domingo, 26 de março de 2017

VI. RELATO DE UM PEREGRINO RUSSO. III. ATRAVÉS DA SIBÉRIA.



Cristianismo Oriental. RELATO DE UM PEREGRINO RUSSO. III. ATRAVÉS DA SIBÉRIA. ATAQUE DO LOBO. Ó Senhor, quão são as vossas obras: tudo fizestes com sabedoria! (Sl 104,24). Ao longo do meu caminho, encontrei casos espantosos. Se eu fosse contar todos esses casos, não acabaria tão cedo. Por exemplo: uma noite de inverno, atravessei sozinho uma floresta: queria dormir a dois quilômetros de lá, numa ladeia que tinha avistado. De repente, um enorme lobo pulou em cima de mim. Eu estava segurando na mão o rosário de lã (1) do monge, meu mestre (eu o trazia sempre comigo). Afastei o lobo com ele. É de se acreditar? O rosário escapou de minha mão e se enroscou no pescoço do animal. O lobo se jogou para trás e pulou os espinheiros. Suas patas traseiras se prenderam nos espinhos enquanto o rosário se enganchou em um ramo de árvore morta. O lobo se debatia com todas suas forças, mas não conseguia soltar-se, porque o rosário lhe apertava a garganta. Eu me persignei com fé e me aproximei para desvencilhar o lobo. Foi principalmente porque temia que ele arrebentasse o meu rosário e fugisse levando esse objeto tão precioso para mim. Assim que cheguei perto e peguei no rosário, o lobo arrebentou-o de fato e fugiu sem mais delongas. Assim, agradecendo ao Senhor e honrando a memória do bem-aventurado monge, cheguei sem mais contratempos à aldeia. Fui a hospedaria e pedi para dormir. Entrei na casa. No canto, à mesa, achavam-se sentados dois viajantes: um já idoso, o outro de meia idade e corpulento. Tomavam chá. Perguntei ao camponês que guardava os cavalos quem eram eles. Explicou-me que o velho era um professor e o outro, escrivão do juiz de paz, ambos de origem nobre: Eu os estou levando à feira, a vinte quilômetros daqui. Depois de descansar um pouco, pedi a hospedeira uma agulha e uma linha. Aproximei-me da vela e comecei a consertar o meu rosário. O escrivaão deu uma olhadela em minha direção e disse: Tu andaste fazendo muitas reverências para rasgares teu rosário desse jeito! Não fui eu que o estraguei, mas um lobo (...). Ora veja só! Os lobos também dizem suas orações, respondeu o escrivão, dando risadas. Contei-lhe o acontecido detalhadamente e expliquei o quanto esse rosário era precioso para mim. O escrivão recomeçou a rir e disse: Para os crédulos, sempre acontecem milagres! O que há de misterioso nesse episódio? Tu jogastes alguma coisa em cima dele; o lobo se assustou e fugiu. Os cães e os lobos têm medo dessas coisas, e se enroscar nos galhos da floresta, isso não é difícil. Não é preciso acreditar que tudo o que acontece neste mundo é por milagre. Daí o professor começou a discutir com ele: Não fale assim, meu senhor! Não entende do assunto (...). Quanto a mim, vejo na história desse camponês um duplo mistério, sensível e espiritual. Como assim? Perguntou o escrivão. Veja: sem possuir uma instrução muito adiantada, o senhor assim mesmo estudou a história sagrada através de perguntas e respostas, em livro editado para as escolas. Deve lembrar-se de que, quando o primeiro homem, Adão, estava em estado de inocência, todos os animais lhe eram submissos. Aproximavam-se dele receosos e ele lhes dava os nomes. O monge ao qual pertencia esse rosário, era um santo. E o que é a santidade? Nada mais que a ressurreição, no homem pecador, do estado de inocência do primeiro homem, graças aos esforços e virtudes. A alma santifica o corpo. O rosário estava sempre nas mãos de um santo; logo, pelo contato constante com seu corpo, esse objeto foi tocado por uma força santa, a força do estado de inocência do primeiro homem. Eis o mistério da natureza espiritual! Essa força, naturalmente, todos os animais a sentem, principalmente pelo olfato, pois as narinas são o órgão principal dos sentidos para o animal. Eis o mistério da natureza sensível (...). Para os senhores, os sábios, só existem forças e histórias desse gênero: mas nós vemos as coisas de uma maneira mais simples: encher um copo e dar um trago, eis o que dá forças, disse o escrivão. E se dirigiu para o armário. O problema é seu, respondeu o professor, mas neste caso, deixe-nos com nossos conhecimentos mais sábios. As palavras do professor me agradaram; aproximei-me dele e lhe disse: Permita que lhe conte ainda certas coisas a respeito do meu mestre. Então lhe expliquei como ele me tinha aparecido em sonhos e, depois de me ter ensinado, tinha deixado uma marca na minha  Filocalia. O professor escutou o relato com atenção. Mas o escrivão, recostado em um banco, resmungava: É verdade que a gente acaba louca de tanto ficar fuçando na Bíblia. Basta olhar para esse ai! Que lobisomem iria sujar teus livros à noite? Tu deixastes cair teu livro no chão, enquanto dormias, e ele rolou pelas cinzas (...) É esse o teu milagre! Ora, esses vagabundos: eu os conheço, meu velho, esses da tua confraria! Depois de ter resmungado desse jeito, o escrivão virou-se para a parede e adormeceu. Ao ouvir tais palavras, inclinei-me para o professor e disse: Se quiser, eu lhe mostrarei o livro que tem a marca e não manchas de cinza. Tirei a Filocalia da minha sacola e mostrai-a a ele, dizendo: Muito me espanta que uma alma incorpórea possa pegar um carvão e escrever (...). O professor olhou bem o sinal de carvão no livro e disse: Este é o mistério dos espíritos. Vou te explicar. Quando os espíritos aparecem a um homem, sob uma forma corporal, seu corpo visível é feito de luz e de ar, com os elementos dos quais tinha sido tirado seu corpo mortal. E como o ar tem elasticidade, a alma dele revestida pode agir, escrever ou pegar objetos. Mas, que livro tens aí? Deixa-me ver. Ele o abriu exatamente na página do discurso e do tratado de Simeão, o Novo Teólogo. Ah! Sem dúvida, trata-se de um livro de teologia, eu não conheço (...). Esse livro, meu senhor, contém quase somente os ensinamentos sobre a oração interior do coração em nome de Jesus Cristo: tudo está explicado aqui, em detalhes, por vinte e cinco dos Padres da Igreja. Ah! A oração interior! Eu sei o que é, disse o professor (...). Inclinei-me junto dele e lhe pedi para me dizer alguma coisa sobre a oração interior. Pois bem. No Novo Testamento se diz que o homem e toda a criação em expectativa anseia pela revelação dos filhos de Deus. Foi submetido a vaidade, não por seu querer – na esperança de ela também ser liberta da escravidão da corrupção para entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus (Rm 8,19-20). Esse movimento misterioso da criação, esse desejo inato das almas, isto é a oração interior. Ela não pode ser aprendida, pois está em todos e em tudo! Mas, como adquirir essa oração interior, descobri-la e experimentá-la dentro do coração? Como tomar consciência da oração e acolhê-la voluntariamente, conseguir que a oração possa agir ativamente, alegrando, iluminando e salvando a alma? Perguntei eu. Não sei se os tratados de teologia falam da oração interior, respondeu o professor. Mas, aqui, aqui tudo está escrito! Exclamei. O professor pegou um lápis, anotou o título da Filocalia e disse: Eu vou encomendar esse livro em Tobolsk e vou examinar tudo isso. E assim nos separamos. Fui embora e agradeci a Deus toda essa conversa com o professor e pedi a Deus que permitisse um dia ao escrivão ler a Filocalia e compreender seus ensinamentos para o bem de sua alma. A MOÇA DA ALDEIA. Uma outra vez, na primavera, cheguei a um povoado e parei na casa do vigário. Era um homem excelente que morava sozinho. Fiquei aí três dias com ele. Depois de me ter observado durante esse tempo, ele me disse: Fica comigo, eu te darei um salário. Estou precisando de um homem com quem possa contar. Reparaste que estão construindo uma nova igreja, de pedras, perto da antiga, que é de madeira. Não estou achando uma pessoa conscienciosa para vigiar os operários e permanecer na capela a fim de receber os donativos para a construção. Vejo que és um homem capaz e que essa vida te seria conveniente. Ficaria sozinho na capela, rezando a Deus. Existe lá um cômodo isolado onde se pode ficar. Fica, eu te peço, pelo menos até que a igreja fique pronta. Recusei bastante tempo, mas acabei por ceder ao pedido insistente do vigário. Fiquei então desde o verão até o outono e me instalei na capela. No começo, tive muito sossego e pude me exercitar na oração. Mas, principalmente nos dias de festa, aparecia muita gente: uns para rezar, outros para cochilar, outros ainda para passar a mão nas moedas que ficavam na bandeja. E como, às vezes, eu ficava lendo a Bíblia ou a Filocalia, alguns dos visitantes puxavam prosa comigo e outros me pediam para ler um pouco para eles. Depois de algum tempo, eu notei que uma moça do lugar vinha frequentemente à capela e ficava aí bastante tempo a rezar. Prestei atenção ao que ela murmurava e descobri que eram orações estranhas, algumas completamente estropiadas. Eu lhe perguntei: Quem te ensinou a rezar assim? Ela me disse que tinha sido sua mãe que era ortodoxa, ao passo que seu pai era cismático (2), da seita dos sem sacerdotes. Achei triste essa situação e lhe aconselhei que recitasse corretamente as orações, conforme a tradição da santa Igreja. Ensinei-lhe o Pai Nosso e a Ave Maria. Depois lhe disse: Reza principalmente a oração de Jesus. Ela nos aproxima de Deus mais que todas as orações e com ela conseguirás a salvação de tua alma. A moça me ouviu com atenção e fez simplesmente com eu tinha aconselhado E (...) acreditais? Algum tempo depois ela me anunciou que já se tinha habituado à oração de Jesus e que sentia vontade de repetir essa oração sem parar, se possível: quando rezava, sentia uma sensação agradável e, finalmente, alegria, assim como o desejo de rezar mais. Rejubilei-me com isso e lhe aconselhei que continuasse rezando cada vez mais, invocando o Nome de Jesus Cristo. Já estava acabando o verão. Muitos visitantes da capela vinham procurar-me, não somente para pedir um conselho ou um pouco de leitura, mas também para contar seus problemas caseiros e até para saber o que fazer para achar objetos perdidos. Era evidente que alguns pensavam que eu era um feiticeiro. Um dia finalmente a moça veio procurar-me, muito infeliz, para perguntar o que devia fazer. Seu pai queria que ela, contra sua vontade, se casasse com um cismático como ele e o celebrante do casamento fosse um simples camponês. Então isso é um casamento conforme a lei? Exclamava ela. Isso é um deboche! Eu quero fugir para qualquer lugar! Eu lhe disse: Para onde queres fugir? Logo te acharão. Nos tempos de hoje, não poderás de esconder em lugar algum sem documentos. Facilmente te encontrarão. É melhor rezar a Deus com zelo para que, por seus caminhos, ele quebre essa decisão de teu pai e guarde tua alma do pecado e da heresia. É melhor do que fugir! O tempo passava: o barulho e as distrações iam se tornando cada vez mais penosos para mim. Enfim, acabou-se o verão. Decidi abandonar a capela e retomar meu caminho como antes. Fui falar com o vigário e lhe disse: Padre, o senhor conhece as minhas disposições. Eu preciso de calma para dedicar-me à oração e aqui só encontro perturbações e distrações. Cumpri o que o senhor me pediu, fiquei aqui durante todo esse longo verão. Agora, por favor, deixe-me ir e queira abençoar o meu caminho solitário. O vigário não queria me largar e me pressionou com um sermão: O que te pode impedir de rezar aqui? Nada tens a fazer senão ficar na capela e sempre receber teu pão. Se tu queres, podes ficar rezando noite e dia. Vive com Deus! Aqui és competente e útil, não falas bobagens com os visitantes, és honesto e fiel, e asseguras contribuições para a igreja de Deus. Isso é melhor aos olhos de Deus do que tua oração solitária. Por que ficar sempre a sós? Com outras pessoas, é mais alegre a sós? Com outras pessoas, é mais alegre a gente rezar. Deus não criou o homem para que ele conhecesse somente a si próprio, mas para que cada um ajude a seu próximo, mas para que cada um ajude a seu próximo, uns levando os outros a salvação, cada um conforme suas possibilidades. Olhe os santos e os doutores ecumênicos: eles estavam sempre em movimento, dia e noite, preocupados com a Igreja. Pregavam em todo lugar e não ficavam retirados, escondidos de seus irmãos. Cada um recebe de Deus o dom que lhe convém, padre. Muitos pregaram às multidões e muitos viveram na solidão. Cada qual agia conforme sua inclinação e achava que era esse o caminho da salvação, indicado pelo próprio Deus. Mas, como me explicais que tantos santos tenham abandonado todas as dignidades e honras da Igreja e se tenham retirado no deserto para não serem tentados no Mundo? Santo Isaac, o Sírio, abandonou assim seus fiéis e o bem aventurado Atanásio, o Atonita (3), deixou seu mosteiro. Eles consideravam esses lugares como sedutores demais e acreditavam verdadeiramente na palavra de Jesus Cristo: Que aproveitará ao homem, se ganhar o mundo inteiro, mas arruinar a sua vida? (Mt 16,26). Mas eles eram grandes santos, retorquiu o vigário. Se os santos se preservavam com tanto cuidado do contato com os homens, respondi, o que não deve fazer um pobre pecador! Enfim, disse adeus ao bom vigário e nos separamos afetuosamente. Ao cabo de dez quilômetros, parei para passar a noite em uma aldeia. Havia aí um camponês às portas da morte. Eu aconselhei sua família a fazer com que recebesse os Santos Mistérios de Cristo e, de manhã, eles mandaram buscar o padre da vila. Eu fiquei para reverenciar as santas Espécies e rezar durante esse grande sacramento. Eu estava sentado em um banco na frente da casa, à espera do padre. De repente, vejo encaminhar-se para mim aquele jovem que eu tinha visto rezando na capela. Como chegaste até aqui? Disse-lhe eu. Na minha casa, tudo estava preparado para eu me casar com aquele cismático. Então fugi. E se lançando aos meus pés, ela suplicou: Ó, por piedade, me toma contigo e me leva a um convento: eu não quero me casar, quero viver no convento recitando a oração de Jesus. Eles te escutarão e me receberão. Ora veja, disse eu, onde queres que te leve? Não conheço nenhum convento por aqui e como te levar comigo sem documento de identidade? Não poderias parar em nenhum lugar. Logo te descobrirão. Serás levada de volta à tua casa e castigada por vagabundagem. É melhor que voltes para tua casa e rezes a Deus. E se não queres casar-te, finge que tens alguma incapacidade. Isso se chama um piedoso fingimento; foi assim que agiram a santa mãe de Clemente, a bem-aventurada Marina (4), que se salvou em um mosteiro de homens, e assim muitos outros. Enquanto assim conversávamos, vimos quatro camponeses em uma carruagem que corria em nossa direção. Eles agarraram a moça, a colocaram na carroça e a despacharam em companhia de um deles. Os outros três homens me amarraram as mãos e me levaram para a aldeia onde eu tinha passado o verão. A todas minhas tentativas de explicação, eles respondiam gritando: Tudo bem, santo de pau oco, vamos te ensinar a seduzir donzelas! À tarde, me levaram à prisão, me puseram correntes nos pés e me fecharam na cela para ser julgado no dia seguinte. O padre, ao saber que eu estava preso, veio visitar-me. Trouxe-me um jantar, consolou-me e disse que ele assumiria a minha defesa e, como confessor, ia declarar que eu não tinha as más tendências que me atribuíam. Ele ficou um pouco comigo e foi-se embora. Ao cair da noite, o juiz da província passou por lá. Contaram-lhe o acontecido. Ele mandou convocar a assembleia do município e levar-me a julgamento. Entramos e ficamos em pé, esperando. Nisso entrou o juiz, já muito animado; sentou-se à mesa, sem tirar o chapéu, e gritou: Então, Epifânio, essa jovem, tua filha, não levou nada de casa? Nada, meu senhor! Ela não fez alguma bobagem com esse idiota? Não, meu senhor! Então, o caso está julgado e nós decidimos: com tua filha, arranja-te com quiseres. Quanto a esse sujeito, nós o mandaremos embora amanhã, depois de o termos castigado exemplarmente para que nunca mais ponha os pés aqui. Caso encerrado! A essas palavras, o juiz se levantou e se recolheu. Quanto a mim, levaram-me para a cadeia. No dia seguinte bem cedo, vieram dois agentes da polícia rural que me chicotearam e então fui solto. Fui-me embora agradecendo ao Senhor que tinha permitido que eu sofresse por causa de seu nome. Isso me consolava e me estimulava mais ainda à oração. Todos esses acontecimentos não me deixaram, porém, desgostoso. Era como se dissessem respeito a uma outra pessoa e que eu tivesse sido apenas um espectador. Mesmo enquanto me fustigavam, eu conseguia suportar: a oração que me alegrava o coração, não me deixava prestar atenção a outra coisa. Depois de quatro quilômetros, encontrei a mãe daquele jovem que voltava do mercado. Ela parou e disse-Me: O noivo nos abandonou. Ele se zangou com Akoulka, veja só, porque ela fugiu. Ela me deu um pão e um bolo e eu retomei meu caminho. O tempo estava seco e eu não estava com vontade de dormir em uma aldeia. Avistei, na floresta, dois montes de feno e aí me instalei para passar a noite. Dormi e comecei a sonhar que ia caminhando pela estrada, lendo os capítulos de Santo Antão, o Grande (5), na Filocalia. De repente, aquele monge, meu mestre, veio ao meu encontro e me disse: Não é esse trecho que deves ler! E ele me indicou o capítulo 35 de João de Cárpatos (6) no qual está escrito: Às vezes, o discípulo é desonrado e suporta provações por aqueles que ele ajudou espiritualmente. E me mostrou ainda o capítulo 41 onde se diz: Todos os que se dedicam com ardor à oração, estão sujeitos a tentações terríveis e arrasadoras. Em seguida, ele me disse: Coragem! Não te deixes abater! Lembra-te das palavras do Apóstolo: Aquele que está em vós, é maior do que aquele que está no mundo ( I Jo 4,4). Agora conheceste pela experiência que não há tentação acima das forças do homem. Com a tentação Deus vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela ( I Co 10,13). Foi a esperança na ajuda do Senhor que sustentou os santos que, não somente passaram a vida a rezar, mas ainda, por amor, procuraram ensinar e esclarecer os outros. Eis o que diz a esse respeito São Gregório de Tessalônica (7): Não nos é suficiente rezar sem cessar, conforme o mandamento divino, mas é necessário que saibamos expor esse ensinamento a todos: monges, leigos, inteligentes ou simples, homens, mulheres e crianças, a fim de despertar neles o zelo pela oração interior. O bem-aventurado Calisto Telicudas (8) se exprime da mesma maneira: A atividade espiritual (isto é, a oração interior) diz ele, o conhecimento contemplativo e os meios para elevar a alma não devem ser guardados só para si mesmo, mas é preciso comunica-los por escrito ou por palavras para o bem e o amor de todos. E a palavra de Deus declara que um irmão, apoiado por outro irmão, é como uma cidade fortificada (Pv 18,19). É preciso apenas fugir da vaidade a qualquer custo e cuidar que a boa semente do ensinamento divino não seja levada pelo vento. Ao acordar, senti no coração uma grande alegria e, na minha alma, uma força nova. E continuei meu caminho. Referência do texto: (1). O rosário de lã – Os religiosos russos usam um rosário  que é feito de um cordão de lã ou seda, cujos nós correspondem às contas dos rosários ocidentais. (2). Cismáticos – eram os chamados “Velhos Crentes”. Houve um cisma (divisão) no interior da Igreja Russa (1652-1658) por causa das reformas do patriarca Nicone, agravado pelos decretos de Pedro, o Grande (1672-1725), que retiraram da Igreja russa a independência reivindicada pelo patriarca. (3). Santo Atanásio, o Atonita – fundador do primeiro mosteiro do monte Athos, cuja igreja dedicou a Nossa Senhora. Teve atritos com os eremitas aos quais queria impor a vida cenobítica (monge que vivem em comunidade). Morreu assassinado em 1003. (4). Santa Marina – festejada pela Igreja Latina dia 17 de julho e pela Igreja Grega dia 12 de fevereiro. Viveu no século VIII. Seu pai, viúvo, se fez monge, mas não quis separar-se dela. Apresentou-a então ao abade como “seu filho Marinus”. Ela permaneceu no mosteiro até o fim de sua vida. Sua verdadeira identidade só foi revelada após a sua morte. (5). Santo Antão (251-356) – trata-se das Instruções, atribuídas a Santo Antão, em 170 capítulos, que iniciam as Filocalias grega e eslavas. Anacoreta da Tebaida, seu exemplo fez com que surgissem e se multiplicassem, no deserto do Egito, os eremitas e os cenobitas. (6) João de Cárpatos – mencionado às vezes como bispo, outras vezes como monge. Ele teria vivido na Ilha de Cárpatos, no século VII e no VIII. (7) Gregório de Tessalônica – chamado também Gregório Palamas, arcebispo de Tessalônica em 1349. Rejeitado pela cidade, retirou-se para a Ilha de Lemnos, onde morreu em 1360. Ardoroso defensor do hesicasmo, chegou a ser considerado herege por Roma. Terminadas as controvérsias hesicastas, foi canonizado em Bizâncio. Sua festa é celebrada pela Igreja do oriente no 3º domingo da Quaresma. (8). Calisto Telicudas – asceta da Escola de Calisto e Inácio Xanthopoulos. 

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