Comentário
de Shri Mataji Nirmala Devi (1923-2011). O capítulo 13 do Bhagavad Gita traz o título O Campo
do Conhecimento, Kshetra e Seu Conhecedor, Kshetragya. Os versos de 1 a 6
definem o campo do conhecimento, Krshetra e seu conhecedor, Kshetragya. O
Senhor Krishna afirma que há dois elementos na consciência do ser humano: o
objeto a ser conhecido e o sujeito que o conhece, vale dizer, aquilo que é
visto e a pessoa que vê. O corpo físico representa o objeto e é chamado de
campo, Kshetra. Aquele que vê ou o sujeito é o Espírito ou Jiva, Kshetragya. O
Jiva não é apenas uma parte do corpo, mas é diferente dele e tem domínio sobre
ele. Num sentido mais amplo, Kshetra ou campo não é somente um corpo
individual, mas uma natureza universal e abrange: 1. Os cinco elementos: éter,
ar, fogo, água e terra. 2. O egoísmo. 3. O intelecto. 4. O imanifestado, Muula
Prakriti, a raiz da matéria. 5. A mente. 6. Os cinco objetos dos sentidos. 7. O
desejo. 8. O ódio. 9. O prazer e a dor. 10. A vida e a vitalidade. Todos os
corpos individuais ou Kshetras são constituídos pela combinação desses
elementos e, em todos eles, o Senhor é o Conhecedor ou o Kshetragya. Os versos
7 a 11 definem o conhecimento e os meios utilizados por ele. O conhecimento
consiste em saber a diferença entre o objeto e o sujeito, e entre o corpo e a
alma. O conhecimento pode ser cultivado através das seguintes qualidades: 1.
Ausência de orgulho e vaidade. 2. Paciência. 3. Perseverança. 4. Serviço
prestado ao mestre. 5. Autocontrole. 6. Desapego em relação aos objetos dos
sentidos. 7. Desapego em relação à própria família. 9. Intensa devoção ao
Senhor. Todas essas qualidades plasmam o conhecimento e o oposto delas cria a ignorância.
Os versos de 12 a 15 descrevem o objeto a ser conhecido. Ao falar sobre esse
tema, o Senhor Krishna explicita aquilo que deve ser conhecido e afirma que
aquele que conhece Brahman, O Absoluto, atinge a imortalidade. O Brahman
Supremo não é Sat, existente, e nem Asat, inexistente. As mãos, os pés, os
olhos, a cabeça, a face e todas as demais partes do Senhor permeiam tudo e Ele é
supremo. Ele é Aquele que percebe todos os objetos sensoriais, ainda que Ele
seja desprovido de todos os sentidos. Embora seja desapegado e sem atributos. O
Senhor Krishna é aquele que sustenta todas as qualidades, Gunas, e com elas se
deleita. Ele está fora e dentro de todos os seres. A despeito de ser imóvel,
ele parece estar se movimentando. Ele está perto e, ao mesmo tempo, permanece
distante. Ele é sutil, logo é imponderável. Os verso 16 a 34 tratam do
conhecimento como uma descoberta da identidade espiritual da própria pessoa. A
recompensa dada pelo conhecimento é a realização de Deus. Nos versos de 19 a
22, o Senhor Krishna explica as diferenças existentes entre Prakriti e Purusha.
Os seres humanos deveriam entender que Deus está presente em todos os seres.
Ele é indestrutível. Ele nada faz. Todas as ações são desempenhadas pela Mãe
Natureza ou Prakriti. O senhor diz que quando um indivíduo compreende que ele é
uma parte de Deus ou Purusha e não uma parte da impermanente Prakriti, então
ele não nascerá novamente. No último verso, Krishna afirma que aquele que
entende essa diferença entre Kshetra e Kshetragya, alcançará a realização
divina. Texto Sagrado. “Arjuna: Dá-me, Oh Mestre Divino! Esclarecimento a
respeito daquilo que chamamos Matéria, e do que é o conhecimento e o conhecido.
Espírito; explica-me o que é que se denomina O Campo. A quem o conhecem os
sábios o chamam Conhecedor do Campo. Sabe que Eu sou o Conhecedor do Campo em
todos os Campos. A mim o discernimento entre o Campo e o Conhecedor do Campo é
a verdadeira Sabedoria. Ouve agora; quero falar-te da natureza da Matéria, sua
organização, suas propriedades, sua origem e transmutações. Igualmente falarei
do Espírito e seus sinais característicos. Este assunto foi descrito de
diferentes modos pelas Puranas, pelos vários Vedas e pelos aforismos de Vyasa,
com suas razões e decisões. Com o nome de Natureza Material designam-se os
elementos materiais, a consciência de personalidade, o intelecto, a força
vital, os centros dos sentidos, a mente, os órgãos dos sentidos. O amor e o
ódio, o prazer e a dor, a multiplicidade, a sensibilidade e coesão. A Sabedoria
Espiritual consiste em: modéstia, sinceridade, inocência, paciência, retidão,
respeito para com os superiores, castidade, constância, domínio de si próprio.
