quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A Verdade Está Além da Realidade.



Refletiremos sobre a escritura de João 14:1-12 "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu não teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis o caminho. Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho? Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim. Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o que nos basta. Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras. Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas obras. Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai". Dois aspectos para compreendermos a humanidade e divindade de Jesus Cristo é o que os estudiosos da ciência esotérica costumam chamar de o Cristo mítico e o Cristo histórico. Há consenso na literatura universal e tradição religiosa de todas as espiritualidades de que Jesus o filho de Deus, como homem, nasceu provavelmente no início de nossa era, até a primeira metade do século I. A data de seu nascimento é controversa, mas as alusões referentes ao culto do deus sol, praticado na Roma antiga, advindo da mitologia do deus egípcio hórus, que era realizada no equinócio de verão no hemisfério sul, pode trazer a data de sua natividade para 21 de junho a 23 de setembro. Assim o 25 de dezembro em todas as pesquisas científicas não tem embasamento confiável. Foi uma data convencionada pela igreja, a partir do ano 353, quando era papa Damaso I (305-384), sendo apoderada pelo capitalismo como motivo de consumo e entretenimento, muito mais, que um momento de comunhão, reflexão e meditação sobre o nascimento do salvador do mundo. Inclusive o historiador judeu Flávio Josefo (37-100) atestando a veracidade da vida do Cristo não sabe precisar quando ele veio ao mundo. Sua infância foi normal como de qualquer criança. Entretanto em sua adolescência um fator marcou sua excepcionalidade aos doze anos, pois quando seus pais visitavam o templo em Jerusalém, na festa anual da páscoa, ele acabou se perdendo de seu genitores. E dias depois foi encontrado entre os doutores da lei judaica, os fariseus, saduceus e escribas discutindo com eles a respeito dos preceitos mosaicos. É sabido que o Jesus histórico era um iniciado nos mistérios dos Essênios, uma seita judaica asceta e austera que abstinha-se inclusive do casamento, procurando um viver de pureza física e mental. Praticavam também a meditação e invocação as divindades estabelecidas pela comunidade. Imagina-se que pela experiência com esse movimento, Jesus, adquirirá conhecimento sobre magia, teurgia, poderes ocultos da natureza e uso da consciência evolutivo pela telepatia, telecinesia e taumaturgia (milagres). Também o conhecimento da cultura, espiritualidade e mistérios do judaísmo especificamente contidos na Cabala. Com essas características sobre-humanas. O Mestre Jesus, desenvolveu seu ministério apostólico de amor ao próximo, acolhimento dos oprimidos, conforto aos desesperançados, alívio aos doentes e certeza de vida eterna sem dor, sofrimento ou morte. O Cristo Mítico envolve seu aspecto divino quando se percebe elementos não humanos em sua constituição espiritual. Nesse panorama ele, em muitas aparições, mostrava-se num corpo sutil e plasmado. Particularmente, para uma explicação mais razoável, traçamos uma linha imaginária, procurando comparações da vida do Cristo com outras divindade de espiritualidade divergentes do cristianismo. O estudo das mitologias e religiões comparadas, ajuda-nos a desvendar inúmeras situações ocorrida com o Cristo, vistas anteriormente em importantes divindades de outras tradições com semelhanças impressionantes. A pessoa de Krishna que viveu aproximadamente 3.000 AC, se encaixa nesse suposto modelo que estamos imaginando. Assim como o Cristo foi perseguido em seu nascimento por um rei, Herodes, e um grupo de magos guiados por uma estrela encontraram o menino Deus em uma manjedoura. Krishna quando criança, foi também perseguido por um rei que, tentando encontrá-lo ordenou que as crianças, recém nascidas da cidade fossem mortas. Como no caso específico de Cristo, Krishna era visto desde seu nascimento como ameaça ao destronamento do soberano. Krishna foi concebido de uma virgem que não havia tido contato com nenhum homem conforme a tradição hindu. Sendo seu nascimento referendado por uma estrela. Um detalhe importante essa virgem, sua mãe, faz parte do arcabouço da tradição de divindades veneradas pelo povo hindu. Igualmente a Santíssima Virgem e Imaculada Maria é adorada pelos cristãos católicos como a Mãe de Deus. Deusa de todos os anjos e seres espirituais. O Cristo teve uma concepção virginal, concebido por obra e graça do Espírito Santo. Krishna operava milagres e maravilhas, usando parábolas para falar as pessoas sobre amor e caridade; foi transfigurado diante dos discípulos e mortos flechado, encostado a uma árvore aos 30 anos. O Cristo foi atravessado por uma lança quando estava numa cruz de madeira. Na mitologia hindu Krishna ressuscitou dos mortos ascendendo aos céus. Esses eventos aconteceram com Cristo, mostrando que as religiões se interpenetram e suas mitologias estão entrelaçadas num inconsciente coletivo arquetípico, que desde o surgimento do homem na terra, forma todas as tradições espirituais universais. Desse modo através das divindades antigas, podemos aprender lições para nossa busca espiritual, comparando a vida dos mitos e encarnações de seres divinos com a realidade de caminhar nessa mesma direção em nossa encarnação atual e nas reencarnações futuras. Lembrando que assim como o Cristo representa a segunda pessoa da Trindade Divina, sendo a encarnação do Logos Eterno, o Pai; Krishna é também a encarnação de Vishnu, o Deus Conservador e Harmonizador na Trimurti Hindu. Esse texto de João 14, que estão abordando,  não tem margem à uma interpretação literal, a essência do argumento foge aos sentidos e