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de Shri Mataji N. Devi (1923-2011). Nesse capítulo 15º do Bhagavad Gita o Senhor Krishna
diz que o mundo criado é como uma árvore poderosa cujas raízes estão em Deus,
cujos galhos são representados por Brahma e cujas folhas são os Vedas. Aquele
que sabe disso, é um conhecedor dos Vedas. Alimentados pelas Gunas, com folhas
tenras como os objetos dos sentidos, os galhos se estendem em todas as
direções. Aquele que se deixar envolver pelos galhos não poderá compreender de
onde eles surgem e nem entender os valores que a árvore produz. O Senhor Krishna
aconselha a todos que cortem essa árvore com o formidável machado do desapego.
O caminho para o Espírito Supremo, a Realização Divina, passa pela busca
daquele Estado Supremo a partir do qual evoluiu a criação. Deve-se permanecer
nesse estado e meditar sobre ele. Em seguida, o Senhor explica a Glória e o
caráter essencial de Deus. O Senhor Krishna afirma que o Seu próprio brilho faz com que
fulgurem o Sol e a Lua. Assim também, em relação ao brilho do fogo. Ao penetrar
a Terra, o Senhor sustenta todos os seres. Transformando-se na Lua, Ele nutre
todos os vegetais. Associando-se ao Prana, isto é, a energia da inspiração, e
ao Apana, isto é, a expiração, Ele digere os quatro tipos de alimentos sob a
forma de Vaishwanara. O Senhor habita o coração de todos os seres. Emanam do
Senhor, a memória, o conhecimento e o esquecimento. Em todos os Vedas, Ele deve
ser reconhecido. Ele é o autor da Vedanta e conhece todos os Vedas. Nos versos
de 16 a 20, o Senhor explica o significado de Kshara Purusha, Akshara Purusha e
Purushothama. Há dois tipos de Purushas nesse mundo: Kshara ou perecível,
enquanto que o Jivatma é imperecível. O Ser Supremo é chamado de Paramatman,
que é o Senhor indestrutível. Ele permeia e sustenta os três mundos. O Senhor
disse: Eu transcendo Kshara e Akshara. Sou conhecido no mundo e nos Vedas como
Purushothama. Aquele que Me conhece como Purushothama sabe tudo e Me adora de
todo o coração. Quem compreender isso terá cumprido a sua missão na Terra.
Segue a Escritura Sagrada. “Continua Krishna: Os Vedas descrevem Asvatha, Ficus
Religiosa, sendo uma árvore invertida, com as raízes para cima e os galhos para
baixo. É imperecível, e suas folhas correspondem aos hinos Vêdicos. Quem a
conhece é conhecedor dos Vedas. Seus galhos alçam-se para o céu e vergam-se até
a terra; sua seiva sustentadora representa as Gunas, qualidades, e seus
rebentos equivalem aos objetos sensórios. Suas radículas, pequena raiz,
pendentes até o solo, significam as ações engendradas no mundo dos homens, que os
reatam com laços cada vez mais apertados. Não é possível conhecer-se aqui a
natureza, fim e sustentáculo dessa Asvatha, tão solidamente radicada. Abatei-a,
pois, com o potente machado do discernimento. Então poderá ser Buscada aquela
meta, donde não retornam mais os homens que a atingirem. Que solicitem o
auxílio do Ser que é a Fonte primária donde flui esta remotíssima corrente de
apegos. Que se libertem da ilusão do egoísmo, vençam o pecado dos apegos e
residam sempre no Eu. Então abandonarão
os objetos sensórios e com eles desaparecerão os opostos conhecidos como prazer
e dor. Contemplarão vivamente o Eu, e assim atingirão a meta imutável. Ali não
há brilho do Sol, nem da Lua, nem do Fogo. Minha é a Luz Infinita, da qual não
retornam os homens que a tenham alcançado. No mundo dos vivos, um fragmento de
mim mesmo se transforma num Espírito imortal, que do reservatório da Natureza
atrai para si os cinco sentidos e a mente. Quando o Eu, o governador dos
sentidos e da mente, toma um corpo ou o abandona, recolhe-os e leva-os consigo,
procede o vento com o perfume das flores. O Eu, unido à vista, ouvido, olfato,
paladar e tato. A mente faz experiência com os objetos dos sentidos. Os
ignorante e iludidos não vêm o Eu, quando deixa o corpo, nem quando está nele,
nem sabem como se encarna o Espírito, unindo-se as três Gunas. Os iluminados e
os Yogues o vêm e conhecem. Mediante frequente meditação, alcançam a percepção
dele em si mesmos. Mas aqueles cujas mentes estão obscurecidas, não o percebem,
ainda que o procurem. Sabe, Oh Arjuna, que a luz radiosa que se desprende do
Sol, iluminando o mundo inteiro é refletida pela Lua e a chama ígnea que a tudo
abrasa, provêm todas de mim. Eu penetro na Terra e sustento todas as coisas com
a minha força viva. Eu Sou a seiva das plantas e dos vegetais. Como as forças
vitais, o Fogo da vida, penetro no corpo que respira e, unido com a inalação e
a exalação, dirijo os processos digestivos, assimilativos e eliminativos. Eu
resido nos corações e nas mentes dos homens, e de mim provêm a memória, o
entendimento e a privação de ambos. Eu Sou, o que se há de conhecer nos Vedas.
Eu Sou o conhecedor dos Vedas e o autor do Vedante. Há dois aspectos neste
mundo: a Unidade e a Pluralidade, A Alma Superior e as Almas inferiores, O
Indivisível e o Divisível. O Indivisível é superior a todas as formas da
Natureza. Estes dois aspectos formam a Unidade Universal. Mas há ainda um Ser
Supremo, o Espírito Absoluto, a Alma das Almas, o Sustentador, o Origem e o
Senhor de Tudo. Eu Sou este Espírito Absoluto, e estou dentro e acima da Alma
Uma e da Alma múltipla. Por isso, as
escrituras me denominam o Altíssimo. Quem, com a mente desanuviada, me conhece
assim como o Altíssimo, a tudo conhece, Oh Arjuna, e de todos os modos me
adora. Declarei-te, pois, este secreto ensinamento. Sábio é quem o compreende,
e cumprida está a tua tarefa”. Abraço. Davi.
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