terça-feira, 29 de setembro de 2015

Bhagavad Gita. Bhakti Yoga. União pela Devoção.



Comentário de Shri Mataji N. Devi (1923-2011). Nesse capítulo 12 Arjuna quer saber agora de Krishna quem é o melhor Yogue, aquele que segue o Caminho da Devoção venerando Deus com forma e atributos como o Ser Supremo ou aquele que venera o Absoluto, Brahma, sem forma e sem atributos. O Senhor assevera que todos os devotos que veneram Deus com fé e o adoram são louváveis. Entre os dois caminhos, o que consiste em venerar Deus sem forma é muito difícil de ser trilhado pelos seres humanos. O Senhor nos assegura que Ele pessoalmente virá em socorro dos devotos que lhe dedicam todas as ações e que pensam, constante e exclusivamente Nele. Os verso 8 a 12 tratam da prática da devoção. O Senhor diz que todos os seres humanos deveriam praticar uma devoção integral oriunda de seus corações. A concentração pode ser obtida através da prática da Yoga e quando isso também se tornar difícil, o Senhor diz que podemos executar qualquer tarefa que agrade a Ele. Quando mesmo isso não for possível, então o indivíduo pode abrir mão de todos os frutos e vantagens de suas ações e dedica-los ao Senhor. Tornando-se assim um seu devoto. Uma sincera renúncia aos frutos e benefícios das ações é algo muito poderoso e gera, instantaneamente, muita paz. Os versos 13 a 20 definem um Bhakta (devoto) ideal. A prática efetiva de algumas qualidades pelo ser humano, com devoção e fé plenas, torna-o extremamente querido por Deus. Essas qualidades tornam o devoto um ser humano ideal. O devoto ideal é aquele que: 1. É amigo de todos. 2. É livre de egoísmo e de orgulho. 3. Está sempre satisfeito e alegre. 4. É paciente. 5. É firme em seu propósito de se auto aperfeiçoar. 6. É plenamente entregue ao Senhor. 7. Ama e tem afeto sincero por todos. 8. É ciente de que não é autor ou executor de qualquer ação, mas apenas um instrumento de Deus. 9. Trata os amigos e inimigos da mesma foram. 10. Considera o mundo inteiro como seu lar. Segue o texto sagrado. “Arjuna: Dos que desejam estar sempre contigo, e como amor meditam em ti pelo processo indicado, e daqueles que meditam no Indestrutível e Imanifestado, quais são os melhores Yogues? Krishna: Considero melhores Yogues aqueles que buscam a comunhão eterna Comigo, e que, com a mente fixa em Mim, meditam em Mim com o maior fervor. Aqueles, que me adoram como o Ser Absoluto, Infinito, Imanifesto, Onipresente, Onipotente, Onisciente, Incognoscível, Incompreensível, Inefável, Invisível, Eterno, Imutável, Um e Tudo. Que, dominando os seus sentidos, conservam sempre o ânimo igual, respeitam todos os seres e se regozijam com o que é bom e belo, onde quer que esteja, desejando o bem estar a todos, também esses chegarão a Mim. O caminho dos que Me reconhecem como o Absoluto e Imanifesto, é muito mais árduo do que o caminho dos que Me adoram como Deus manifesto e possuidor de forma. A concepção de Absoluto, Infinito é a causa mais difícil para a mente finita do homem. É muito difícil para o visível conceber o invisível, o finito conceber o infinito. Mas aqueles que em Mim renunciam todas as suas ações, e meditam em Mim como seu ideal mais elevado, considerando tal meditação como um fim, sua mente está fixa em Mim. Prontamente os salvo do oceano, das mortes e renascimentos. Descansa em Mim tua mente, Oh príncipe! E satura toda a tua mente de Meu Ser, e ao deixares esta vida, morarás certamente em Mim. Mas, se não és capaz de dominar os teus pensamentos de tal modo que sejam sempre a Mim dirigidos e em Mim fixados, esforça-te então por Me alcançar mediante perseverantes exercícios devocionais. Se, porém, és incapaz de praticar exercícios devocionais, executa meu trabalho por amor oferecendo-me as tuas obras, alcançarás a meta. E se ainda isso não fores capaz de fazer, satisfatoriamente, refugia-te então em Mim e dominando-te a ti mesmo renuncia aos frutos das tuas obras. Pois melhor do que os exercícios devocionais é a sabedoria, conhecimento espiritual; melhor do que a sabedoria é a meditação, e melhor do que a meditação é a renúncia aos frutos da ação. Da renúncia nasce a paz de espírito. Em verdade, te digo, que amo aquele que não odeia a ninguém e a ninguém faz mal, mas é amigo e amante de toda a Natureza, e aquele que é bondoso, livre de vaidade, orgulho, e egoísmo, e conserva sempre a equanimidade, sendo paciente na desventura. Amo aquele que é sempre constante, afável e piedoso, manso de coração e de firme vontade, e cujos pensamentos em Mim se concentram. Amo aquele que não tem cuidados mundanos, não teme o mundo e não é tímido; quem dos Universo inteiro. É intacto o livro, o contém todas as coisas, em si mesmo é sem qualidades e, contudo, tem o conhecimento de todas as qualidades e todos os atributos. Está dentro e fora de todos os seres, é movente e também imovente; é tão sutil que é imperceptível; está perto e ao mesmo tempo distante. Presente em todos os seres como seus atmas, almas, file parece fragmentado, mas realmente é indivisível. Conhecei esses atmas como os sustentadores dos corpos, reproduzindo-os e alentando-os. A Alma, Deus, é a luz das luzes. Ele é o conhecimento, o conhecedor e o conhecido. Mora nos corações de todos. Com estas concisas palavras, dei-te a ideia do campo, do conhecimento e o objeto do conhecimento. Os sábios que isto conhecem, unifica-se Comigo. Sabe, Oh Arjuna! Que tanto a Matéria, como o Espírito, são sem princípio e sem fim. Sabe também que da Matéria precedem todas as modificações e qualidades e que, portanto, transcende a toda matéria. A matéria, estando em contínuo movimento, produz variadíssimas e mutáveis formas, o Espírito , porém, é a causa do sentimento de prazer ou dor. O Espírito recebe as impressões das propriedades que emanam da Matéria. O apego a estas qualidades determina a sua reencarnação em boas e más matrizes. O Espírito Universal é espectador, diretor, protetor ou possuidor; Ele é a Alma Universal, a força que fecunda a Matéria, e permanece intacto no meio das atividades desta. Quem compreende o que é a Matéria, o Espírito e as propriedades da Matéria, como te expus, sente-se idêntico com o Espírito, é filho da Luz, e quaisquer que sejam as condições da sua vida, pertence aqueles que não estão mais sujeitos as reencarnações. Alguns chegam ao conhecimento do seu Eu Espiritual por meio da meditação; outros pelo pensar aprofundado; alguns alcançam a percepção mediante renuncia; outros por meio de boas ações. Há muitos que não descobriram esta verdade por si mesmos e em si mesmos, mas ouviram a doutrina e os ensinos de outros, e respeitam-nos; também estes, agindo de acordo com a doutrina, vencem a morte pela força da fé. Sabe, Oh príncipe! Que cada ser criado, seja animado ou inanimado, é produzido pela união do campo com o conhecedor do campo. Quem vê a Alma Universal imanente em todas as coisas, imperecível ainda que em coisas perecíveis, esse em verdade vê. Vendo a mesma Alma Universal imanente em todas as coisas, não cai no erro de identificar o seu Eu com os princípios inferiores, e assim é livre da ilusão da mortalidade, e elabora a sua salvação. Verdadeiramente vê quem percebe que todas as ações são executadas pelo corpo ou Matéria, cujas qualidades, Gunas, atuam cada qual à maneira, e não pelo Eu. Unifica-se com Deus quem vê que as diferenças entre os seres e o aumento da família provém tão só de um dos dois elementos reunidos, que é o corpo ou Matéria. O imperecível é Supremo Ser, sem princípio nem qualidades, conquanto resida no corpo, permanece impassível e inativo. Como o éter que tudo penetra e nada o afeta sem razão de sua extrema subtilidade, assim nada contamina o Espírito, ainda que, em todas as partes resida na Matéria ou corpo. Como o Sol ilumina todo este mundo, assim o Senhor do campo ilumina todo o campo. Alcançam o Supremo aqueles que com os olhos da sabedoria discernem a diferença entre o campo e o conhecedor do campo, bem como os meios de se libertarem da Matéria moldada na forma de um corpo. Abraço. Davi.

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