Judaísmo. Texto de julho de 2016. ANTISSEMITISMO NO PÓS GUERRA:
O POGROM DE KIELCE - Polônia. No dia 4 de julho de 1946, a cidade polonesa de Kielce foi
palco de um violento pogrom (todo movimento popular de violência dirigido
contra uma comunidade ética ou religiosa. Carnificina ou massacre genocida,
especialmente de judeus). A sede da comunidade judaica foi atacada por uma
multidão de civis, policiais e militares, que massacraram, em plena luz do dia,
42 judeus - homens, mulheres e crianças - e feriram mais de 100. Depois disso
estava claro que não havia futuro para os judeus na Polônia. Passados 70 anos,
o Pogrom de Kielce, a mais sangrenta das manifestações antissemitas ocorridas
em solo polonês, no pós-guerra, ainda é um capítulo obscuro na longa e sofrida
história dos judeus na Polônia. Nos últimos anos, historiadores e pesquisadores
têm resgatado inúmeros documentos e testemunhos, mas apesar disso ainda há
muitas perguntas sem resposta. Não é apenas o Pogrom de Kielce que tem sido
alvo de pesquisa por parte de historiadores, mas toda a atuação da Polônia
durante a Segunda Guerra, sua participação no Holocausto e o antissemitismo do
pós-guerra. A posição do atual governo é isentar o país de qualquer culpa
no que diz respeito à Shoá (significa calamidade em hebraico, ao referir-se ao
holocausto em 1940, especialmente na Europa e em Israel), afirmando que a
Polônia foi vítima inocente dos alemães e não cúmplice e, tampouco, um
espectador complacente da política antissemita nazista que levou ao assassinato
de milhões de judeus. Porém, não há como refutar que foi a Polônia, sob domínio
alemão, que os nazistas escolheram para estabelecer seus campos de extermínio:
Chelmno, Belzec, Sobibor, Treblinka, Auschwitz-Birkenau, Majdanek. Foi para a
Polônia que foram enviados os trens carregados de judeus de toda a Europa. Foi
em solo polonês que mais de 3 milhões de judeus foram assassinados e
incinerados em câmaras de gás e que centenas de milhares morreram por
brutalidade, fome e inanição. Tampouco há como refutar que, após o final da
guerra na Europa, e, transcorrido um ano sem nenhum soldado alemão em solo
polonês, centenas de judeus, ainda assim, foram assassinados na Polônia e
milhares mais enfrentaram o perigo quando voltaram a suas cidades e seus
vilarejos. A violência contra os judeus atingiu o clímax em 4 de
julho de 1946, em Kielce. A Polônia após a Segunda Guerra
Mundial. A situação política da Polônia ao término da Guerra era
tumultuada. O poder era disputado entre comunistas poloneses apoiados pelo
Exército Vermelho da então União Soviética, que queriam que o país fizesse
parte do bloco soviético, nacionalistas da direita que agregavam membros do
Exército Interno, e os ultranacionalistas das chamadas Forças Armadas Nacionais
que queriam a Polônia na esfera de influência ocidental. O futuro da população
judaica na Polônia do pós-guerra continuava sombrio, pois, apesar das profundas
divergências ideológicas, as duas facções tinham algo em comum: suas fortes
tendências antissemitas. Apesar de se terem tornado públicas as terríveis
revelações sobre os campos de extermínio e o número de judeus assassinados
durante a Shoá,não
desaparecera o antissemitismo que antes da Guerra permeava todos os estratos da
sociedade polonesa. Pelo contrário, estava sendo alimentado por novas
acusações. Eram distribuídos folhetos “incentivando” os judeus a deixarem o
país. Eles eram acusados de serem comunistas e responsáveis pelo novo regime
apoiado por Moscou, que queria controlar o país. E o clero católico reeditara a
calúnia medieval de que os judeus usavam sangue de cristãos para produzir matzá (pão sem fermento feito de
farinha branca e água). Havia, também, um forte aspecto
econômico, que tem sido chamado de “herança da guerra”. A volta de judeus
sobreviventes, donos de propriedades e negócios que haviam sido tomados por
poloneses durante a Shoá,
provocara entre a população um forte ressentimento. Os moradores de Kielce,
assim como no resto da Polônia, não estavam dispostos a devolver suas posses.
Muitos dos ataques a judeus, registrados em toda a Polônia, nos meses após o
término da Guerra, envolviam “disputas” sobre propriedades, e apenas na região
de Kielce, dos 13 judeus assassinados em junho de 1945, dois foram mortos por
causa de “divergências” sobre direitos de propriedades. Os alertas sobre
os perigos de ser judeu na Polônia do pós-guerra vinham de todos os lados.
