segunda-feira, 1 de agosto de 2016

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA I.



Espiritismo. Texto de Alan Kardec (1804-1869). INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA  Parte I. UM. Para coisas novas, palavras novas são necessárias, assim o requer a clareza da linguagem, para evitar a confusão inseparável do sentido múltiplo dos mesmos termos. As palavras espiritual, espiritualista, espiritualismo, possuem uma acepção bem definida; dar-lhes uma nova para aplicá-las à Doutrina dos Espíritos, seria multiplicar as causas já tão numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo; quem quer que acredite possuir em si outra coisa além da matéria é espiritualista; mas daí não se conclui que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em lugar das palavras ESPIRITUAL, ESPIRITUALISMO, empregamos, para designar essa última crença, as de espírita e de espiritismo cuja forma lembra a origem e o sentido radical, e que por isso mesmo têm a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, reservando à palavra espiritualismo sua acepção própria. Diremos, portanto, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se desejarem, os espiritistas. Como especialidade, O Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade, ele se prende à Doutrina Espiritualista da qual apresenta uma das fases. Esta é a razão pela qual ele traz no topo de seu título as palavras: Filosofia Espiritualista. DOIS.  Há uma outra palavra sobre a qual convém igualmente se entenderem, porque é um dos esteios de toda doutrina moral, e porque é objeto de numerosas controvérsias, por falta de uma acepção bem determinada; é a palavra alma. A divergência de opiniões sobre a natureza da alma vem da aplicação particular que cada um faz desta palavra. Uma língua perfeita, em que cada ideia tivesse sua representação através de um termo próprio, evitaria muitas discussões; com uma palavra para cada coisa, todo o mundo se entenderia. Segundo uns, a alma é o princípio da vida material orgânica; ela não tem, absolutamente, existência própria e termina com a vida: é o materialismo puro. Neste sentido, e por comparação, falam de um instrumento rachado que não emite mais som: ele não tem alma. Conforme essa opinião, a alma seria um efeito e não uma causa. Outros pensam que a alma é o princípio da inteligência, agente universal do qual cada ser absorve uma porção. Segundo eles, não haveria para todo o Universo senão uma alma que distribui centelhas entre os diversos seres inteligentes, durante a vida destes; depois da morte, cada centelha retorna à fonte comum onde no Livro dos Espíritos ela se confunde no todo, como os riachos e os rios retornam ao mar de onde saíram. Esta opinião difere da precedente pelo fato de que, nesta hipótese, há em nós mais do que a matéria, e de que alguma coisa subsiste após a morte; mas é quase como se nada restasse, visto que, não possuindo mais individualidade, não teríamos mais consciência de nós mesmos. Conforme esta opinião, a alma universal seria Deus, e cada ser uma porção da Divindade; é uma variação do panteísmo. Segundo outros, finalmente, a alma é um ser moral, distinto, independente da matéria e que conserva sua individualidade após a morte. Esta acepção é, certamente, a mais geral, porque, sob um nome ou sob outro, a ideia desse ser que sobrevive ao corpo encontra-se no estado de crença instintiva e independente de qualquer ensino, em todos os povos, qualquer que seja o grau de sua civilização. Esta doutrina, segundo a qual a alma é a causa e não o efeito, é a dos espiritualistas. Sem discutir o mérito destas opiniões, e apenas considerando o aspecto linguístico da questão, diremos que estas três aplicações da palavra alma constituem três ideias distintas que pediriam, cada qual, um termo diferente. Esta palavra tem, portanto, uma tripla acepção, e cada qual tem razão, sob seu ponto de vista, na definição que lhe dá; a