quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Bhagavad Gita. O Campo do Conhecimento e Seu Conhecedor.



Comentário de Shri Mataji Nirmala Devi (1923-2011). O capítulo 13 do Bhagavad Gita traz o título O Campo do Conhecimento, Kshetra e Seu Conhecedor, Kshetragya. Os versos de 1 a 6 definem o campo do conhecimento, Krshetra e seu conhecedor, Kshetragya. O Senhor Krishna afirma que há dois elementos na consciência do ser humano: o objeto a ser conhecido e o sujeito que o conhece, vale dizer, aquilo que é visto e a pessoa que vê. O corpo físico representa o objeto e é chamado de campo, Kshetra. Aquele que vê ou o sujeito é o Espírito ou Jiva, Kshetragya. O Jiva não é apenas uma parte do corpo, mas é diferente dele e tem domínio sobre ele. Num sentido mais amplo, Kshetra ou campo não é somente um corpo individual, mas uma natureza universal e abrange: 1. Os cinco elementos: éter, ar, fogo, água e terra. 2. O egoísmo. 3. O intelecto. 4. O imanifestado, Muula Prakriti, a raiz da matéria. 5. A mente. 6. Os cinco objetos dos sentidos. 7. O desejo. 8. O ódio. 9. O prazer e a dor. 10. A vida e a vitalidade. Todos os corpos individuais ou Kshetras são constituídos pela combinação desses elementos e, em todos eles, o Senhor é o Conhecedor ou o Kshetragya. Os versos 7 a 11 definem o conhecimento e os meios utilizados por ele. O conhecimento consiste em saber a diferença entre o objeto e o sujeito, e entre o corpo e a alma. O conhecimento pode ser cultivado através das seguintes qualidades: 1. Ausência de orgulho e vaidade. 2. Paciência. 3. Perseverança. 4. Serviço prestado ao mestre. 5. Autocontrole. 6. Desapego em relação aos objetos dos sentidos. 7. Desapego em relação à própria família. 9. Intensa devoção ao Senhor. Todas essas qualidades plasmam o conhecimento e o oposto delas cria a ignorância. Os versos de 12 a 15 descrevem o objeto a ser conhecido. Ao falar sobre esse tema, o Senhor Krishna explicita aquilo que deve ser conhecido e afirma que aquele que conhece Brahman, O Absoluto, atinge a imortalidade. O Brahman Supremo não é Sat, existente, e nem Asat, inexistente. As mãos, os pés, os olhos, a cabeça, a face e todas as demais partes do Senhor permeiam tudo e Ele é supremo. Ele é Aquele que percebe todos os objetos sensoriais, ainda que Ele seja desprovido de todos os sentidos. Embora seja desapegado e sem atributos. O Senhor Krishna é aquele que sustenta todas as qualidades, Gunas, e com elas se deleita. Ele está fora e dentro de todos os seres. A despeito de ser imóvel, ele parece estar se movimentando. Ele está perto e, ao mesmo tempo, permanece distante. Ele é sutil, logo é imponderável. Os verso 16 a 34 tratam do conhecimento como uma descoberta da identidade espiritual da própria pessoa. A recompensa dada pelo conhecimento é a realização de Deus. Nos versos de 19 a 22, o Senhor Krishna explica as diferenças existentes entre Prakriti e Purusha. Os seres humanos deveriam entender que Deus está presente em todos os seres. Ele é indestrutível. Ele nada faz. Todas as ações são desempenhadas pela Mãe Natureza ou Prakriti. O senhor diz que quando um indivíduo compreende que ele é uma parte de Deus ou Purusha e não uma parte da impermanente Prakriti, então ele não nascerá novamente. No último verso, Krishna afirma que aquele que entende essa diferença entre Kshetra e Kshetragya, alcançará a realização divina. Texto Sagrado. “Arjuna: Dá-me, Oh Mestre Divino! Esclarecimento a respeito daquilo que chamamos Matéria, e do que é o conhecimento e o conhecido. Espírito; explica-me o que é que se denomina O Campo. A quem o conhecem os sábios o chamam Conhecedor do Campo. Sabe que Eu sou o Conhecedor do Campo em todos os Campos. A mim o discernimento entre o Campo e o Conhecedor do Campo é a verdadeira Sabedoria. Ouve agora; quero falar-te da natureza da Matéria, sua organização, suas propriedades, sua origem e transmutações. Igualmente falarei do Espírito e seus sinais característicos. Este assunto foi descrito de diferentes modos pelas Puranas, pelos vários Vedas e pelos aforismos de Vyasa, com suas razões e decisões. Com o nome de Natureza Material designam-se os elementos materiais, a consciência de personalidade, o intelecto, a força vital, os centros dos sentidos, a mente, os órgãos dos sentidos. O amor e o ódio, o prazer e a dor, a multiplicidade, a sensibilidade e coesão. A Sabedoria Espiritual consiste em: modéstia, sinceridade, inocência, paciência, retidão, respeito para com os superiores, castidade, constância, domínio de si próprio. Ausência de sensualidade, ausência de orgulho e