A Doutrina dos Anciãos .
Theravada (Pali: Thera, anciãos + Vada palavra, doutrina), a
Doutrina dos Anciãos, é o nome da escola de Budismo que tem suas escrituras no
Cânone em Pali ou Tipitaka, que os acadêmicos em geral aceitam como sendo o
registro mais antigo dos ensinamentos do Budha. Por muitos séculos, o Theravada
tem sido a religião predominante no Sri Lanka, Birmânia e Tailândia; atualmente
o número de Budistas Theravada em todo o mundo excede 100 milhões de pessoas.
Em décadas recentes o Theravada começou a fincar suas raízes no Ocidente,
principalmente na Europa e nos Estados Unidos.
Os muitos nomes do
Theravada. O Budismo Theravada é identificado através de muitos nomes. O
próprio Budha chamava seus ensinamentos de Dhamma Vinaya, a doutrina e a
disciplina, referindo-se aos dois aspectos fundamentais do sistema de
treinamento ético e espiritual que ele ensinava. Devido à sua histórica
predominância no sul da Ásia (Sri Lanka, Birmânia e Tailândia), o Theravada
também é identificado como o Budismo do Sul, em contraste com o Budismo do
Norte que migrou da Índia para o Norte em direção à China, Tibete, Japão e
Coréia. O Theravada também é frequentemente identificado com Hinayana (Pequeno Veículo),
em contraste com o Mahayana (Grande
Veículo), do qual fazem parte o Budismo Tibetano, Zen, Ch’an e outras
expressões do Budismo no Norte da Ásia. O uso do termo Hinayana tem sua origem
nos primeiros cismas que ocorreram na comunidade monástica e que acabaram
resultando no surgimento do que mais tarde se converteria no Mahayana.
Pali: o idioma do
Theravada. O idioma dos textos canônicos do Theravada é o Pali, um idioma
próximo ao Magadhi, que provavelmente era falado na região central da Índia durante
o período do Budha. A maioria dos discursos proferidos pelo Budha foram
memorizados por Ananda, o primo do Budha e seu assistente pessoal. Pouco depois
da morte do Budha, aproximadamente 480 AC, um grupo de 500 monges Arahant,
incluindo Ananda, se reuniu para recitar todos os discursos que eles haviam
ouvido durante os 45 anos de ensinamento do Budha. Cada discurso Sutta que foi
registrado tem início com a observação Evam Me Suttam (Assim ouvi). Esses
ensinamentos foram transmitidos dentro da comunidade monástica seguindo uma
tradição oral firmemente estabelecida. Em aproximadamente 100 AC, a Tipitaka
foi compilada por escrito pela primeira vez no Sri Lanka por monges escribas. É claro que jamais será possível provar
que o Cânone em Pali contém as palavras tais como foram ditas pelo Budha
histórico. No entanto, a sabedoria contida no Cânone tem servido ao longo de
séculos como um guia indispensável para milhões de discípulos na sua busca da
Iluminação. Muitos estudantes do
Theravada descobriram que aprender o idioma Pali, mesmo que seja um pouco aqui
ou ali, aprofunda em muito o entendimento dos ensinamentos e do caminho da
prática.
Um sumário dos
ensinamentos do Budha. Pouco após a sua Iluminação, o Budha, O
Iluminado, proferiu o seu primeiro discurso definindo a estrutura básica sobre
a qual se baseariam todos os seus ensinamentos seguintes. Essa estrutura básica
são as Quatro Nobres Verdades, quatro princípios fundamentais da natureza,
Dhamma, que emergiram da avaliação honesta e profunda que o Budha fez da
condição humana e que servem para definir toda a abrangência da prática
Budista. Essas verdades não são afirmações de fé. São na verdade categorias nas
quais podemos enquadrar nossa experiência de tal forma à criar condições para a
Iluminação: Dukkha: sofrimento,
insatisfação, descontentamento, estresse. A causa de Dukkha: a causa dessa
insatisfação é o desejo, Tanha. A cessação de Dukkha: o abandono desse desejo.
O caminho que leva à cessação de Dukkha: o Nobre Caminho Óctuplo, entendimento
correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida
correto, esforço correto, atenção plena correta e concentração correta. Para
cada uma dessas Nobres Verdades o Budha identificou uma tarefa específica que o
praticante deve realizar: a primeira Nobre Verdade deve ser compreendida; a
segunda deve ser abandonada; a terceira deve ser realizada; a quarta deve ser
desenvolvida. A realização completa da terceira Nobre Verdade abre o caminho
para a penetração de Nibbana (Nirvana), a liberdade transcendente que é o
objetivo máximo dos ensinamentos do Budha. A última das Nobre Verdades, O Nobre
Caminho Óctuplo, contém a prescrição de como aliviar nossa insatisfação e
alcançar a eventual libertação, de uma vez por todas, desse ciclo de vida e
morte (Samsara) doloroso e desgastante ao qual, pela própria ignorância,
Avijja, das Quatro Nobres Verdades, estamos presos por tempos incontáveis. O
Nobre Caminho Óctuplo oferece um guia prático e completo para o desenvolvimento
mental de qualidades e habilidades benéficas que devem ser cultivadas se o
praticante desejar alcançar o objetivo final, a liberdade e felicidade
supremas, o Nibbana. Na prática o Budha ensinou o Nobre Caminho Óctuplo aos
seus discípulos de acordo com um sistema de treinamento gradual, iniciando com
o desenvolvimento de Sila ou virtude (linguagem correta, ação correta e modo de
vida correto, que na prática estão resumidos nos cinco preceitos). Seguido pelo
desenvolvimento de Samadhi ou concentração (esforço correto, atenção plena
correta e concentração correta), culminando com o pleno desenvolvimento de
Pañña ou sabedoria (entendimento correto e pensamento correto). A prática de
Dana (generosidade) serve como um apoio para cada passo ao longo do caminho, já
que atua como um auxiliar na corrosão da tendência habitual ao desejo, e também
porque pode trazer grandes ensinamentos sobre as causas e resultados das ações
de cada pessoa (kamma ou carma). O progresso ao longo do caminho não segue uma
trajetória linear simples. Em vez disso, o desenvolvimento de cada aspecto do
Nobre Caminho Óctuplo encoraja o refinamento e fortalecimento dos demais,
levando o praticante adiante em uma espiral ascendente de maturidade espiritual
que culmina na Iluminação. Vendo por um outro ângulo, a longa jornada no
caminho para a Iluminação tem início a sério com os primeiros sinais de alguma
movimentação na questão do entendimento correto, os primeiros lampejos de
sabedoria através dos quais a pessoa reconhece tanto a validade da Primeira
Nobre Verdade e a inevitabilidade da lei do kamma (sânscrito karma), a lei
universal de causa e efeito. A partir do momento que a pessoa se dá conta de
que más ações inevitavelmente trazem maus resultados e que boas ações trazem
bons resultados, o desejo, de viver uma vida moralmente correta e íntegra, de
adotar seriamente a prática de Sila, cresce. A confiança criada a partir desse
entendimento preliminar leva o praticante a ter ainda mais fé nos ensinamentos.
O praticante se torna um Budista a partir do momento em que expressa uma
determinação interior de tomar o refúgio na Joia Tríplice: o Budha (tanto o
Budha histórico como o potencial de cada um de alcançar a Iluminação), o Dhamma
(tanto os ensinamentos do Budha histórico e a verdade última que eles revelam),
e a Sangha (tanto a comunidade monástica que protegeu os ensinamentos e os
colocou em prática desde os tempos do Budha como todos aqueles que alcançaram
algum grau de Iluminação). Tendo fincado firmemente os pés no solo através da
tomada do refúgio e, com o auxílio de um bom amigo (kalyanamitta) para ajudar a
indicar o caminho, a pessoa estará pronta para trilhar o caminho, confiante de
que estará seguindo as pegadas deixadas pelo próprio Budha. Algumas vezes o
Budismo é ingenuamente criticado como uma religião ou filosofia negativa ou pessimista.
Apesar de tudo (esse é o argumento utilizado) a vida não é somente miséria e
desapontamento: ela oferece muitos tipos de alegria e felicidade. Porque então
existe essa obsessão pessimista no Budismo com a falta de satisfação e o
sofrimento? O Budha baseou os seus ensinamentos em uma franca avaliação da
nossa situação como seres humanos: existe insatisfação e sofrimento no mundo.