dificuldade ocorre porque a língua possui uma só palavra para três ideias. Para evitar qualquer equívoco, seria necessário restringir a acepção da palavra alma a uma destas três ideias; a escolha é indiferente, o importante é que todos se entendam, é uma questão de convenção. Acreditamos mais lógico tomá-la na sua acepção mais vulgar; é por isso que chamamos ALMA o ser imaterial e individual que reside em nós e que sobrevive ao corpo. Se este ser não existisse, sendo apenas um produto da imaginação, ainda assim, seria preciso um termo para designá-lo. Por falta de uma palavra especial para cada uma das duas outras acepções nós chamamos: Princípio vital o princípio da vida material e orgânica, qualquer que seja sua fonte e que é comum a todos os seres vivos, desde as plantas até o homem. Podendo a vida existir, abstração feita da faculdade de pensar, o princípio vital é uma coisa distinta e independente. A palavra vitalidade não daria a mesma ideia. Para uns, o princípio vital é uma propriedade da matéria, um efeito que se produz quando a matéria se encontra em dadas circunstâncias; segundo outros, é a ideia mais comum, ele reside num fluido especial, universalmente espalhado e do qual cada ser absorve e assimila uma parte durante a vida, como vemos os corpos inertes absorver a luz; este seria, então, o fluido vital que, segundo algumas opiniões, não seria outro senão o fluido elétrico animalizado, também designado sob os nomes de fluido magnético, fluido nervoso, etc. Seja como for, há um fato que não se poderia contestar, pois é um resultado de observação, é que os seres orgânicos têm em si uma força íntima que produz o fenômeno da vida, enquanto essa força existe; que a vida material é comum a todos os seres orgânicos e que é independente da inteligência e do pensamento; que a inteligência e o pensamento são faculdades próprias de algumas espécies orgânicas; finalmente, que, entre as espécies orgânicas dotadas de inteligência e de pensamento, há uma dotada de um senso moral especial que lhe dá uma incontestável superioridade sobre os outros, é a espécie humana. Concebe-se que, com um sentido múltiplo, a alma não exclui o materialismo, nem o panteísmo. O próprio espiritualista pode muito bem entender a alma de acordo com uma ou outra das duas primeiras definições, sem prejuízo do ser imaterial distinto ao qual ele dará, então, um nome qualquer. Assim, esta palavra não representa uma opinião: é um Proteu2 que cada um acomoda à sua maneira; daí a fonte de intermináveis disputas. Evitar-se-ia igualmente a confusão, ao empregar a palavra alma nos três casos, se a ela se acrescentasse um qualificativo que especificaria o ponto de vista sob o qual ela é encarada, ou a aplicação que dela se faz. Seria, então, uma palavra genérica, representando, ao mesmo tempo, o princípio da vida material, da inteligência e do senso moral e que se distinguiria, através de um atributo, como os gases, por exemplo, que se distinguem acrescentando as palavras hidrogênio, oxigênio ou azoto. Portanto, poder-se-ia dizer, e talvez fosse o melhor, a alma vital para o princípio da vida material, a alma intelectual para o princípio inteligente, e a alma espírita para o princípio de nossa individualidade após a morte. Como se vê, tudo isso é uma questão de palavras, porém uma questão muito importante para que nos entendamos. Desta forma, a alma vital seria comum a todos os seres orgâ nicos: plantas, animais e homens; a alma intelectual seria própria dos animais e dos homens; e a alma espírita pertenceria apenas ao homem. Julgamos necessário insistir um tanto mais nessas explicações porque a Doutrina Espírita repousa, naturalmente, sobre a existência em nós de um ser independente da matéria e que sobrevive ao corpo. Devendo a palavra alma se reproduzir frequentemente no decorrer desta obra, era importante ser fixada no sentido que lhe atribuimos, afim de evitar qualquer engano. Passemos, agora, ao objeto principal desta instrução preliminar. TRÊS. A Doutrina Espírita, como qualquer coisa nova, tem seus adeptos e seus contraditores. Vamos tentar responder a algumas das objeções destes últimos, examinando o valor dos motivos sobre os quais eles se apoiam, sem ter, entretanto, a pretensão de convencer a todos, pois há pessoas que acreditam que a luz foi feita apenas para elas. Nós nos dirigimos às pessoas de boa-fé, sem idéias preconcebidas ou mesmo inflexíveis, porém, sinceramente desejosas de se instruir, e nós lhes demonstraremos que a maioria das objeções que se opõe à doutrina provém de uma observação incompleta dos fatos e de um julgamento emitido com muita leviandade e precipitação. Lembremos, primeiramente, em poucas palavras, a série progressiva dos fenômenos que deram origem a esta doutrina. O primeiro fato observado foi o de objetos diversos postos em movimento; designaram-no, vulgarmente, sob o nome de mesas girantes ou dança das mesas. Este fenômeno, que parece ter sido observado primeiramente na América, ou Proteu: da mitologia grega, filho de Poseidon, que mudava de forma à vontade. (Nota do tradutor segundo o Dicionário Larousse Illustré. As suas notas sequentes conterão apenas as iniciais N.T.). O Livro dos Espíritos foi o melhor, que se repetiu nesse país, pois a História prova que ele remonta à mais remota Antiguidade, produziu-se acompanhado de circunstâncias estranhas, tais como ruídos insólitos, pancadas sem causa ostensiva conhecida. Daí, propagou-se rapidamente pela Europa e por outras partes do mundo; a princípio, despertou muita incredulidade, porém a multiplicidade das experiências, em pouco tempo, não mais permitiu duvidar da realidade. Se esse fenômeno se tivesse limitado ao movimento dos objetos materiais, poderia explicar-se por uma causa puramente física. Estamos longe de conhecer todos os agentes ocultos na Natureza e todas as propriedades daqueles que conhecemos; a eletricidade, aliás, multiplica, diariamente, ao infinito, os recursos que proporciona ao homem e parece ir clarear a Ciência com uma nova luz. Portanto, nada haveria de impossível em que a eletricidade, modificada por certas circunstâncias, ou qualquer outro agente desconhecido, fosse a causa desse movimento. A reunião de várias pessoas, aumentando o poder de ação, parecia apoiar essa teoria, pois podia-se considerar esse conjunto como uma pilha múltipla cuja potência estivesse na razão do número dos elementos. O movimento circular nada apresentava de extraordinário: ele está na Natureza; todos os astros se movem circularmente; poderíamos, portanto, ter em ponto menor, um reflexo do movimento geral do Universo, ou, melhor dizendo, uma causa até então desconhecida, podia produzir, acidentalmente, com pequenos objetos, e em dadas circunstâncias, uma corrente análoga àquela que arrasta os mundos. Mas o movimento não era sempre circular; muitas vezes ele era brusco, desordenado; o objeto era violentamente sacudido, revirado, levado numa direção qualquer e, contrariamente a todas as leis da estática, suspenso do solo e mantido no espaço. Nada nestes fatos que não possa ser explicado pelo poder de um agente físico invisível. Não vemos a eletricidade derrubar os edifícios, desenraizar as árvores, lançar a distância os corpos mais pesados, atraí-los ou repeli-los? Supondo que os ruídos insólitos, as pancadas não fossem um dos efeitos comuns da dilatação da madeira, ou de qualquer outra causa acidental, ainda poderiam muito bem ser produzidos pela acumulação do fluido oculto: a eletricidade não produz os ruídos mais violentos? Até aqui, como se vê, tudo pode caber no domínio dos fatos puramente físicos e fisiológicos. Sem sair deste círculo de ideias, havia ali matéria de estudos sérios e dignos de prender a atenção dos sábios. Por que não foi assim? É penoso dizê-lo, mas isto deriva de causas que provam, entre mil fatos semelhantes, a leviandade do espírito humano. Primeiramente, a vulgaridade do objeto principal que serviu de base às primeiras experimentações talvez não fosse estranha para eles. Que influência uma palavra, muitas vezes, não tem tido sobre as coisas mais graves! Sem considerar que o movimento podia ser impresso a um objeto qualquer, a ideia das mesas prevaleceu, com certeza, porque era o objeto mais cômodo, e porque é mais natural sentar-se em torno de uma mesa do que de qualquer outro móvel. Ora, os homens superiores são algumas vezes tão pueris que nada haveria de impossível em que alguns espíritos de elite tenham acreditado estar abaixo deles se ocupar com o que se convencionara chamar de a dança das mesas. É até provável que, se o fenômeno observado por Galvani o tivesse sido por homens comuns e tivesse permanecido caracterizado por um nome grotesco, ele estaria ainda relegado, junto com a varinha mágica. Com efeito, qual o cientista que, não acreditaria rebaixar-se, ocupando-se da dança das rãs? Alguns, no entanto, bastante modestos para convir que a Natureza bem poderia não lhes ter dito sua última palavra, quiseram ver, para o bem de sua consciência; mas aconteceu que o fenômeno nem sempre respondeu à sua expectativa, e do fato de não se ter produzido à sua vontade, e conforme seu modo de experimentação, eles concluíram pela negativa; apesar de sua sentença, as mesas, visto que há mesas, continuam a girar, e podemos dizer com Galileu: e todavia elas se movem! Diremos mais, é que os fatos se multiplicaram de tal forma que, hoje, eles têm o direito de cidade, importando apenas encontrar para eles uma explicação racional. Pode-se concluir alguma coisa contra a realidade do fenômeno, pelo fato de que ele não se produz de uma maneira sempre idêntica, segundo a vontade e as exigências do observador? Os fenômenos de eletricidade e de química não estão subordinados a certas condições, e devemos negá-los porque eles não se produzem fora dessas condições? O que há, portanto, de surpreendente em que o fenômeno do movimento dos objetos pelo fl uido humano tenha, também, suas condições de ocorrer e deixe de se produzir, quando o observador, colocando-se no seu próprio ponto de vista, pretende fazê-lo ao sabor de seu capricho, ou sujeitá-lo às leis dos fenômenos conhecidos, sem considerar que para fatos novos, pode e deve haver leis novas? Ora, para conhecer essas leis, é preciso estudar as circunstâncias nas quais os fatos se produzem, e este estudo não pode ser senão o fruto de uma observação embasada, atenta e, frequentemente, muito longa. Porém, alegam algumas pessoas, há, com freqüência, fraude evidente. Nós lhes perguntaremos, primeiramente, se elas estão bem certas de que haja fraude, e se elas não tomaram como tal, efeitos que elas não podiam explicar, mais ou menos como aquele camponês que considerava um sábio professor de Física, que fazia experiências, um hábil escamoteador. Supondo até que isso tenha podido acontecer algumas vezes, seria isto uma razão para negar o fato? Será preciso negar a Física, porque há ilusionistas que se decoram com o título de físicos? Aliás, é preciso levar em conta o caráter das pessoas e o interesse que elas poderiam ter em enganar. Seria, então, uma brincadeira? Pode-se bem se divertir por um instante, mas uma brincadeira indefinidamente prolongada seria tão enfadonha para o mistificador quanto para o mistificado. De resto, haveria numa mistificação que se propaga de uma extremidade do mundo à outra, e entre as pessoas mais austeras, mais honradas e mais esclarecidas, algo pelo menos tão extraordinário quanto o próprio fenômeno. QUARTO. Se os fenômenos com os quais nos ocupamos se tivessem limitado ao movimento dos objetos, eles teriam permanecido, como o dissemos, no domínio das ciências físicas; mas isto não ocorreu: estava-lhes destinado colocar-nos no caminho de fatos de uma ordem estranha. Acreditou-se descobrir, não sabemos através de que iniciativa, que a impulsão dada aos objetos não era somente o produto de uma força mecânica cega, mas que havia nesse movimento a intervenção de uma causa inteligente. Uma vez aberto esse caminho, era um campo totalmente novo de observações; era o véu levantado de sobre muitos mistérios. Haverá, com efeito, um poder inteligente? Essa é a questão. Se esse poder existe, qual é ele, qual a sua natureza, sua origem? Está acima da Humanidade? Tais são as outras questões que decorrem da primeira. As primeiras manifestações inteligentes aconteceram por meio de mesas que se levantavam e batiam com um pé um número determinado de pancadas, e respondendo, assim, através de sim ou de não, conforme a convenção, a uma pergunta feita. Até aí nada de convincente, certamente, para os cépticos, pois podiam crer num efeito do acaso. Obtiveram-se, em seguida, respostas mais desenvolvidas através das letras do alfabeto: com o objeto móvel batendo um número de pancadas correspondente ao número de ordem de cada letra, chegava-se, assim, a formular palavras e frases, que respondiam às questões propostas. A justeza das respostas, sua correlação com a pergunta, causaram espanto. O ser misterioso que assim respondia, interrogado sobre sua natureza, declarou que ele era Espírito ou gênio, atribuiu-se um nome, e forneceu diversas informações a seu respeito. Isto é uma circunstância muito importante que deve ser assinalada. Porquanto ninguém imaginou os Espíritos como um meio de explicar o fenômeno, foi o próprio fenômeno que revelou a palavra. Frequentemente, nas ciências exatas, fazem-se hipóteses para se ter uma base de raciocínio; ora, aqui não foi, absolutamente, o caso. Esse meio de correspondência era demorado e incômodo. O Espírito, e isso é ainda uma circunstância digna de nota, indicou um outro. Foi um desses seres invisíveis que deu o conselho de adaptar um lápis a uma cesta ou a um outro objeto. Essa cesta, colocada sobre uma folha de papel, é posta em movimento pela mesma potência oculta que faz mover as mesas; mas, em vez de um simples movimento regular, o lápis traça, por si mesmo, caracteres que formam palavras, frases, e discursos inteiros de várias páginas, tratando das mais elevadas questões de Filosofi a, de Moral, de Metafísica, de Psicologia, etc., e isso com tanta rapidez, como se escrevesse com a mão. Esse conselho foi dado, simultaneamente, na América, na França e em diversos países. Eis os termos nos quais ele foi dado em Paris, em 10 de junho de 1853, a um dos mais fervorosos adeptos da doutrina, que já há vários anos, e desde 1849, ocupava-se com a evocação dos Espíritos: “Vai pegar, no quarto ao lado, a cestinha; prende-lhe um lápis; coloca-o sobre o papel; põe os dedos sobre a borda”. Alguns instantes depois, a cesta pôs-se em movimento e o lápis escreveu, muito legível, esta frase: “Proíbo-vos, expressamente, de dizer o que vos digo aqui; da primeira vez que eu escrever, escreverei melhor.” O objeto ao qual se adapta o lápis, sendo apenas um instrumento, sua natureza e sua forma são completamente indiferentes; procurou-se a disposição mais cômoda; é assim que muitas pessoas se utilizam de uma pequena prancheta. A cesta, ou a prancheta, só podem ser postas em movimento sob a influência de certas pessoas dotadas, para isso, de um poder especial e que designamos sob o nome de médiuns, isto é, meios, ou intermediários entre os Espíritos e os homens. As condições que dão esse poder remontam a causas, ao mesmo tempo, físicas e morais ainda imperfeitamente conhecidas, pois encontramos médiuns de todas as idades, de ambos os sexos e em todos os graus de desenvolvimento intelectual. Essa faculdade, aliás, desenvolve-se pelo exercício. CINCO. Reconheceu-se, mais tarde, que a cesta e a prancheta, na realidade, formavam apenas um apêndice da mão, e o médium, pegando diretamente o lápis, posse a escrever através de um impulso involuntário e quase febril. Dessa maneira, as comunicações se