sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Bhagavad Gita. A Visão da Forma Divina Universal.



Comentário de Shri Mataji Nirmala Devi (1923-2011). Nesse 11º do Bhagavad Gita será mostrado que a forma divina ou personalidade de Deus consiste na soma de todas as formas  e atividades, em que se manifesta o seu poder. Arjuna quer ter agora uma experiência direta da divina majestade do Senhor. O Senhor, Krishna, lhe concede um novo poder de percepção intuitiva, com o qual Arjuna se capacita para ter uma experiência direta do divino. O Senhor, Krishna, revela para ele a sua forma cósmica ou Vishvarupa. Num só instante, Arjuna descobre que tudo aquilo que existe o passado, o presente e o futuro, emanam do âmago do Senhor. Torna-se difícil para Arjuna vislumbrar a majestade e o esplendor do Senhor, por serem excessivamente grandiosos. Arjuna percebe que todos os seres, ao longo do tempo, são inexoravelmente absorvidos pelo Senhor, Krishna. Arjuna dá-se conta, então, de que só existe uma única vontade e que ela pertence ao Senhor. Arjuna descobre, de antemão, que todos os exércitos, que aguardam o momento da batalha, já foram destruídos pela vontade do Senhor, e que ele próprio é apenas um instrumento para que isso ocorra. Essa experiência abala o mais íntimo recanto do coração de Arjuna e ele se entrega plenamente à devoção ao Senhor. No final, Arjuna é informado pelo Senhor de que essa experiência é raramente vivenciada e que, somente através de uma firme e profunda devoção, uma pessoa pode alcançá-la. Por isso, Arjuna é conclamado a ser um devoto fervoroso do Senhor, a fazer com que a sua vontade seja cumprida, e encarando o Senhor como a coisa mais elevada, não tendo apego à coisa alguma, a não ser exclusivamente o Senhor, Krishna. Início do texto sagrado. “Então dirigiu Arjuna ao Senhor Abençoado Krishna estas palavras: Os teus ensinos, Oh Senhor! Com os quais te dignaste explicar-me o grande mistério do Espírito, destruíram a minha ilusão e ignorância. Tu me revelaste a plena verdade a respeito da criação e destruição de todas as coisas, a respeito da tua grandeza, infinita perfeição e universal imanência. Tu és, em verdade, o Senhor do universo, como me expuseste e me convenceste. Mas se é possível, Oh meu Senhor e Mestre! Mostra-me a tua majestosa forma. Se julgas que sou capaz de vê-la, faz-me ver a tua própria face e forma, o teu eterno Eu, Oh adorado! A Divindade responde: Vê, pois Oh! filho da Terra, e contempla-me, que sou Um só, em milhares e milhões de diferentes e variadíssimas formas. Imerge o teu olhar no reino dos deuses, anjos e arcanjos, espíritos planetários, diretores dos mundos e muitos outros seres misteriosos, com que não sonha nem a mais indômita especulação e fantasia. Vê e observa o Universo inteiro, com todos os seres animados ou inanimados, resumido no meu corpo. Nele encontras tudo o que desejas ver.  Mas não é com os teus olhos materiais que me podes ver. Para isto, abro-te a tua visão espiritual. Olha, pois, e vê agora a minha gloriosa natureza Mística. Sanjaya: Tendo o Senhor dos Mundos assim dito, deu-se a conhecer ao filho da Terra em seu supremo aspecto de Senhor Absoluto, cujo domínio abrange o Universo inteiro. Neste aspecto, viu-se como muitos em Um só, com inúmeras faces e olhos e bocas, inúmeras aparências, consciências e formas, com todo o esplendor de adornos celestes, com todas as forças de poder divino, divinamente vestido e coroado, exalando agradabilíssimos perfumes. Luminoso, radiante, maravilhoso, cheio de graça, e onividente era o seu Semblante. Se mil Sóis, ao mesmo tempo brilhassem no firmamento, a luz deles haveria de empalidecer na presença da glória que aquele semblante irradiava em todas as direções. Arjuna viu, então, todo o Universo, variadíssimo em suas múltiplas aparências, formando uma Unidade no Corpo do Ser Absoluto e manifestando-se como muitíssimas partes nos corpos dos deuses. Arrebatado e pasmado e com os cabelos arrepiados, mirou e admirou essa visão maravilhosa, e, inclinando a cabeça com reverência e devoção, juntou as mãos e dirigiu-se ao Altíssimo, dizendo: Arjuna: No corpo teu, Oh! Deus eu vejo todos os deuses, os degraus de seres todos; noto o Brahma, sentado numa flor de lótus. E a seu redor os santos com os sábios. Inúmeros teus braços e teus olhos. Inúmeros teus peitos e tuas bocas. Eu vejo que no teu ser Infinito, não há princípio, ou meio ou fim algum. Sobre a cabeça trazes a coroa. Na mão o cetro e o disco segurando. Por toda a parte irradias viva luz. Tão forte que os olhos meus ofuscam. Es indiviso, Oh Rei dos entes todos! A lei e o coração de todo o Cosmos. Tu es o alvo mais alto do saber. De todo ser que existe, a Eterna Fonte. Não tens princípio, meio ou fim algum. È eterno o teu poder, a tua ação. Teus olhos são o claro Sol e a Lua. A tua face brilha como fogo. Com tua luz, tu enches os espaços. O teu amor aquece os mundos todos. Todas as Terras, todos os empíreos. De ti, de tua glória cheios são. Porém, vendo a estupenda face tua. Os mundos tremem, fogem-te os demônios. E as multidões dos santos e dos pios as mão estendem, dando-te louvores. Com hinos te celebram, Grande Deus. Todas as multidões e classes de anjos. Arcanjos, querubim e serafim. E todos os mais entes celestiais. Reunindo-se em falanges numerosas. Admiram, Oh Senhor! A tua forma. Os mundos, vendo a tua majestade. Pasmam, e em mim palpita o coração. Com a cabeça tocas o alto céu. Em milhares de cores resplandeces. A tua boca está aberta, horror! E como os grandes olhos teus flamejam! Teus dentes, ai! Se ouriçam e me assustam. A tua boca ao mundo lança incêndio. Que aspecto aterrador é para mim! Já perco os meus sentidos; tem piedade! De Dhritarashtra os filhos, e com eles a grande multidão dos grandes generais. O invencível Bhishma, Drona, Karna, e dos guerreiros nossos os mais fortes. Desaparecem nessa horrível boca, da qual os aguçados dentes vejo. Ai! Muitos vejo já com membros triturados. Despedaçados são por esses dentes! Como os rios, correndo ao mar enorme. Com rapidez ao alvo seu encaminham. Irresistivelmente vão lançar-se esses heróis em tua garganta ardente. Como as moscas, à luz da vela voando. Vão perecer na chama que procuram. Assim os mundos vão se aproximando, a passos apressados do seu fim. Em teus lábios, Senhor, em tua garganta, todos os mortais sumir-se eu vejo. A tua luz penetra todo o mundo. E teus fogosos olhos queimam tudo. Oh! dize-me quem es, que tão terrível aspecto tens? Perante ti me prostro. Oh! tem piedade! quero conhecer-te. Mas esta aparição eu não compreendo. O Sublime, Krishna, fala: Eu sou o tempo, destruidor dos mundos. Sob esta terrível forma, aqui me empenho na destruição. Desta multidão de príncipes, de todos os guerreiros que aqui vês nenhum me escapará. Só tu os sobreviverás. Levanta-se, pois, teu é o poder. Combate, tu serás o vencedor. Meu braço já abateu teus inimigos. Sê instrumento meu, sê meu executor. Derrota todos: Brishma, Drona, Karna. E Yayadratha com os mais heróis. Eu já os destruí, não estremeças!coragem! e serás o vencedor! Sanjaya: O heroico Arjuna, ouvindo estas palavras do Senhor dos mundos, prosternado e humilhado estendeu as mãos e disse com trêmula voz: o mundo, com razão, Senhor, se alegra em tua luz e tua majestade. Adoram-te com júbilo os anjos. Porém fogem de ti os maus, os demônios. A ti pertence a glória, a ti somente. Ser dos seres, mais alto do que Brahma! Espírito Infinito!, Único, Eterno. Que ao mesmo tempo, es o Ser e o Não Ser” Tu es o Deus Supremo, o Criador, Sustentador de todo este Universo. De todos os seres es a origem, Es a Verdade estável, e o Saber. Tu es o fogo, es a Água, o Vento, a Terra. A Lua, es Oh! Senhor e o Pai dos homens. Somente a ti pertence a glória vera. A ti somente deve-se adorar. Senhor, louvado sejas nas alturas. E nas profundidades dos abismos. Sem fim é teu poder e tua força. Tu és o Todo, e tudo Tu sustentas. Perdoa-me que, confidencialmente, eu te chamava: Oh Krishna! Amigo meu. Perdoa-me esta leviandade, e falta de respeito a ti devido. Perdoa-a as faltas minhas cometidas. Talvez, no gracejar, em companhia. Ou quando estava só, em pé, no leito. Parado ou caminhando em ignorância. Oh Senhor do Universo! Pai de tudo! Oh Fonte do Saber! Supremo Mestre! Não há ninguém que seja igual a Ti. Tu infinitamente poderoso! Humildemente prostro-me aos teus pés. Imploro, meu Senhor, tua clemência. Oh! Sê-me afável, como o pai ao filho. Como um amigo, ou um amante, ao outro. Mirando as tuas grandes maravilhas. Me extasio, porém temor me invade. Desejo em outra forma contemplar-te, Oh! Mostra-te bondoso, noutro aspecto! Desejo ver-te, como eu antes te vi. Ver-te com a coroa, o cetro e o disco. De novo, aparece-me nessa forma. Que me sugere amor, e não me espanta! Disse Krishna: Por meu poder contemplaste, Arjuna, infinita e radiante, a minha forma. Que em si contêm dos seres o conjunto. Ninguém dos outros ainda assim me viu. Nem dos sagrados livros os estudos. Nem esforços mentais, nem sacrifícios. Nem boas obras, nem a penitência me podem revelar assim aos homens. Não temas, não te assustes, caro. Por teres visto esta minha forma. Liberta-te de todo o medo, e vê-Me. De novo, agora, em minha forma humana. Sanjaya: Pronunciadas estas palavras, apareceu Krishna ao príncipe pandava outra vez em sua forma usual, com a expressão de suprema bondade e meiguice, tranquilizando assim o atemorizado Arjuna. Arjuna, recuperando a tranquilidade de ânimo, exclamou: Oh! Como se acalma o meu espírito, quando me apareces em tua pacífica forma humana! Respondeu Krishna: A forma em que me viste, Oh príncipe! É tal, que a poucos é dado contemplá-la. Os deuses, os arcanjos e os espíritos dos mais altos céus desejam ardentemente vê-la, mas não podem encarar-Me como tu Me encaraste. A esta visão não se chega pela leitura das Escrituras, nem por voluntários martírios, nem pela distribuição de esmolas ou sacrifícios. Só pelo verdadeiro amor e verdadeira devoção se pode chegar ao conhecimento do Meu Ser, e conhecer e ver e penetrar Minha essência. Quem tudo faz em Meu nome; quem Me reconhece como o alvo de todos os seus mais nobres esforços; quem Me adora, livre de apegos e sem odiar a ninguém, esse chegará a Mim". Abraço. Davi.

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