Gênesis
29:10-19 “Partiu, pois, Jacó de Berseba, e foi a Harã; E chegou a um lugar onde passou a noite, porque já o
sol era posto; e tomou uma das pedras daquele lugar, e a pôs por seu
travesseiro, e deitou-se naquele lugar. E
sonhou: e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que
os anjos de Deus subiam e desciam por ela. E
eis que o Senhor estava em cima dela, e disse: Eu sou o Senhor Deus de Abraão
teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à
tua descendência. E a tua descendência
será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte,
e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da
terra. E eis que estou contigo, e te
guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não
te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado. Acordando, pois, Jacó do seu sono, disse: Na verdade o
Senhor está neste lugar; e eu não o sabia. E
temeu, e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa
de Deus; e esta é a porta dos céus. Então
levantou-se Jacó pela manhã de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por
seu travesseiro, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela. E chamou o nome daquele lugar Betel; o nome porém
daquela cidade antes era Luz”. Esse texto bíblico tem na tradição católica a
ideia de progresso espiritual. A escada com seus degraus, sonhada por Jacó,
representa os vários níveis a que o fiel, servo ou seguidor de Cristo, deve se
esforçar para alcançar seu topo como o estado de união com Deus, o Nirvana
budista ou o Moksha hinduísta, que cessará o sofrimento, morte e renascimento.
O desperto, nesse caso, só retornará como um grande ser bodhisattva, avatar,
mahatman ou mestre de sabedoria. Isso é visto na vida de grandes místicos e
mestres espirituais, que chegaram a uma iluminação no cristianismo como São
João da Cruz (1542-1591), Mestre Eckhart (1266-1328), São Francisco de Assis
(1242-1282), Madre Tereza de Calcutá (1910-1997) e outros. A escada no sonho
também tipifica o elemento sagrado, pois os anjos subiam e desciam por ela, e o
próprio Senhor estava nela. Isso nos reporta a importância dos rituais nas
congregações e igrejas, onde os símbolos, principalmente os sacramentos (pão e
vinho) nelas constantes, dão forma, corporificando a presença dos anjos entre a
comunhão da irmandade. Eles como sabemos não têm matéria apenas espírito. Na
filosofia espiritualista oriental os budistas não concebem a ideia de alma,
pois contrapõe-se ao espírito que não reencarna, mas renasce ou transmigra (do latim transmigrare ou mudar a alma de um corpo para outro).
Isso vem do conceito de impermanência e vacuidade postulado pelo Budha, onde o
Eu e o Não Eu sendo transitórios se anulariam nos milhões de vida que
presentificamos em nossa existência. Essa transmigração vêm com elementos
reparados pelo carma positivo e negativo, pois ainda não alcançaram a
retificação definitiva desse nível, precisando ser provados e aprovados na
disciplina pedagógica evolutiva. Nesse estágio o renascimento é precedido por
um período de purgação, purificação, antes de entrar no devachan, o céu
cristão; uma “temporada” de gozo até voltar a renascer. Outros por praticarem
mais méritos e virtudes, vão direto ao devachan, estando por lá, segundo a
doutrina esotérica, por mais ou menos mil e quinhentos anos, voltando a
reencarnar. Algumas individualidade vão ao inferno, e até renascem nele. Isso
sucedesse devido a práticas amorais, imorais e antiéticas com licenciosidade (agir de maneira moral ou sexual desregradamente) em
relação ao próximo e despudor em relação aos pais, que pelo seu vulto
expressivo devem passar por um tratamos mais depurado e consolidado por mais
tempo. Mas, quando esse propósito se justifica pela disciplina, retornam aos
renascimentos completando seus ciclos evolutivos; nada de fogo eterno como
postula o cristianismo.. Os hindus já pensam no Espírito Universal, A Alma
Cósmica, chamada de Atma à qual tudo e todos se convergirão um dia; essa ideia
está representada no sagrado livro do Bhagavad Gita. No hinduísmo o termo reencarnação é aceito,
sendo nossas atitudes e comportamentos virtuosos e viciosos que tomarão um novo
corpo. Dependendo de nossos méritos, será num humano ou acentuando-se mais deméritos em algum dos reinos
inferiores (mineral, vegetal ou animal) da natureza. A ocultista Helena P. Blavatsky (1831-1891) diz em seu livro A Doutrina Secreta que passaremos por 777 encarnações. Talvez uma alusão a passagem bíblica de Gênesis 5: 31 "E foram todos os dias de Lameque setecentos e setenta e sete anos e morreu". Em um dos Sutras o Budha diz que passou por milhões de vidas, antes de chegar ao estado desperto da Iluminação. Lembrando que o princípio crístico e bhúdico está em nós. O ponto comum entre budistas e hinduístas é quanto nossa
evolução, progresso espiritual, que está sendo realizado, em alguns indivíduos
lenta e regressivamente em suas reencarnações e noutro constante e gradualmente
nas recentes reencarnações. Nossa cristificação, o processo de nos tornar
deuses, como o Mestre Jesus disse em João 10:34 “Respondeu-lhes Jesus: Não está
escrito na lei: Eu disse, sois deuses?” é um procedimento que envolve inúmeras
vidas; encarnações que não sabemos precisar a quantidade, mas ao final
alcançaremos a extremidade da escada, nos mesclando a Divindade Suprema;
cumprindo o versículo de João 10:30 “Eu e o Pai somos um”. Nesse aspecto, devemos
fazer alguns esclarecimentos à que tenhamos uma compreensão sensível desse
ensinamento da reencarnação que nos habilita a cristificação, já que em minha
opinião, uma vida apenas, é insuficiente à tornar-nos iluminados ou despertos
como Budha, Krishna, Cristo ou um dos mestre citados acima. Até o século VI da
era cristã a comunidade dos discípulos e seguidores de Jesus, chamado pelos
historiadores de cristianismo primitivo praticavam o esoterismo encontrado nas
páginas das Sagrada Escritura Cristã, claro que de maneira velada, tendo-se
requisitos a acessar esse conhecimento. Essa doutrina segundo um dos país da
igreja chamado Orígenes de Alexandria, discípulo de Clemente de Alexandria
(150-215) tinha fundamentação bíblica. Segundo pesquisadores, Orígenes reunia-se
com uma comunidade desses cristãos, sendo um de seus principais e tendo um
conhecimento enciclopédico, raríssimo para sua época. Sondagens investigativas
mais conservadoras dizem que ele é autor de pelo menos 2000 volumes de estudos
teológicos e religiões comparadas. Em seus estudos filosóficos conciliou o
platonismo com o cristianismo em muitas de suas hipóteses teóricas. Assim
assuntos como metempsicose, transmigração de almas, apocatástase,
clarividência, áudio vidência, projeção de consciência e reencarnação, todos
discutidos por Platão (428 AC 347) em muitos de seus diálogos, eram também
explicados e discutidos na comunidade cristã primitiva. Lembrando que a
comunidade dos primeiros cristãos moravam a relativa distancia da cidade de
Alexandria, onde havia um museu e uma famosa biblioteca com milhares de volumes
do conhecimento mundial em papiros e pergaminhos. Plotino (204-270) e Amônio
Saccas (175-242) que cunharam o termo teosofia ou sabedoria divina, estudaram
nessa biblioteca tornando-se grandes sábios e místicos; deixando muitos
escritos neoplatônicos que foram depois estudados por Orígenes, do qual
postulou toda sua doutrina espiritualistas contidas em quatro famosas obras: De
Príncipes, Exacta, Contra Celsius e Periarcon. Nessa última obra, ele detalha
com mais ênfase os aspectos esotéricos das escrituras cristãs, incluindo a
reencarnação ou transmigração de almas como vista por Platão e os Neoplatônicos
que retiraram dos livros sagrados hindus e budistas seus pressupostos e
conceitos básicos. Infelizmente a obra teológica de Orígenes foi censurada pela
igreja católica de então, e pra piorar, o imperador Justiniano ordenou a
destruição da biblioteca de Alexandria (415) onde estava a maioria de seus
livros, acabando com todo o legado de conhecimento depositado naquela
instituição do saber humano. A censura aos escritos de Orígenes aconteceu no
Concílio de Constantinopla II em 553, pois até essa época o ensino esotérico
dos textos sagrados cristãos eram normalmente explanados em público e aos
iniciados nos mistérios do reino de Deus. Assim a hierarquia superior católica
reunida em conclave para substituir o papa Virgílio (500-553) que tinha posições
liberais, inclusive aceitando as posições esotéricas de Orígenes, bem como a
reencarnação. Eles, nesses encontros, segundo historiadores, sem critérios,
especificações ou consulta as bases eclesiásticas para mensurar o impacto nos
cânones sagrados. Arbitrariamente impuseram suas opiniões, castrando a riqueza
da sabedoria divina advinda das interpretações ocultas de Orígenes, que
aproximava o catolicismo das tradições espiritualista do oriente, dando a
teologia cristã mais riqueza de argumentos, tolerância e universalização;
estando aberta à comunhão e harmonia com outras religiões. Essa posição
extremamente dogmática da igreja em relação aos postulados da escola platônica
desagradou muitos prelados e líderes pelo mundo daquela época, sendo uma das
sementes para o grande cisma da igreja do ocidente e oriente. Essas quatro
obras de Orígenes, citadas acima, foram as únicas de seu volumoso acervo a
resistir milagrosamente as chamas, impetrada pela ira e ódio do imperador
Justiniano (483-565). Há uma controvérsia quanto a obra Peri Arcon que escrita
em grego guarda, segundo os especialistas, os fundamentos originais da doutrina
esotérica de Orígenes em especial a reencarnação. Essa obra original está
disponível em alemão e inglês, mas acontece que a editora católica Paulus, responsável
pela tradução em português desse livro, no Brasil, também segundo os
especialistas, censurou os tópicos referentes a reencarnação e outros assuntos
que o catolicismo já não adota desde o concílio de Constantinopla II. Desse
modo, esse assunto só pode ser lido na versão em inglês ou alemão do Peri Arcon
de Orígenes.. Assim para alcançarmos o estágio falado em Efésios 4:13 “Até que
todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem
perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”. Em uma vida apenas é
impossível; reencarnaremos inúmeras vezes até chegarmos ao topo da escada de
Jacó, sendo considerados homens perfeitos. Aos interessados em aprofundar esse
assunto sugiro pesquisarem na internet: PDF – Dissertação de Mestrado em
Filosofia – Ricardo Lindemann. Reconciliação do platonismo com o cristianismo.
Abraço. Davi.
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