Entre outros, em 1 de fevereiro de 1946, o Manchester Guardian publicou uma
reportagem sobre a situação. As manchetes diziam: “Judeus ainda em fuga da
Polônia”, “Gangues políticas surgem para aterrorizá-los”, “Campanha de
assassinato e roubo”. O jornal assinalava que, desde o início de 1945, 353
judeus haviam sido mortos por assassinos poloneses, entre eles, membros do
Armia Krajowa, o Exército Clandestino Polaco, que lutara contra os nazistas. Em
abril de 1946, a Agência Judaica de Notícias alertara que “têm circulado pela
Polônia falsas histórias sobre assassinatos rituais cometidos por judeus contra
crianças polonesas, com o intuito de provocar distúrbios e
pogroms”. Nenhuma cidade polonesa esteve livre de incidentes antissemitas.
Nenhum judeu – mulheres, homens, velhos, crianças e até doentes – estava a
salvo. Por dinheiro ou por ódio, o assassinato de judeus seguia em frente. Em
Cracóvia e Rezo eles haviam sido acusados de ter cometido assassinato ritual e,
em Radom, um hospital de órfãos judeus fora atacado. No dia 19 de março, um dos
dois únicos sobreviventes de Belzec, que prestara testemunho em Lublin sobre o
que presenciara, foi morto a caminho de casa porque era judeu. E assim por
diante (...). Os judeus de Kielce e o pogrom. O destino da
população judaica polonesa foi traçado quando, na madrugada de 1° de setembro
de 1939, a Alemanha ocupou a parte ocidental do país. No dia 4 de
setembro as tropas de Hitler (Fuhrer) chegaram à Kielce. Na época, a cidade
contava com 24 mil judeus, aproximadamente um terço da população local. Os
nazistas implantaram leis antissemitas, sendo que saques, expropriações,
trabalho forçado e assassinatos passaram a ser a ordem-do-dia. Em 31 de
março de 1940 foi criado um gueto que passou a receber judeus de povoados
vizinhos e de outras localidades da Europa. Mais de 1.200 foram mortos durante
as várias Aktions nazistas
realizadas no gueto. A liquidação do Gueto de Kielce aconteceu entre 20 e
24 de agosto de 1942, quando 21 mil judeus foram deportados para Treblinka,
onde foram assassinados. Dos milhares que passaram pelo Gueto de Kielce, apenas
150 conseguiram sobreviver, saindo de seus esconderijos ao término da Guerra e
retornando à cidade, a maioria esperando por uma chance de emigrar para a então
Palestina. A violência que tornou Kielce o símbolo da infâmia e do ódio
polonês contra os judeus eclodiu no dia 4 de julho de 1946. O estopim foi uma
mentira contada por um menino de nove anos, Henryk Blaszczyk, que não queria
ser punido pelos pais por ter desaparecido durante três dias. No dia 1o de
julho, Henryk saiu de casa indo visitar amigos no vilarejo de Bielaki, a 25
quilômetros de Kielce, onde, durante a Guerra, sua família vivera por um tempo.
No dia seguinte, o pai, Walenty Blaszczyk, comunicou o desaparecimento do
garoto à polícia. Dois dias depois, em 3 de julho, Henryk retornou a Kielce.
Quando os pais lhe perguntarem onde estivera, contou uma história sobre um
suposto homem que lhe teria pedido que entregasse um pacote em uma casa. O
garoto disse que ao chegar à tal casa, fora preso e colocado em um porão, de
onde conseguiu escapar dois dias depois, com a ajuda de um outro menino que
também estava preso no local. Os pais de Henryk e os vizinhos acreditaram
na história. Na primeira versão o garoto não incriminou os judeus, mas, quando
um dos vizinhos lhe perguntara se o desconhecido era cigano ou judeu, ele
respondeu que era judeu. Esta “informação” foi logo relatada à polícia. Na
manhã seguinte, indo à delegacia prestar depoimento, Henryk e o pai passaram
pela então chamada “Casa Judaica”, onde viviam dezenas de judeus. Era a sede do
Comitê Judaico da Cidade, localizada na Rua Planty, no centro da cidade. A
polícia também acreditou na história de Henryk e lhe perguntou se ficara preso
na Casa Judaica; o garoto respondeu que sim. Rapidamente três patrulhas foram
enviadas à Rua Planty, acompanhadas pelo menino, que apontou um judeu como
sendo quem o prendera no porão. Preso o suposto culpado, os policiais iniciaram
uma busca para localizar onde Henryk havia sido encarcerado, pois constataram
que o prédio não possuía porão. O vai-e-vem de policiais chamou a atenção
dos transeuntes, que começaram a fazer circular falsas histórias sobre judeus
que teriam mantido um garoto polonês preso e sobre assassinatos rituais de
crianças cristãs na Casa Judaica. Historiadores não têm dúvidas de que as ações
e o antissemitismo da maioria dos policiais alimentaram a violência que se
seguiu. O número cada vez maior de pessoas que se aglomeravam em frente à
Casa Judaica despertou o temor dos judeus que ali viviam. O presidente do
Comitê Judaico, Severyn Kahane, dirigiu-se à delegacia para pedir
explicações. Por volta das 9h, os principais representantes do governo, em
Kielce, assim como representantes das forças militares em Varsóvia, entre os
quais, o ministro da Polícia Secreta e o comandante-chefe da Polícia, já tinham
sido informados sobre os acontecimentos. Por volta das 10h, chegaram à Rua
Planty 100 soldados e 5 oficiais do exército, somando-se à polícia e membros da
polícia política. Os soldados que obtiveram as “informações” junto às pessoas
reunidas em frente à Casa Judaica acreditaram que os judeus haviam sequestrado
crianças e as mantinham presas no edifício. A entrada das forças de
segurança na instituição judaica deu início ao pogrom. Arquivos resgatados
contendo testemunhos dos sobreviventes e entrevistas realizadas por
pesquisadores entre a população revelam que os policiais ordenaram aos judeus
entregar suas armas. Depois que foram recolhidas, a multidão entrou na Casa.
De acordo com os testemunhos, policiais e militares foram os primeiros a
atirar, matando uma pessoa e ferindo muitas outras. Um dos sobreviventes
relatou: “Os soldados subiram ao 2º andar. Poucos minutos depois, eles estavam
matando judeus (...). Após o tiroteio no 2º andar, tiros foram ouvidos na rua e
dentro do edifício”. Em seguida outros judeus foram levados por policiais e
militares para fora do prédio, sendo baleados, apedrejados até morrer ou mortos
a machadadas e outras ferramentas. Até o meio-dia, a violência se
espalhara por toda a cidade. Todas as tentativas de interrompê-la foram
em vão. Os judeus feridos eram espancados e roubados por soldados. Testemunhos
dados por judeus e poloneses confirmaram as crueldades. Um polonês não judeu
chegou a afirmar que, “como ex prisioneiro dos campos de concentração,
presenciara poucas manifestações de brutalidade em tamanha escala”. Ao
meio-dia, a chegada de trabalhadores de uma fábrica de aço reacendeu a
violência e mais 20 judeus morreram. Quase todos os judeus que estavam dentro
do prédio, entre os quais, o presidente do Comitê, acabaram perdendo a
vida. O pogrom que começara por volta das 10h estendeu-se até o meio da
tarde, quando chegaram novas unidades de soldados do Ministério do Interior e
outras vindas de Varsóvia. Durante todo o pogrom, estavam presentes no local o
comandante da Polícia Secreta de Kielce, seu assessor soviético, bem como
outros oficiais e comandantes do exército. Ninguém tentou impedir as
agressões. Mas o término do pogrom não significou o fim da
violência. À tarde, uma grande manifestação contra os judeus tomou conta
da cidade. Em outras partes de Kielce, judeus foram mortos em suas casas
ou arrastados às ruas e mortos. Nem uma mãe com um bebê foram poupados.
Uma multidão foi até o hospital exigindo a entrega dos judeus feridos. Atos
antissemitas também foram registrados nos trens que passavam pela cidade
durante o dia. Rapidamente as notícias sobre o massacre espalharam-se por
toda a Polônia e pelo mundo. Jornalistas e observadores independentes
dirigiram-se ao local e se defrontaram com as ruas ainda manchadas de sangue
judeu. Os cassetetes usados para espancar os moradores da Casa Judaica
ainda estavam espalhados pela rua. O saldo da violência foi dramático: 40
judeus foram assassinados durante o pogrom e outros dois morreram posteriormente.
Entre as vítimas estavam duas crianças, o presidente da Casa Judaica, jovens
sionistas que se preparavam para fazer aliá
(termo que significa ascensão. Designa a migração judaica para a Terra de
Israel), soldados judeus e sobreviventes dos campos nazistas.
A polonesa cristã, Estera Proszowska, foi assassinada porque ajudou judeus
feridos. Abalados pelos acontecimentos, os judeus da cidade publicaram o
nome das vítimas no único jornal remanescente, com uma tarja preta em volta. No
dia seguinte, os mortos foram enterrados no Cemitério Judaico da cidade. O
Pogrom em Kielce foi crucial na decisão tomada por 100 mil judeus poloneses de
deixar o país. Apesar da ampla presença de policiais e militares, centenas de
judeus tinham sido assassinados e outros tantos feridos a sangue frio, em
público, durante mais de 5 horas. Antes do pogrom, mil judeus em média, por
mês, cruzavam a fronteira polonesa ilegalmente; em julho, o número subiu para
cerca de 20 mil e, em agosto, chegou a 30 mil. As consequências. Os
responsáveis pelo Pogrom de Kielce foram supostamente levados a julgamento. No
primeiro julgamento nove pessoas foram condenadas à morte. Em setembro e
outubro, outros julgamentos foram realizados, sendo os acusados civis, soldados
e policiais. Entre os réus estavam o comandante do Escritório do Serviço de
Segurança e o chefe de Polícia Política de Kielce, ambos absolvidos. Não é
possível saber quantos julgamentos foram realizados, pois os arquivos mais
importantes foram destruídos em 1989. Mas a verdade é que não houve justiça
para as vítimas, pois os julgamentos foram realizados no estilo stalinista, sem
transparência e muitas vezes com intuitos puramente políticos. Entre outros, a
maioria dos supostos acusados havia sido presa de forma aleatória, sendo que
alguns dos detidos sequer estavam no local do pogrom. São poucos os
estudos que tentam explicar as causas e identificar os responsáveis pelo Pogrom
de Kielce. A pergunta é: até que ponto a tragédia de Kielce foi usada e os
eventos manipulados com fins políticos? Há historiadores que acreditam que
o ataque foi consequência de uma trágica e espontânea série de eventos
embasados no ódio polonês pelos judeus. Porém, outros sustentam a tese de que o
ataque aos judeus foi um ato de provocação política, preparado pelos serviços
de segurança poloneses e soviéticos. As ações do diretor do Escritório da
Província para Segurança Pública, major Sobczynski, sem sombra de dúvida,
incentivaram o pogrom. Sobczynski estivera na cidade de Rzeszow durante uma
tentativa de pogrom, em junho de 1945, observando os acontecimentos e nada
fizera, apesar de saber como civis e soldados agiam durante tais
ataques. Independentemente de ter sido espontâneo ou orquestrado, o pogrom
foi utilizado pelos soviéticos para fins políticos. Ele aconteceu justamente
quando foram divulgados os resultados do referendo nacional, realizado pelos
comunistas, em junho de 1946 (não há dúvida de que os comunistas fraudaram os
seus resultados). As autoridades comunistas estavam cientes de que a sociedade
polonesa era dominada por fortes sentimentos antissemitas e que bastava uma
faísca para acirrar seu ânimo contra os judeus e, assim, fazê-los esquecer de
outros assuntos. E, de fato, a violência do pogrom conseguiu desviar a opinião
pública na Polônia e, mesmo, no Ocidente sobre o referendo. Em 1992, na
tentativa de apontar os responsáveis pelo Pogrom, uma nova investigação foi
coordenada pela Comissão Principal para Investigação de Crimes contra a Nação
Polonesa. Esta comissão foi encarregada de coletar todos os relatórios e
documentos existentes. Muitos haviam sido perdidos e a única conclusão da
Comissão foi reafirmar que as autoridades locais não adotaram as medidas
necessárias para evitar a violência. Enfrentando o passado. Como
vimos acima, a Polônia tem procurado fazer uma nova leitura da atuação do país
durante a Segunda Guerra Mundial, bem como de sua participação no
Holocausto. O debate fortemente emocional em relação ao papel do país de
1939 a 1946, dizem estudiosos, está relacionado ao que chamam de “obsessão polonesa
pela inocência” – uma convicção de que a nação é moralmente isenta graças à sua
resistência e ao amplo sofrimento com seus milhões de mortos na Guerra. Dariusz
Stola, diretor do POLIN – Museu de História dos Judeus Poloneses, em Varsóvia,
disse acreditar que muitos poloneses se agarram a tal convicção de inocência
por ser tudo o que possuem. Entre outros atos por parte da estratégia
governamental de fomentar essa “obsessão pela inocência”, foi inaugurado
recentemente um museu dedicado à família Ulma, massacrada pelos nazistas por
esconder judeus. Para o rabino-chefe polonês, Rav Michael Schudrich
(1955- ), o discurso do presidente da
Polônia, na ocasião, foi corajoso e uma das mais fortes condenações do
antissemitismo, senão a mais forte, já feita por um líder polonês. Outros, no
entanto, consideraram o discurso nada mais do que um ato de relações públicas.
