Nesse 10º capítulo do
Bhagavad Gita é
demonstrado que Deus não é diferente de coisas tangíveis e intangíveis,
mas Ele é Tudo em Todos. Ele é a unidade matricial de que procedem todos
os números. Ele é, em tudo, o verdadeiro
fundamento e a verdadeira essência. Em si mesmo imutável, manifesta-se
de variadíssimo modos, conforme os pontos. Dele não podemos dizer que
seja, em si mesmo, perfeito ou imperfeito, bom ou mau, porque Ele é a
perfeição e a bondade mesma, em todas as coisas.
“O Verbo Divino, Khrisna, continua: Ouve,
Oh forte herói! A doutrina mais importante que te quero expor, porque a
minha palavra te alegra e porque quero o teu bem. Não conhecem a minha
origem nem os anjos, nem os deuses, nem os
grandes espíritos, nem os adeptos ou outros homens adiantados no saber;
porque Eu Sou a origem deles todos. Quem se adiantou em sabedoria,
tanto que Me conhece como Ser Infinito, sem princípio e sem fim, o
Senhor do Universo, esse anda sem pecado, sem ilusão
e sem erro, no meio dos mortais. Sabe que de Mim procedem todas as
qualidades dos seres individuais, como: a razão, o conhecimento, a
sabedoria, paciência, verdade, clemência, domínio de si próprio,
tranquilidade, prazer e dor, nascimento e morte, coragem
e medo. Igualmente a inocência, equanimidade, abstinência,
contentamento, afabilidade, caridade, severidade, glória e modéstia. De
Mim tiraram origem os sete grandes
Rishis ou reis sábios, os quatro patriarcas (1) e os
Manus (2); todos foram emanados da minha Mente, e deles proveio o
gênero humano. (1) Os quatro patriarcas são os espíritos emas chamados
de Brahma:
Sanatkumara, Sanaka,
Sanatana e Sanandana. (2) Manu são os
chefes e legisladores de uma raça. Quem conhece esta minha soberania e a
minha força mística, sem dúvida é dotado de infalível inteligência, fé e
devoção. Eu Sou a origem de tudo. O universo
inteiro de Mim emana. Os sábios, que são minha imagem e semelhança,
conhecendo esta verdade, dirigem-se a Mim com adoração. Conservando-Me
sempre em suas mentes, e fazendo a sua vida confluir com a minha,
glorificam-Me constantemente, regozijam-se e são felizes.
Eu, de contínuo, os ilumino e inspiro, e eles instruem uns aos outros
e, com a luz do seu espírito, dissipam as trevas e a ignorância do mundo
exterior. A todos os que Me oferecem o coração, Eu sou a ciência do
discernimento e intuição, para chegarem até Mim.
Residindo no centro das suas almas, faço-os sentir a Minha
misericórdia, o Meu amor, o espalho dali os raios do verdadeiro
conhecimento, cuja luz dissipa as trevas oriundas da ignorância. Exclama
Arjuna: Em verdade, Tu és Parabrama,
o Senhor Supremo! Os deuses, anjos e sábios reconhecem-Te como o
refúgio universal, a mais elevada Morada, Eterno Criador, Ser Absoluto
Puríssimo, Onipotente, Onisciente,
Onipresente! Assim Te chamam os sábios, e Tu mesmo o confirmaste
falando a mim. E eu te creio em tudo e sem reserva, Oh Senhor Abençoado!
A tua presente manifestação encarnada, a Tua presença em forma
terrestre é um grande mistério, que não compreendem nem
os deuses, nem os anjos, nem os espíritos adiantados de todos os
mundos. Só Tu, único, Te compreendes, Oh! Fonte da vida, Oh! Senhor
Supremo do universo inteiro, Deus dos deuses, Governador de Tudo o que
é, foi e será! Eu, teu indigno discípulo, rogo-te, podes
me esclarecer a respeito das tuas perfeições divinas e dizer-me com que
misteriosa força penetras todos os mundos e, no entanto, permaneces
imutável em Ti mesmo? Como poderei eu chegar a conhecer-Te? Como deve
pensar em Ti? Como meditar em Ti, se não conheço
a tua forma própria? Fala-me mais ainda, e mais extensamente, do teu
misterioso Ser, das tuas forças, dos teus poderes e formas de
manifestação, Oh! Senhor dos mundos! Eu tenho sede de ouvir as tuas
imortais palavras, como quem há muitos dias não bebeu águas.
Refrigera-me com os teus ensinos, Oh! Mestre inigualável. O Verbo
Divino,
Khrisna: Ouve, meu caríssimo! Descrever-te-ei as principais das
minhas divinas características e manifestações; só as principais, porque
sabes que o Meu ser e a Minha Natureza essencial são infinitos, as
Minhas manifestações e minhas forças não tem limites.
Eu, Oh! Príncipe, sou o Espírito que reside na consciência de todos os
seres, e cujo reflexo é conhecido por todos como o Eu (ou ego). Eu Sou o
princípio, o meio e o fim de todas as coisas. Entre as
Adityas (Deus Planetários), sou
Vishnu (Deus Conservador); Entre os Sóis brilhantes, sou o Sol Supremo; Entre os ventos, sou
Marichi (Deus dos ventos); Entre os astros,
sou a Lua. No vedas, sou o Sama Veda (livros de hinos sagrados; Entre os
deuses, védicos, sou
Indra (o Rei dos deuses); Entre as faculdades, sou a Razão e, nos seres vivos, sou a Vida. Entre os aniquiladores, sou
Shankara (o Destruidor); nos gigantes, sou a Grandeza; nos seres elementares, sou o Elementos; entre os montes, sou
Meru (a Montanha Santa). Entre os sacerdotes, sou o Sumo Pontífice; entre os generais, sou
Skanda (deus da guerra); entre as águas, sou
o Oceano. Entre os sábios, sou a Sabedoria; entre as palavras, a sílaba
AUM. Entre os sacrifícios, sou a elevação do espirito. Entre as
montanhas, sou o Himalaia. Entre as árvores, sou
a figueira sagrada (a Árvore da Vida). Entre os iluminados, (Budha,
Christo) sou a luz; na música das esferas, a harmonia; nos santos a santidade. Entre os cavalos, sou
Utchaisrava, o cavalo de Indra (símbolo da poesia), que nasceu de
Amrita (água da imortalidade). Dos elefantes, sou
Airavata (símbolo de sabedoria e grandeza), e entre os homens, o Governador. Das armas, sou o raio, e
Kamaduk (símbolo da fertilidade) entre as vacas. Entre os amantes, sou o Amor; entre as serpentes, sou
Vasuki (rei das serpentes, símbolo do saber). Entre os dragões, sou
Ananta (símbolo da inteligência); entre os seres aquáticos, sou
Varuna (deus da água); entre os
Pitris (antepassados), sou Aryaman (o seu chefe). E dos juízes, sou
Yama (o juiz dos mortos). Sou Pralada entre os
Daityas (3). Tempo entre as suas unidades, leão entre as feras, e águia entre as aves. (3)
Daityas, deuses intelectuais, opostos aos
deuses meramente rituais, e inimigos de Puja, sacrifícios. Entre os
purificadores, sou o puro ar, entre os guerreiros, sou Rama (poderoso
conquistador). Entre os peixes sou
Makara (o sagrado crocodilo); entre os rios,
sou o Ganges (o rio sagrado dos hindus). De toda a criação, Eu Sou o
princípio, o meio e o fim. Das ciências, sou a ciência do Espírito e o
verbo dos oradores. Das letras, sou o A; nas
palavras a conjunção. Eu Sou o tempo perdurável e Aquele cuja face se
volta para todas as partes. Eu Sou tanto a Morte, que não poupa a
ninguém, como o Renascimento, que dissolve a Morte. Eu Sou a Glória, a
Fortuna (riqueza), a Eloquência, a Memória, o Juízo,
a Força, a Fidelidade, a Paciência. Entre os cantos, sou o Hino
Sublime; entre os versos, sou o Verso Místico. Entre as estações, sou a
Primavera, entre os meses, sou o mês mais frutífero. Eu Sou a Sorte
entre os jogadores, e o Esplendor de tudo o que brilha.
Eu Sou a Valentia e a Vitória. Eu Sou a bondade dos bons. Eu Sou o
chefe de grandes tribos e famílias. Eu Sou o Sábio dos sábios, o poeta
dos poetas, o Bardos dos bardos, o Vidente dos videntes, o Profeta. Para
os governadores, sou o Cetro do poder, entre
os estadistas e conquistadores, sou a Diplomacia e a Política. Sou o
Silêncio dos Segredos, e o Saber dos eruditos. Em suma, Oh! Príncipe. Eu
Sou aquilo que é o princípio essencial na semente de todos os seres e
de todas as coisas na Natureza, cada ser, animado
ou inanimado, é por Mim penetrado, e, sem Mim, nada pode existir nem
por um instante. Sem fim são as minhas manifestações divinas, Oh!
Arjuna. Só exemplos delas te apresentei. Os
meus poderes são infinitos em qualidade e variedade. Todo ser e toda
coisa são o produto de uma infinitésima porção do meu Poder e da minha
Glória. Mas para que mais minúcias, Oh! Príncipe?
Sabe que Eu sustento todo este universo continuamente, só com um
infinitesimal fragmento de Mim mesmo”. Abraço. Davi.
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