sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Iniciação ao Budismo.

Texto de Hammalawa Saddhatissa (1914-  ). Uma característica singular do budismo é a omissão de qualquer cerimônia semelhante à do batismo. Existe apenas um meio de se tornar um budista, e este é o de seguir os passos do Budha e tentar pôr em prática seus ensinamentos no decorrer da vida. A filosofia budista reconhece certos obstáculos que impedem o crescimento de um indivíduo em direção a sua liberação. Um desses obstáculos é a crença em ritos e rituais, a suposição equivocada de que, através da participação em cerimônias especiais ou em algumas práticas religiosas, se possa encontrar a salvação. Não é, pois, de se admirar que não existam cerimônias de batismo no budismo. Buscai vossa própria liberação, e não vos importeis em vos associar a quaisquer grupos ou sociedades. O que, então, marcaria a iniciação ao budismo? A qualidade requerida é o Saddhã, frequentemente traduzido como Fé, mas dignificando confiança baseada no conhecimento. Como disse o Budha: a confiança é a companheira do homem, e a sabedoria lhe dá o comando. Outra tradução interessante de Saddhã é a certeza de que há um objetivo a ser alcançado. Antes que se possa começar a seguir seriamente a trilha do Budha, é necessário que se tenha dentro de si, ainda que com certa hesitação, a confiança de que existe um caminho a ser trilhado e um objetivo a ser alcançado. Essa confiança inicial pode ser reforçada gradativamente, à medida que a experiência nos ensine que ela foi bem fundada. Contudo, sempre através da longa jornada, esta resposta do coração, este despertar da confiança, precederá, capacitando-nos a dar um novo passo na escuridão. Não há dúvidas no reconhecimento deste modelo, a confiança inicial que conduz à vontade de experimentar, o que por sua vez resulta na confirmação da confiança original e fornece a base a partir da qual um passo além pode ser contemplado, que a prática budista do Tisarana foi instituída e desenvolvida. O Tisarana, a busca dos três refúgios, envolve a repetição tríplice da seguinte fórmula:
No Budha busco refúgio.
No Dhamma, ensinamento,  busco refúgio.
No Sangha, ordem dos monges, busco refúgio.
Para o ocidental cético, tal sortilégio, sem dúvida alguma, soa como idolatria, superstição e passividade oriental. Contudo, buscar refúgio no Budha não implica qualquer garantia pessoal de que ele próprio conduza à chegada ao objetivo de qualquer um de seus seguidores. Ao contrário, ele disse: Por certo fazer o mal a ti mesmo, por ti mesmo te tornas impuro, por ti mesmo evitas o mal e te tornas puro. A pureza e a impureza ao indivíduo pertencem. Ninguém pode purificar o seu próximo. O Tisarana, na verdade, seria provavelmente mais aceitável para o ocidental se em vez da consagrada expressão refúgio fosse empregada a palavra Guia. Consequentemente, o primeiro refúgio poderia ser então traduzido como eu pretendo usar o exemplo do Budha para guiar-me em minha busca. O segundo guia é o Dhamma, o ensinamento. O exemplo da própria vida do Budha é de grande ajuda aos que desejam atingir um objetivo semelhante, do mesmo modo que a vida de Cristo oferece um modelo para inspirar e guiar os verdadeiros cristãos; o budista tem um segundo guia no detalhado ensinamento legado através dos tempos, assim como os cristãos têm um guia semelhante nos sermões e parábolas de Cristo registrados nos Evangelhos. O budista é, entretanto, mais afortunado, no sentido de que o Budha viveu por muitos anos após sua iluminação e teve tempo suficiente para desenvolver e aperfeiçoar uma filosofia detalhada, um código de vida, uma cuidadosa análise lentamente elaborada do caminho a ser tomado e de vários estágios a serem atingidos e transcendidos. No decorrer de sua vida de ensinamentos, o Budha encontrou milhares de pessoas de diferentes níveis sociais, de educação, morais e religiosos. Adaptou e aperfeiçoou sua mensagem para preencher as necessidades e capacidades de reis e mendigos, prostitutas e ascetas. O budismo atual pode voltar-se, portanto, confiantemente para o Ensinamento, Dhamma, em busca de