo, a todos os viventes,
eu olho com igual amor e simplicidade. Todos Me são igualmente caros; não
repilo a ninguém e a ninguém prefiro. Aqueles, porém, que Me adoram e a Mim se
dedicam, esses estão em Mim e Eu neles. Se um grande pecador a Mim se dirige e
Me dedica o amor de sua alma, é digno de louvor, porque procura a verdade. Em
breve ele encontrará o caminho da retidão, e trilhando-o com perseverança, alcançará
a Paz Eterna; pois Eu não abandono a nenhum dos que Me adoram em verdade. Cada
um que a Mim se dirige, acha em Mim o refúgio, e anda pelo soberano caminho,
mesmo que nascido de família pecadora, seja homem ou mulher, rústico ou peão.
Tanto mais os santos brâmanes e os pios reis sábios! Compreende isto, Oh
príncipe! E considera esta terra como uma morada passageira, transitória.
Conhece-Me, adora-Me, fixa em Mim a tua mente e sem distração une a tua vontade
à Minha, e nesta união encontrarás a mais perfeita felicidade da tua vida”.
Abraço. Davi.
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