Ausência de sensualidade, ausência de orgulho e vaidade, conhecimento dos males
de nascimento e morte, velhice, doença e sofrimentos. Ela ensina a libertar-se
dos vínculos pessoais entre o possuidor da sabedoria e sua mulher, seus filhos,
sua casa. Dá constante equanimidade e tranquilidade de espírito, tanto na
ventura como na desventura. Ensina a verdadeira adoração e devoção, o auto
isolamento do mundo profano e a abstinência de divertimentos mundanos. Além
disso, o amor a Deus, a persistência no verdadeiro conhecimento e a meditação
sobre a verdade. Isto é chamado, pelos filósofos, Jnana, o conhecimento; o
contrário é Ajnana, a ignorância ; tudo o mais é ignorância. Agora,
explicar-te-ei qual é o objeto do conhecimento e qual a espécie de conhecimento
que confere a Imortalidade. O objeto do conhecimento é Parabrahman (1), que não
tem princípio nem fim, e não se pode chamar nem Ser, nem Não Ser. (!)
Parabrahman, a suprema divindade, Deus, no sentido cristão. Suas mãos, pés,
cabeças e faces estão em todas as partes. Ele vê tudo e tudo ouve, e contém em
si todo o Universo em que mora. Sem órgãos e sentidos próprios, manifesta-se,
entretanto, por todos os órgãos e sentidos do Universo inteiro. É intacto o
livro, o contém todas as coisas; em si mesmo é sem qualidades e, contudo, tem o
conhecimento de todas as qualidades e todos os atributos. Está dentro e fora de
todos os seres; é movente e também imovente. É tão sutil que é imperceptível,
está perto e ao mesmo tempo distante. Presente em todos os seres fragmentado,
mas realmente é indivisível. Conhecei esses Atmas como os sustentadores dos
corpos, reproduzindo-os e alentando-os. A Alma (Deus), é a luz das luzes. Ele é
o Conhecimento, o Conhecedor e o Conhecido. Mora nos corações de todos. Com
estas concisas palavras, dei-te a ideia do Campo, do Conhecimento e o objeto do
Conhecimento. Os sábios que isto conhecem, unificam-se Comigo. Sabe, Oh Arjuna!
Que tanto a Matéria, como o Espírito, são sem princípio e sem fim. Sabe também
que da Matéria procedem todas as modificações e qualidades e que, portanto,
transcende a toda Matéria. A Matéria, estando em contínuo movimento, produz
variadíssimas e mutáveis formas, o Espírito, porém, é a causa do sentimento de
prazer e dor. O Espírito, recebe as impressões das propriedades que emanam da
Matéria. O apego a estas qualidades determina a sua reencarnação em boas e más
matrizes. O Espírito Universal é espectador, diretor, protetor ou possuidor.
Ele é a Alma do Universo, a força que fecunda a Matéria, e permanece intacto no
meio das atividades desta. Quem compreende o que é a Matéria, o Espírito e as
propriedades da Matéria, como te expus, sente-se idêntico com o Espírito, é
filho da Luz, e quaisquer que sejam as condições da sua vida, pertence àqueles
que não estão mais sujeitos às reencarnações. Alguns chegam ao conhecimento do
seu Eu Espiritual por meio da meditação. Outros pelo pensar aprofundado e
alguns alcançam a percepção mediante
renuncia. Outros por meio de boas ações.
Há muitos que não descobriram esta verdade por si mesmos e em si mesmos, mas
ouviram a doutrina e os ensinos de outros, e respeitam-nos também estes, agindo
de acordo com a doutrina, vencem a morte pela força da fé. Sabe, Oh príncipe! Que
cada ser criado, seja animado ou inanimado, é produzido pela união do Campo com
o Conhecedor do Campo. Quem vê a Alma Universal imanente em todas as coisas,
imperecível ainda que em coisas perecíveis, esse em verdade vê. Vendo a mesma
Alma Universal imanente em todas as coisas, não cai no erro de identificar o
seu Eu com os princípios inferiores, e assim é livre da ilusão da mortalidade,
e elabora a sua Salvação. Verdadeiramente vê quem percebe que todas as ações
são executadas pelo corpo (ou Matéria), cujas qualidades, Gunas, atuam cada
qual à sua maneira, e não pelo Eu. Unifica-se com Deus quem vê que as
diferenças entre os seres e o aumento da família provém tão só de um dos dois
elementos reunidos, que é o corpo (ou Matéria). O imperecível e Supremo Ser,
sem princípio nem qualidades, conquanto resida no corpo, permanece impassível e
inativo. Como o éter que tudo penetra e nada o afeta sem razão de sua extrema
subtilidade, assim nada contamina o Espírito, ainda que, em todas as partes
resida na Matéria (ou corpo). Como o Sol ilumina todo este mundo, assim o
Senhor do Campo ilumina todo o Campo. Alcançam o Supremo aqueles que com os
olhos da sabedoria discernem a diferença entre o Campo e o Conhecedor do Campo,
bem com os meios de se libertarem da Matéria moldada na forma de um corpo". Abraço.
Davi.
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