quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O Progresso Espiritual.



Gênesis 29:10-19 “Partiu, pois, Jacó de Berseba, e foi a Harã; E chegou a um lugar onde passou a noite, porque já o sol era posto; e tomou uma das pedras daquele lugar, e a pôs por seu travesseiro, e deitou-se naquele lugar. E sonhou: e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela. E eis que o Senhor estava em cima dela, e disse: Eu sou o Senhor Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência. E a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra. E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado. Acordando, pois, Jacó do seu sono, disse: Na verdade o Senhor está neste lugar; e eu não o sabia. E temeu, e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos céus. Então levantou-se Jacó pela manhã de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por seu travesseiro, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela. E chamou o nome daquele lugar Betel; o nome porém daquela cidade antes era Luz”. Esse texto bíblico tem na tradição católica a ideia de progresso espiritual. A escada com seus degraus, sonhada por Jacó, representa os vários níveis a que o fiel, servo ou seguidor de Cristo, deve se esforçar para alcançar seu topo como o estado de união com Deus, o Nirvana budista ou o Moksha hinduísta, que cessará o sofrimento, morte e renascimento. O desperto, nesse caso, só retornará como um grande ser bodhisattva, avatar, mahatman ou mestre de sabedoria. Isso é visto na vida de grandes místicos e mestres espirituais, que chegaram a uma iluminação no cristianismo como São João da Cruz (1542-1591), Mestre Eckhart (1266-1328), São Francisco de Assis (1242-1282), Madre Tereza de Calcutá (1910-1997) e outros. A escada no sonho também tipifica o elemento sagrado, pois os anjos subiam e desciam por ela, e o próprio Senhor estava nela. Isso nos reporta a importância dos rituais nas congregações e igrejas, onde os símbolos, principalmente os sacramentos (pão e vinho) nelas constantes, dão forma, corporificando a presença dos anjos entre a comunhão da irmandade. Eles como sabemos não têm matéria apenas espírito. Na filosofia espiritualista oriental os budistas não concebem a ideia de alma, pois contrapõe-se ao espírito que não reencarna, mas renasce ou transmigra (do latim transmigrare ou mudar a alma de um corpo para outro). Isso vem do conceito de impermanência e vacuidade postulado pelo Budha, onde o Eu e o Não Eu sendo transitórios se anulariam nos milhões de vida que presentificamos em nossa existência. Essa transmigração vêm com elementos reparados pelo carma positivo e negativo, pois ainda não alcançaram a retificação definitiva desse nível, precisando ser provados e aprovados na disciplina pedagógica evolutiva. Nesse estágio o renascimento é precedido por um período de purgação, purificação, antes de entrar no devachan, o céu cristão; uma “temporada” de gozo até voltar a renascer. Outros por praticarem mais méritos e virtudes, vão direto ao devachan, estando por lá, segundo a doutrina esotérica, por mais ou menos mil e quinhentos anos, voltando a reencarnar. Algumas individualidade vão ao inferno, e até renascem nele. Isso sucedesse devido a práticas amorais, imorais e antiéticas com licenciosidade (agir de maneira moral ou sexual desregradamente) em relação ao próximo e despudor em relação aos pais, que pelo seu vulto expressivo devem passar por um tratamos mais depurado e consolidado por mais tempo. Mas, quando esse propósito se justifica pela disciplina, retornam aos renascimentos completando seus ciclos evolutivos; nada de fogo eterno como postula o cristianismo.. Os hindus já pensam no Espírito Universal, A Alma Cósmica, chamada de Atma à qual tudo e todos se convergirão um dia; essa ideia está representada no sagrado livro do Bhagavad Gita.  No hinduísmo o termo reencarnação é aceito, sendo nossas atitudes e comportamentos virtuosos e viciosos que tomarão um novo corpo. Dependendo de nossos méritos, será num humano ou acentuando-se mais deméritos em algum dos reinos inferiores (mineral, vegetal ou animal) da natureza. A ocultista Helena P. Blavatsky (1831-1891) diz em seu livro A Doutrina Secreta que passaremos por 777 encarnações. Talvez uma alusão a passagem bíblica de Gênesis 5: 31 "E foram todos os dias de Lameque setecentos e setenta e sete anos e morreu". Em um dos Sutras o Budha diz que passou por milhões de vidas, antes de chegar ao estado desperto da Iluminação. Lembrando que o princípio crístico e bhúdico está em nós. O ponto comum entre budistas e hinduístas é quanto nossa evolução, progresso espiritual, que está sendo realizado, em alguns indivíduos lenta e regressivamente em suas reencarnações e noutro constante e gradualmente nas recentes reencarnações. Nossa cristificação, o processo de nos tornar deuses, como o Mestre Jesus disse em João 10:34 “Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na lei: Eu disse, sois deuses?” é um procedimento que envolve inúmeras vidas; encarnações que não sabemos precisar a quantidade, mas ao final alcançaremos a extremidade da escada, nos mesclando a Divindade Suprema; cumprindo o versículo