sábado, 17 de outubro de 2015

Bhagavad Gita. A Diferenciação das Três Gunas da Natureza.



Comentário de Shri Mataji N. Devi (1923-2011). Nesse 14º capítulo do Bhagavad Gita o Senhor Krishna afirma que é a natureza matriz universal na qual Ele coloca sua semente. Dessa união, nascem todos os seres e, portanto, ele é a fonte de toda a criação e seu gerador. O processo contínuo de criação é testemunhado pelo Senhor. As três Gunas: Sattva, Rajas e Tamas, têm a sua origem em Prakriti, natureza. As características de cada uma dessas três Gunas são: Sattva, pureza e equilíbrio; Rajas, paixão e agitação; Tamas, inércia e ignorância. Todas as coisas na vida são limitadas e dominadas por essas três Gunas. A vida do ser humano e suas ações são influenciadas por elas. Sendo Sattva a pureza, ela é luminosa e brilhante como um cristal. Está livre do mal e das perturbações. Por isso, ela se vincula e se conecta à felicidade e ao conhecimento. Rajas é a fonte do desejo, da luxúria e dos apegos. Por isso, vincula-se à ação, dado que, a partir do desejo e dos apegos, surge a necessidade de agir. Desejar significa ansiar por coisas ainda não alcançadas. Ter apego significa apreciar e querer manter coisas já obtidas. Tamas, vincula-se à inércia, à preguiça e ao sono. As consequências da atuação de cada uma dessas Gunas são: pureza e equilíbrio que emergem de Sattva. Dor e sofrimento surgem de Rajas e a ignorância e a estupidez se originam de Tamas. O que acontece com aqueles que seguem essas Gunas?  Os Sattvikas sobem para o Satyaloka, a morada de Brahma. Os Raajasikas passam a morar num mundo intermediário e nascem no mundo dos seres humanos. Os Taamasikas vão para os mundos inferiores e nascem como criaturas inferiores. Aquele que se eleva acima dessas três Gunas é chamado de Trigunaathitha. Ele não mais se identifica com os momentos passageiros de felicidade ou de tristeza, porque compreende que isso não são apenas emoções de um corpo físico impermanente e não emanam de seu verdadeiro ser, dado que ele agora está identificado com Deus. Ele se comporta da mesma maneira diante do prazer e da dor, e mantém a mesma atitude diante dos amigos e inimigos. Jamais sente que é o verdadeiro executor do que quer que seja. O Senhor conclui afirmando que somente um indivíduo que tenha uma fé completa e uma devoção profunda, pode tornar-se um Trigunaathitha e ser capaz de alcançar Brahman. Segue o texto sagrado. “Continua Krishna: Presta atenção, Oh Arjuna! Quero dar-te ainda mais esclarecimentos e ensinar-te mais verdades da Suprema Sabedoria. Esta Sabedoria é o melhor que se pode possuir. Os sábios e santos que a possuíram chegaram as Alturas da Suprema Perfeição. Tendo alcançado o Supremo Conhecimento vieram unir-se comigo, entrando em meu Ser. Eles não renascerão, nem quando um novo Universo for criado, e a dissolução do Universo não os tocará. Este Universo de matéria é a minha matriz, em que ponho o germe de que provém todos os seres. Quaisquer que sejam as matrizes de que nascem os seres, este Universo é a sua matriz, e Eu, o Pai inoculador. A Matéria tem três qualidades, principais ou Gunas, que se chamam: Sattwa ou Harmonia. Rajas ou movimento e Tamas ou inércia. Estes três atributos vinculam a alma ao corpo ou Espírito à Matéria. Os seus vínculos são diferentes, mas todos são vínculos. Sattwa, a harmonia, sendo pura e imaculada, vincula a alma pelo amor ao conhecimento e a harmonia. Quem está em seu poder, renasce por causa dos vínculos que o prendem ao saber e a beleza. Rajas, a emoção, é a natureza passional, o desejo que vincula a alma, incitando-a a ocupar-se da ação e dos objetos e levando-a ao renascimento pelo apego à ação. Tamas, a inércia, vincula a alma pelos laços da negligência, apatia e preguiça. Sattwa, harmonia, prende à felicidade; Rajas, emoção, ata a ação; mas Tamas, inércia, obscurecendo a reta percepção, encadeia os mortais à indolência. Quando o homem venceu Tamas e Rajas, reina nele Sattwa só. Quando desapareceu Rajas e Sattwa, domina o Tamas. E quando desapareceu Tamas e Sattwa, governa Rajas. Vendo a Sabedoria manifestada em alguém, sabe que Sattwa é a Guna que o domina. Onde se vê avidez, obstinação, muita atividade, agitação e desejo. Ali Rajas exerce o seu poder. Quando aparece estupidez, preguiça, vaidade e falta de ideias, Tamas está no trono. Se na hora de sua morte prevalece a Harmonia, o homem vai, para os imaculados, mundos dos grandes sábios. Mas se predomina a emoção, renasce o homem, entre os inclinados à ação. E se na inércia desaparece, volta a nascer entre os ignorantes. O fruto de uma boa ação é puro e harmônico, o fruto da emoção é em verdade dor, mas o da inércia é ignorância. Da harmonia procede o  conhecimento, da emoção, o desejo, e da inércia, o erro, a ignorância, a preguiça. Os que estão situados na harmonia, ascendem ao alto. Os ativos moram na região intermediária, e os inertes se afundam nas mais vis qualidades. Quando o vidente se apercebe de que as qualidades são o único agente, e reconhece aquele que se sobrepõe as qualidades, então participa de minha natureza. Quando a alma encarnada ultrapassar essas três qualidades que aparecem com a formação de um corpo, e quando se tornou consciente do que existe além delas, libertou-a dos vínculos das Gunas.  E, por conseguinte, também dos vínculos do nascimento e da morte, da velhice e do sofrimento, e bebe o néctar da imortalidade. Pergunta Arjuna: e como se pode conhecer, Oh Senhor! Aquele que alcançou essa vitória? Como vive e como vence essas três qualidades? Responde Krishna: diz-se que ultrapassou as qualidades quem, sentindo o efeito que as qualidades produzem, percepção, ação ou ilusão, não lhe repugnam os maus frutos advindos nem anseia pelos bons frutos frustrados. Aquele que, como neutro espectador, não é comovido pelas qualidades, mas imperturbável se retrai delas com o pensamento, as qualidades desempenham sua tarefa. Aquele que, equânime no prazer e na dor, fixa-se no Eu, olhando indiferente a argila, a pedra e o ouro. Que firme no louvor e no vitupério, recebe com a mesma afabilidade as coisas agradáveis e desagradáveis. Aquele que com igual indiferença aceita as honrarias e os vitupérios. Que por igual olha os amigos e inimigos, e desprendido de todos os compromissos. Aquele que se consagra exclusivamente a mim pela Yoga da devoção. Esse supera tais qualidades e unifica-se com o Eterno. Pois Eu, sou a causa principal de se tornar alguém o Eterno, imortal e imperecível; da conquista do sempre inesgotável poder, e da bem aventurança obtida com sincera e pura devoção”. Abraço. Davi.

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