quinta-feira, 2 de março de 2017

CRESCIMNTO I



Espiritualidade. Texto de Sri Prem Baba (1951-  ). Capítulo II. CRESCIMENTO I. FALSA IDENTIDADE – Todo ser encarnado neste plano passa por esse processo de ruptura que acabei de descrever. Ele faz parte dos desafios que precisamos enfrentar durante a encarnação. A partir dessa cisão com a nossa verdadeira identidade, uma falsa identidade é criada. E para manter essa falsa identidade, desenvolvemos um verdadeiro arsenal bélico, constituído por diversos mecanismos de defesa e seus infinitos desdobramentos. GUARDIÕES DO FALSO EU – Os principais mecanismos que o ego utiliza para manter a falsa identidade são as matrizes do eu inferior. Tenho falado muito sobre isso, inclusive nos meus livros anteriores, mas vale a pena repassar: GULA – Representa todo tipo de voracidade ou compulsão; os vícios mais densos e concretos, os mais fáceis de serem identificados e estudados. Pode ser compulsão por comer, comprar, falar, transar, entre outras coisas. Na base dessa matriz, está a crença de que, ao consumir ou engolir determinado elemento, você sacia a carência e o vazio existencial. A compulsão nasce da carência. Ela surge do rompimento com a essência através da repressão. A pessoa gulosa tenta suprir o buraco gerado pela cisão com a comida ou com qualquer outro elemento que possa substituir a falta de amor. Essa carência gera uma voracidade que, quando não é preenchida, se transforma em ansiedade. PREGUIÇA – A paralisação diante daquilo que precisa ser feito por causa de sentimentos suprimidos e congelados no sistema. A preguiça pode se manifestar de forma passiva ou ativa. Quando ela se manifesta de forma passiva, a pessoa não consegue fazer o que tem para fazer ( e às vezes fica até sem conseguir sair da cama), o que gera um desequilíbrio na química do cérebro que se desdobra em depressão. E quando se manifesta de forma ativa, a pessoa faz muitas coisas (às vezes se tona workaholic – trabalhador compulsivo), menos aquilo que realmente precisa ser feito. AVAREZA – Necessidade de acúmulo. A pessoa se protege por trás daquilo que acumula. Ela acredita, ao acumular, que estará protegida. Alguns se escondem por trás do dinheiro, mas tem gente que se esconde através de coisas enferrujadas que acha na rua ou até acumulando lixo. Ela acumula e não consegue soldar nada, nem mesmo um prego velho. INVEJA – O desejo de destruir o outro por acreditar que ele é superior. A pessoa invejosa não acredita ser capaz de chegar aonde o outro chegou, então precisa rebaixá-lo. E para fazer isso, faz uso da maledicência, que é falar mal do outro. A maledicência pode se manifestar de forma bastante intensa ou pode agir de maneiras muito sutis e difíceis de serem identificadas. Por exemplo, estando em um meio no qual a pessoa que você inveja é bastante considerada e admirada, você resolve soltar um veneno, falando mal dela como se estivesse fazendo um elogio: “Ela é uma pessoa muito legal, pena que tem tal defeito”. Existe também outro aspecto da inveja que é de difícil compreensão: a auto inveja. Esse é um aspecto que está conectado ao orgulho e à luxúria. Quando a auto inveja está atuando, a pessoa começa a sabotar a si mesma. Nesse caso, a situação é mais complexa, porque trata-se de um aspecto extremamente difícil de identificar. IRA – Uma extrema reatividade diante das situações. A pessoa que manifesta essa matriz acredita, que se falar mais alto que o outro, estará protegida. Ela grita e intimida o outro para sentir-se mais forte. Transmite a ideia de que é muito corajosa, mas na verdade está morrendo de medo. ORGULHO – O orgulhoso usa a superioridade para sentir-se protegido. A partir do orgulho, as matrizes começam a ficar mais sofisticadas, pois atuam de maneira cada vez mais sutil, Apesar de todas as matrizes terem sua complexidade, as anteriores são relativamente mais fáceis de lidar (com exceção da auto inveja). O orgulho é complexo, porque pode se manifestar de muitas maneiras diferentes. Alguns exemplos são: vaidade, soberba, timidez, complexo de inferioridade ou superioridade, vitimismo e falsa humildade. LUXÚRIA – Necessidade de obter poder através da energia sexual. A luxúria não está sempre ligada ao sexo em si, mas ao uso da sedução, que pode ocorrer de diversas formas. Muitas vezes, a necessidade de agradar o outro é uma forma de dominá-lo. Ela está intimamente conectada com a ira, pois a luxúria, quando não recebe o que quer, se transforma em ira. MEDO – São muitas as crenças ligadas ao medo. O medo está na base da estrutura do eu inferior, dando sustentação à ilusão de que somos carentes, de que somos somente um corpo. O medo é a antítese do amor. MENTIRA – A mais sutil entre as matrizes, porque a mentira não é somente aquilo que você conta no dia a dia para “sair bem na foto”, mas também o que dá sustentação a todas as outras matrizes. Em última instância, a maior mentira é aquela que você conta para si mesmo: a mentira sobre a sua real identidade. MÁSCARAS – Se acredita ser carente, é inevitável que você espere receber alguma coisa do outro. Inevitavelmente, você cria expectativas. Isso é um grande problema, porque, por mais maravilhoso que seja, você não tem garantias de que receberá o que quer. Por mais que seja hábil para convencer o outro a dar aquilo que você acha que precisa receber, você não tem garantia de que ele vai corresponder à sua expectativa. Embora tudo que você procura fora de si mesmo esteja em seu interior, você não consegue enxergar essa realidade. O Ser que te habita é completo, ele não é carente de nada, mas a sua percepção encontra-se limitada por condicionamentos e crenças, então não consegue perceber essa realidade. E por causa disso, você se torna um mendigo que, para receber uma migalha de atenção, vende a alma. Finge ser algo que não é; usa máscaras para agradar e receber um pequeno olhar, um pequeno carinho. Dessa forma, desperdiça a vida tentando forçar o outro a amar você. Esse é um estado de aprisionamento, de dependência profunda, que gera raiva. E essa raiva se volta contra você mesmo. Você sente raiva porque, de certa forma, sabe que está vendendo a si próprio. Está se prostituindo. Certa vez, alguém estava julgando a prostituição, e eu refleti: quem neste mundo não paga por sexo? Pelo menos as prostitutas deixam o preço bem claro. Perdoe-me a franqueza, mas eu preciso ser honesto. O meu trabalho é eliminar a mentira e alimentar a verdade. Pense: quem que não paga para receber atenção? Quem não paga para receber carinho? Estando envolvido pela ideia da carência, você paga com a sua espontaneidade e com a sua liberdade. Deixa de ser quem realmente é e se especializa em ser qualquer coisa que roube a atenção do outro. Você se especializa em tirar energia do outro e desenvolve estratégias para mantê-lo na sua mão. Isso é escravidão! Às vezes, para chamar atenção, você usa a máscara da vítima: “Eu vou me matar se você não olhar para mim”. Às vezes, a máscara do autossuficiente: Eu não preciso de você. Eu sou forte e dou conta da vida sozinho”. E às vezes você, simplesmente, é indiferente: “Não estou nem ai, estou acima disso tudo”. Esses exemplos são os padrões clássicos, mas cada um deles tem infinitos desdobramentos. Eles são apenas uma amostra daquilo que você faz para conquistar, dominar e manipular o outro de acordo com a sua necessidade de ser amado. São estratégias para forçar o outro a amá-lo, porém isso é impossível, porque o amor verdadeiro só pode ser dado de graça. Mesmo quando somos bem sucedidos nesse jogo e conseguimos a atenção do outro, sabemos que não foi espontâneo. Então não confiamos e nos sentimos inseguros, frustrados e continuamos criando novas estratégias. Esse círculo vicioso tem como principal característica a necessidade de amor exclusivo. Não basta ser atendido nas suas expectativas, não basta se amado. Você tem que ser amado com exclusividade. Tudo tem que ser para você. A pessoa que está com você não pode olhar para o lado. Ela precisa olhar para você 24 horas por dia. Nesse caso, como confiar e relaxar? Não é possível estar no controle o tempo todo. Perceba como esse jogo é uma grande escravidão. Mas essa escravidão é criada pela mente para sustentar a falsa identidade. É o falso eu que acredita na carência. Ele acredita ser um mendigo e se torna um pedinte de atenção. E isso gera o que é, de fato, a maior miséria do ser humano: a carência afetiva. Essa é uma doença emocional que distorce a percepção da realidade. E nessa realidade limitada criada pelo ego, você depende da aprovação, do reconhecimento e da consideração do outro. O filósofo Jean Paul Sartre (1905-1980) disse: “O inferno são os outros”. Nesse caso, o outro se torna o motivo da sua ansiedade, da sua tristeza e do seu estresse. Mas quem é o outro? Quem é esse outro que você considera tão importante? Não será somente uma projeção do falso eu? FALSO SUCESSO – Como já vimos, o ego tem um papel importante na evolução da consciência humana: ele é quem realiza a jornada. Para existirmos neste plano e realizarmos nossa missão, precisamos de um ego. Ele é o nosso veículo e também um mediador entre o mundo interno e o mundo externo. Através dele, a alma pode experimentar a matéria e se expressar no mundo. E o ego, por sua vez, tem uma programação que é feita com base em uma séria de inputs (entradas) a respeito do que ele precisa fazer para ser importante, bem sucedido e próspero. O que determina o programa do ego é a necessidade de ter poder e sucesso para agradar e ser reconhecido. Mas, afinal, o que é ter sucesso? O verdadeiro sucesso diz respeito à realização do propósito da alma, mas a maioria das pessoas acredita que o propósito é a realização do ego. Como vimos, o ego tem um programa que é construído com base em crenças herdadas do mundo exterior. E, na maioria das vezes, esse programa não tem nenhuma conexão com o programa da alma. Então muitas vezes a pessoa está realizada externamente, mas ainda se sente vazia e frustrada. O que ocorre é que o ego se especializou em determinada coisa, aprendeu a se mover no mundo e com isso conquistou sucesso material. A pessoa se tornou especialista no fazer, mas não no ser. Entretanto, a completude somente é alcançada quando o ser o fazer se alinham. E esse alinhamento só ocorre quando o propósito interno (da alma) se manifesta também externamente. Outra forma de ver o ego é como um personagem. Revestido de um corpo, ele é o protagonista da história da nossa encarnação. Esse personagem é quem experimenta a vida humana, vive situações e absorve os aprendizados. Nós não somos esse personagem ou esse corpo, nós somos o espírito que está por trás dessa roupagem, porém, no desenrolar do enredo da vida, o ego vai se fortalecendo, e o personagem vai sendo incorporado de tal maneira que passamos a acreditar que somos o personagem. Essa nova identidade com a qual nos identificamos gera um constante sentimento de angústia e desencaixe, o que alguns interpretam como uma sensação de vazio. É como se algo sempre estivesse faltando. Isso gera a impressão de que algo ainda precisa ser feito ou conquistado. Estamos sempre insatisfeitos, querendo mais, pois nada pode preencher o vazio de não sermos quem somos. Mas durante um período não temos consciência disso e acabamos construindo toda a nossa vida com base nessa identidade forjada. E a partir dela conseguimos muitas coisas. Podemos construir verdadeiros impérios, conquistar muito sucesso, fama, dinheiro e poder, mas não podemos conquistar a verdadeira felicidade. Isso que estou dizendo não e novidade. Aliás, é senso comum dizer que “dinheiro não traz felicidade”, mas o fato é que no fundo acreditamos que a felicidade vem daí. Então, nós lutamos pelo dinheiro e, dessa maneira, até conquistamos uma certa alegria, mas uma alegria passageira, tão frágil quanto uma chama ao vento. Essa é uma felicidade sazonal, que vem e vai de acordo com a tendência da estação, de acordo com a moda. Você compra um carro novo, e isso te faz muito feliz até o momento em que um novo modelo é lançado, ou até o momento em que o seu colega de trabalho compra um carro melhor. Você se apaixona e, por alguns meses ou semanas, fica em êxtase. Até que o outro começa a chegar mais perto, e você começa a ver que ele não era tão perfeito como você imaginava. A sua felicidade dura apenas enquanto o outro corresponde às suas expectativas. Enquanto o outro está ali do seu lado, olhando só para você e te dando toda atenção, você se sente muito importante e confiante, mas basta o outro dar uma olhadinha para o lado para que você volte a se sentir um miserável. Se a sua felicidade depende do outro, se tudo que você conquista é para ser importante para o outro, isso não é felicidade, é dependência. A verdadeira felicidade só pode nascer