Ninguém pode contestar esse fato. Se os ensinamentos do Budha parassem por aí,
os seus ensinamentos poderiam de fato ser considerados pessimistas e a vida
totalmente sem esperança. Porém, como um médico que prescreve o remédio para
uma enfermidade, o Budha oferece a esperança (a Terceira Nobre Verdade) e a
cura (a Quarta). Os ensinamentos do Budha, portanto, permitem ter um alto grau
de otimismo em um mundo complexo, confuso e difícil. Um professor contemporâneo
resumiu bem: Budismo é a busca da felicidade levada a sério. O Budha alegava
que a Iluminação que ele redescobriu está acessível a qualquer um que esteja
disposto a fazer o esforço e comprometer-se a seguir o Nobre Caminho Óctuplo
até o fim. Cabe a cada um de nós colocar essa afirmação à prova.
O Theravada vem para o
Ocidente. Até o final do século XIX os ensinamentos do Theravada eram pouco
conhecidos fora do Sul e Sudeste da Ásia onde eles floresceram durante quase
2.500 anos. No último século, no entanto, o Ocidente começou a tomar contato
com o singular legado espiritual do Theravada e os ensinamentos da Iluminação.
Em décadas mais recentes esse interesse aumentou significativamente, tendo a
Sangha monástica das diferentes escolas dentro do Theravada estabelecido
dezenas de monastérios na Europa e na América do Norte. Além disso um crescente
número de centros de meditação leigos, que operam independentemente da Sangha,
têm surgido para atender as demandas de leigos, Budistas ou não, que buscam
aprender sobre aspectos selecionados dos ensinamentos do Budha, em particular a
meditação Vipassana. A chegada
do século XXI apresenta tanto oportunidades como perigos para o Theravada no
Ocidente: Os ensinamentos do Budha serão estudados pacientemente e colocados em
prática, de forma que possam fincar raízes no Ocidente e beneficiar as futuras
gerações? O clima popular que prevalece hoje de abertura, e intercâmbio entre
as diferentes tradições religiosas, conduzirá ao surgimento de uma nova e
sólida forma de prática Budista típica desta era moderna ou, simplesmente
levará à diluição e confusão desses ensinamentos preciosos? São questões em
aberto que somente o tempo poderá responder.
Felizmente, o Budha nos deixou algumas diretrizes muito simples e
claras para nos auxiliar a encontrar o caminho nesse labirinto de ensinamentos
supostamente Budistas que estão disponíveis atualmente. Sempre que você
questionar a autenticidade de algum ensinamento em particular, preste atenção
ao conselho que o Budha deu à sua madrasta:
Gotami, as qualidades que você
provavelmente conhece, essas qualidades conduzem à cobiça, não ao desapego; a
estar agrilhoada, não a estar livre dos grilhões; ao acúmulo, não à renúncia;
ao engrandecimento pessoal, não à modéstia; à insatisfação, não à satisfação;
ao enredamento, não ao isolamento; à preguiça, não a estimular a energia; a ser
um incômodo, não a não ser um incômodo. Você deve definitivamente entender. Isto
não é o Dhamma, isto não é o Vinaya, essas não são as instruções do Mestre.
Quanto às qualidades que você provavelmente conhece. Essas qualidades conduzem ao desapego, não à
cobiça; a estar livre dos grilhões, não a estar agrilhoada; à renúncia, não ao acúmulo;
à modéstia, não ao engrandecimento pessoal; à satisfação, não à insatisfação;
ao isolamento, não ao enredamento; a estimular a energia, não à preguiça; a não
ser um incômodo, não a ser um incômodo: Você deve definitivamente entender.
Isto é o Dhamma, isto é o Vinaya, essas são as instruções do Mestre.
AN
VIII.53
É claro que o verdadeiro teste
desses ensinamentos é se eles produzem no fundo do seu próprio coração, os
resultados prometidos. O Budha nos colocou um desafio; cabe a cada um de nós
individualmente colocar esse desafio à prova. http://www.nossacasa.net/shunya.
Abraço. Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário