Judaísmo. A Autoria da Torá (1). Um dos princípios fundamentais do
judaísmo é que a Torá não foi escrita por Moshé nem por qualquer outro homem, e
sim, pelo próprio Criador. No artigo “A verdade histórica da Revelação Divina
no Monte Sinai”, analisamos se há razão suficiente para se acreditar que D’us
Se revelou ao Povo Judeu no Monte Sinai. Como vimos no artigo, à página 10, as
fontes básicas de conhecimento sobre a Revelação Divina são a transmissão oral,
de geração a geração, e um registro escrito, a dizer, os Cinco Livros da Torá.
Caso haja uma razão sólida para acreditar que a Torá é de autoria Divina, a
veracidade do que quer que a mesma nos relate, inclusive a Revelação Divina no
Sinai, é, pois, inquestionável. No entanto, se a Torá tivesse sido escrita por
um ser humano, ainda que por Moshé, sua veracidade e autoria poderiam ser
questionadas – pois nenhum homem é dono da Verdade Absoluta. Halachá Le Moshé
Mi Sinai (2). Como o judaísmo advoga que a Torá é a Palavra de D’us,
seria lógico presumir que não há desacordo ou discussão acerca de suas leis.
Contudo, na realidade, o Talmud Babilônico, que elucida os Cinco Livros da Torá
e constitui o pilar da Lei Judaica, é formado por uma série de divergências e
debates entre nossos Sábios.Cabe perguntar: se D’us transmitiu a Torá a Moshé,
haverá o que discutir sobre suas leis? A resposta profunda a essa pergunta está
além do escopo deste artigo, mas a resposta simplista, fornecida pelo Talmud de
forma explícita e não apologética, é que no dia em que Moshé deixou este mundo,
o Povo Judeu esqueceu muitas das leis da Torá Oral, que são as elucidações e
explicações da Torá Escrita. Por isso, coube aos Sábios, através de discussões,
lógicas e análises, tentar recuperar o conhecimento perdido. No entanto, os
ensinamentos da Torá Oral que não foram esquecidos não estão sujeitos à
discussão. No Talmud, há uma frase “mágica” que coloca um ponto final em
qualquer discussão: Halachá Le Moshé Mi Sinai – em português,
“trata-se de uma lei transmitida a Moshé no Sinai”. As divergências existentes
no Talmud não contestam, mas até corroboram a Revelação Divina no Sinai e a
Divina Autoria da Torá. Como a Revelação ocorreu apenas uma única vez e como a
Torá foi criada por D’us e transmitida apenas a Moshé, não houve quem vivesse
após Moshé que pudesse ensinar as leis que tinham sido esquecidas. Como ensina
o Talmud (Tratado Temurá 16ª): “Um profeta não está autorizado
a introduzir nada de novo”. A Torá deu aos Sábios o poder de decretar leis
rabínicas, mas as leis bíblicas não podem ser alteradas, criadas ou abolidas.
Como ensina o Midrash (Devarim Rabá, 8:6): “Moshé disse
ao Povo Judeu: ‘Não digam que outro Moshé surgirá, com outra Torá dos Céus; já
lhes estou anunciando, agora, não está nos Céus. Nada restou nos Céus’”. O fato
de que os Sábios do Talmud discordassem acerca da aplicação adequada de muitas
das leis da Torá é uma indicação de que o judaísmo não é dogmático, mas é a
busca da verdade. Por outro lado, o fato de que apesar de todas as suas
discordâncias, os Sábios unanimemente concordam sobre tantos pontos, é uma boa
evidência de que o judaísmo tem uma única origem comum; pois, de outra forma,
os Sábios do Talmud debateriam sobre os mínimos pontos da Lei Judaica. Quando
as pessoas que costumam discordar entre si estão de acordo sobre umas tantas
coisas, geralmente é sinal de que há uma razão para tal. Se para os Sábios do
Talmud, Halachá LeMoshé MiSinai não estava sujeita à
discussão, significa que a veracidade da Revelação Divina no Sinai e da Autoria
Divina da Torá eram incontestáveis para eles. Assim sendo, eles não
desperdiçariam seu tempo e energia discutindo o óbvio. Mas, se não tivesse
ocorrido a Revelação Divina no Sinai e se a Torá não tivesse sido escrita por
D’us, o conceito da Halachá LeMoshé MiSinai não existiria.
Pois se a Torá foi escrita por Moshé, por que seria proibido a um profeta ou um
sábio de um período posterior mudar qualquer de suas leis ou, ao menos,
instituir decretos que pudessem solucionar todas as dúvidas sobre a Lei
Judaica? Na verdade, na ausência de uma Revelação Divina, será que
deveríamos atribuir a um ser humano o poder de criar leis imutáveis e, de fato,
nem sequer passíveis de discussão? Com todo o respeito a Moshé, ele não fundou
o judaísmo, nem foi um de nossos Patriarcas. E se a Torá tivesse sido escrita
por ele, por que razão deveríamos acreditar, como diz a Torá, que ele foi o
maior profeta de todos os tempos? Além disso, a tradição judaica não mede
palavras em sua tentativa de humanizá-lo. É inconcebível que os judeus
atribuíssem autoridade divina a o que quer que fosse que Moshé lhes ensinasse,
a menos que soubessem que a Torá não era dele, mas realmente do D’us de Israel.
Se a Torá não tivesse sido escrita pelo Todo Poderoso, os profetas e Sábios que
vieram após Moshé poderiam ter mudado algumas de suas leis – coisa que nunca
ocorreu. No curso da História Judaica, criaram-se leis rabínicas, que foram
modificadas e até rechaçadas, mas ninguém jamais ousou tocar na lei bíblica. Ninguém
ousou argumentar com a Halachá LeMoshé MiSinai. Se todos os
profetas e Sábios que viveram após Moshé se recusaram categoricamente a
substituí-lo ou mesmo a tentar replicar o que ele conquistara – nem mesmo pela
nobre razão de tentar recuperar o conhecimento que foi perdido com sua morte –
é porque sabiam que a Torá era a Palavra de D’us, que fora transmitida apenas a
Moshé; e agora que ele se fora, não havia como novamente trazer a Torá dos Céus
à Terra. Um livro de lendas? É possível que o Povo Judeu tenha aceitado
primeiramente a Torá como um livro de lendas e que, com o passar do tempo, após
o transcurso de muitas gerações, quando já não era mais possível corroborar a
veracidade de seus relatos, tenha sido aceita como verdade? Consideremos a seguinte
teoria: alguém no deserto – quiçá Moshé, quiçá alguém outro – redigiu a Torá,
inclusive o relato da Revelação Divina no Sinai, e todo o povo o aceitou,
apesar de ser tudo invenção, pois eles nem o levaram a sério: consideraram que
tudo fosse mitologia judaica. Passado o tempo, no entanto, um número cada vez
maior de judeus começou a acreditar que aquelas histórias eram verdadeiras.
Esta teoria é popular entre ateus e agnósticos. Mas é uma teoria relativamente
fácil de ser rechaçada. Primeiro, nos últimos 3.000 anos, apesar de todas as
diferenças e divergências existentes entre o Povo Judeu, nunca houve uma
tradição que dissesse que a Torá é obra de ficção. Mesmo os Caraítas, que não
aceitavam os ensinamentos da Torá Oral, acreditavam categoricamente que cada
uma das palavras da Torá Escrita era a Palavra de D’us. É possível que toda a
geração do deserto tenha adotado a Torá como obra de ficção, mas, em algum
momento da História Judaica, esse fato foi esquecido ou negligenciado por todos
os judeus e todos começaram a acreditar que a Torá foi historicamente precisa?
Para exemplificar quão improvável é essa teoria, pensemos em quão improvável é
que todos os gregos vivos hoje mudassem de ideia sobre a Ilíada e a Odisseia e
começassem a crer que esses trabalhos não são lendas, mas fatos históricos.
Segundo, há apenas uma versão da Torá, e não há relatos conflitantes sobre os
eventos que descreve. Através da história, muitos judeus, especialmente os
insolentes Reis de Israel, poderiam ter justificado seu comportamento
pecaminoso alegando que a Torá era uma invenção ou um livro de lendas. Se essas
pessoas apenas pudessem apresentar alguma evidência de que a Torá não fosse
Divina – de que foi escrita por Moshé ou por outros seres humanos – eles
poderiam ter algum tipo de desculpas para muitas de suas próprias ações,
especialmente sua idolatria, que não prejudicou nenhum outro homem. Mas nos
últimos três milênios, mesmo os judeus que mais se beneficiariam levantando
dúvidas sobre a autoria da Torá, não o fizeram. Eles poderiam ter questionado a
Justiça Divina, mas nunca tiveram a audácia de questionar a verdade da
Revelação no Sinai e a legitimidade e a Divina autoria da Torá. E por quê?
Porque como explicamos no artigo anterior, um evento público que envolveu
milhões de pessoas é praticamente impossível de ser negado. Terceiro, é
inconcebível que pessoas sensatas inventassem muitas das leis que constam na
Torá, e, ainda mais, que inventassem o conceito de que o Criador do mundo os
fizesse responsáveis por respeitá-las (Este Criador a quem jamais teriam visto
se o relato da Revelação Divina fosse invenção). Exemplificando: a lei da Shemitá –
os ordenamentos ao Povo Judeu de abrir mão do trabalho agrícola na Terra de
Israel de sete em sete anos (Levítico 25:1-24). A Torá ordena aos judeus que
sigam esta lei e não se preocupem com a falta de alimento, pois D’us os
abençoará com fartura de provisões no sexto ano para compensar o sétimo em que
se absterão de trabalhar a terra. Consideremos: Por que os seres humanos
escreveriam uma tal lei? Será que colocariam sua própria sobrevivência e a de
seus filhos em risco? Será que inventariam promessas de um Fiador e diriam às
gerações futuras que deviam cumprir esse mandamento porque o Criador do mundo
proveria a eles, quando, na realidade, eles mesmos sabiam que uma tal promessa
Divina jamais havia sido feita? E o que aconteceria quando, no ano antes do
Sabático, a colheita não fosse mais farta do que nos anos anteriores e os
judeus não tivessem alimento para o ano seguinte? Escrever essa lei e fazer os
demais confiarem numa falsa promessa de bênçãos Divinas, seria o cúmulo da
tolice e da irresponsabilidade. Contudo, os judeus aceitaram as leis do
Sabático e se comprometeram a segui-las. E se o fizeram, é porque sabiam que
era uma lei criada por D’us. Nem Moshé nem nenhum outro ser humano poderia
fazer um povo inteiro colocar sua sobrevivência em risco. Na verdade, se D’us
não tivesse escrito a Torá, os judeus teriam que ser muito tolos para concordar
de viver segundo a maioria de seus mandamentos. Por exemplo, por que eles
aceitariam a lei da circuncisão? Três mil anos atrás ninguém sabia que a
circuncisão pode evitar a disseminação de várias doenças terríveis. Podemos
entender a razão para um povo aceitar leis relativas ao funcionamento adequado
da sociedade, como as que proíbem o assassinato, adultério e roubo, mas por que
os judeus aceitariam as muitas leis rituais da Torá – algumas das quais,
extremamente complexas e esotéricas – e concordariam em não violar muitas de
suas leis que os privam de vários dos prazeres da vida? Por que os judeus
concordariam em não comer frutos do mar e carne não casher? Por que eles
aceitariam todas as leis da Torá sobre as relações sexuais proibidas? Vejamos,
será que milhões de pessoas aceitariam a Torá se não a tivessem recebido
diretamente de D’us e soubessem, de fato, que era Sua Vontade que seguissem
suas leis? Há um famoso Midrash que ensina que antes de
outorgar a Torá ao Povo Judeu, D’us a ofereceu a todas as demais nações do
mundo que a recusaram. Mas trata-se de um Midrash metafórico,
que ensina que D’us, por ser Onisciente, sabia que somente os judeus aceitariam
seguir as leis da Torá; não se trata de um relato histórico. Já houve um caso
na história em que a Torá foi ofertada a grandes grupos de pessoas que se
recusaram a aceitá-la? Sim, houve. Muitas pessoas não o sabem, mas os
fundadores do Cristianismo eram judeus seguidores da Torá. O Cristianismo se
iniciou como um movimento messiânico judaico. O propósito dos primeiros
cristãos não era começar uma nova religião, mas ganhar o máximo de adeptos para
seu movimento – judeus ou não. E como eles consideravam seu movimento
messiânico autenticamente judaico, somente seriam aceitos os não judeus que se
convertessem ao judaísmo. Mas, segundo relato da Bíblia cristã, quando os
fundadores do Cristianismo saíram em suas primeiras missões proselitistas, não
tiveram sucesso em sua tentativa de converter os pagãos ao judaísmo. Apesar de
terem ouvido que a Torá era a Palavra de D’us, os gentÍos ficaram assombrados
com seus mandamentos – as leis de Casherut, do Shabat e,
sobretudo, da circuncisão. Os primeiros cristãos somente conseguiram converter
pagãos a seu recém-criado movimento quando abandonaram a exigência de que os
não judeus aceitassem as leis da Torá. Eles provavelmente perceberam que
nenhuma nação, exceto os judeus, se sujeitaria àquelas leis. Quem pode culpar
os pagãos por recusar a Torá? É compreensível que os judeus a tenham
aceitado – eles testemunharam a Revelação Divina no Sinai, e, na verdade, não
tinham muita escolha. Mas por que um povo que não testemunhou a Revelação e a
outorga da Torá iria aceitar a responsabilidade de cumprir todos os seus
difíceis mandamentos? Um cético implacável pode alegar que os judeus escreveram
a Torá e inventaram todas as suas complicadas leis para difundir o próprio argumento
que aqui defendemos: como nenhum povo seria capaz de criar tais leis para si, a
Torá certamente é de autoria Divina. Seria possível que os judeus
propositalmente se colocassem numa camisa de força para ludibriar o mundo,
inclusive seus descendentes, dizendo que D’us lhes teria aparecido, apenas a
eles, e os teria escolhido para lhes entregar Suas Leis? Novamente, a resposta
é que isso seria altamente improvável. E se esse era o seu plano, o tiro saiu
pela culatra, pois a Revelação no Sinai não rendeu aos judeus o amor e a
admiração do resto da humanidade. Milênios antes de ocorrer a Inquisição e o
Holocausto, o Talmud já tinha previsto que os judeus seriam odiados por terem
sido escolhidos por D’us para receber a Sua Torá e testemunhar a única Revelação
Divina na História. O Rabi Yehoshua ben Levi assim ensina no Talmud: Por
que a montanha onde a Torá foi entregue se chama Sinai? Porque ela
causaria Sinat – ódio – entre o restante do mundo contra o
Povo Judeu. Um Livro nada lisonjeiro. Além de conter inúmeras leis de
difícil cumprimento, a Torá narra muitas histórias, a maioria das quais não são
nada lisonjeiras para nosso povo. Mesmo o relato mais espetacular da Torá – o
da Revelação Divina – não foi uma ocasião inteiramente feliz, pois apenas 40
dias após sua ocorrência, o povo já adorava um bezerro de ouro, fazendo com que
Moshé quebrasse as Tábuas da Lei. Até o Livro de Gênese é pouco lisonjeiro ao
nosso povo. Pois enquanto muitas outras nações santificam seus fundadores e
criadores, a Torá descreve nossos Patriarcas e antepassados como seres humanos
falíveis, que suportaram provações e infortúnios e que tiveram fraquezas e
cometeram erros. Um cético poderia novamente alegar que Moshé ou os judeus
escreveram a Torá de tal forma que provasse o argumento que acabamos de
defender: nenhum povo poderia escrever relatos tão pouco lisonjeiros sobre si
próprio; portanto, a Torá certamente foi escrita por D’us. Mas, muito
sinceramente, os relatos da Torá não são apenas pouco elogiosos – o que
serviria para torná-los ainda mais críveis – eles são simplesmente
prejudiciais. Algumas histórias negativas talvez servissem para tornar as boas
um pouco mais críveis, mas a Torá é repleta de relatos que colocam os judeus
sob um prisma muito negativo. Pode ser difícil, mesmo, encontrar uma porção da
Torá que não contenha uma ação negativa de nossos antepassados. Será que as
pessoas escreveriam relatos tão danosos sobre si próprias? Será
que quereriam ser lembradas dessa forma por seus filhos e seus futuros
descendentes? O que é ainda mais incrível é que apesar das muitas leis de
difícil cumprimento e das histórias nada lisonjeiras, nós, judeus,
reverenciamos a Torá. Não há objeto inanimado mais sagrado ao judaísmo do que
um rolo contendo os Cinco Livros da Torá. E por quê? Porque nós, como nossos
antepassados, não temos dúvidas acerca de sua autoria. Quando o Mestre do
Universo escreve um livro e elenca nosso povo como protagonistas, nós o
reverenciamos, mesmo que seu conteúdo nem sempre nos favoreça. Alucinógenos
e alucinações. Seria possível que Moshé e os três milhões de judeus que ele
liderou não tenham tramado um plano mentiroso, mas se tenham confundido com o
que imaginaram ter visto? Um professor israelense de Filosofia da Universidade
Hebraica, Benny Shannon, apresentou a seguinte hipótese: a Revelação Divina no
Sinai teria sido, na realidade, uma alucinação decorrente do fato de Moshé e os
judeus terem tomado uma substância altamente psicodélica, encontrada na árvore
da acácia, frequentemente mencionada na Bíblia. O professor fez a seguinte
declaração: “No que toca ao Monte Sinai e a Moshé, o que ocorreu foi um evento
cósmico sobrenatural – o que não acredito – ou uma lenda – no que tampouco
acredito – ou, finalmente e mais provável, um evento que uniu Moshé e o Povo de
Israel sob o efeito de narcóticos”. Antes de analisar a hipótese do prof.
Shannon, é interessante observar que mesmo ele – que não crê em uma Revelação
Divina – não acredita que o relato seja uma lenda. Isso serve como exemplo
verdadeiro do que discutimos no artigo anterior: que é muito difícil negar um
evento público ocorrido diante de milhões de pessoas. Como o professor não pode
negar o evento, mas tampouco pode aceitar que tenha havido uma Revelação
Divina, ele necessita recorrer a outra explicação – o uso de alucinógenos. O
problema na teoria do acadêmico é que é necessário ter muito mais fé para se
acreditar na mesma do que para acreditar que D’us Se revelou aos judeus no
Monte Sinai. Senão, como teria Moshé conseguido encontrar a quantidade de alucinógenos
para três milhões de pessoas? Segundo, como Moshé convenceu todos eles a
ingerirem a droga? A própria Torá atesta que o povo frequentemente se rebelava
contra ele. E mesmo se os milhões que lá estavam concordassem em se drogar,
teriam na consumido, todos, ao mesmo tempo? E teria a droga afetado milhões de
pessoa exatamente ao mesmo tempo e da mesmíssima forma? Sabemos que diferentes
pessoas reagem de diferentes maneiras à mesma droga. Alguns organismos reagem
intensamente; outros, não. Algumas pessoas levam muito tempo para reagir a um
alucinógeno, ao passo que outras reagem quase que imediatamente após sua
ingestão. Além disso, como essas substâncias afetam o cérebro, e como não há
duas pessoas – que dizer de milhões delas – que pensem de forma igual, as
pessoas veem coisas diferentes quando ingerem essas drogas. Portanto, seria
quase uma impossibilidade estatística que milhões de pessoas tomassem uma droga
e tivessem simultaneamente uma mesma experiência ilusória e ouvissem a
mesmíssima mensagem (...). Mas, o mais revelador acerca da hipótese do Prof.
Benny Shannon (1948- ) é que além de ter admitido não ter “nenhuma prova direta de sua
interpretação”, ele fez a seguinte declaração: ”Mas nem todos que usam a tal
planta alucinógena trazem a Torá (...). Para tanto, você tem que ser um Moshé”
(...). A pergunta que deveria ser feita ao professor é: de onde exatamente
Moshé trouxe a Torá? De onde veio a Torá? Se ele acredita que Moshé a escreveu
e que sua teoria da droga alucinógena está correta, por que o Povo Judeu deveria
viver de acordo com as leis criadas por um homem que era tão drogado que tinha
alucinações sobre uma suposta Revelação Divina? Indo mais além, a teoria de que
Moshé dopou o povo para trapaceá-los e os fazer crer que D’us Se revelara a
eles não é crível por uma razão adicional. Se os inimigos de Moshé tivessem
sequer suspeitado de alguma desonestidade – se eles acreditassem que ele os
estivesse drogando para induzi-los a algum tipo de experiência coletiva – eles
o teriam acusado de ser um falso profeta, um charlatão. Moshé tinha sua quota
de inimigos entre o povo. É triste admiti-lo, mas muitos dos judeus a quem ele
conduziu inventaram e disseminaram mentiras terríveis contra ele. Acusaram-no
de não ter habilidades para liderar, de nepotismo, de roubo, de adultério e até
de assassinato. Mas, interessante, ninguém ousou acusá-lo de ser um falso
profeta. Até mesmo Korach, quando tentou depor Moshé e Aaron, nunca sequer
sugeriu que ele tivesse enganado o povo. Ele questionou o direito de Moshé de
liderar os judeus, mas nunca o acusou de charlatão. Nem mesmo Korach poderia
questionar a veracidade da Revelação Divina no Sinai ou a autoria Divina da
Torá. Ele sim questionou a aplicação de alguns dos mandamentos da Torá por
Moshé, mas jamais sequer ousou alegar que ele os tivesse criado. E por quê?
Porque a verdade estava evidente para todos os judeus. A Revelação Divina tinha
sido um evento público; todos a tinham vivenciado. Ninguém poderia alegar que
Moshé a tinha maquinado - nem mesmo seu pior inimigo. E não foram apenas Korach
e os inimigos de Moshé que não puderam negar a veracidade da Revelação Divina e
a autoria Divina da Torá. Através dos milênios, os inimigos históricos do Povo
Judeu tampouco conseguiram argumentar que eram falsidades. No decorrer da história,
muitas inverdades e maldades foram ditas sobre os judeus, mas nunca fomos
chamados de “povo inventado”, um povo que inventou sua própria história. Alguém
disse, muito apropriadamente, que o elogio de um inimigo vale muito mais do que
o de um amigo. Quando mesmo nossos inimigos admitem a veracidade da Revelação
Divina e da Torá, é porque a evidência é muito óbvia para ser negada. A
Essência do Povo Judeu. Muitos perguntam como é possível que, apesar de
2.000 anos de exílio, a queda do Templo, os massacres, a Inquisição, as
expulsões, os pogroms e, acima de tudo, o Holocausto, nós, judeus, sobrevivemos
e permanecemos fiéis a D’us. A resposta é que a Revelação Divina no Sinai ficou
gravada no inconsciente coletivo do Povo Judeu. A Voz que se ouviu no Monte
Sinai reverbera até hoje no coração de todos nós, mesmo que disso não tenhamos
consciência. Cinquenta dias após o Êxodo, D’us Se fez ver a nosso povo e nos
deu uma missão. Foi uma missão tão extraordinária que mesmo 2.000 anos de
exílio e o Holocausto não foram capazes de abortar. Que missão foi essa? Está
escrito no Livro de Isaías: “Vós sois Minhas testemunhas, diz o Eterno, e Eu
sou D’us” (43:12). O Midrashfaz uma declaração espantosa: “Enquanto
fordes Minhas testemunhas, Eu sou D’us; se deixardes de ser Minhas testemunhas,
deixarei de ser D’us”. Como dissemos no artigo anterior, se não fôssemos nós,
judeus, toda a humanidade seria deÍsta. Nós somos o canal através do qual
D’us se tornou conhecido no mundo. Nossa missão é manter nossa própria existência
e, por meio disso, preservar a existência de D’us no mundo. Esta é a missão
maior que pode ser atribuída a um povo e a cada um dos indivíduos que o
compõem. É uma missão árdua e desafiadora, mas que por ela vale a pena viver e
lutar, e que, sem dúvida, constitui o propósito e a essência do Povo Judeu. O deísmo (3) é uma doutrina que considera a razão como a única via capaz
de assegurar a existência de D'us, rejeitando, para tal fim, o ensinamento ou a
prática de qualquer religião organizada. (1). Toráh é um vocábulo hebraico que
significa ensinamento ou lei. É o termo clássico para indicar os 5 primeiros
livros da Bíblia, também conhecidos com o nome grego de Pentateuco. O Judaísmo
usa esse termo para indicar todo o ensinamento e toda a Lei Judaica, seja
escrita quer oral. Às vezes para serem
exatos, usam a expressão “Torah escrita” (Torah Shekibtav) e “Torah oral”
(Torah Shebehalpeh). A primeira frase indica os 5 primeiros livros e os demais
24 que compõem a Bíblia Hebraica (o Antigo Testamento em hebraico, o mesmo
Antigo Testamento das bíblias cristãs), enquanto que a segunda frase designa
todos os outros textos sagrados da tradição oral, colocados por escrito mais
tarde (Mishnah, Talmud e outros textos rabínicos). (2). Sinai, monte na península
com o mesmo nome pertencente ao território egípcio. (3). Deísmo é a doutrina que considera a razão como a única via capaz de nos assegurar da existência de Deus, rejeitando, para tal fim, o ensinamento ou a prática de qualquer religião organizada. O deísmo difundiu-se principalmente entre os filósofos enciclopedistas e foi o precursor do ateísmo. http://www.morasha.com.br. Abraço. Davi.
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