percepção do observador, que precisará intuir os conceitos apresentados para uma compreensão razoável. As muitas moradas da casa do Pai, evidentemente, não são no sentido denotativo real. Como pensar que Deus estaria construindo no céu casas, mansões, apartamentos e alojamento para seus servos, conforme a fidelidade e desprendimento de cada um em servir a Ele? Essas muitas moradas é explicado na narrativa como sendo o próprio Pai, Deus. Um dia no tempo, eternidade, saímos da casa do Pai, mas todos os seres humanos sem exceção, retornarão à mesma casa do Pai na eternidade futura. Se é que podemos mensurar o mistério da eternidade no tempo. A figura do filho pródigo em Lucas 15, incluindo seu irmão que ficou na casa, é um exemplo dessa trajetória que percorreremos à evoluir através de erros, pecados, obstáculos e vicissitudes enfrentadas em nosso cotidiano. A disciplina cármica é corretiva e pedagógica, nos aperfeiçoando nos vícios à que não caíamos novamente neles. Quanto as virtudes, tentações e provações que suportamos hoje, retificam as situações que somos reprovados em nossa encarnação presente, que está ligada a passada.  Como o Pai nos ama incondicionalmente, estará sempre de braços abertos à receber-nos novamente. O Mestre em sua sabedoria, conhecia a profundidade do coração de seus discípulos, por isso incitou-os a ponderar sobre o caminho, verdade e vida. Apesar deles estarem envolvidos no ministério do Cristo, ainda não conheciam seu propósito último. A verdade é o objetivo daqueles que se aproximam de Deus com coração puro e mente sensível a divindade. Onde há mentira não existe verdade. A verdade tem como esfera mística o amor, que é sua outra face; a praticidade da teoria colocada em atividade ao benefício do próximo. O conceito de verdade apenas como conhecimento imóvel fica vazio sem um direcionamento à convivência relacional. Entendo que quando Jesus diz ser a verdade, ele está mostrando aos discípulos que todos nós, temos a oportunidade de tomar posse da verdade praticando o voluntariado, fraternidade e virtuosidade. A mentira é o oposto da verdade, como é explicado pelo Mestre aos fariseus hipócritas em João 8:44 "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer aos desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira". Como verdade, imagino que o Mestre quis dizer, uma construção realizada por cada indivíduo em sua encarnação passada, presente e futura. A partir do princípio chrístico ou búdhico contido em todos os humanos chegaremos a essa verdade, mais cedo ou mais tarde. Claro que para assimilarmos a totalidade da verdade passaremos por inúmeras vidas, mas cada encarnação é uma oportunidade de vivermos a verdade de maneira intensa e mútua com o nosso próximo. Jesus respondeu a Felipe, quando este perguntou mostra-nos o pai e isso nos basta? Dizendo: Quem me vê a mim vê o Pai. Aqui é manifestado a identificação em substância do Cristo, correspondente ao Messias no hebraico, como o encarnado foi de Deus Pai. Ele era humano, mas divinizou-se pela natureza espiritual, sendo Deus e homem simultaneamente. Aquilo que o budismo chama de estado iluminado ou desperto. Esse texto em epígrafe na introdução, é anterior a Mateus 17 referente a sua transfiguração, iluminação, nirvana ou samadhy do Cristo. Ele como o Messias, enviado de Deus, em seu corpo etéreo era atemporal, entrando no tempo ao encarnar no ventre da Virgem Santíssima e Imaculada Maria. Esse fato é provado num diálogo que o Mestre teve com os judeus descrito em João 8:56-59 "Abraão, o vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o e alegrou-se. Disseram-lhe pois os judeus. Ainda não tens cinquenta anos e viste Abraão? Disse-lhes Jesus: em verdade, em verdade vos digo; que antes que Abraão existisse Eu Sou. Então pegaram em pedras para lhe atirarem, mas Jesus ocultou-se e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou". O Eu Sou é uma referência ao inpronunciável nome de D'us manifestado nas quatro consoantes YHWH, que os místicos cabalista consideram a totalidade da substância divina. Jesus era a encarnação do EU SOU, vivendo num tempo anterior a Abraão. Segundo o esoterismo cristão o Melquisedeque que aparece no texto de Gênesis 14:18, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo que trouxe pão e vinho a Abrão, abençoando-o após vencedor de uma batalha; este é o Cristo filho de Deus. Plotino (204-270) num de seus aforismo fala "Os olhos não veriam o sol, se não fossem parecidos com o sol. A alma não verá a beleza se ela não for bela". Podemos inferir um paralelo nessa máxima com o entendimento de verdade que estamos elaborando. Só temos condições de enxergar, compreender a verdade daquilo que corresponde a nossa experiência espiritual; ela deve conformar-se com nosso modelo de vida transcendente. Nesse conceito, percebemos que a verdade deve evoluir em nosso ser de dentro para fora. O contrário, de fora para o interior, não representará a verdade além da realidade, pois a realidade nem sempre é a verdade, mas a verdade sempre é a realidade individual e pessoal que você desfruta na sua consciência presente e no seu inconsciente passado. Nossos sentidos, percepções e emoções não são confiáveis à compreendermos a verdade como realidade. Um exemplo simples foi mostrado por Issac Newton (1643-1727) quando fez uma experiência em que girava um disco com as cores do arco-íris em alta velocidade. A impressão, ilusão, que se tem quando o disco é visualizado é que ele tem apenas a cor branca, mas na realidade ele tem sete cores. O mesmo princípio se aplica a verdade, como o Mestre nos mostrou em João 14; nem sempre o que vemos ou sentimos corresponde a realidade como verdade. Em nossa experiência interior e mística (êxtase) poderemos acessar fragmentos dessa verdade, pois ela é um feixe de luz dentro de nosso inconsciente universal. Abraço, Davi. 

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