Cristianismo Oriental. RELATO DE UM PEREGRINO
RUSSO. III. ATRAVÉS DA SIBÉRIA. ATAQUE DO LOBO. Ó Senhor, quão são as vossas
obras: tudo fizestes com sabedoria! (Sl 104,24). Ao longo do meu caminho,
encontrei casos espantosos. Se eu fosse contar todos esses casos, não acabaria
tão cedo. Por exemplo: uma noite de inverno, atravessei sozinho uma floresta:
queria dormir a dois quilômetros de lá, numa ladeia que tinha avistado. De
repente, um enorme lobo pulou em cima de mim. Eu estava segurando na mão o
rosário de lã (1) do monge, meu mestre (eu o trazia sempre comigo). Afastei o
lobo com ele. É de se acreditar? O rosário escapou de minha mão e se enroscou
no pescoço do animal. O lobo se jogou para trás e pulou os espinheiros. Suas
patas traseiras se prenderam nos espinhos enquanto o rosário se enganchou em um
ramo de árvore morta. O lobo se debatia com todas suas forças, mas não
conseguia soltar-se, porque o rosário lhe apertava a garganta. Eu me persignei
com fé e me aproximei para desvencilhar o lobo. Foi principalmente porque temia
que ele arrebentasse o meu rosário e fugisse levando esse objeto tão precioso
para mim. Assim que cheguei perto e peguei no rosário, o lobo arrebentou-o de
fato e fugiu sem mais delongas. Assim, agradecendo ao Senhor e honrando a memória
do bem-aventurado monge, cheguei sem mais contratempos à aldeia. Fui a
hospedaria e pedi para dormir. Entrei na casa. No canto, à mesa, achavam-se
sentados dois viajantes: um já idoso, o outro de meia idade e corpulento.
Tomavam chá. Perguntei ao camponês que guardava os cavalos quem eram eles.
Explicou-me que o velho era um professor e o outro, escrivão do juiz de paz,
ambos de origem nobre: Eu os estou levando à feira, a vinte quilômetros daqui.
Depois de descansar um pouco, pedi a hospedeira uma agulha e uma linha.
Aproximei-me da vela e comecei a consertar o meu rosário. O escrivaão deu uma
olhadela em minha direção e disse: Tu andaste fazendo muitas reverências para
rasgares teu rosário desse jeito! Não fui eu que o estraguei, mas um lobo
(...). Ora veja só! Os lobos também dizem suas orações, respondeu o escrivão,
dando risadas. Contei-lhe o acontecido detalhadamente e expliquei o quanto esse
rosário era precioso para mim. O escrivão recomeçou a rir e disse: Para os
crédulos, sempre acontecem milagres! O que há de misterioso nesse episódio? Tu
jogastes alguma coisa em cima dele; o lobo se assustou e fugiu. Os cães e os
lobos têm medo dessas coisas, e se enroscar nos galhos da floresta, isso não é
difícil. Não é preciso acreditar que tudo o que acontece neste mundo é por
milagre. Daí o professor começou a discutir com ele: Não fale assim, meu
senhor! Não entende do assunto (...). Quanto a mim, vejo na história desse
camponês um duplo mistério, sensível e espiritual. Como assim? Perguntou o
escrivão. Veja: sem possuir uma instrução muito adiantada, o senhor assim mesmo
estudou a história sagrada através de perguntas e respostas, em livro editado
para as escolas. Deve lembrar-se de que, quando o primeiro homem, Adão, estava
em estado de inocência, todos os animais lhe eram submissos. Aproximavam-se
dele receosos e ele lhes dava os nomes. O monge ao qual pertencia esse rosário,
era um santo. E o que é a santidade? Nada mais que a ressurreição, no homem
pecador, do estado de inocência do primeiro homem, graças aos esforços e
virtudes. A alma santifica o corpo. O rosário estava sempre nas mãos de um
santo; logo, pelo contato constante com seu corpo, esse objeto foi tocado por
uma força santa, a força do estado de inocência do primeiro homem. Eis o
mistério da natureza espiritual! Essa força, naturalmente, todos os animais a
sentem, principalmente pelo olfato, pois as narinas são o órgão principal dos
sentidos para o animal. Eis o mistério da natureza sensível (...). Para os
senhores, os sábios, só existem forças e histórias desse gênero: mas nós vemos
as coisas de uma maneira mais simples: encher um copo e dar um trago, eis o que
dá forças, disse o escrivão. E se dirigiu para o armário. O problema é seu,
respondeu o professor, mas neste caso, deixe-nos com nossos conhecimentos mais
sábios. As palavras do professor me agradaram; aproximei-me dele e lhe disse:
Permita que lhe conte ainda certas coisas a respeito do meu mestre. Então lhe
expliquei como ele me tinha aparecido em sonhos e, depois de me ter ensinado, tinha
deixado uma marca na minha Filocalia. O professor escutou o relato
com atenção. Mas o escrivão, recostado em um banco, resmungava: É verdade que a
gente acaba louca de tanto ficar fuçando na Bíblia. Basta olhar para esse ai!
Que lobisomem iria sujar teus livros à noite? Tu deixastes cair teu livro no
chão, enquanto dormias, e ele rolou pelas cinzas (...) É esse o teu milagre!
Ora, esses vagabundos: eu os conheço, meu velho, esses da tua confraria! Depois
de ter resmungado desse jeito, o escrivão virou-se para a parede e adormeceu.
Ao ouvir tais palavras, inclinei-me para o professor e disse: Se quiser, eu lhe
mostrarei o livro que tem a marca e não manchas de cinza. Tirei a Filocalia da
minha sacola e mostrai-a a ele, dizendo: Muito me espanta que uma alma
incorpórea possa pegar um carvão e escrever (...). O professor olhou bem o
sinal de carvão no livro e disse: Este é o mistério dos espíritos. Vou te
explicar. Quando os espíritos aparecem a um homem, sob uma forma corporal, seu
corpo visível é feito de luz e de ar, com os elementos dos quais tinha sido
tirado seu corpo mortal. E como o ar tem elasticidade, a alma dele revestida
pode agir, escrever ou pegar objetos. Mas, que livro tens aí? Deixa-me ver. Ele
o abriu exatamente na página do discurso e do tratado de Simeão, o Novo
Teólogo. Ah! Sem dúvida, trata-se de um livro de teologia, eu não conheço
(...). Esse livro, meu senhor, contém quase somente os ensinamentos sobre a
oração interior do coração em nome de Jesus Cristo: tudo está explicado aqui, em
detalhes, por vinte e cinco dos Padres da Igreja. Ah! A oração interior! Eu sei
o que é, disse o professor (...). Inclinei-me junto dele e lhe pedi para me
dizer alguma coisa sobre a oração interior. Pois bem. No Novo Testamento se diz
que o homem e toda a criação em expectativa anseia pela revelação dos filhos de
Deus. Foi submetido a vaidade, não por seu querer – na esperança de ela também
ser liberta da escravidão da corrupção para entrar na liberdade da glória dos
filhos de Deus (Rm 8,19-20). Esse movimento misterioso da criação, esse desejo
inato das almas, isto é a oração interior. Ela não pode ser aprendida, pois
está em todos e em tudo! Mas, como adquirir essa oração interior, descobri-la e
experimentá-la dentro do coração? Como tomar consciência da oração e acolhê-la
voluntariamente, conseguir que a oração possa agir ativamente, alegrando,
iluminando e salvando a alma? Perguntei eu. Não sei se os tratados de teologia
falam da oração interior, respondeu o professor. Mas, aqui, aqui tudo está
escrito! Exclamei. O professor pegou um lápis, anotou o título da Filocalia e
disse: Eu vou encomendar esse livro em Tobolsk e vou examinar tudo isso. E
assim nos separamos. Fui embora e agradeci a Deus toda essa conversa com o
professor e pedi a Deus que permitisse um dia ao escrivão ler a Filocalia e
compreender seus ensinamentos para o bem de sua alma. A MOÇA DA ALDEIA. Uma
outra vez, na primavera, cheguei a um povoado e parei na casa do vigário. Era
um homem excelente que morava sozinho. Fiquei aí três dias com ele. Depois de
me ter observado durante esse tempo, ele me disse: Fica comigo, eu te darei um
salário. Estou precisando de um homem com quem possa contar. Reparaste que
estão construindo uma nova igreja, de pedras, perto da antiga, que é de
madeira. Não estou achando uma pessoa conscienciosa para vigiar os operários e
permanecer na capela a fim de receber os donativos para a construção. Vejo que
és um homem capaz e que essa vida te seria conveniente. Ficaria sozinho na
capela, rezando a Deus. Existe lá um cômodo isolado onde se pode ficar. Fica,
eu te peço, pelo menos até que a igreja fique pronta. Recusei bastante tempo,
mas acabei por ceder ao pedido insistente do vigário. Fiquei então desde o
verão até o outono e me instalei na capela. No começo, tive muito sossego e
pude me exercitar na oração. Mas, principalmente nos dias de festa, aparecia
muita gente: uns para rezar, outros para cochilar, outros ainda para passar a
mão nas moedas que ficavam na bandeja. E como, às vezes, eu ficava lendo a
Bíblia ou a Filocalia, alguns dos visitantes puxavam prosa comigo e outros me
pediam para ler um pouco para eles. Depois de algum tempo, eu notei que uma
moça do lugar vinha frequentemente à capela e ficava aí bastante tempo a rezar.
Prestei atenção ao que ela murmurava e descobri que eram orações estranhas,
algumas completamente estropiadas. Eu lhe perguntei: Quem te ensinou a rezar
assim? Ela me disse que tinha sido sua mãe que era ortodoxa, ao passo que seu
pai era cismático (2), da seita dos sem sacerdotes. Achei triste essa situação
e lhe aconselhei que recitasse corretamente as orações, conforme a tradição da
santa Igreja. Ensinei-lhe o Pai Nosso e a Ave Maria. Depois lhe disse: Reza
principalmente a oração de Jesus. Ela nos aproxima de Deus mais que todas as orações
e com ela conseguirás a salvação de tua alma. A moça me ouviu com atenção e fez
simplesmente com eu tinha aconselhado E (...) acreditais? Algum tempo depois
ela me anunciou que já se tinha habituado à oração de Jesus e que sentia
vontade de repetir essa oração sem parar, se possível: quando rezava, sentia
uma sensação agradável e, finalmente, alegria, assim como o desejo de rezar
mais. Rejubilei-me com isso e lhe aconselhei que continuasse rezando cada vez
mais, invocando o Nome de Jesus Cristo. Já estava acabando o verão. Muitos
visitantes da capela vinham procurar-me, não somente para pedir um conselho ou
um pouco de leitura, mas também para contar seus problemas caseiros e até para
saber o que fazer para achar objetos perdidos. Era evidente que alguns pensavam
que eu era um feiticeiro. Um dia finalmente a moça veio procurar-me, muito
infeliz, para perguntar o que devia fazer. Seu pai queria que ela, contra sua
vontade, se casasse com um cismático como ele e o celebrante do casamento fosse
um simples camponês. Então isso é um casamento conforme a lei? Exclamava ela.
Isso é um deboche! Eu quero fugir para qualquer lugar! Eu lhe disse: Para onde
queres fugir? Logo te acharão. Nos tempos de hoje, não poderás de esconder em
lugar algum sem documentos. Facilmente te encontrarão. É melhor rezar a Deus
com zelo para que, por seus caminhos, ele quebre essa decisão de teu pai e
guarde tua alma do pecado e da heresia. É melhor do que fugir! O tempo passava:
o barulho e as distrações iam se tornando cada vez mais penosos para mim.
Enfim, acabou-se o verão. Decidi abandonar a capela e retomar meu caminho como
antes. Fui falar com o vigário e lhe disse: Padre, o senhor conhece as minhas
disposições. Eu preciso de calma para dedicar-me à oração e aqui só encontro
perturbações e distrações. Cumpri o que o senhor me pediu, fiquei aqui durante
todo esse longo verão. Agora, por favor, deixe-me ir e queira abençoar o meu
caminho solitário. O vigário não queria me largar e me pressionou com um
sermão: O que te pode impedir de rezar aqui? Nada tens a fazer senão ficar na
capela e sempre receber teu pão. Se tu queres, podes ficar rezando noite e dia.
Vive com Deus! Aqui és competente e útil, não falas bobagens com os visitantes,
és honesto e fiel, e asseguras contribuições para a igreja de Deus. Isso é
melhor aos olhos de Deus do que tua oração solitária. Por que ficar sempre a
sós? Com outras pessoas, é mais alegre a sós? Com outras pessoas, é mais alegre
a gente rezar. Deus não criou o homem para que ele conhecesse somente a si
próprio, mas para que cada um ajude a seu próximo, mas para que cada um ajude a
seu próximo, uns levando os outros a salvação, cada um conforme suas
possibilidades. Olhe os santos e os doutores ecumênicos: eles estavam sempre em
movimento, dia e noite, preocupados com a Igreja. Pregavam em todo lugar e não
ficavam retirados, escondidos de seus irmãos. Cada um recebe de Deus o dom que
lhe convém, padre. Muitos pregaram às multidões e muitos viveram na solidão.
Cada qual agia conforme sua inclinação e achava que era esse o caminho da
salvação, indicado pelo próprio Deus. Mas, como me explicais que tantos santos
tenham abandonado todas as dignidades e honras da Igreja e se tenham retirado
no deserto para não serem tentados no Mundo? Santo Isaac, o Sírio, abandonou
assim seus fiéis e o bem aventurado Atanásio, o Atonita (3), deixou seu
mosteiro. Eles consideravam esses lugares como sedutores demais e acreditavam
verdadeiramente na palavra de Jesus Cristo: Que aproveitará ao homem, se ganhar
o mundo inteiro, mas arruinar a sua vida? (Mt 16,26). Mas eles eram grandes
santos, retorquiu o vigário. Se os santos se preservavam com tanto cuidado do
contato com os homens, respondi, o que não deve fazer um pobre pecador! Enfim,
disse adeus ao bom vigário e nos separamos afetuosamente. Ao cabo de dez
quilômetros, parei para passar a noite em uma aldeia. Havia aí um camponês às
portas da morte. Eu aconselhei sua família a fazer com que recebesse os Santos
Mistérios de Cristo e, de manhã, eles mandaram buscar o padre da vila. Eu
fiquei para reverenciar as santas Espécies e rezar durante esse grande
sacramento. Eu estava sentado em um banco na frente da casa, à espera do padre.
De repente, vejo encaminhar-se para mim aquele jovem que eu tinha visto rezando
na capela. Como chegaste até aqui? Disse-lhe eu. Na minha casa, tudo estava
preparado para eu me casar com aquele cismático. Então fugi. E se lançando aos
meus pés, ela suplicou: Ó, por piedade, me toma contigo e me leva a um
convento: eu não quero me casar, quero viver no convento recitando a oração de
Jesus. Eles te escutarão e me receberão. Ora veja, disse eu, onde queres que te
leve? Não conheço nenhum convento por aqui e como te levar comigo sem documento
de identidade? Não poderias parar em nenhum lugar. Logo te descobrirão. Serás
levada de volta à tua casa e castigada por vagabundagem. É melhor que voltes
para tua casa e rezes a Deus. E se não queres casar-te, finge que tens alguma
incapacidade. Isso se chama um piedoso fingimento; foi assim que agiram a santa
mãe de Clemente, a bem-aventurada Marina (4), que se salvou em um mosteiro de
homens, e assim muitos outros. Enquanto assim conversávamos, vimos quatro
camponeses em uma carruagem que corria em nossa direção. Eles agarraram a moça,
a colocaram na carroça e a despacharam em companhia de um deles. Os outros três
homens me amarraram as mãos e me levaram para a aldeia onde eu tinha passado o
verão. A todas minhas tentativas de explicação, eles respondiam gritando: Tudo
bem, santo de pau oco, vamos te ensinar a seduzir donzelas! À tarde, me levaram
à prisão, me puseram correntes nos pés e me fecharam na cela para ser julgado
no dia seguinte. O padre, ao saber que eu estava preso, veio visitar-me.
Trouxe-me um jantar, consolou-me e disse que ele assumiria a minha defesa e, como
confessor, ia declarar que eu não tinha as más tendências que me atribuíam. Ele
ficou um pouco comigo e foi-se embora. Ao cair da noite, o juiz da província
passou por lá. Contaram-lhe o acontecido. Ele mandou convocar a assembleia do
município e levar-me a julgamento. Entramos e ficamos em pé, esperando. Nisso
entrou o juiz, já muito animado; sentou-se à mesa, sem tirar o chapéu, e
gritou: Então, Epifânio, essa jovem, tua filha, não levou nada de casa? Nada,
meu senhor! Ela não fez alguma bobagem com esse idiota? Não, meu senhor! Então,
o caso está julgado e nós decidimos: com tua filha, arranja-te com quiseres.
Quanto a esse sujeito, nós o mandaremos embora amanhã, depois de o termos
castigado exemplarmente para que nunca mais ponha os pés aqui. Caso encerrado!
A essas palavras, o juiz se levantou e se recolheu. Quanto a mim, levaram-me
para a cadeia. No dia seguinte bem cedo, vieram dois agentes da polícia rural
que me chicotearam e então fui solto. Fui-me embora agradecendo ao Senhor que
tinha permitido que eu sofresse por causa de seu nome. Isso me consolava e me
estimulava mais ainda à oração. Todos esses acontecimentos não me deixaram,
porém, desgostoso. Era como se dissessem respeito a uma outra pessoa e que eu
tivesse sido apenas um espectador. Mesmo enquanto me fustigavam, eu conseguia
suportar: a oração que me alegrava o coração, não me deixava prestar atenção a
outra coisa. Depois de quatro quilômetros, encontrei a mãe daquele jovem que
voltava do mercado. Ela parou e disse-Me: O noivo nos abandonou. Ele se zangou
com Akoulka, veja só, porque ela fugiu. Ela me deu um pão e um bolo e eu
retomei meu caminho. O tempo estava seco e eu não estava com vontade de dormir
em uma aldeia. Avistei, na floresta, dois montes de feno e aí me instalei para
passar a noite. Dormi e comecei a sonhar que ia caminhando pela estrada, lendo
os capítulos de Santo Antão, o Grande (5), na Filocalia. De repente, aquele
monge, meu mestre, veio ao meu encontro e me disse: Não é esse trecho que deves
ler! E ele me indicou o capítulo 35 de João de Cárpatos (6) no qual está
escrito: Às vezes, o discípulo é desonrado e suporta provações por aqueles que
ele ajudou espiritualmente. E me mostrou ainda o capítulo 41 onde se diz: Todos
os que se dedicam com ardor à oração, estão sujeitos a tentações terríveis e
arrasadoras. Em seguida, ele me disse: Coragem! Não te deixes abater! Lembra-te
das palavras do Apóstolo: Aquele que está em vós, é maior do que aquele que
está no mundo ( I Jo 4,4). Agora conheceste pela experiência que não há tentação
acima das forças do homem. Com a tentação Deus vos dará os meios de suportá-la
e sairdes dela ( I Co 10,13). Foi a esperança na ajuda do Senhor que sustentou
os santos que, não somente passaram a vida a rezar, mas ainda, por amor,
procuraram ensinar e esclarecer os outros. Eis o que diz a esse respeito São
Gregório de Tessalônica (7): Não nos é suficiente rezar sem cessar, conforme o
mandamento divino, mas é necessário que saibamos expor esse ensinamento a
todos: monges, leigos, inteligentes ou simples, homens, mulheres e crianças, a
fim de despertar neles o zelo pela oração interior. O bem-aventurado Calisto
Telicudas (8) se exprime da mesma maneira: A atividade espiritual (isto é, a
oração interior) diz ele, o conhecimento contemplativo e os meios para elevar a
alma não devem ser guardados só para si mesmo, mas é preciso comunica-los por
escrito ou por palavras para o bem e o amor de todos. E a palavra de Deus
declara que um irmão, apoiado por outro irmão, é como uma cidade fortificada
(Pv 18,19). É preciso apenas fugir da vaidade a qualquer custo e cuidar que a
boa semente do ensinamento divino não seja levada pelo vento. Ao acordar, senti
no coração uma grande alegria e, na minha alma, uma força nova. E continuei meu
caminho. Referência do texto: (1). O rosário de lã – Os religiosos russos usam
um rosário que é feito de um cordão de lã ou seda, cujos nós
correspondem às contas dos rosários ocidentais. (2). Cismáticos – eram os
chamados “Velhos Crentes”. Houve um cisma (divisão) no interior da Igreja Russa
(1652-1658) por causa das reformas do patriarca Nicone, agravado pelos decretos
de Pedro, o Grande (1672-1725), que retiraram da Igreja russa a independência
reivindicada pelo patriarca. (3). Santo Atanásio, o Atonita – fundador do
primeiro mosteiro do monte Athos, cuja igreja dedicou a Nossa Senhora. Teve
atritos com os eremitas aos quais queria impor a vida cenobítica (monge que
vivem em comunidade). Morreu assassinado em 1003. (4). Santa Marina – festejada
pela Igreja Latina dia 17 de julho e pela Igreja Grega dia 12 de fevereiro.
Viveu no século VIII. Seu pai, viúvo, se fez monge, mas não quis separar-se
dela. Apresentou-a então ao abade como “seu filho Marinus”. Ela permaneceu no
mosteiro até o fim de sua vida. Sua verdadeira identidade só foi revelada após
a sua morte. (5). Santo Antão (251-356) – trata-se das Instruções, atribuídas a
Santo Antão, em 170 capítulos, que iniciam as Filocalias grega e eslavas.
Anacoreta da Tebaida, seu exemplo fez com que surgissem e se multiplicassem, no
deserto do Egito, os eremitas e os cenobitas. (6) João de Cárpatos – mencionado
às vezes como bispo, outras vezes como monge. Ele teria vivido na Ilha de
Cárpatos, no século VII e no VIII. (7) Gregório de Tessalônica – chamado também
Gregório Palamas, arcebispo de Tessalônica em 1349. Rejeitado pela cidade,
retirou-se para a Ilha de Lemnos, onde morreu em 1360. Ardoroso defensor do
hesicasmo, chegou a ser considerado herege por Roma. Terminadas as
controvérsias hesicastas, foi canonizado em Bizâncio. Sua festa é celebrada
pela Igreja do oriente no 3º domingo da Quaresma. (8). Calisto Telicudas –
asceta da Escola de Calisto e Inácio Xanthopoulos.
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