quinta-feira, 30 de março de 2017

UNIDADE E DIFERENCIAÇÃO.



Teosofia. Texto de Damodar K. Mavalankar (1857). Tradução de Izar G. Tauceda. É um conhecido axioma que a verdade existe apesar do erro humano, e que quem quiser conhecer a verdade deve elevar-se a seu nível e não tentar a ridícula tarefa de arrastá-la para seu padrão. Cada metafísico sabe que a Verdade Absoluta é a Eterna Realidade que sobrevive a todos os fenômenos transitórios. O prefácio do Livro Isis Sem Véu de Helena P. Blavatsky (1831-1891) expressa essa ideia muito claramente quando diz: O homem e partidos, seitas e escolas são apenas meros efêmeros do dia do mundo. Só a VERDADE, colocada sobre sua rocha adamantina é eterna e suprema. A linguagem pertence ao mundo da relatividade, enquanto a Verdade é a Realidade Absoluta. Portanto, é inútil supor que qualquer linguagem, embora antiga ou sublime, possa expressar a Verdade Absoluta. Esta última existe no mundo das ideias, e o ideal pode ser percebido pelo sentido que pertence a esse mundo (...). As palavras podem simplesmente vestir as ideias, mas nenhuma quantidade de palavras pode transmitir uma ideia a alguém  que seja incapaz de percebê-la. Cada um de nós tem dentro de si a capacidade latente ou um sentido adormecido que pode conhecer a Verdade Abstrata, embora o desenvolvimento desse sentido, ou falando mais corretamente, a assimilação de nosso intelecto com esse sentido superior, possa variar em diferentes pessoas, de acordo com as circunstâncias, educação e disciplina. Esse sentido superior, que é a nós vivencia momentos quando, estando em relação com esse sentido superior, compreendemos as verdades eternas. A única questão é como nos focamos inteiramente nesse sentido superior. Compreendendo diretamente essa verdade, pomo-nos diante do ocultismo. O ocultismo ensina a seus aficionados o tipo de treinamento que lhe trará este desenvolvimento. Nunca dogmatiza, mas apenas recomenda certos métodos que a experiência de eras provou ser o melhor para o propósito. E assim como a harmonia da natureza consiste em discordância sinfônica, assim também a harmonia do treinamento oculto (em outras palavras, o progresso humano individual) consiste em detalhes discordantes. O alcance do Ocultismo, sendo um estudo de natureza, tanto em seu aspecto fenomenal como numenal e sua organização, está em exata harmonia com o plano da natureza. Constituições diferentes requerem detalhes diferente de treinamento, e homens diferentes podem captar melhor a ideia em expressões diferente. Essa necessidade fez surgir diferentes escolas de ocultismo, cujo âmbito e ideal são os mesmos, mas diferem em modos de expressão e métodos de procedimentos. Nem mesmo os estudantes da mesma escola necessariamente têm uniformidade de treinamento, isto mostra porque, geralmente, até que certo estágio seja atingido, o Chela (discípulo) é deixado à vontade, e porque nunca recebe instruções verbais ou escritas a respeito das verdades da natureza. Isso também sugere o sentido de deixar o neófito (principiante na investigação oculta) passar por determinado tipo de sono por certo período antes de cada iniciação. E seu sucesso ou fracasso depende de sua capacidade para assimilação da Verdade Abstrata que seus sentidos superiores percebem. Contudo, assim como a unidade é a derradeira possibilidade da natureza, assim há uma certa escola de ocultismo que lida apenas com o processo sintético, e para a qual todas as escolas, que usam métodos analíticos em que só pode existir a diversidade, devem submissão. Um leitor cuidadoso perceberá então o absurdo do dogmatismo que quer para seus métodos uma aplicação Universal. Portanto, o que significa para a filosofia Advaita ser idêntica à Doutrina Arhat, é que a meta final ou a última possibilidade de ambas é a mesma. O processo sintético é um, porque lida apenas com verdades eternas, a Verdade Abstrata, o numenal. E essas duas filosofias são apresentadas juntas, porque em seus métodos analíticos, elas prosseguem em linhas paralelas, uma, vindo do ponto ou centro. Como tal, cada uma é o complemento da outra e pode-se dizer que nenhuma é totalmente completa. Deve ser lembrado aqui que a doutrina advaita não se inicia com Shankaracharya, nem a filosofia Arhat tem sua origem com Gautama Budha. Eles foram apenas os últimos expositores desses dois sistemas que existiram desde tempos imemoriais. Alguns podem compreender melhor a verdade de um ponto subjetivo, enquanto outros devem prosseguir pelo objetivo. Esses dois sistemas são, portanto, tão antigos quanto o próprio ocultismo, enquanto as últimas fases da Doutrina Esotérica são apenas outro aspecto de qualquer destas duas, os detalhes sendo modificados de acordo com as faculdades de compreensão das pessoas interessadas, como também de outras circunstâncias ambientais. Foram inúmeras as tentativas para reviver o conhecimento dessa verdade. Desse modo, sugerir que a presente seja a primeira tentativa na história do mundo é um erro que aqueles, cujo senso apenas despertou para a gloriosa Realidade, estão perto de cometer. Já se afirmou que a difusão do conhecimento não se limita a um processo. Aqueles que o possuem não devem ter ciúmes, guardando-o por qualquer motivo egoísta. Na verdade, tal disposição mental impede a possibilidade de atingir o conhecimento. Eles têm, em todas as oportunidades, tentado por todos os meios disponíveis dar seus benefícios à humanidade. Em certa época, indubitavelmente, eles tiveram que ficar contentes em dá-lo apenas a alguns estudantes escolhidos, que, devemos lembrar, são diferentes da humanidade comum apenas numa coisa essencial: que, através de treinamento anormal, eles entram comparativamente num processo de auto evolução num curto período de tempo, o que a humanidade comum levaria eras incontáveis para atingir durante o curso da evolução comum. Quem conhece a história do Conde São German e as obras do falecido Lord Bulwer Lytton (1803-1873) não precisa que lhe digam que, durante os cem anos passados, foram feitos constantes esforços para despertar nas raças presentes uma noção de conhecimento que lhes assegurasse progresso e garantisse felicidade futura. Além disso, não se deve esquecer que espalhar conhecimento de verdades filosóficas é apenas uma pequena fração do importante trabalho no qual os ocultistas estão engajados. Sempre que as circunstâncias os compelem a sair da vista do mundo, eles ficam mais ativamente engajados em arranjar e guiar a corrente dos acontecimentos, as vezes influenciando a mente das pessoas, em outras, fazendo surgir, tanto quanto possível, essas combinações de forças que fazem surgir uma forma superior de evolução e este outro importante trabalho no plano espiritual. Eles têm que fazer, e estão fazendo este trabalho agora. Assim, em realidade, pouco sabe o público sobre o que eles pedem quando se candidatam ao discipulado. Eles devem, então, jurar a si mesmos assistir os MAHATMAS nesse trabalho espiritual pelo processo de auto evolução porque a energia dispendida por eles no ato de auto purificação tem um efeito dinâmico e produz grandes resultados no plano espiritual. Além disso, eles gradualmente se preparam para assumir um papel ativo no grande trabalho. Talvez agora compreendamos porque O ADEPTO SE TORNA. ELE NÃO É FEITO e porque ele é  a rara eflorescência da época (...). A grande dificuldade que uma mente filosófica comum tem é aceitar a ideia de que  a consciência e a inteligência originam-se na não consciência e na não inteligência. Embora um intelecto metafísico obstruso (cabalístico) possa compreender, ou melhor, perceber subjetivamente o ponto em qualquer caso, o presente estado não desenvolvido da humanidade pode conceber as verdades superiores somente de um ponto de vista objetivo. Assim como somos obrigados a falar do pôr do Sol na linguagem comum, embora saibamos que não é o movimento do Sol a que nos referimos, e assim como no sistema geocêntrico falamos como se a Terra tivesse um ponto fixo, no centro do Universo, para que a imatura mente do estudante possa entender nossos ensinamentos, da mesma maneira a Verdade Abstrata tem de ser notada por um intelecto metafísico não muito aguçado. Assim podemos dizer que o budismo é vedantismo racional, e que o vedantismo é budismo transcendental (...). A Vida Uma permeia TUDO. Podemos também acrescentar que a consciência e a inteligência também permeiam TUDO. Essas três são potencialmente inerentes em toda parte. E não falamos a vida de um mineral, nem de sua consciência e inteligência. Essas existem nele somente potencialmente. A diferenciação que resulta na individualização ainda não está completa. Um pedaço de ouro, de prata, de cobre ou de qualquer outro metal ou uma pedra (...) não tem o sentido de existência separada, porque a mônada mineral (a partícula existência, originária, que evoluirá o ser nos inúmeros processos de renascimento e encarnação até mergulhar no oceano do Logos Divino de onde ela saiu) está individualizada. É só no reino animal que um sentido de personalidade começa a se formar. Mas de tudo isso um ocultista não dirá que a vida, a consciência e a inteligência não existem potencialmente nos minerais. Portanto veremos que, embora a consciência e a inteligência existam em toda parte, nem todos os objetos são conscientes e inteligentes. Quando a latente potencialidade se desenvolve até o estágio da individualização pela Lei da Evolução Cósmica, separa o sujeito do objeto, ou melhor, o sujeito cai em Upadhi, e um estado de consciência ou inteligência pessoal é realizado. Mas a consciência e inteligência absolutas, que não têm Upadhi, não podem ser conscientes ou inteligentes porque não há dualidade, nada que desperte a inteligência ou a consciência. Por isso os Upanishads dizem que Parabrahaman não tem consciência nem inteligência, porque esses estados podem ser conhecidos por nós somente devido a nossa individualização, enquanto não podemos, por nosso estado pessoal diferenciado, conceber a consciência ou inteligência não dualista indiferenciada. Se não houvesse consciência ou inteligência na Natureza, seria absurdo falar da Lei do Karma ou de cada causa produzindo seu correspondente efeito. Numa das cartas publicadas em O Mundo Oculto, o Mahatman diz que a matéria é indestrutível e pergunta se os modernos cientistas podem dizer porque a Natureza conscientemente prefere que a matéria continue indestrutível sob forma orgânica e não inorgânica. Essa é uma ideia muito interessante a respeito do assunto que tratamos. No começo de nossos estudos, estamos aptos a ser enganados pela suposição de que nossa Terra, a cadeia planetária ou o sistema solar sejam o infinito e que a eternidade possa ser medida por números. Muitas e muitas vezes, os Mahatmas advertiram-nos sobre esse erro, e, mesmo assim, agora e então, tentamos limitar o infinito a nosso padrão, em vez de nos esforçarmos para nos expandirmos até seus conceitos. Naturalmente isso levou alguns  a um sentido de isolamento e a esquecer que a mesma Lei da Evolução Cósmica, que nos trouxe a nosso presente estágio de diferenciação individual, tende a nos levar gradualmente a condição indiferenciada original. Esses se deixam imbuir tanto com o sentido da personalidade que tentam rebelar-se contra a ideia da Absoluta Unidade, forçando-se assim a um estado de isolamento e empenham-se em dirigir a Lei Cósmica, que deve ter seu curso; e o resultado natural é aniquilamento  através dos espasmos da desintegração. Isso constitui a ponte, o perigoso ponto na evolução a que se referiu o Alfred  Percy Sinnett (1840-1921) em seu livro Budismo Esotérico. Porque o egoísmo, que é o resultado de um forte sentimento de personalidade, é prejudicial ao progresso espiritual. É isso que constitui a diferença entre magia branca e magia negra. E é essa tendência a que se refere quando fala no fim de uma Raça. Nesse período, toda humanidade se separa em duas classes: os Adeptos da boa Lei e os Feiticeiros (ou Dugpas). Estamos indo rápido para esse período; e, para salvar a humanidade de um cataclisma que deve atingir aqueles que vão contra os propósitos da Natureza, os Mahatmas, que estão trabalhando com ela, estão se esforçando para difundir o conhecimento de maneira a evitar um abuso dela tanto quanto possível. Portanto, devemos lembrar constantemente que o presente não é o ápice da evolução e que, se não quisermos ser aniquilados, não devemos permitir ser influenciados por um sentimento de isolamento pessoal e consequentes  vaidades mundanas. Este mundo não é o infinito, nem nosso Sistema Solar, nem a expansão imensurável de nossos sentidos físicos pode ter conhecimento dele. Todos estes e mais são apenas um ínfimo átomo da Absoluta Infinidade. A ideia de personalidade está limitada a nossos sentidos físicos, que, pertencendo ao RupaLoka (mundo das formas), deve desaparecer, pois não vemos em qualquer parte uma forma permanente. Tudo está sujeito à mudança, e quanto mais vivemos na personalidade transitória, mas incorremos no perigo da morte final, ou aniquilação total. Somente o sétimo princípio, o Adi Budha é a Realidade Absoluta. Contudo, o ponto de vista objetivo acrescenta mais adiante que Dharma, o veículo do sétimo princípio ou seu Upadhi, é coexistente com seu Senhor e Mestre, o Adi Budha; porque se diz que nada pode surgir do nada. Uma forma mais correta de expressar a ideia séria que no estado de Pralaya o sexto princípio existe no sétimo como uma potencialidade eterna para se manifestar durante o período de atividade cósmica. Vistos assim, ambos o sétimo e o sexto princípio é a única Realidade, já que permanece imutável tanto durante a atividade cósmica como também durante o descanso cósmico. Enquanto o sexto princípio, o Upadhi, embora absorvido no sétimo durante o Pralaya, está mudando durante o Manvantar, primeiro diferenciando-se para voltar a sua condição indiferenciada conforme se  aproxima a época para o Pralaya. Ora, a doutrina Vedantina diz que Parabrahman é a Realidade Absoluta que nunca muda, e é, portanto, idêntica ao Adi Budha dos Arhats. Mulaprakriti, esse aspecto de Parabrahman, na época do Manvantara, emana de si Purusha e Prakriti, e, assim, sofre mudanças durante o período de atividade cósmica. Como Purusha é uma força que permanece completamente imutável, é esse aspecto de Mulaprakriti que é idêntico a Parabarhman. Por isso é que Purusha é considerado ser o mesmo que Parabrahman, ou a Realidade Absoluta. Enquanto que Prakriti, a matéria cósmica direrenciada constantemente sofre mudanças, e, portanto, impermanente, forma a base da evolução fenomenal. Esse é um ponto de vista puramente subjetivo do qual o senhor Subba Row (1856-1890) estava discutindo com o falecido Swami de Almora que dizia ser um advaita. Um leitor cuidadoso perceberá que não há contradição envolvida nas afirmações de Subba Row quando ele diz, de um ponto de vista objetivo, que Mulaprakriti e Purusha são eternos, e quando, de um ponto de vista subjetivo, diz que Purusha é a única Realidade eterna. Seu crítico inconscientemente misturou os dois pontos de vista ao separar extratos de dois artigos diferentes escritos de dois pontos de vista diferentes e imagina que o senhor Subba Row cometeu um erro. Agora daremos atenção a ideia dos Dhyan Chohanas, já foi dito acima que o sexto e o sétimo princípios são os mesmos em todos, e essa ideia ficará clara para todos aqueles que lerem com cuidado as notas anteriores sobre isso. Na filosofia Advaita, os Dhyan Chohans correspondem a Iswara, o Demiurgo. Não há Iswara consciente fora do 7º princípio de Maya como vulgarmente entendido. Essa era a ideia que Subba Row queria transmitir quando disse: as expressões que implicam a existência de um Iswara consciente que se encontram aqui e ali nos Upanishads não devem ser feitas literalmente. Portanto a afirmação de Subba Row não é perfeitamente inexplicável nem audaciosa porque é consistente com o ensinamento de Shankaracharya. Os Dhyan Chochans, que representam o agregado da inteligência cósmica, são os artífices imediatos dos mundos, e, portanto, idênticos a Iswara, a Mente Demiúrgica. Mas suas consciências e inteligências pertencem ao sexto e sétimo estados da matéria. São esses que não podemos conhecer enquanto preferimos permanecer em nosso isolamento e não transferir nossa individualidade ao sexto e ao sétimo princípio. Como artífices dos mundos, eles são os primeiros princípios do Universo, embora, ao mesmo tempo, sejam o resultado da Evolução Cósmica. É um entendimento incorreto sobre a consciência dos Dhyan Chohans que deu lugar à noção vulgar corrente de Deus. Os teístas dogmáticos não sabem que está a seu alcance tornarem-se Dhyan Chohans ou Iswara, ou, ao menos, que tem em si esta potencialidade latente par se elevarem a esta eminência espiritual caso trabalhem com a Natureza. Eles não se conhecem e permitem ser afastados e enterrados num sentimento de isolamento pessoal, vendo a Natureza como algo afastado de si. Assim, eles se afastam do espírito da Natureza, que é a única eterna Realidade Absoluta, e apressam sua própria desintegração (...). De um ponto de vista subjetivo, é um absurdo  falar de local e tempo, já que o último é um mero termo relativo e como tal restrito apenas ao fenômeno. O espaço abstrato e a eternidade são indivisíveis, e assim, tentar determinar tempo e lugar como se fossem realidades absolutas, não é metafísico nem filosófico. Contudo, é essencial um ponto de vista objetivo, como já mencionamos. Na economia da Natureza, tudo está certo em seu lugar, e ignorar um certo plano é tão ilógico quanto superestimá-lo. O verdadeiro conhecimento consiste num reto sentido de discernimento: ser capaz de perceber qual fenômeno efetua qual função, e como utilizá-la para o progresso e a felicidade humanos. Tanto os pontos de vista subjetivo e objetivo como os métodos indutivo e dedutivo são essenciais para atingir o verdadeiro conhecimento que é o verdadeiro poder. Agora diremos algumas palavras em conexão com a ideia de Budha. Quando o senhor Subba Row fala sobre o aspecto histórico de Budha, ele provavelmente se refere a Gautama Budha, que foi um personagem histórico. Ao mesmo tempo, devemos lembrar que cada entidade que se identifica com esse raio da sabedoria divina, representado por Gautama, é um Budha. Assim, é evidente que só pode haver um Budha por vez, o mais elevado tipo desse raio particular do Adeptado. Maio de 1884. Extraído do Livro The Service of Humanity. Abraço. Davi.

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