apoio, sabendo que esse ensinamento desenvolveu-se a ponto de incorporar todos os tipos e condições humanas. Além do mais, na medida em que o ensinamento é colocado em prática, o seguidor do Budha passa a ter uma razão mais certa e mais íntima para acreditar no Dhamma. Ele passa a se dar conta de que, apesar de conhecer pouco, e praticar menos ainda, está começando a ser ajudado e socorrido pelo ensinamento. Ele recorre ao Dhamma em busca de apoio, pois começa a descobrir que a sua mensagem está de acordo com a sua própria experiência adquirida vagarosamente, e provavelmente de um modo doloroso. O terceiro refúgio é o Sangha, a comunidade de monges do passado, presente e futuro. O fato de milhões de homens terem seguido o ensinamento do Budha e terem decidido devotar toda a sua energia e atenção a ele, e ainda o terem considerado um modo de vida válido e satisfatório, fez com que se tornassem o terceiro guia do budista. O Sangha pode ser interpretado como comunidade ou ordem de monges, mas pode também ser interpretado como a amizade daqueles que percorreram os caminhos do Budha e colheram o fruto de seu trabalho. www.nossacasa.net/shunya/. Temos estudado o budismo nesse espaço e percebemos, que essa espiritualidade, tem uma variada e ampla esfera de elementos envoltos em abstração, com a proposta de argumentação lógica e razoável nos princípios que são apresentados. Nós ocidentais de tradição cristã, tendemos a juízos baseados em crenças e dogmas ao refletirmos sobre os assunto da religião. Isso cria certa confusão quando precisamos compreender os conceitos do budismo. Sugiro que nesse tipo de abordagem, procuremos usar os requisito que já temos adquirido ao longo das leituras empreendidas, onde assumimos um olhar de observador e inquiridor como o Budha aconselhou em seus Sutras. Assim, pressuponho que o conhecimento da doutrina budista deve nos conduzir a ponderações objetivas e individuais, em nenhum momento admitindo um conceito como verdade absoluta. Mas evidentemente aceitando a verdade como princípio condutor de nossa evolução espiritual, sendo um dos preceitos fundamentais à produzir nossa iluminação. No budismo não existe uma formalização à que a pessoa seja considerada um adepto ou membro da tradição. O caminho do Budha é simples, liberto e autônomo àquele que deseja trilhar a senda para libertar-se do ciclo indefinido do samsara, renascimento, sofrimento e morte. Esses devem ser observados pelo praticante, com vistas ao aperfeiçoamento de seu dharma, missão divina, com o propósito de também auxiliar todos os seres à sua evolução espiritual. A reflexão trouxe alguns pontos interessante como  a saddha ou fé. Esse termo, segundo penso, é intrínseco a nossa individualidade, em momento nenhum sendo usado como instrumento de materialismo ou apegos aos bens transitórios de nossa vida. Fé aqui é específica ao nosso desprendimento terreno, compromisso com a fraternidade e interesse em reparar por atitude meritórias o carma de todos os seres. A sangha ou ordem dos monges, devemos entender de maneira conotativa, havendo o aspecto objetivo e subjetivo do comportamento do seguidor. O Budha também refletiu sobre esse assunto, quando instruía os bhikkhus em seus ensinamento. Desse modo, era observado que muitos assumiriam a vida monástica, necessária a preservação e conservação da tradição e cultura espiritual, mas a grande maioria seguiriam os ensinamento do Budha em sua vida normal e leiga. Assim, fica claro que não a prevalência quanto aos dois aspectos, de um grupo em relação ao outro. Mas seja na vida vocacional ou ordinária, o seguidor deve pelo coração sincero e a mente pura, está imbuído do compromisso com sua iluminação e de todos os demais seres humanos e não humanos. O Budha como refúgio, entendo o princípio que já nos condiciona a uma vida regrada na meditação, conhecimento, procura da sabedoria divina, usar o amor, compaixão, piedade. Praticar o altruísmo e abnegação, desejar a felicidade de todos os seres, nos preparar para entrar no portal do outro mundo. Abraço. Davi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário