Cristianismo.
Estive num culto (19/06) à noite chegando na hora da mensagem por
circunstâncias justificáveis. A palestra foi no Caminho da Graça, uma
Comunidade Cristã liderada pelo pastor Caio Fábio (1955- ), alguém bem conhecido no meio evangélico de
Brasília – Brasil. A palavra compartilhada nas Escrituras Sagradas, mencionou o
evangelho de Mateus 25:14-30, o famoso texto da PARÁBOLA DOS TALENTOS. “Digo
também que o Reino será como um senhor que, ao sair da viagem, convocou seus
servos e confiou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro, dois e a
outro um talento: a cada um conforme a sua capacidade pessoal. E, em seguida,
partiu de viagem. O que havia recebido cinco talentos saiu imediatamente.
Investiu-os, e ganhou mais cinco. Da mesma forma, o que recebera dois talentos
ganhou outros dois. Entretanto, o que tinha recebido um talento afastou-se,
cavou um buraco na terra e escondeu o dinheiro que o seu senhor havia confiado
aos seus cuidados. Após um longo tempo, retornou o senhor daqueles servos e foi
acertar contas com eles. Então, o servo que recebera cinco talentos,
informando: O senhor me confiou cinco talentos; eis aqui mais cinco talentos
que ganhei. Respondeu-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel! Foste fiel no
pouco, muito confiarei em tuas mãos para administrar. Entra e participa da
alegria do teu senhor! Assim também, aproximou-se o que recebera dois talentos
e relatou: Senhor, dois talentos me confiaste; trago-lhe mais dois talentos que
ganhei. O senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e fiel! Foste fiel no pouco,
muito confiarei em tuas mãos para administrar. Entra e participa da alegria do
teu senhor! Assim também, aproximou-se o que recebera dois talentos e relatou:
Senhor dois talentos me confiaste; trago-lhe mais dois talentos que ganhei. O
senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e fiel! Foste fiel no pouco, muito
confiarei em tuas mãos para administrar. Entra e participa da alegria do teu
senhor! Chegando, finalmente, o que tinha recebido apenas um talento, explicou:
Senhor, eu te conheço, sei que és um homem severo, que colhe onde não plantou e
ajunta onde não semeou. Por isso, tive receio e escondi no chão o teu talento.
Aqui está, toma de volta o que te pertence. Sentenciou-lhe, porém, o senhor:
Servo mau e negligente! Sabias que colho onde não plantei e ajunto onde não
semeei! Então, por isso, ao menos devíeis ter investido meu talento com os
banqueiros, para que quando eu retornasse, o recebesse de volta, mais os juros.
Sendo assim, tirai dele o talento que lhe confiei e dai-o ao servo que agora
está com dez talentos. Pois a quem tem, mais lhe será confiado, e possuirá em
abundância. Mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto ao servo
inútil, lançai-o para fora, às trevas. Ali haverá muito pranto e ranger de
dentes. O juízo final”. Pastor Caio começou citando o Texto de Colossenses 3:15
“Seja a paz de Cristo o juiz em vossos corações, tendo em vista que fostes
convocados para viver em paz, como membros de um só corpo. E sede agradecidos”.
A gratidão é um dom que todos os humanos têm, mas que precisa ser exercitado nos
momentos e ambientes onde estamos inseridos. Um coração agradecido produz paz a
nós e aqueles com os quais mantemos contato, seja direta ou indiretamente. Ao
contrário a ingratidão demonstra nossa ignorância e mesquinhez de querer satisfazer
nosso desejo pessoal, não se importando com atitudes que elevam nossa alma e
produzem bem estar contínuo. O pregador por ter formação psicanalítica abordou
o assunto de maneira nova, a margem dum viés teologizado, dando oportunidade ao
ouvinte de entender o assunto dentro de sua limitação, sem a conclusão
prefixada do credo cristão implantado no inconsciente coletivo. Segue as
impressões que tive quanto ao panorama usado na explanação. Enfatizou o ser e o
ente (grosso modo na filosofia o ser é o indivíduo e o ente são as coisas e
objetos) na perspectiva existencial. O grupo de pessoas na parábola, a qual foi
dado os talentos representam nossa experiência vivencial. Falou-se sobre um
despertar da vida que todos precisamos em algum momento atingir em nossa
passagem pela terra. Como ele é manauara, nascido na cidade de Manaus, contou seu
insight revelado quando tinha 7 anos no pátio do colégio onde estudava,
brincando com saúvas que carregavam folhas dez vezes maiores que elas. Ele
bloqueava a passagem delas com obstáculos, dificultando-lhes o trabalho que
tinham de levar as folhas ao formigueiros. Também colocava-as para lutarem;
reconhecendo instantes depois sua maldade com seres senscientes (que percebem
pelos sentidos através de impressões) tão envolvido em objetivos comuns. De
repente, olhando pro céu, viu um
infinito azul que atingia toda abóbada celeste. Sua escola estava numa elevação
da capital do estado do Amazonas. Caindo em si, percebeu seu ignóbil ato contra
os insetos, e viu que, de alguma forma poderia ajudar a humanidade das pessoas
em sua caminha pela vida. Esse insight existencial, segundo abordou, determina
os talentos que teremos e como aumentá-lo para o bem daqueles a nossa volta. Os
talentos não são uma manufatura em série ou uma especificação de um produto
espiritual como geralmente somos induzidos a imaginar. Porém um dom que está
latente em nós; exemplificando um desejo de aprender a dançar, escrever poesia,
tocar um instrumento musical, praticar o voluntariado dando assistência à
alguma casa de criança carente ou de idoso, praticar atos generosos. Além de
muitos outros “ofícios” escondidos em nós, esperando que o despertemos. Esse se
“descobrir” ou descortinar-se para ocorrer, é antecipado por provas ou eventos
marcantes que enfrentamos, alguns dentro duma perspectiva de angústia, tristeza
ou sofrimento capazes de mudar a trajetória que estávamos percorrendo, outros,
normalmente em nossa caminhada pela vida. Cada um tem esse potencial oculto
(dom ou talento) na medida da proporção do desenvolvimento existencial. A
quantidade, tamanho ou volume não tem relevância como projeção individual, já que todos
prestaremos contas daquilo que recebemos do Senhor, conforme é claramente
ensinado pelo Mestre. Uma coisa é certa devemos duplica-lo como visto na
alegoria bíblia. Caso contrário enfrentaremos a consequência da passividade e
negligência de nossos atos. O que recebeu cinco multiplicou outros cinco, o que
teve dois granjeou outros dois; adquirindo esses o direito de entrar no gozo do
Senhor. Aqui está implícito que nada nos é concedido além de nossas
possibilidades, pois a justiça divina usa a equanimidade como modelo para medir
nossas atitudes, palavras e pensamentos. Devemos interiorizar nosso ser para
ter a experiência do eu absoluto, do contrário, desfragmentado pela
exteriorização da nossa natureza, fica impossível sermos um todo no meio das
partes. Na prática não conhecemos nossa essência divina, pois priorizamos o
ter, o prazer, o desejar, o apegar; mas ao constatar num vislumbre quem somos
tendemos a fugir da imagem refletida no invisível espelho da vida. A partir de
nossa auto aceitação começamos a pluralizar os talentos adquiridos não
almejando nenhuma recompensa ou troca, apenas o desejo pelo serviço realizado
na virtuosidade. O “entrar no gozo” é a alegria e felicidade de poder ser útil
a alguém ou fazer-se agradável a qualquer ser ou ente que necessite da
expressão de amor ou compaixão. Aqui não é uma esfera física de conforto ou
refrigério, mas uma sensação produzida pelo consciente de paz e harmonia com a
natureza em suas variadas manifestações. Essa sensibilidade do “entrar” é a
ponte que une o eu inferior (personalidade) terreno; purificada pela beatitude
espontânea do Eu superior (individualidade) celestial. O que recebeu um talento
com medo de seu senhor, o enterrou na terra. Aqui inferimos que a atitude desse
servo é um retrato de seu desinteresse em desenvolver sua espiritualidade,
vivendo na timidez e tendo o medo como empecilho para encontrar seu dom. Uma
covardia que estereotipava sua compreensão da realidade do seu senhor que não
era nada daquilo que ele imaginava ser. Ele tinha uma visão de Deus como um
carrasco tirânico, implacável e impiedoso juiz. Não percebia, em sua cegueira e
ignorância, que a misericórdia e graça divina são infinitamente maiores que
nossas falhas e pecados. Sendo que o Inominável e Incognoscível não tinha e nem
tem o desejo de “lançar” nenhuma de suas criaturas viventes “nas trevas
exteriores, onde há choro e ranger de dentes”. Somos responsáveis pelo que
fazemos à todos os seres, tendo nossas ações consequências no mundo físico e
espiritual como é dito em Lucas 6:43 “ Não existe árvore boa produzindo fruto
mau, nem inversamente, uma árvore má produzindo bom fruto. Pois cada árvore é
conhecida pelo seu próprio fruto”. Gálatas 6:7 “Não vos enganeis: Deus não se
permite zombar. Portanto, tudo o que o humano semear, isso também colherá!”
Esse ajuste de contas à pagar podemos pensá-lo, para efeito duma melhor
compreensão num aspecto metafórico existencial. Suponho não ser baseado no
conceito do maniqueísmo do bem e mal, certo ou errado que tendem a manifestar o
materialismo e determinismo teológico. Entretanto, de conformidade com o
monismo que percebe o sumo bem, sendo o mal uma ausência do bem e não seu
oponente confrontador. Encaminhando esse processo (bem) à interação e harmonia
do homem com a natureza onde há uma dependência dum em relação ao outro. O
acerto vem no tempo e espaço, no aqui e agora sem a futurologia teleológica
(finalidade) que o dogma costuma trazer como explicação desse evento bíblico.
Se temos dívida à acertar limitadas pelo tempo e espaço em que existimos como
quitar esse débito num âmbito eterno? Isso não é justo e nem razoável dentro do
entendimento humano. Assim, esse ônus espiritual, ocorre “momentos” antes de
temporariamente interrompida nossa existência na terra. Quando damos nosso
último suspiro, nossa consciência, mesmo que em fração de segundo, perpassa
aquilo que fizemos ou deixamos de fazer (multiplicando ou enterrando o dom ou
talento) agradando ou desagradando ao Senhor da vida. Assim, quanto antes despertarmos
ou sermos iluminados para a necessidade de desenvolvermos esse carisma,
estaremos ganhando tempo e desenvolvendo nossa salvação. O orador disse que
esse processo é realizado diferentemente em cada indivíduo. Alguns tem esse
despertar ainda criança, outros quando adolescentes, também na fase adulta e
ainda na velhice. Acontece que quanto mais o “procedimento” é retardado se
perde precioso tempo com futilidades (trivialidades) da vida acentuando-se o
maniqueísmo (bem e mal), desviando-se do propósito original pelo qual os
viventes foram criados e estão em fase de crescimento e aumento da consciência
interior. A demora nos expõe a temeridade abrindo nosso ser a energias
negativas que captada pelo inconsciente produz o tédio, ansiedade e abatimento.
Uma situação anormal que é revertida com a coragem de assumirmos quem somos,
mesmo não sabendo exatamente o que somos. O eu inferior é representado pela
personalidade, que transitória vai se desfazendo na medida que a velhice e
morte vão se aproximando. Numa leitura mística é como alguém que se veste pela
manhã (nascimento) e a noite se despe desse manto quando vai dormir (morte). O
Eu Superior é nossa individualidade manifesta em nosso espírito incriado perene
e eterno. É nele que os talentos se manifestam ganhando expansão de nossa
interioridade, uma auto multiplicação de Deus em nossa natureza humana. Eles
(talentos) não podem ter a materialização da recompensa, pois teoricamente são
substâncias informes sem uma significação material. A expansão do divino na
fragilidade existencial tem, imagino, por objetivo absolver o humano completamente no divino.
Filipenses 2:12-13 “Sendo assim, meus amados, como sempre obedecestes, não
somente na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, colocai em
prática a vossa salvação com reverência e temor a Deus. Pois é Deus quem produz
em vos tanto o querer como o realizar, de acordo com a sua vontade”. Abraço.
Davi.
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