quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A PARÁBOLA DOS TALENTOS.



Cristianismo. Estive num culto (19/06) à noite chegando na hora da mensagem por circunstâncias justificáveis. A palestra foi no Caminho da Graça, uma Comunidade Cristã liderada pelo pastor Caio Fábio (1955-  ), alguém bem conhecido no meio evangélico de Brasília – Brasil. A palavra compartilhada nas Escrituras Sagradas, mencionou o evangelho de Mateus 25:14-30, o famoso texto da PARÁBOLA DOS TALENTOS. “Digo também que o Reino será como um senhor que, ao sair da viagem, convocou seus servos e confiou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro um talento: a cada um conforme a sua capacidade pessoal. E, em seguida, partiu de viagem. O que havia recebido cinco talentos saiu imediatamente. Investiu-os, e ganhou mais cinco. Da mesma forma, o que recebera dois talentos ganhou outros dois. Entretanto, o que tinha recebido um talento afastou-se, cavou um buraco na terra e escondeu o dinheiro que o seu senhor havia confiado aos seus cuidados. Após um longo tempo, retornou o senhor daqueles servos e foi acertar contas com eles. Então, o servo que recebera cinco talentos, informando: O senhor me confiou cinco talentos; eis aqui mais cinco talentos que ganhei. Respondeu-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel! Foste fiel no pouco, muito confiarei em tuas mãos para administrar. Entra e participa da alegria do teu senhor! Assim também, aproximou-se o que recebera dois talentos e relatou: Senhor, dois talentos me confiaste; trago-lhe mais dois talentos que ganhei. O senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e fiel! Foste fiel no pouco, muito confiarei em tuas mãos para administrar. Entra e participa da alegria do teu senhor! Assim também, aproximou-se o que recebera dois talentos e relatou: Senhor dois talentos me confiaste; trago-lhe mais dois talentos que ganhei. O senhor lhe disse: Muito bem, servo bom e fiel! Foste fiel no pouco, muito confiarei em tuas mãos para administrar. Entra e participa da alegria do teu senhor! Chegando, finalmente, o que tinha recebido apenas um talento, explicou: Senhor, eu te conheço, sei que és um homem severo, que colhe onde não plantou e ajunta onde não semeou. Por isso, tive receio e escondi no chão o teu talento. Aqui está, toma de volta o que te pertence. Sentenciou-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente! Sabias que colho onde não plantei e ajunto onde não semeei! Então, por isso, ao menos devíeis ter investido meu talento com os banqueiros, para que quando eu retornasse, o recebesse de volta, mais os juros. Sendo assim, tirai dele o talento que lhe confiei e dai-o ao servo que agora está com dez talentos. Pois a quem tem, mais lhe será confiado, e possuirá em abundância. Mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto ao servo inútil, lançai-o para fora, às trevas. Ali haverá muito pranto e ranger de dentes. O juízo final”. Pastor Caio começou citando o Texto de Colossenses 3:15 “Seja a paz de Cristo o juiz em vossos corações, tendo em vista que fostes convocados para viver em paz, como membros de um só corpo. E sede agradecidos”. A gratidão é um dom que todos os humanos têm, mas que precisa ser exercitado nos momentos e ambientes onde estamos inseridos. Um coração agradecido produz paz a nós e aqueles com os quais mantemos contato, seja direta ou indiretamente. Ao contrário a ingratidão demonstra nossa ignorância e mesquinhez de querer satisfazer nosso desejo pessoal, não se importando com atitudes que elevam nossa alma e produzem bem estar contínuo. O pregador por ter formação psicanalítica abordou o assunto de maneira nova, a margem dum viés teologizado, dando oportunidade ao ouvinte de entender o assunto dentro de sua limitação, sem a conclusão prefixada do credo cristão implantado no inconsciente coletivo. Segue as impressões que tive quanto ao panorama usado na explanação. Enfatizou o ser e o ente (grosso modo na filosofia o ser é o indivíduo e o ente são as coisas e objetos) na perspectiva existencial. O grupo de pessoas na parábola, a qual foi dado os talentos representam nossa experiência vivencial. Falou-se sobre um despertar da vida que todos precisamos em algum momento atingir em nossa passagem pela terra. Como ele é manauara, nascido na cidade de Manaus, contou seu insight revelado quando tinha 7 anos no pátio do colégio onde estudava, brincando com saúvas que carregavam folhas dez vezes maiores que elas. Ele bloqueava a passagem delas com obstáculos, dificultando-lhes o trabalho que tinham de levar as folhas ao formigueiros. Também colocava-as para lutarem; reconhecendo instantes depois sua maldade com seres senscientes (que percebem pelos sentidos através de impressões) tão envolvido em objetivos comuns. De repente, olhando pro céu, viu  um infinito azul que atingia toda abóbada celeste. Sua escola estava numa elevação da capital do estado do Amazonas. Caindo em si, percebeu seu ignóbil ato contra os insetos, e viu que, de alguma forma poderia ajudar a humanidade das pessoas em sua caminha pela vida. Esse insight existencial, segundo abordou, determina os talentos que teremos e como aumentá-lo para o bem daqueles a nossa volta. Os talentos não são uma manufatura em série ou uma especificação de um produto espiritual como geralmente somos induzidos a imaginar. Porém um dom que está latente em nós; exemplificando um desejo de aprender a dançar, escrever poesia, tocar um instrumento musical, praticar o voluntariado dando assistência à alguma casa de criança carente ou de idoso, praticar atos generosos. Além de muitos outros “ofícios” escondidos em nós, esperando que o despertemos. Esse se “descobrir” ou descortinar-se para ocorrer, é antecipado por provas ou eventos marcantes que enfrentamos, alguns dentro duma perspectiva de angústia, tristeza ou sofrimento capazes de mudar a trajetória que estávamos percorrendo, outros, normalmente em nossa caminhada pela vida. Cada um tem esse potencial oculto (dom ou talento) na medida da proporção do desenvolvimento existencial. A quantidade, tamanho ou volume não tem relevância  como projeção individual, já que todos prestaremos contas daquilo que recebemos do Senhor, conforme é claramente ensinado pelo Mestre. Uma coisa é certa devemos duplica-lo como visto na alegoria bíblia. Caso contrário enfrentaremos a consequência da passividade e negligência de nossos atos. O que recebeu cinco multiplicou outros cinco, o que teve dois granjeou outros dois; adquirindo esses o direito de entrar no gozo do Senhor. Aqui está implícito que nada nos é concedido além de nossas possibilidades, pois a justiça divina usa a equanimidade como modelo para medir nossas atitudes, palavras e pensamentos. Devemos interiorizar nosso ser para ter a experiência do eu absoluto, do contrário, desfragmentado pela exteriorização da nossa natureza, fica impossível sermos um todo no meio das partes. Na prática não conhecemos nossa essência divina, pois priorizamos o ter, o prazer, o desejar, o apegar; mas ao constatar num vislumbre quem somos tendemos a fugir da imagem refletida no invisível espelho da vida. A partir de nossa auto aceitação começamos a pluralizar os talentos adquiridos não almejando nenhuma recompensa ou troca, apenas o desejo pelo serviço realizado na virtuosidade. O “entrar no gozo” é a alegria e felicidade de poder ser útil a alguém ou fazer-se agradável a qualquer ser ou ente que necessite da expressão de amor ou compaixão. Aqui não é uma esfera física de conforto ou refrigério, mas uma sensação produzida pelo consciente de paz e harmonia com a natureza em suas variadas manifestações. Essa sensibilidade do “entrar” é a ponte que une o eu inferior (personalidade) terreno; purificada pela beatitude espontânea do Eu superior (individualidade) celestial. O que recebeu um talento com medo de seu senhor, o enterrou na terra. Aqui inferimos que a atitude desse servo é um retrato de seu desinteresse em desenvolver sua espiritualidade, vivendo na timidez e tendo o medo como empecilho para encontrar seu dom. Uma covardia que estereotipava sua compreensão da realidade do seu senhor que não era nada daquilo que ele imaginava ser. Ele tinha uma visão de Deus como um carrasco tirânico, implacável e impiedoso juiz. Não percebia, em sua cegueira e ignorância, que a misericórdia e graça divina são infinitamente maiores que nossas falhas e pecados. Sendo que o Inominável e Incognoscível não tinha e nem tem o desejo de “lançar” nenhuma de suas criaturas viventes “nas trevas exteriores, onde há choro e ranger de dentes”. Somos responsáveis pelo que fazemos à todos os seres, tendo nossas ações consequências no mundo físico e espiritual como é dito em Lucas 6:43 “ Não existe árvore boa produzindo fruto mau, nem inversamente, uma árvore má produzindo bom fruto. Pois cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto”. Gálatas 6:7 “Não vos enganeis: Deus não se permite zombar. Portanto, tudo o que o humano semear, isso também colherá!” Esse ajuste de contas à pagar podemos pensá-lo, para efeito duma melhor compreensão num aspecto metafórico existencial. Suponho não ser baseado no conceito do maniqueísmo do bem e mal, certo ou errado que tendem a manifestar o materialismo e determinismo teológico. Entretanto, de conformidade com o monismo que percebe o sumo bem, sendo o mal uma ausência do bem e não seu oponente confrontador. Encaminhando esse processo (bem) à interação e harmonia do homem com a natureza onde há uma dependência dum em relação ao outro. O acerto vem no tempo e espaço, no aqui e agora sem a futurologia teleológica (finalidade) que o dogma costuma trazer como explicação desse evento bíblico. Se temos dívida à acertar limitadas pelo tempo e espaço em que existimos como quitar esse débito num âmbito eterno? Isso não é justo e nem razoável dentro do entendimento humano. Assim, esse ônus espiritual, ocorre “momentos” antes de temporariamente interrompida nossa existência na terra. Quando damos nosso último suspiro, nossa consciência, mesmo que em fração de segundo, perpassa aquilo que fizemos ou deixamos de fazer (multiplicando ou enterrando o dom ou talento) agradando ou desagradando ao Senhor da vida. Assim, quanto antes despertarmos ou sermos iluminados para a necessidade de desenvolvermos esse carisma, estaremos ganhando tempo e desenvolvendo nossa salvação. O orador disse que esse processo é realizado diferentemente em cada indivíduo. Alguns tem esse despertar ainda criança, outros quando adolescentes, também na fase adulta e ainda na velhice. Acontece que quanto mais o “procedimento” é retardado se perde precioso tempo com futilidades (trivialidades) da vida acentuando-se o maniqueísmo (bem e mal), desviando-se do propósito original pelo qual os viventes foram criados e estão em fase de crescimento e aumento da consciência interior. A demora nos expõe a temeridade abrindo nosso ser a energias negativas que captada pelo inconsciente produz o tédio, ansiedade e abatimento. Uma situação anormal que é revertida com a coragem de assumirmos quem somos, mesmo não sabendo exatamente o que somos. O eu inferior é representado pela personalidade, que transitória vai se desfazendo na medida que a velhice e morte vão se aproximando. Numa leitura mística é como alguém que se veste pela manhã (nascimento) e a noite se despe desse manto quando vai dormir (morte). O Eu Superior é nossa individualidade manifesta em nosso espírito incriado perene e eterno. É nele que os talentos se manifestam ganhando expansão de nossa interioridade, uma auto multiplicação de Deus em nossa natureza humana. Eles (talentos) não podem ter a materialização da recompensa, pois teoricamente são substâncias informes sem uma significação material. A expansão do divino na fragilidade existencial tem, imagino, por objetivo  absolver o humano completamente no divino. Filipenses 2:12-13 “Sendo assim, meus amados, como sempre obedecestes, não somente na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência, colocai em prática a vossa salvação com reverência e temor a Deus. Pois é Deus quem produz em vos tanto o querer como o realizar, de acordo com a sua vontade”. Abraço. Davi.

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