sexta-feira, 25 de abril de 2014

Filme Morte em Veneza.

O filme: Morte em Veneza do diretor Luchino Visconti estreado pela primeira vez no ano de 1971 é, um clássico do cinema. Foi baseado no romance do escritor Thomas Mann com o mesmo título e, publicado no ano de 1912. Espero que assistam depois do meu comentário e tirem as suas conclusões. Em uma burguesia extravagante e consumista, vivendo o florescer do capitalismo, se escondia em cada situação social a hipocrisia e a luxúria, o ócio e o faz de conta. Um mundo restrito a uma fatídica realidade desgostosa e entediante. A filmagem é pouco comum para os nossos dias, acostumados a superproduções hollywoodianas com alta tecnologia e hiper definição de tomada de imagens. Penso que o diretor acertou com sua proposta de nos causar um estranhamento até, vontade de sair da sala de projeção. Mas é uma belíssima produção com os impecáveis figurinos dos atores, a praia, as ruas submersas, as gôndolas, as pontes e as velhas casas da romântica Veneza do início do século XX. O pavor e o medo da terrível peste negra (bubônica) que matou (cerca de 25 milhões) europeus e asiáticos se aproximava rapidamente de Veneza. Num ambiente sombrio e extenuante como este o tema da homossexualidade é mostrado com discrição e sem passionalidade.Uma contradição naquela sociedade puritana e impostura da época. Tratado no filme de uma maneira cuidadosa e imparcial o "tema", fica aberto a finalizações dos que os assistem sem uma apologia a um determinado ponto de vista. Como elementos para discussão, vejamos algumas fontes relacionadas ao assunto. Platão (428 AC 328) em seus postulados pensou o primeiro homem como um andrógino. Uma criatura contendo três sexos (andros, gynos e androgynos) ao mesmo tempo. Andros era a parte masculina. Gynos a parte feminina. E androgyno (hermafrodita) tendo as  duas sexualidades. Os três conviviam conjuntamente com "almas" separadas. Num determinado momento os "deuses" resolveram dividi-los. Assim cada parte (macho e fêmea) uniu-se a sua distintamente. A questão foi que os hermafroditas uniram-se aos seus (homos) iguais, provocando a ira dos "deuses" que passaram a persegui-los, pois teriam a possibilidade da auto reprodução. A tradição oral judaica do midrashin e da cabala tem idênticos pontos de vistas. Quando em Gênesis 2: 7 é dito: "E formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e, soprou em suas narinas o fôlego da vida", segundo esta tradição este é o homem Kadmo, um andrôgino como falava Platão. A interpretação para o versículo 18 deste mesmo texto bíblico, "não é bom que o homem esteja só, far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea" é que, como Kadmo não tinha correspondente para o acasalamento o Eterno fez a separação de suas partes. O versículo 21 "O Senhor Deus fez cair um pesado sono sobre Adão e, este adormeceu, e tomou uma das costelas e, cerrou  a carne em seu lugar" é a prova da separação segundo este misticismo. Acrescento aqui outro elemento para a discussão do "tópico" principal. Em Ezequiel 16: 48, 49 "Vivo eu diz o Senhor Deus que, não fez Sodoma tua irmã, nem ela, nem suas filhas como fizestes tu e tuas filhas. Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma tua irmã: soberba, fartura de pão e, abundância de ociosidade teve ela e suas filhas, mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado. E se ensoberbeceram e, fizeram abominações". Interessante este trecho bíblico pois, o maior problema de Sodoma foi a sua injustiça e o desamparo aos pobres e necessitados. Há uma enfase exagerada na "sodomia" como o ponto principal da (Gênesis 19: 23-25) destruição da cidade. Esquecemos que o Eterno em seu infinito amor escolhe nossas misérias e mazelas como alvo de sua misericórdia. Somos prontos a acusar e condenar o "outro", mas nossa podridão escondemos debaixo do tapete. Somos covardes e enganando-nos, cobrimos nossas iniquidades com um tecido transparente. Em vão, "elas" acabam sendo expostas ao "outro".   O ator principal o escritor alemão Ausenbach é um misto de obsessão beirando a loucura. Tendo um conhecimento mais artístico e sentimental que uma racionalidade moral. Ausenbach talvez já portador do vírus da peste negra oscila entre a saúde e a debilidade. Sua obsessão mostra o perfil de alguém que, cegado por um desejo deixa-se "morrer" pelo inatingível. A lembrança de sua esposa e filha que ficaram em Munique, certamente salvaria a sua vida se retornasse, mas como foi fascinado pelo "belo", retroage para o destino que escolhera. Os músicos que cantam, tocam e riem entretendo os turistas estrangeiros e Venezianos os enganam  pois, a sombria calamidade se aproxima. É preferível mantê-los distraídos com as vulgaridades do cotidiano que alertá-los para que depressa abandonem a cidade. Tádzio como a representação e corporificação do "belo" platônico, simboliza o inconsciente inquietante de Ausenbach buscando uma suposta satisfação. Na sociedade conservadora e "puritana" do século XX, a concretização desse desejo arruinaria a sua carreira de escritor e a discriminação o expulsaria da elite burguesa. A mãe de Tádzio é um típico exemplo de passividade e ignorância sentimental. Na praia ela se diverte lendo livros e conversando com os parentes, enquanto se imobiliza vendo seu filho a mercê de olhares estranhos. A inatingível obsessão pervertida do escritor Ausenbach individualizada em sua morte, pode representar um discurso para no fundo não justificar o homossexualismo. Penso que esse "tema"  é sugerido pelo diretor que também é o protagonista do filme como (neurose) uma doença. Contudo este argumento no contexto da projeção (sem base teórica) mostra-se inconsistente. A puberdade de Tádzio é um momento de reflexão. Os pais devem tratar do assunto (homossexualidade) com os seus filhos usando da sinceridade e honestidade. Procurando não discriminar os homo afetivos e lançando luz trazendo para a discussão elementos morais, éticos, culturais e espirituais. Acho que nesta perspectiva se produzirá equilíbrio e coerência sem os demoníacos e perigosos extremos. A cena do prostíbulo expõe nossa natureza corrupta onde desejos e fantasias sexuais fora de uma "normalidade", são alta dose de veneno para o inconsciente. As controvérsias entre Ausenbach e seu amigo sobre o "belo" platônico, revela o perigo de se idealizar uma doutrina em bases sentimentais, desequilibrada e totalizante. Este fato produz um (individuocracia) auto governo de atitudes e vontades, não tendo espaço para contradições e desprovido de um mecanismo de retenção. Penso que a homo afetividade deve ser encarada num contexto histórico, sociológico, ético e espiritual de inclusão e inserção na convivência relacional. Este texto tem o propósito de lançar a semente do amor, tolerância e compreensão do "outro". Toda generalização embasada em verossímil verdade é restritiva e considero injusta. Carecendo da misericórdia e condescendência com o próximo.  Com amizade. Davi.            

Um comentário:

  1. Olá irmão Davi!
    Mto bom o texto!
    Lendo esse texto lembrei de uma entrevista do também padre Marcelo Rossi, foi veiculada no programa Fantástico. A entrevista despertou uma certa estranheza ao olhares mais atentos e curiosos (como o meu, por exemplo rs). Tempos depois li um artigo fazendo uma análise da tal entrevista.
    Segue o link: http://deyvisrocha.com/2013/12/os-sofrimentos-do-padre-marcelo/
    Grande Abraço!
    Marlua.

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