vaidade, conhecimento dos males de nascimento e morte, velhice, doença e sofrimentos. Ela ensina a libertar-se dos vínculos pessoais entre o possuidor da sabedoria e sua mulher, seus filhos, sua casa. Dá constante equanimidade e tranquilidade de espírito, tanto na ventura como na desventura. Ensina a verdadeira adoração e devoção, o auto isolamento do mundo profano e a abstinência de divertimentos mundanos. Além disso, o amor a Deus, a persistência no verdadeiro conhecimento e a meditação sobre a verdade. Isto é chamado, pelos filósofos, Jnana, o conhecimento; o contrário é Ajnana, a ignorância ; tudo o mais é ignorância. Agora, explicar-te-ei qual é o objeto do conhecimento e qual a espécie de conhecimento que confere a Imortalidade. O objeto do conhecimento é Parabrahman (1), que não tem princípio nem fim, e não se pode chamar nem Ser, nem Não Ser. (!) Parabrahman, a suprema divindade, Deus, no sentido cristão. Suas mãos, pés, cabeças e faces estão em todas as partes. Ele vê tudo e tudo ouve, e contém em si todo o Universo em que mora. Sem órgãos e sentidos próprios, manifesta-se, entretanto, por todos os órgãos e sentidos do Universo inteiro. É intacto o livro, o contém todas as coisas; em si mesmo é sem qualidades e, contudo, tem o conhecimento de todas as qualidades e todos os atributos. Está dentro e fora de todos os seres; é movente e também imovente. É tão sutil que é imperceptível, está perto e ao mesmo tempo distante. Presente em todos os seres fragmentado, mas realmente é indivisível. Conhecei esses Atmas como os sustentadores dos corpos, reproduzindo-os e alentando-os. A Alma (Deus), é a luz das luzes. Ele é o Conhecimento, o Conhecedor e o Conhecido. Mora nos corações de todos. Com estas concisas palavras, dei-te a ideia do Campo, do Conhecimento e o objeto do Conhecimento. Os sábios que isto conhecem, unificam-se Comigo. Sabe, Oh Arjuna! Que tanto a Matéria, como o Espírito, são sem princípio e sem fim. Sabe também que da Matéria procedem todas as modificações e qualidades e que, portanto, transcende a toda Matéria. A Matéria, estando em contínuo movimento, produz variadíssimas e mutáveis formas, o Espírito, porém, é a causa do sentimento de prazer e dor. O Espírito, recebe as impressões das propriedades que emanam da Matéria. O apego a estas qualidades determina a sua reencarnação em boas e más matrizes. O Espírito Universal é espectador, diretor, protetor ou possuidor. Ele é a Alma do Universo, a força que fecunda a Matéria, e permanece intacto no meio das atividades desta. Quem compreende o que é a Matéria, o Espírito e as propriedades da Matéria, como te expus, sente-se idêntico com o Espírito, é filho da Luz, e quaisquer que sejam as condições da sua vida, pertence àqueles que não estão mais sujeitos às reencarnações. Alguns chegam ao conhecimento do seu Eu Espiritual por meio da meditação. Outros pelo pensar aprofundado e alguns  alcançam a percepção mediante renuncia. Outros  por meio de boas ações. Há muitos que não descobriram esta verdade por si mesmos e em si mesmos, mas ouviram a doutrina e os ensinos de outros, e respeitam-nos também estes, agindo de acordo com a doutrina, vencem a morte pela força da fé. Sabe, Oh príncipe! Que cada ser criado, seja animado ou inanimado, é produzido pela união do Campo com o Conhecedor do Campo. Quem vê a Alma Universal imanente em todas as coisas, imperecível ainda que em coisas perecíveis, esse em verdade vê. Vendo a mesma Alma Universal imanente em todas as coisas, não cai no erro de identificar o seu Eu com os princípios inferiores, e assim é livre da ilusão da mortalidade, e elabora a sua Salvação. Verdadeiramente vê quem percebe que todas as ações são executadas pelo corpo (ou Matéria), cujas qualidades, Gunas, atuam cada qual à sua maneira, e não pelo Eu. Unifica-se com Deus quem vê que as diferenças entre os seres e o aumento da família provém tão só de um dos dois elementos reunidos, que é o corpo (ou Matéria). O imperecível e Supremo Ser, sem princípio nem qualidades, conquanto resida no corpo, permanece impassível e inativo. Como o éter que tudo penetra e nada o afeta sem razão de sua extrema subtilidade, assim nada contamina o Espírito, ainda que, em todas as partes resida na Matéria (ou corpo). Como o Sol ilumina todo este mundo, assim o Senhor do Campo ilumina todo o Campo. Alcançam o Supremo aqueles que com os olhos da sabedoria discernem a diferença entre o Campo e o Conhecedor do Campo, bem com os meios de se libertarem da Matéria moldada na forma de um corpo". Abraço. Davi.

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