de João 10:30 “Eu e o Pai somos um”. Nesse aspecto, devemos fazer alguns esclarecimentos à que tenhamos uma compreensão sensível desse ensinamento da reencarnação que nos habilita a cristificação, já que em minha opinião, uma vida apenas, é insuficiente à tornar-nos iluminados ou despertos como Budha, Krishna, Cristo ou um dos mestre citados acima. Até o século VI da era cristã a comunidade dos discípulos e seguidores de Jesus, chamado pelos historiadores de cristianismo primitivo praticavam o esoterismo encontrado nas páginas das Sagrada Escritura Cristã, claro que de maneira velada, tendo-se requisitos a acessar esse conhecimento. Essa doutrina segundo um dos país da igreja chamado Orígenes de Alexandria, discípulo de Clemente de Alexandria (150-215) tinha fundamentação bíblica. Segundo pesquisadores, Orígenes reunia-se com uma comunidade desses cristãos, sendo um de seus principais e tendo um conhecimento enciclopédico, raríssimo para sua época. Sondagens investigativas mais conservadoras dizem que ele é autor de pelo menos 2000 volumes de estudos teológicos e religiões comparadas. Em seus estudos filosóficos conciliou o platonismo com o cristianismo em muitas de suas hipóteses teóricas. Assim assuntos como metempsicose, transmigração de almas, apocatástase, clarividência, áudio vidência, projeção de consciência e reencarnação, todos discutidos por Platão (428 AC 347) em muitos de seus diálogos, eram também explicados e discutidos na comunidade cristã primitiva. Lembrando que a comunidade dos primeiros cristãos moravam a relativa distancia da cidade de Alexandria, onde havia um museu e uma famosa biblioteca com milhares de volumes do conhecimento mundial em papiros e pergaminhos. Plotino (204-270) e Amônio Saccas (175-242) que cunharam o termo teosofia ou sabedoria divina, estudaram nessa biblioteca tornando-se grandes sábios e místicos; deixando muitos escritos neoplatônicos que foram depois estudados por Orígenes, do qual postulou toda sua doutrina espiritualistas contidas em quatro famosas obras: De Príncipes, Exacta, Contra Celsius e Periarcon. Nessa última obra, ele detalha com mais ênfase os aspectos esotéricos das escrituras cristãs, incluindo a reencarnação ou transmigração de almas como vista por Platão e os Neoplatônicos que retiraram dos livros sagrados hindus e budistas seus pressupostos e conceitos básicos. Infelizmente a obra teológica de Orígenes foi censurada pela igreja católica de então, e pra piorar, o imperador Justiniano ordenou a destruição da biblioteca de Alexandria (415) onde estava a maioria de seus livros, acabando com todo o legado de conhecimento depositado naquela instituição do saber humano. A censura aos escritos de Orígenes aconteceu no Concílio de Constantinopla II em 553, pois até essa época o ensino esotérico dos textos sagrados cristãos eram normalmente explanados em público e aos iniciados nos mistérios do reino de Deus. Assim a hierarquia superior católica reunida em conclave para substituir o papa Virgílio (500-553) que tinha posições liberais, inclusive aceitando as posições esotéricas de Orígenes, bem como a reencarnação. Eles, nesses encontros, segundo historiadores, sem critérios, especificações ou consulta as bases eclesiásticas para mensurar o impacto nos cânones sagrados. Arbitrariamente impuseram suas opiniões, castrando a riqueza da sabedoria divina advinda das interpretações ocultas de Orígenes, que aproximava o catolicismo das tradições espiritualista do oriente, dando a teologia cristã mais riqueza de argumentos, tolerância e universalização; estando aberta à comunhão e harmonia com outras religiões. Essa posição extremamente dogmática da igreja em relação aos postulados da escola platônica desagradou muitos prelados e líderes pelo mundo daquela época, sendo uma das sementes para o grande cisma da igreja do ocidente e oriente. Essas quatro obras de Orígenes, citadas acima, foram as únicas de seu volumoso acervo a resistir milagrosamente as chamas, impetrada pela ira e ódio do imperador Justiniano (483-565). Há uma controvérsia quanto a obra Peri Arcon que escrita em grego guarda, segundo os especialistas, os fundamentos originais da doutrina esotérica de Orígenes em especial a reencarnação. Essa obra original está disponível em alemão e inglês, mas acontece que a editora católica Paulus, responsável pela tradução em português desse livro, no Brasil, também segundo os especialistas, censurou os tópicos referentes a reencarnação e outros assuntos que o catolicismo já não adota desde o concílio de Constantinopla II. Desse modo, esse assunto só pode ser lido na versão em inglês ou alemão do Peri Arcon de Orígenes.. Assim para alcançarmos o estágio falado em Efésios 4:13 “Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”. Em uma vida apenas é impossível; reencarnaremos inúmeras vezes até chegarmos ao topo da escada de Jacó, sendo considerados homens perfeitos. Aos interessados em aprofundar esse assunto sugiro pesquisarem na internet: PDF – Dissertação de Mestrado em Filosofia – Ricardo Lindemann. Reconciliação do platonismo com o cristianismo. Abraço. Davi.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário