segunda-feira, 28 de abril de 2014

O Poder Transformador das Virtudes.

(C.015) Vamos refletir sobre o texto bíblico de Mateus 19: 16 - 22.  "Eis que alguém aproximando-se, lhe perguntou: Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna?. ( ... ). Se queres, porém, entrar na vida guarda os mandamentos. ( ... ). Tudo isso tenho observado; o que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro nos céus. O jovem retirou-se triste, por ser dono de muitas propriedades". Sócrates (469 AC 399) fez uma clássica definição de virtude, "é a arte da capacidade de perceber e realizar o bem". Um dito popular que podemos aplicar ao jovem rico é o que diz: "a mente mente descarradamente". Ele enganava-se imaginando que por cumprir os mandamentos estaria apto para entrar na vida eterna. Quando meditamos em virtude podemos dizer: "falar do bem e do belo é bom e só faz bem". O perceber o bem é um primeiro passo para trilhar uma vida virtuosa. Uma ilustração disso é sabermos que uma flor desabrochará em um momento determinado. Mas vendo este evento o desejo da beatitude é realizado. Assim, a virtude é uma ação motivada pelo coração. Conta uma lenda persa que um jovem foi a procura de sua amada. Encontrou-a em uma casa trancada num dos quartos. Ele várias vezes bateu na porta pedindo que ela abrisse, mas a súplica foi negada. Então decidiu percorrer a periferia da aldeia onde morava procurando os pobres e necessitados para ajudá-los conforme pudesse. Platão (428 AC 328) e seus discípulos reconheciam que a virtude tinha (prudência, sabedoria, coragem e verdade) quatro aspectos. A prudência (cautela e cuidado) como a primeira categoria, mostra a necessidade de se evitar tudo o que possa ser prejudicial ou inconveniente. Também é revelada quando usamos o bom senso e o comedimento. É difícil precisar o termo sabedoria que é o segundo requisito. Ela está ligada a temperança (moderação nos desejos e apetites), tendo sobriedade nas escolhas e decisões. A sabedoria é adquirida pela experiência de vida humana, além do conhecimento acumulado ao longo do tempo. A coragem como o terceiro item, é a força ou energia moral diante do perigo ou de situações adversas. Uma atitude de ânimo e bravura frente aos desafios da vida. A verdade como o quarto elemento é a realidade para além dos sentidos e da percepção. As filosofias e religiões buscam a "verdade" para iniciarem seus processos de desvelamento dos mistérios exotéricos (externos e abertos ao público) e os esotéricos (internos e ocultos só para os iniciados). A "verdade" é a base da virtude quando praticada com ética e moral nos contextos humanos. O jovem do conto persa após suas andanças exercitando a virtude, volta à casa da amada, bate novamente na porta onde "ela" está trancada. Com alegria vê a porta abrir-se e recebe um apertado abraço da moça. Mateus 7: 7, "Pedi, e dar-se-vos-á, buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-a. Pois todo o que pede recebe, o que busca encontra, e a quem bate abrir-se-lhe-a". Nossa condição é de ambiguidade em relação a virtude. Bem e mal residem em nossa personalidade. O bem está em nossa parte superior chamada de individualidade. É a instância que conecta nossa alma espiritual a Divindade Eterna. O mal é manifestado em nossa parte inferior chamada de personalidade. É a esfera dos desejos mundanos e vontades egoístas. Aqui nestes dois aspectos temos a dualidade (luta mortal) do ego inferior com o ego superior. Se em nossa experiência cotidiana permitirmos a preponderância de nossa individualidade espiritual, praticaremos atos de justiça. Apocalipse 19: 8 "pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos". Esses "atos" representam as elevadas virtudes humanas. Os místicos das várias tradições religiosas (judaica, budista, indu e islâmica) cogitam a pessoa virtuosa como aquele que é capaz de separar as coisas materiais das espirituais. Romanos 8: 6 "Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz". Esse ensinamento dos místicos leva o iniciado na senda espiritual a alcançar um considerável nível de pureza e santidade. Ser puro é a qualidade de não estar misturado a elementos mundanos. É o exercício de um alto padrão de moralidade e meritoridade. Mateus 19: 18, 19 "Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe e, amarás o teu próximo como a ti mesmo". O jovem rico do texto inicial cumpria esses quesitos de pureza, mas é necessário ser também uma pessoa santa. A santidade é uma entrega do coração pelo exercício do altruísmo e abnegação a favor do próximo. Uma experiência não de troca (cambio) pelo merecimento, mas atitudes e comportamentos desprovidos de uma futura recompensa. Um bom exemplo dessa santidade é São Francisco de Assis (1182 - 1226) que com os seus três votos (pobreza, castidade e obediência) mostrou seu compromisso com os desamparados e desprotegidos da sociedade. Ele considerava a pobreza como sua esposa. A castidade como sua irmã e a obediência era sua senhora. Infelizmente ao final da sua vida São Francisco, "estigmatizado" pelas feridas do Mestre Jesus, confidencia à sua íntima amiga Santa Clara (1194 - 1253) sua tristeza por ver o movimento Franciscano desviando-se completamente de seus objetivos primordiais. Depois da grande expansão (Europa, Ásia e Africa) os franciscanos se organizaram, sistematizaram-se, fundaram escolas, universidades e, hierarquizando-se criaram bancos de investimentos. Seus teóricos formularam conceitos de propriedade pública e privada. Tudo isso no século XII e XIII. Essa não era a visão original de São Francisco quando os primeiros discípulos se agregaram. Santa Clara teria dito que ele deveria fazer um último voto: abrir mão do movimento e deixá-lo seguir seu próprio caminho. O Mestre ensinou ao jovem rico que, suas atitudes apesar de puras manifestavam um coração impuro, pois ele comparava as coisas espirituais com "negócios" terrenais onde lucros e dividendos deveriam ser creditados. Enxergava as "obras" que realizava como "cotas" para aumentar seu capital na empresa "celestial". Ele como nós devemos assumir uma postura de pureza e santidade. Um despojar de nosso egoismo e mesquinhez materialista para uma entrega, contribuindo com o que temos e o que somos para a grande família humana, através da fraternidade universal. Com amizade. Davi.

Um comentário:

  1. Virtudes... dia a dia buscamos comportamentos melhores...próximos de Deus! Dia a dia!

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