daquilo que é real, do que permanece. E aquilo que é real nasce da plenitude interior. É quando podemos nos sentir completos por sermos o que somos. E isso só é possível quando podemos manifestar o propósito da nossa alma. Esse é o verdadeiro sucesso – é um sentimento de satisfação, de preenchimento, de estar no lugar certo. Quando isso acontece, nos harmonizamos com o fluxo da vida e, naturalmente, temos nossas necessidades atendidas. Tudo melhora, inclusive a vida material. A prosperidade, quando é fruto do encontro consigo mesmo, é um presente divino que está a serviço do propósito maior. Mas enquanto não tocamos esse núcleo interno, tudo aquilo que produzimos e construímos é para fugir de algo ou para nos protegermos de alguma coisa. FALSA RIQUEZA – Muitas vezes, buscamos freneticamente a riqueza material para encobrirmos a pobreza que nos habita. No entanto, se a riqueza não tem lastro na verdade (se não é um produto da manifestação da plenitude da alma, mas sim um produto do medo da escassez), inevitavelmente, ela irá desmoronar. Esse tipo de riqueza não tem alma, pois não tem lastro no coração. Ela pode trazer uma alegria passageira, mas não gera paz. Muito pelo contrário: pode se tornar um fardo. Muitos conquistam fortunas, mas não conseguem relaxar para usufruir delas, pois estão sempre com medo de perder alguma coisa. Trata-se de uma riqueza que tem base na avareza. Alguns se tornam escravos da ideia de que as pessoas gostam deles somente por causa do que eles têm – e as vezes isso é verdade. Porque essas pessoas se preocuparam somente em ter, e não em ser. Essa riqueza sem alma, sem lastro no coração, em algum momento, precisará cair. Porque tudo que é construído com base na mentira, inevitavelmente, precisará ser desconstruído. A essência da experiência humana é a expansão da consciência, por isso tudo que construímos precisa ter bases sólidas no mundo interno. Um castelo de areia não fica em pé quando a maré sobe. Para ficar em pé, ele precisa ter uma fundação sólida e resistente, o que significa que ela precisa ser verdadeira. Para isso, precisamos remover os mecanismos de defesa que estão a serviço da mentira – a mentira  de que você é carente de amor. E isso só é possível através do autoconhecimento. Não há nada de errado com a riqueza. O problema é a ausência de si mesmo. O que você conquistou lá fora não é um problema. O problema é não conquistar a si próprio. Autoconhecimento é sinônimo de lembrança de si mesmo. Quando lembramos da nossa identidade real, retornamos automaticamente ao caminho do coração, que é o programa da nossa alma. Esse é o encaixe, o alinhamento ao qual me refiro. Porque, ao nos desviarmos do caminho do coração, passamos a nos sentir desencaixados. Se não estamos seguindo o programa da nossa alma, não importa o tamanho do sucesso que conquistamos no mundo, continuamos carregando uma angústia. Muitas vezes não percebemos, pois estamos muito envolvidos na luta pelo sucesso ou pela sobrevivência, mas estamos sempre ansiosos, abatidos, tristes (...). Desencaixados. Às vezes você tem um lampejo de consciência e percebe que algo está errado. Percebe que talvez seja necessário encontrar outro caminho para a sua vida, mas a mente está tão carregada de informações vindas de fora, tão contaminada pelas crenças sobre o que é certo e o que é errado, que você fica confuso e perdido. Mesmo assim, segue em frente, insatisfeito, mas sem saber para onde ir. Sabe que tem alguma coisa errada, mas não consegue ainda identificar o que é, porque, aparentemente, não há nada fora do lugar. Você tem uma ótima casa, uma bela família, um carrão na garagem, um emprego estável (...). Não há motivo para insatisfação! Cada vez  que a angústia bate à sua porta, você finge que não a vê e tenta fugir. E foge através das mais diversas distrações: internet, televisão, celular, compras (...). Necessidades simbólicas são criadas para amortecer a dor que está por trás dessa ansiedade. Essas necessidades se transformam em vícios que funcionam como amortecedores da consciência, por meio dos quais você guarda nos porões do inconsciente aqueles conteúdos que foram negados. Livro. PROPÓSITO – A CORAGEM DE SER QUEM SOMOS. Abraço. Davi. 

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