sexta-feira, 5 de agosto de 2016

AS CAUSAS PRIMÁRIAS.



Espiritismo. Texto de Alan Kardec (1804-1869). Primeira Parte. AS CAUSAS PRIMEIRAS. Capítulo um. DEUS. 1. Deus e o Infinito. 2. Provas da Existência de Deus. 3. Atributos da Divindade. 4. Panteísmo. DEUS É INFINITO. Que é Deus? “Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas”. Que se deve entender por infinito? “O que não tem começo nem fim: o desconhecido; tudo o que é desconhecido é infinito. Poder-se-ia dizer que Deus é o infinito? Definição incompleta. Pobreza da linguagem dos homens, que é insuficiente para definir as coisas que estão acima da inteligência deles. Deus é infinito nas suas perfeições, mas o infinito é uma abstração; dizer que Deus é o infinito, é tomar o atributo pela própria coisa e definir uma coisa que não é conhecida por outra menos conhecida ainda. PROVAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS. Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus? “Num axioma que aplicais às vossas ciências: Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e vossa razão vos responderá”. Para crer em Deus, basta lançar os olhos sobre as obras da criação. O Universo existe, tem, portanto, uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar que todo efeito tem uma causa e afirmar que o nada pôde fazer alguma coisa. Que consequência se pode tirar do sentimento intuitivo, que todos os homens trazem, em si mesmos, da existência de Deus? O texto colocado entre aspas, em seguida às perguntas, é a própria resposta dada pelos Espíritos. Distinguiram-se, através de outros caracteres, as notas e desenvolvimentos acrescentados pelo autor, diante da possibilidade de serem confundidos com o texto da resposta. Quando formam capítulos inteiros, não sendo possível a confusão, conservaram-se os caracteres comuns. “QUE DEUS EXISTE; pois de onde lhes viria este sentimento, se nada tivesse como base? É ainda uma consequência do princípio de que não há efeito sem causa.” O sentimento íntimo que temos, em nós mesmos, da existência de Deus não seria devido à educação e produto de idéias adquiridas? “Se assim fosse, por que vossos selvagens teriam tal sentimento?” Se o sentimento da existência de um ser supremo fosse apenas produto de um ensino, ele não seria universal e não existiria, como as noções das ciências, senão naqueles que tivessem podido receber esse ensinamento. Poder-se-ia encontrar a causa primeira da formação das coisas nas propriedades íntimas da matéria? “Mas, então, qual seria a causa destas propriedades? É sempre necessária uma causa primeira.” Atribuir a formação primeira das coisas às propriedades íntimas da matéria, seria tomar o efeito pela causa, pois estas propriedades são, elas próprias, um efeito que deve ter uma causa. Que se deve pensar da opinião que atribui a formação primeira a uma combinação fortuita da matéria, em outras palavras, ao acaso? “Outro absurdo! Que homem de bom senso pode ver o acaso como um ser inteligente? E, além disso, o que é o acaso? Nada.” A harmonia que regula os mecanismos do Universo patenteia combinações e visões determinadas e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir a formação primeira ao acaso seria um contrassenso, pois o acaso é cego e não pode produzir os efeitos da inteligência. Um acaso inteligente não seria mais o acaso. Onde se vê, na causa primeira, uma inteligência suprema e superior a todas as inteligências? “Tendes um provérbio que diz o seguinte: Pela obra se reconhece o artista. Pois bem! Vede a obra e procurai o artista. É o orgulho que engendra a incredulidade. O homem orgulhoso nada quer ter acima de si, é por isso que se denomina espírito forte. Pobre ser, que um sopro de Deus pode abater!” Julga-se o poder de uma inteligência pelas suas obras; nenhum ser humano podendo criar o que produz a Natureza, a causa primeira é, pois, uma inteligência superior à Humanidade. Quaisquer que sejam os prodígios executados pela inteligência humana, esta inteligência tem, ela própria, uma causa, e quanto maior for o que ela executa, tanto maior deve ser a causa primeira. É essa inteligência que é a causa primeira de todas as coisas, qualquer que seja o nome sob o qual o homem a designe. ATRIBUTOS DA DIVINDADE. O homem pode compreender a natureza íntima de Deus? “Não; é um sentido que lhe falta.” O homem poderá, um dia, compreender o mistério da Divindade? “Quando seu espírito não for mais obscurecido pela matéria e, por sua perfeição, tiver se aproximado dele, então, ele o verá e o compreenderá.” DEUS. A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da Humanidade, o homem, frequentemente, o confunde com a criatura cujas imperfeições ele lhe atribui; porém, à medida que o senso moral nele se desenvolve, seu pensamento penetra melhor no fundo das coisas e ele faz uma idéia mais justa e mais conforme à sã razão, embora ainda incompleta. Apesar de não podermos compreender a natureza íntima de Deus, podemos ter uma ideia de algumas de suas perfeições? “Sim, de algumas. O homem as compreende melhor à medida que se eleva acima da matéria; ele as entrevê pelo pensamento.” Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, não temos uma ideia completa de seus atributos? “Do vosso ponto de vista, sim, porque acreditais tudo abarcar; mas sabei bem que há coisas que estão acima da inteligência do homem mais inteligente e para as quais a vossa linguagem, limitada às vossas ideias e às vossas sensações, não tem absolutamente como exprimir. A razão vos diz, com efeito, que Deus deve possuir essas perfeições em grau supremo, pois se possuísse uma a menos, ou, então, se ela não estivesse num grau infinito, ele não seria superior a tudo e, por conseguinte, não seria Deus. Para estar acima de todas as coisas, Deus não deve sofrer vicissitude alguma, nem possuir nenhuma das imperfeições que a imagina- ção possa conceber.” Deus é eterno; se tivesse tido um começo, teria saído do nada, ou, então ele próprio teria sido criado por um ser anterior. É assim que, pouco a pouco, remontamos ao infi nito e à eternidade. É imutável; se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo nenhuma estabilidade teriam. É imaterial; isto quer dizer que sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria; de outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria. É único; se houvesse vários Deuses, não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na ordenação do Universo. É todo-poderoso, porque é único. Se não possuísse o poder soberano, haveria algo mais poderoso ou tão poderoso quanto ele; não teria feito todas as coisas e as que não tivesse feito seriam obra de um outro Deus. É soberanamente justo e bom. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nas menores coisas, como nas maiores; e essa sabedoria não permite duvidar nem de sua justiça, nem de sua bondade. PANTEÍSMO. Deus é um ser distinto, ou, conforme a opinião de alguns, a resultante de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas? “Se assim fosse, Deus não existiria, pois seria o efeito e não a causa; ele não pode ser, ao mesmo tempo, um e outra.” “Deus existe, disso não podeis duvidar; é o essencial. Crede-me, não vades além; não vos percais num labirinto de onde não poderíeis sair; isso não vos tornaria melhores, mas, talvez um pouco mais orgulhosos, porque acreditaríeis saber e, na realidade, nada saberíeis. Deixai, portanto, de lado todos estes sistemas; tendes coisas sufi cientes, que vos tocam mais diretamente, a começar por vós mesmos; estudai vossas próprias imperfeições, a fim de vos livrardes delas; isto ser-vos-á mais útil do que querer penetrar no que é impenetrável.” Que se deve pensar da opinião segundo a qual todos os corpos da Natureza, todos os seres, todos os globos do Universo seriam partes da Divindade e constituiriam, em conjunto, a própria Divindade, isto é, da doutrina panteísta? “O homem, não podendo fazer-se Deus, quer, pelo menos, ser uma parte de Deus.” Aqueles que professam esta doutrina pretendem nela encontrar a demonstração de alguns dos atributos de Deus: sendo infinitos os mundos, Deus é, por isso mesmo, infinito; não havendo o vazio ou o nada em parte alguma, Deus está por toda a parte; estando Deus por toda a parte, visto que tudo é parte integrante de Deus, ele dá a todos os fenômenos da Natureza uma razão de ser inteligente. Que se pode opor a este raciocínio? “A razão; refleti maduramente e não vos será difícil reconhecer-lhe o absurdo.” Esta doutrina faz de Deus um ser material que, embora dotado de uma inteligência suprema, seria, em ponto grande, o que somos em ponto pequeno. Ora, se fosse assim, com a matéria transformando-se incessantemente, Deus não teria estabilidade alguma; estaria sujeito a todas as vicissitudes, até mesmo a todas as necessidades da Humanidade; ele careceria de um dos atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade. As propriedades da matéria não podem se aliar à ideia de Deus, sem rebaixá-lo em nosso entendimento, e nenhuma sutileza do sofisma conseguirá resolver o problema de sua natureza íntima. Não sabemos tudo o que ele é, mas sabemos o que ele não pode deixar de ser e este sistema está em contradição com suas propriedades mais essenciais; ele confunde o Criador com a criatura, exatamente como se quisesse que uma máquina engenhosa fosse parte integrante do mecânico que a criou. A inteligência de Deus se revela nas suas obras, como a de um pintor no seu quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, tanto quanto o quadro não é o pintor que o concebeu e executou. Capítulo dois. ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO. 1. Conhecimento do Princípio das Coisas. 2. Espírito e Matéria. 3. Propriedades da Matéria. 4. Espaço Universal. CONHECIMENTO DO PRINCÍPIO DAS COISA. É possível ao homem conhecer o princípio das coisas? “Não, Deus não permite que tudo seja revelado ao homem neste mundo.” O homem desvendará, um dia, o mistério das coisas que lhe estão ocultas? “O véu se levanta para ele, à medida que se depura; mas, para compreender certas coisas, são-lhe necessárias faculdades que ele ainda não possui.” O homem não pode, através das investigações da Ciência, desvendar alguns segredos da Natureza? “A Ciência lhe foi dada para seu adiantamento em todas as coisas, porém, ele não pode ultrapassar os limites fixados por Deus.” Quanto mais é dado ao homem desvendar antecipadamente esses mistérios, maior deve ser sua admiração pelo poder e a sabedoria do Criador; contudo, seja por orgulho, seja por fraqueza, sua própria inteligência torna-o, frequentemente, joguete da ilusão; ele amontoa sistemas sobre sistemas e o passar dos dias lhe mostra quantos erros ele considerou como verdades e quantas verdades ele rejeitou como erros. São outras tantas decepções para o seu orgulho. Fora das investigações científicas, é dado ao homem receber comunicações de uma ordem mais elevada, sobre o que escapa ao testemunho de seus sentidos? “Sim; se Deus o julgar útil, pode revelar o que a Ciência não pode explicar.” É através destas comunicações que o homem adquire, dentro de certos limites, o conhecimento de seu passado e de seu destino futuro. ESPÍRITO E MATÉRIA. A matéria existe de toda a eternidade como Deus, ou foi criada por ele, num certo tempo? “Só Deus o sabe. Todavia, há uma coisa que vossa razão vos deve indicar: é que Deus, modelo de amor e de caridade, nunca esteve inativo. Por mais distante que possais imaginar o início de sua ação, podeis concebê-lo um segundo na ociosidade?” Geralmente, define-se como matéria, o que tem extensão, o que pode impressionar nossos sentidos, o que é impenetrável; estas definições são exatas? “Do vosso ponto de vista isto é exato, porque não falais senão do que conheceis; mas a matéria existe em estados que vos são desconhecidos; ela pode ser, por exemplo, tão etérea e sutil, que nenhuma impressão cause nos vossos sentidos; entretanto, é sempre matéria; mas para vós, não o seria.” Que definição podeis dar da matéria? “A matéria é o elo que acorrenta o espírito; é o instrumento que lhe serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, ele exerce sua ação.” Desse ponto de vista, pode-se dizer que a matéria é o agente, o intermediário com o auxílio do qual e sobre o qual o espírito age. Que é o espírito? “O princípio inteligente do Universo.” Qual a natureza íntima do espírito? “Não é fácil analisar o espírito com a vossa linguagem. Para vós, nada é, porque o espírito não é uma coisa palpável; mas, para nós, é alguma coisa. Sabei-o bem, o nada é coisa alguma; o nada não existe.” Espírito é sinônimo de inteligência? “A inteligência é um atributo essencial do espírito; porém, uma e outro se confundem num princípio comum, de sorte que, para vós, são a mesma coisa.” O espírito é independente da matéria, ou é apenas uma propriedade dela, como as cores são propriedades da luz, e o som uma propriedade do ar? “São distintos uma e outro; porém, é necessária a união do espírito e da matéria para intelectualizar a matéria.” Esta união é igualmente necessária para a manifestação do espírito? Entendemos, aqui, por espírito o princípio da inteligência, abstração feita das individualidades designadas por esse nome. “Ela é necessária a vós, porque não estais organizados para perceber o espírito sem a matéria; vossos sentidos não foram feitos para isso.” Pode-se conceber o espírito sem a matéria e a matéria sem o espírito? “Pode-se, sem dúvida, pelo pensamento.” Haveria, assim, dois elementos gerais do Universo: a matéria e o espírito? “Sim, e acima de tudo isso Deus, o criador, o pai de todas as coisas; estas três coisas são o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Porém, ao elemento material é preciso acrescentar o fluido universal que desempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria, propriamente dita, muito grosseira para que o espírito possa exercer uma ação sobre ela. Embora, sob um certo ponto de vista, se Elementos Gerais do Universo possa identifi cá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais; se ele fosse positivamente matéria, não haveria razão para que o espírito também não o fosse. Ele está colocado entre o espírito e a matéria; é fluido, como a matéria é matéria, suscetível, por suas inúmeras combinações com esta e sob a ação do espírito, de produzir a infinita variedade das coisas das quais conheceis apenas uma parte insuficiente. Este fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o espírito se serve, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as propriedades que a gravidade lhe dá.” Este fluido seria aquele que designamos sob o nome de eletricidade? “Dissemos que ele é suscetível de inumeráveis combinações; o que chamais fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal, que não é, propriamente falando, senão uma matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar como independente.”  Visto que o espírito, ele próprio, é alguma coisa, não seria mais exato e menos sujeito a confusão designar estes dois elementos gerais pelas palavras: matéria inerte e matéria inteligente? “As palavras pouco nos importam; cabe a vós formular vossa linguagem de maneira a vos entenderdes. Vossas discussões provêm, quase sempre, de não vos entenderdes sobre as palavras, porque vossa linguagem é incompleta para as coisas que não impressionam os vossos sentidos.” Um fato patente domina todas as hipóteses: vemos matéria que não é inteligente; vemos um princípio inteligente independente da matéria. A origem e a conexão destas duas coisas nos são desconhecidas. Se possuem ou não uma fonte comum, se há pontos de contato necessários; se a inteligência tem sua existência própria, ou se é uma propriedade, um efeito; se é mesmo, conforme a opinião de alguns, uma emanação da Divindade, é o que ignoramos; elas se nos apresentam distintas, é por isso que as admitimos formando dois princípios constitutivos do Universo. Vemos, acima de tudo isso, uma inteligência que domina todas as outras, que as governa todas, que delas se distingue por atributos essenciais: é essa inteligência suprema que chamamos Deus. PROPRIEDADES DA MATÉRIA . A ponderabilidade é um atributo essencial da matéria? “Da matéria tal como a entendeis, sim; não, porém, da matéria considerada como fluido universal. A matéria etérea e sutil que forma esse fluido é imponderável para vós, mas, nem por isso, deixa de ser o princípio de vossa matéria pesada.” A gravidade é uma propriedade relativa; fora das esferas de atração dos mundos, não há peso, assim como não há alto nem baixo. A matéria é formada de um único ou de vários elementos? “Um único elemento primitivo. Os corpos que considerais como simples não são verdadeiros elementos, porém, transformações da matéria primitiva.” De onde se originam as diferentes propriedades da matéria? “São modificações que as moléculas elementares sofrem, por sua união e em certas circunstâncias.” De acordo com isto, os sabores, os odores, as cores, o som, as qualidades venenosas ou salutares dos corpos, não seriam senão modificações de uma única e mesma substância primitiva? “Sim, sem dúvida, e só existem pela disposição dos órgãos destinados a percebê-las.” Este princípio é demonstrado pelo fato de que nem todos percebem as qualidades dos corpos da mesma maneira: um acha uma coisa agradável ao paladar, um outro acha-a ruim; uns vêm azul o que outros vêm vermelho; o que é um veneno, para uns, é inofensivo ou salutar, para outros. A mesma matéria elementar é suscetível de sofrer todas as modificações e de adquirir todas as propriedades? “Sim, e é isso o que se deve entender, quando dizemos que tudo está em tudo.” O oxigênio, o hidrogênio, o azoto, o carbono e todos os corpos que consideramos simples são apenas modificações de uma substância primitiva. Na impossibilidade em que nos encontramos, até o presente, de remontar a esta matéria primeira, de outra forma que não seja pelo pensamento, estes corpos são para nós verdadeiros elementos e podemos considerá-los como tais, até nova ordem, sem que isso traga inconveniente. Esta teoria parece dar razão à opinião daqueles que só admitem na matéria duas propriedades essenciais: a força e o movimento, e que pensam que todas as outras propriedades são apenas efeitos secundários que variam segundo a intensidade da força e a direção do movimento? “Esta opinião é exata. É preciso acrescentar ainda: conforme a disposição das moléculas, como o ves, por exemplo, num corpo opaco que pode tornar-se transparente e vice-versa.” As moléculas têm uma forma determinada? “Sem dúvida as moléculas têm uma forma, mas que não é apreciável por vós.” Esta forma é constante ou variável? “Constante, para as moléculas elementares primitivas, porém, variável, para as moléculas secundárias que são, elas próprias, somente aglomerações das primeiras; pois o que chamais molécula está longe ainda da molécula elementar.” Este princípio explica o fenômeno conhecido de todos os magnetizadores e que consiste em dar, pela ação da vontade, a uma substância qualquer, à água, por exemplo, propriedades muito diversas: um gosto determinado e até as qualidades ativas de outras substâncias. Visto que só há um elemento primitivo e que as propriedades dos diferentes corpos são apenas modificações deste elemento, daí resulta que a substância mais inofensiva tem o mesmo princípio que a mais deletéria. Assim, a água, que é formada de uma parte de oxigênio e de duas de hidrogênio, torna-se corrosiva, se duplicamos a proporção de oxigênio. Uma transformação análoga pode produzir-se pela ação magnética dirigida pela vontade. Água: H2 O (formada de dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio). Se duplicamos a proporção de oxigênio, teremos H2 O2 = água oxigenada. (N.T.) Elementos Gerais do Universo.  ESPAÇO UNIVERSAL. O espaço universal é infi nito ou limitado? “Infinito. Imagina-o limitado; o que haveria além? Isto confunde tua razão, bem o sei, todavia, tua razão te diz que não pode ser de outra maneira. O mesmo se dá com o infi nito em todas as coisas; não é na vossa pequenina esfera que podeis compreendê-lo.” Se imaginarmos um limite para o Espaço, por mais distante que o pensamento possa concebê-lo, a razão diz que, além deste limite, há alguma coisa e assim, gradativamente, até o infinito; e mesmo que esta alguma coisa fosse o vazio absoluto, ainda assim seria Espaço. 36. O vazio absoluto existe, em alguma parte, no Espaço universal? “Não, nada está vazio; o que está vazio para ti está ocupado por uma matéria que escapa aos teus sentidos e aos teus instrumentos.”. Capítulo três. CRIAÇÃO. Formação dos Mundos. 2. Formação dos Seres Vivos. 3. Povoamento da Terra. Adão. 4. Diversidade das Raças Humanas. 5. Pluralidade dos Mundos. 6. Considerações e Concordâncias Bíblicas no Tocante à Criação. FORMAÇÃO DO MUNDO. O Universo compreende a infinidade dos mundos que vemos e dos que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os astros que se movem no Espaço, assim como os fluidos que o preenchem. O Universo foi criado, ou existe de toda a eternidade, como Deus? “Certamente, ele não se pôde fazer sozinho e, se existisse de toda a eternidade, como Deus, não poderia ser obra de Deus.” A razão nos diz que o Universo não pôde fazer-se a si mesmo e que, não podendo ser a obra do acaso, deve ser a obra de Deus. Como Deus criou o Universo? “Para me servir de uma expressão corrente: por sua Vontade. Nada caracteriza melhor esta vontade onipotente do que estas belas palavras da Gênese: “Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita.” Podemos conhecer o modo da formação dos mundos? “Tudo o que se pode dizer e o que podeis compreender é que os mundos se formam pela condensação da matéria disseminada no Espaço.” Os cometas seriam, como agora se pensa, um início de condensação da matéria e mundos em via de formação? “Isto está correto; porém, o que é absurdo é acreditar na infl uência deles. Refiro-me a essa influência que vulgarmente lhes atribuem, pois todos os corpos celestes têm sua parte de influência em certos fenômenos físicos.” Um mundo completamente formado pode desaparecer e a matéria que o compõe disseminar-se de novo no Espaço? “Sim, Deus renova os mundos, como renova os seres vivos.” Podemos conhecer a duração da formação dos mundos: da Terra, por exemplo? “Não posso te dizer isto, pois só o Criador o sabe e bem louco seria quem pretendesse sabê-lo, ou conhecer o número de séculos desta formação.” FORMAÇÃO DOS SERES VIVOS. Quando a Terra começou a ser povoada? “No começo tudo era caos; os elementos estavam confundidos. Pouco a pouco, cada coisa tomou seu lugar; então, apareceram os seres vivos apropriados ao estado do globo.” De onde vieram os seres vivos para a Terra? “A Terra continha-lhes os germens que aguardavam o momento favorável para se desenvolver. Os princípios orgânicos se reuniram, desde que cessou a força que os mantinha afastados, e eles formaram os germens de todos os seres vivos. Os germens permaneceram em estado latente e inerte, como a crisálida e as sementes das plantas, até o momento propício à eclosão de cada espécie; então, os seres de cada espécie reuniram-se e se multiplicaram.”  Onde estavam os elementos orgânicos antes da formação da Terra? “Eles se achavam, por assim dizer, em estado fluídico, no Espaço, no ambiente dos Espíritos, ou em outros planetas, aguardando a criação da Terra para iniciar uma nova existência em um globo novo.” A Química nos mostra as moléculas dos corpos inorgânicos unindo-se para formar cristais de uma regularidade constante, conforme cada espécie, desde que estejam nas condições desejadas. A menor perturbação nestas condições é sufi ciente para impedir a reunião dos elementos, ou, pelo menos, a disposição regular que constitui o cristal. Por que o mesmo não se daria com elementos orgânicos? Conservamos, durante anos, germens de plantas e de animais que só se desenvolvem a uma dada temperatura e num meio propício; têm-se visto grãos de trigo germinar após vários séculos. Há, portanto, nessas sementes um princípio latente de vitalidade que apenas aguarda uma circunstância favorável para se desenvolver. O que acontece, diariamente, sob os nossos olhos, não pode ter ocorrido desde a origem do globo? Esta formação dos seres vivos saindo do caos pela própria força da Natureza, tira alguma coisa da grandeza de Deus? Longe disso, ela responde melhor à ideia que fazemos de seu poder, exercendo-se sobre mundos infinitos através de leis eternas. Esta teoria não resolve, é verdade, a questão da origem dos elementos vitais; Deus, porém, tem seus mistérios, e pôs limites às nossas investigações. Ainda há seres que nasçam espontaneamente? “Sim, porém o gérmen primitivo já existia em estado latente. Sois testemunhas, todos os dias, deste fenômeno. Os tecidos do corpo humano e dos animais não encerram os germens de uma multidão de vermes que aguardam, para eclodir, a fermentação pútrida necessária à sua existência? É um mundo minúsculo que dormita e que se cria.” A espécie humana encontrava-se entre os elementos orgânicos contidos no globo terrestre? “Sim, e ela veio a seu tempo; foi o que fez com que se dissesse que o homem tinha sido formado do limo da terra.” 48. Podemos conhecer a época da aparição do homem e dos outros seres vivos na Terra? “Não, todos os vossos cálculos são quiméricos.” Se o gérmen da espécie humana encontrava-se entre os elementos orgânicos do globo, por que não se formam, espontaneamente, homens, como na origem destes? “O princípio das coisas está nos segredos de Deus; todavia, pode-se dizer que os homens, uma vez espalhados pela Terra, absorveram em si mesmos os elementos necessários à sua formação para transmiti-los, segundo as leis da reprodução. O mesmo se dá com as diferentes espécies de seres vivos.” POVOAMENTO DA TERRA. ADÃO. A espécie humana começou por um único homem? “Não; aquele a quem chamais Adão não foi o primeiro, nem o único que povoou a Terra.” Podemos saber em que época vivia Adão? “Aproximadamente, naquela que lhe assinalais; mais ou menos 4.000 anos antes do Cristo.” O homem, cujo nome a tradição conservou como Adão, foi um daqueles que sobreviveram, numa região, após alguns dos grandes cataclismos que agitaram, em diversas épocas, a superfície do globo, e se tornou o tronco de uma das raças que, hoje, o povoam. As leis da Natureza se opõem a que os progressos da Humanidade, constatados muito tempo antes do Cristo, tenham podido se efetuar em alguns séculos, como se o homem estivesse na Terra, apenas a partir da época assinalada pela existência de Adão. Alguns consideram, e com mais razão, Adão como um mito ou uma alegoria que personifica as primeiras idades do mundo. DIVERSIDADE DAS RAÇÃS HUMANAS. De onde vêm as diferenças físicas e morais que distinguem as variedades de raças humanas na Terra? “Do clima, da vida e dos hábitos. O mesmo se dá com dois filhos de uma mesma mãe, que, educados longe e diferentemente um do outro, em nada se assemelharão quanto ao moral.” O homem surgiu em vários pontos do globo? “Sim e em diversas épocas, e aí está uma das causas da diversidade das raças; depois, os homens, dispersando-se sob diferentes climas e aliando-se a outras raças, formaram novos tipos.” Estas diferenças constituem espécies distintas? Criação “Certamente que não, todos são da mesma família: as diferentes variedades do mesmo fruto o impedem de pertencer à mesma espécie?” Se a espécie humana não procede de um único indivíduo, os homens devem deixar de considerar-se irmãos por isso? “Todos os homens são irmãos em Deus, porque são animados pelo espírito e ten dem para o mesmo objetivo. Quereis sempre tomar as palavras ao pé da letra.” PLURALIDADE DOS MUNDOS. Todos os globos que giram no Espaço são habitados? “Sim, e o homem da Terra está longe de ser, como o supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição. Há, no entanto, homens que se acreditam muito fortes, que imaginam que este pequeno globo é o único a possuir o privilégio de conter seres racionais. Orgulho e vaidade! Acreditam que Deus criou o Universo unicamente para eles.” Deus povoou os mundos de seres vivos que contribuem, todos, para o objetivo final da Providência. Acreditar que os seres vivos estejam limitados unicamente ao ponto que habitamos no Universo, seria colocar em dúvida a sabedoria de Deus, que nada fez de inútil; ele deve ter traçado para esses mundos um objetivo mais sério do que o de recrear nossa vista. Nada há, aliás, nem na posição, nem no volume, nem na constituição física da Terra, que possa, racionalmente, fazer supor que apenas ela tenha o privilégio de ser habitada, com exclusão de tantos milhares de mundos semelhantes. A constituição física dos diferentes globos é a mesma? “Não; eles de modo algum se assemelham.” Não sendo a mesma para todos a constituição física dos mundos, segue-se que haja para os seres que os habitam uma organização diferente? “Sem dúvida, assim como no vosso os peixes são feitos para viver na água e os pássaros no ar.” Os mundos que se encontram mais afastados do Sol acham-se privados de luz e de calor, visto que o Sol não se mostra a eles senão sob a aparência de uma estrela? “Credes, pois, que não haja outras fontes de luz e de calor além do Sol; e não levais em conta a eletricidade que, em certos mundos, desempenha um papel que vos é desconhecido e bem mais importante do que na Terra? Além disso, não foi dito que todos os seres vêem da mesma maneira que vós e com órgãos constituí- dos como os vossos.” As condições de existência dos seres que habitam os diferentes mundos devem ser apropriadas ao meio no qual eles são convocados a viver. Se nunca tivéssemos visto peixes, não compreenderíamos que seres pudessem viver na água. Assim é, em outros mundos, que encerram, sem dúvida, elementos que nos são desconhecidos. Não vemos, na Terra, as longas noites polares iluminadas pela eletricidade das auroras boreais? Nada há de impossível em que, em certos mundos, a eletricidade seja mais abundante do que na Terra e neles desempenhar um papel geral, cujos efeitos não podemos compreender? Esses mundos podem, portanto, encerrar, em si mesmos, as fontes de calor e de luz necessárias aos seus habitantes. CONSIDERAÇÕES E CONCORDÂNCIA BÍBLICAS NO TOCANTE A CRIAÇÃO. Os povos formaram ideias muito divergentes sobre a Criação, conforme o grau de suas luzes. A razão, apoiada na Ciência, reconheceu a inverossimilhança de algumas teorias. A que é dada pelos espíritos confirma a opinião há muito tempo admitida pelos homens mais esclarecidos. A objeção que se pode fazer a esta teoria é a de que ela contraria o texto dos livros sagrados; mas um exame sério leva a reconhecer que essa contradição é mais aparente do que real e que resulta da interpretação dada a algo, com frequência explicado alegoricamente. A questão do primeiro homem na pessoa de Adão, como origem exclusiva da Humanidade, não é, absolutamente, a única sobre a qual as crenças religiosas tiveram que se retificar. O movimento da Terra pareceu, em determinada época, tão oposto ao texto sagrado, que a toda espécie de perseguições essa teoria serviu de pretexto; e, entretanto, a Terra gira, apesar dos anátemas e ninguém, hoje, poderia contestá-lo sem depor contra sua própria razão. A Bíblia diz, igualmente, que o mundo foi criado em seis dias e fixa-lhe a época em, aproximadamente, 4000 anos, antes da era cristã. Antes disso, a Terra não existia, tendo sido retirada do nada: o texto é formal; e eis que a Ciência positiva, a Ciência inexorável, vem provar o contrário. A formação do globo está escrita em caracteres imprescritíveis no mundo fóssil e está provado que os seis dias da criação correspondem a tantos períodos, cada um, talvez, de várias centenas de milhares de anos. Isto não é um sistema, uma doutrina, uma opinião isolada, é um fato tão consistente quanto o do movimento da Terra e que a Teologia não pode recusar-se a admitir, prova evidente do erro que se pode cometer, tomando ao pé da letra as expressões de uma linguagem, frequentemente, figurada. Poder-se-ia daí concluir que a Bíblia é um erro? Não; porém, que os homens se enganaram ao interpretá-la. A Ciência, escavando os arquivos da Terra, reconheceu a ordem na qual os diferentes seres vivos apareceram em sua superfície e esta ordem está de acordo com o que indica a Gênese, com a diferença de que esta obra, em vez de ter, milagrosamente, saído das mãos de Deus, em algumas horas, efetuou-se, sempre pela sua vontade, porém, segundo a lei das forças da Natureza, em alguns milhões de anos. Deus é, por isso, menor e menos poderoso? Sua obra é, menos sublime, por não ter o prestígio da instantaneidade? Evidentemente, não; seria preciso fazer-se uma ideia muito mesquinha da Divindade para não reconhecer sua onipotência nas leis eternas que ele estabeleceu para regerem os mundos. A Ciência, longe de depreciar a obra divina, no-la mostra sob um aspecto mais grandioso e mais condizente com as noções que temos do poder e da majestade de Deus, pelo próprio fato de que ela efetuou-se sem derrogar as leis da Natureza. A Ciência, nesse ponto, de acordo com Moisés, coloca o homem em último lugar, na ordem da criação dos seres vivos; Moisés, porém, coloca o dilúvio universal, no ano de 1654 enquanto que a Geologia nos mostra o grande cataclismo como  refere-se ao calendário judeu; anterior à aparição do homem, visto que, até hoje, nenhum traço de sua presença foi encontrado nas camadas primitivas, nem o de animais da mesma categoria, do ponto de vista físico; mas, nada prova que isso seja impossível. Várias descobertas já lançaram dúvidas a esse respeito; pode, pois, acontecer que de um momento para o outro, adquira-se a certeza material desta anterioridade da raça humana e, então, reconhecer-se-á que, sobre este ponto, como sobre outros, o texto bíblico é uma figura. A questão está em saber se o cataclismo geológico é o mesmo de Noé; ora, o tempo necessário à formação das camadas fósseis não permite confundi-los e, desde o momento em que se encontrem os traços da existência do homem, antes da grande catástrofe, ficará provado, ou que Adão não é o primeiro homem, ou que a sua criação se perde na noite dos tempos. Contra a evidência, não há raciocínios possíveis e será preciso aceitar esse fato, como se aceitaram o do movimento da Terra e os seis períodos da Criação. É verdade que a existência do homem, antes do dilúvio geológico, ainda é hipotética, porém, eis aqui algo que não é tanto: admitindo-se que o homem tenha aparecido pela primeira vez na Terra 4000 anos antes de Cristo, se 1650 anos mais tarde toda a raça humana foi destruída, com exceção de uma única família, daí resulta que o povoamento da Terra data apenas de Noé, isto é, de 2350 anos antes da nossa era. Ora, quando os hebreus emigraram para o Egito, no século XVIII antes de Cristo, encontraram esse país muito povoado e já bastante adiantado em civilização. A História prova que, nessa época, as Índias e outros países estavam igualmente florescentes, sem mesmo se levar em conta a cronologia de alguns povos, que remonta a uma época bem mais recuada. Teria sido necessário, portanto, que do vigésimo quarto ao décimo oitavo século, isto é, no espaço de 600 anos, não somente a posteridade de um único homem tivesse podido povoar todas as imensas regiões, então conhecidas, supondo que as outras não o fossem, mas também que, nesse curto intervalo de tempo, a espécie humana tivesse podido elevar-se da ignorância absoluta do estado primitivo ao mais alto grau do desenvolvimento intelectual, o que contraria todas as leis antropológicas. A diversidade das raças vem, ainda, ratificar esta opinião. O clima e os costumes produzem, certamente, modificações de caráter físico; sabe-se, contudo, até onde pode ir a influência destas causas e o exame fisiológico prova que há, entre certas raças, diferenças constitucionais mais profundas do que as que o clima pode produzir. O cruzamento das raças origina os tipos intermediários; ele tende a apagar os caracteres extremos, mas não os produz; cria apenas variedades. Ora, para que tenha havido cruzamento de raças, seria preciso que houvesse raças distintas. E como explicar a existência delas, dando-lhes uma origem comum e, sobretudo, tão próxima? Como admitir que, em poucos séculos, alguns descendentes de Noé tenham-se transformado ao ponto de produzirem a raça etíope, por exemplo; uma tal metamorfose não é mais admissível, que a hipótese de uma origem comum para o lobo e a ovelha, o elefante e o pulgão, o pássaro e o peixe. Ainda uma vez, nada poderia prevalecer contra a evidência dos fatos. Ao contrário, tudo se explica, admitindo-se a existência do homem, antes da época que, vulgarmente, lhe é atribuída; a diversidade das origens; Adão vivendo há 6000 anos, povoando uma região ainda desabitada; o dilúvio de Noé, como uma catástrofe parcial, confundida com o cataclismo geológico; finalmente, levando-se em conta a forma alegórica própria ao estilo oriental e que se encontra nos livros sagrados de todos os povos. Eis por que que é prudente não agir com leviandade, julgando falsas doutrinas que podem, mais cedo ou mais tarde, como tantas outras, desmentir aqueles que as combatem. As ideias religiosas, longe de perderem, se engrandecem, caminhando com a Ciência; este o único meio de não mostrarem um lado vulnerável ao ceticismo. Capítulo IV Princípio Vital. 1. Seres Orgânicos e Inorgânicos. 2. A Vida e a Morte. 3. Inteligência e Instinto. SERES ORGÂNICOS E INORGÂNICOS. Os seres orgânicos são os que têm em si uma fonte de atividade íntima que lhes dá a vida; nascem, crescem, reproduzem-se por si mesmos e morrem; são providos de órgãos especiais para a execução dos diferentes atos da vida e que são apropriados às suas necessidades, para sua conservação. Destes fazem parte os homens, os animais e as plantas. Os seres inorgânicos são todos aqueles que não possuem vitalidade, nem movimentos próprios e que são formados apenas pela agregação da matéria; assim, são os minerais, a água, o ar, etc. A força que une os elementos da matéria nos corpos orgânicos e nos corpos inorgânicos é a mesma? “Sim, a lei de atração é a mesma para todos.” Há diferença entre a matéria dos corpos orgânicos e a dos corpos inorgânicos? “A matéria é sempre a mesma, porém nos corpos orgânicos ela está animalizada.” Qual a causa da animalização da matéria? “Sua união com o princípio vital.” O princípio vital reside num agente particular, ou é apenas uma propriedade da matéria organizada; numa palavra, é um efeito ou uma causa? “Um e outra. A vida é um efeito produzido pela ação de um agente sobre a matéria; este agente, sem a matéria, não é a vida, assim como a matéria não pode viver sem esse agente. Ele dá a vida a todos os seres que o absorvem e o assimilam.” Vimos que o espírito e a matéria são dois elementos constitutivos do Universo; o princípio vital forma um terceiro? “É, certamente, um dos elementos necessários à constituição do Universo, mas ele próprio tem sua origem na matéria universal modificada; é um elemento, para vós, como o oxigênio e o hidrogênio que, entretanto, não são elementos primitivos, pois tudo isso parte de um mesmo princípio.”  Parece resultar, daí, que a vitalidade não tem seu princípio num agente primitivo distinto, mas numa propriedade especial da matéria Universal, devida a certas modificações. “É a consequência do que dissemos.” O princípio vital reside num dos corpos que conhecemos? “Ele tem sua origem no fluido universal; é o que chamais fluido magnético ou fluido elétrico animalizado. Ele é o intermediário, o elo entre o espírito e a matéria.” O princípio vital é o mesmo para todos os seres orgânicos? “Sim, modificado segundo as espécies. É o que lhes dá o movimento e a atividade e os distingue da matéria inerte; pois o movimento da matéria não é a vida; ela recebe este movimento, não o dá.” A vitalidade é um atributo permanente do agente vital, ou, então, esta vitalidade só se desenvolve pelo funcionamento dos órgãos? “Ela só se desenvolve com o corpo. Não temos dito que esse agente sem a matéria não é a vida? É necessária a união das duas coisas para produzir a vida.” Pode-se dizer que a vitalidade se acha em estado latente, quando o agente vital não está unido ao corpo? “Sim, é isto.” O conjunto dos órgãos constitui uma espécie de mecanismo que recebe sua impulsão da atividade íntima ou princípio vital que neles existe. O princípio vital é a força motriz dos corpos orgânicos. Ao mesmo tempo que o agente vital dá a impulsão aos órgãos, a ação dos órgãos entretém e desenvolve a atividade do agente vital, quase como o atrito desenvolve o calor. A VIDA E A MORTE. Qual é a causa da morte nos seres orgânicos? “Esgotamento dos órgãos.” Poder-se-ia comparar a morte à cessação do movimento numa máquina desorganizada? “Sim, se a máquina está desajustada, cessa a atividade; se o corpo está enfermo, a vida se extingue.” Por que uma lesão do coração causa mais a morte do que a de outros órgãos? “O coração é uma máquina de vida; mas o coração não é o único órgão cuja lesão ocasiona a morte; ele é apenas uma das peças essenciais.” O que se tornam a matéria e o princípio vital dos seres orgânicos, quando da morte destes? “A matéria inerte se decompõe e forma outros; o princípio vital retorna à massa.” Estando morto o ser orgânico, os elementos dos quais é formado sofrem novas combinações, que constituem novos seres; estes haurem na fonte universal o princípio da vida e da atividade, absorvem-no e o assimilam, para devolvê-lo a essa fonte, quando deixarem de existir. Os órgãos são impregnados, por assim dizer, de fluido vital. Esse fluido dá a todas as partes do organismo uma atividade que possibilita seu inter relacionamento e, em certas lesões, restabelece funções, momentaneamente suspensas. Porém, quando os elementos essenciais ao funcionamento dos órgãos estão destruídos, ou muito profundamente alterados, o fluido vital é impotente para lhes transmitir o movimento da vida e o ser morre. Os órgãos reagem, mais ou menos necessariamente, uns sobre os outros; é da harmonia de seu conjunto que resulta sua ação recíproca. Quando uma causa qualquer destrói esta harmonia, suas funções cessam, como o movimento de um mecanismo cujas peças essenciais estão escangalhadas. Assim como um relógio que com o tempo se gasta ou se quebra por acidente e cuja força motriz é impotente para colocar em movimento. Num aparelho elétrico, temos uma imagem mais exata da vida e da morte. Este aparelho, como todos os corpos da Natureza, contém a eletricidade em estado latente. Os fenômenos elétricos apenas se manifestam, quando o fluido é colocado em atividade por uma causa especial: então, poder-se-ia dizer que o aparelho está vivo. Vindo a cessar a causa da atividade, o fenômeno cessa: o aparelho retorna ao estado de inércia. Os corpos orgânicos seriam, assim, espécies de pilhas ou aparelhos elétricos nos quais a atividade do fluido produz o fenômeno da vida: a cessação dessa atividade produz a morte. A quantidade de fluido vital não é absoluta em todos os seres orgânicos; ela varia segundo as espécies e não é constante, nem no mesmo indivíduo, nem nos indivíduos da mesma espécie. Há aqueles que estão, por assim dizer, saturados dele, enquanto que outros possuem no apenas numa quantidade sufi ciente; daí, para alguns a vida mais ativa, mais tenaz, e de certa forma, superabundante. A quantidade de fluido vital se esgota; ela pode se tornar insuficiente para a manutenção da vida, se não for renovada pela absorção e a assimilação das substâncias que o contêm. O fluido vital se transmite de um indivíduo a um outro indivíduo. Aquele que o possui em maior quantidade, pode dá-lo àquele que possui menos, e em certos casos, reacender a vida prestes a extinguir-se. INTELIGÊNCIA E INSTINTO. A inteligência é um atributo do princípio vital? “Não, visto que as plantas vivem e não pensam: elas só possuem a vida orgânica. A inteligência e a matéria são independentes, já que um corpo pode viver sem a inteligência; mas, a inteligência só pode manifestar-se por meio dos órgãos materiais; é necessária a união do espírito para intelectualizar a matéria animalizada.” A inteligência é uma faculdade especial, própria a algumas classes de seres orgânicos e que lhes dá, com o pensamento, a vontade de agir, a consciência de sua existência e de sua individualidade, assim como os meios de estabelecer relações com o mundo exterior e de proverem às suas necessidades. Podem distinguir-se assim: 1o ) os seres inanimados, constituídos unicamente de matéria, sem vitalidade nem inteligência: são os corpos brutos; 2o ) os seres animados que não pensam, formados de matéria e dotados de vitalidade, porém, desprovidos de inteligência; 3o ) os seres animados que pensam, formados de matéria, dotados de vitalidade e que possuem a mais um princípio inteligente que lhes dá a faculdade de pensar. Qual é a fonte da inteligência? “Nós o dissemos: a inteligência universal.” Poder-se-ia dizer que cada ser haure uma porção de inteligência da fonte universal e a assimila, como haure e assimila o princípio da vida material? “Isto é apenas uma comparação, mas que não é exata, porque a inteligência é uma faculdade peculiar a cada ser e constitui sua individualidade moral. Além disso, vós o sabeis, há coisas que não é dado ao homem penetrar e esta, no momento, é uma delas.” O instinto é independente da inteligência? “Não, precisamente, pois é uma espécie de inteligência. O instinto é uma inteligência não raciocinada. É através dele que todos os seres provêm às suas necessidades.” Pode-se demarcar um limite entre o instinto e a inteligência, isto é, precisar onde termina um e onde começa a outra? “Não, pois, frequentemente, eles se confundem; porém, podem-se distinguir, muito bem, os atos que advêm do instinto daqueles que derivam da inteligência.” É certo dizer que as faculdades instintivas diminuem à medida que crescem as faculdades intelectuais? “Não; o instinto existe sempre, mas o homem o despreza. O instinto pode também conduzir ao bem; ele quase sempre nos guia e, algumas vezes, com mais segurança do que a razão; ele nunca se extravia.” Por que a razão nem sempre é guia infalível? “Ela seria infalível, se não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. O instinto não raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o livre-arbítrio.” O instinto é uma inteligência rudimentar que difere da inteligência propriamente dita, pelo fato de que suas manifestações são quase sempre espontâneas, enquanto que as da inteligência são o resultado de uma combinação e de um ato deliberado. O instinto varia em suas manifestações, segundo as espécies e suas necessidades. Nos seres que têm a consciência e a percepção das coisas exteriores, ele se alia a inteligência, isto é, a vontade e a liberdade. Livro dos Espíritos. www.espiritismo.net.com.br  Abraço. Davi.

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