tornaram mais rápidas, mais fáceis e mais completas; hoje, é o meio mais utilizado, tanto mais que o número das pessoas dotadas desta aptidão é bem considerável e se multiplica todos os dias. Finalmente, a experiência revelou muitas outras variedades na faculdade mediadora, e soube-se que as comunicações podiam, igualmente, acontecer através da palavra, da audição, da visão, do tato, etc., e até pela escrita direta dos Espíritos, isto é, sem o concurso da mão do médium, nem do lápis. Obtido o fato, restava constatar um ponto essencial: o papel do médium nas respostas, e a parte que nelas pode tomar, mecânica e moralmente. Duas circunstâncias capitais que não poderiam escapar a um observador atento, podem resolver a questão. A primeira é a maneira pela qual a cesta se move sob sua infl uência, unicamente pela imposição dos dedos sobre as bordas; o exame demonstra a impossibilidade de qualquer direcionamento. Esta impossibilidade se torna patente, sobretudo, quando duas ou três pessoas se colocam, ao mesmo tempo, junto à mesma cesta; seria preciso, haver entre elas uma concordância de movimento verdadeiramente fenomenal; seria preciso, ainda, concordância de pensamentos para que elas pudessem se entender sobre a resposta a dar à questão proposta. Um outro fato, não menos singular, vem ainda aumentar a dificuldade: é a mudança radical da escrita, conforme o espírito que se manifesta, e toda vez que o mesmo Espírito retorna, sua escrita se reproduz. Seria preciso, portanto, que o médium tivesse treinado a mudança de sua própria caligrafia de vinte maneiras diferentes e, principalmente, que pudesse lembrar-se daquela que pertence a esse ou àquele Espírito. A segunda circunstância resulta da própria natureza das respostas que estão, na maioria das vezes, sobretudo quando se trata de questões abstratas ou científicas, notoriamente fora dos conhecimentos e, algumas vezes, do alcance intelectual do médium, que, de resto, mais comumente, não tem consciência do que se escreve sob sua influência; que com muita frequência não entende ou não compreende a pergunta feita, visto que ela o pode ser numa língua que lhe é estranha, ou mesmo mentalmente, e que a resposta pode ser dada nessa língua. Enfim, acontece com frequência que a cesta escreva espontaneamente, sem pergunta preliminar, sobre um assunto qualquer e inteiramente inesperado. Em alguns casos, essas respostas têm um cunho de sabedoria, de profundidade e de propósito; elas revelam pensamentos tão elevados, tão sublimes, que não podem emanar senão de uma inteligência superior, impregnada da moralidade mais pura; de outras vezes, elas são tão levianas, tão frívolas, tão triviais mesmo, que a razão se recusa a acreditar que possam proceder da mesma fonte. Esta diversidade de linguagem só pode se explicar pela diversidade das inteligências que se manifestam. Essas inteligências estão na Humanidade ou fora da Humanidade? Este é o ponto a esclarecer, e cuja explicação completa encontrar-se-á nesta obra, tal como foi dada pelos próprios Espíritos. Eis, portanto, efeitos patentes que se produzem fora do círculo habitual de nossas observações, que não ocorrem misteriosamente, mas à luz do dia, que todo o mundo pode ver e constatar, que não são privilégio de um único indivíduo, mas que milhares de pessoas repetem, todos os dias, à vontade. Esses efeitos têm, necessariamente, uma causa, e desde o momento em que revelam a ação de uma inteligência e de uma vontade, eles saem do domínio puramente físico. Várias teorias foram emitidas a esse respeito; nós as examinaremos em breve, e veremos se elas podem explicar todos os fatos que se produzem. Admitamos, por enquanto, a existência de seres distintos da Humanidade, uma vez que esta é a explicação fornecida pelas inteligências que se revelam e vejamos o que eles nos dizem. O Livro dos espíritos. www.espiritismo.net. Abraço. Davi.

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