O historiador Jan Grabowski (1962-
) relembrou que o presidente já dissera em outras ocasiões que os
poloneses não precisam se desculpar pelo que houve em Jedwabne, afirmando que
centenas de poloneses ajudaram os judeus durante a Guerra. Detalhes sobre o
Pogrom de Jedwabne estão na obra de Jan Tomasz Gross (1947- ), Vizinhos:
aniquilação da comunidade judaica de Jedwabne. Conhecido como
“O Pogrom Esquecido”, aconteceu no dia 10 de julho de 1941, no vilarejo do
mesmo nome. Poucas semanas após a invasão no norte do país pelas tropas alemãs,
os judeus foram massacrados por seus vizinhos poloneses e não pelos nazistas,
como se acreditava até alguns anos atrás. No final desse dia sangrento, o saldo
era de 1.600 mortes – quase toda a população do povoado, com exceção de sete
pessoas que conseguiram escapar. Durante o pogrom, os poloneses torturaram e
mataram seus vizinhos judeus. Alguns foram afogados no rio, outros foram mortos
a golpes de bastão ou punhal; os bebês arrancados dos braços de suas mães foram
pisoteados até a morte. Tanta violência, no entanto, não foi suficiente para
saciar a fúria assassina dos moradores do vilarejo, que, no final do dia,
trancaram os sobreviventes em uma granja, a poucos quilômetros do cemitério
judaico, incendiando o local. Enquanto parte dos habitantes vigiavam o portão
para que ninguém escapasse, os músicos do vilarejo tocavam marchas alegres para
abafar os gritos das vítimas dentro da granja. Apesar dos esforços do
governo de declarar a Polônia moralmente isenta, dificilmente esse país poderá
negar o seu passado. Entre as providências tomadas pelo governo, está uma lei
que autoriza a prisão de qualquer pessoa que se refira a Auschwitz ou a outro
campo de morte alemão, na Polônia ocupada, como “polonês”. Esta lei é uma
reação ao fato de todo o mundo fazer referência aos “campos de morte
poloneses”, termo usado uma vez até pelo presidente norte-americano, Barack
Obama. Os poloneses consideram este termo extremamente ofensivo e ressaltam que
entre as vítimas dos campos havia muitos poloneses não judeus e que os
poloneses, ao contrário dos ucranianos e lituanos, não tinham nenhuma
participação em sua administração. A situação na Polônia é muito semelhante
ao que tem acontecido recentemente na Hungria, onde o revisionismo histórico
tem caminhado lado-a-lado com a política do primeiro-ministro Viktor Orban, que
tem como objetivo reabilitar a atuação do país durante a Segunda Guerra e
mostrar a nação como uma vítima da agressão alemã, quando, de fato, foi um
aliado de Adolf Hitler durante a maior parte do conflito. A iniciativa do
governo polonês é vista por muitos estudiosos e intelectuais do país como uma
abordagem revisionista dos eventos ocorridos no país de 1939 a 1946. Foi, sem
dúvida, um período doloroso para seu povo, marcado por muito sofrimento, luta e
heroísmo. Houve inúmeros casos de poloneses que ajudaram judeus, mas esses
fatos não apagam a violência e traição por parte da população cristã durante e
após a ocupação alemã. Jan Grabowski, autor do livro “Caçada aos judeus:
Traição e Assassinato na Polônia Alemã Ocupada”, afirma acreditar de que um
grande número de poloneses ajudou os judeus durante a Shoá é um
retrocesso da verdade histórica, é mais um passo “agressivo e abusivo em
direção à destruição da memória do Holocausto”. Para Pawel Spiewak (1951- ), diretor do Instituto Histórico Judaico em
Varsóvia, o objetivo do governo é “limitar nossa visão do passado. Eles querem
usar a máquina do Estado para impingir sua nova visão da história política, e
isto é muito perigoso”. Sem dúvida, isso é algo que não podemos deixar
acontecer, pois a memória da verdade sobre a Shoá, dos milhões de judeus que foram
assassinados, brutalmente torturados, que tiveram suas vidas destruídas,
precisa ser preservada para as futuras gerações de nosso povo e de toda a
Humanidade. Para que não se repita (...). Nunca mais!
www.morasha.com.br.Abraço.www.morasha.com.br.Abraço.
Davi.
shalom , que historia terrivel , que Deus tenha misericordia da polonia , e de paz a nação de israel
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