quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A Televisão Vista Numa Visão Crítica.



As ponderações se embasarão num texto do filósofo francês  Régis Debray (1940-  ), contido no livro L’Etat Séducteur (O Estado Sedutor), Gallimard, 1993. “Eu fiz o teste, quase disse a prova: ler os 15 ou 20 livros recentemente dedicados aos malefícios da sociedade midiática. A lista é impressionante, e poderíamos crer que a televisão tomou o lugar do próprio diabo. A seguir, sem nenhum acréscimo de minha parte e nem exagero de qualquer tipo, desordenadamente, o que pude trazer desse mergulho antimidiático. A televisão aliena os espíritos; mostra a todo mundo a mesma coisa; veicula a ideologia de quem a fabrica; deforma a imaginação das crianças; empobrece a curiosidade dos adultos. Adormece os espíritos; é um instrumento de controle político; fabrica nossas formas de pensamentos; manipula a informação; impõe modelos culturais dominantes, para não dizer burgueses. Só mostra de maneira sistemática uma parte do real, esquecendo a realidade urbana, as classes médias, o trabalho terciário, a vida no campo, o mundo operário. Marginaliza as línguas e as culturas regionais; engendra a passividade; destrói as relações interpessoais nas famílias, mata o livro e toda cultura “difícil”. Incita à violência, promiscuidade, subversão; assim como à vulgaridade, à pornografia; impede as crianças de si tornarem adultas. Concorre de maneira desleal com os espetáculos vivos, circo, teatro, espetáculo ou cinema; gera a indiferença e a apatia dos cidadãos por intermédio da sobre informação inútil. Abole as hierarquias culturais; substitui a informação pela comunicação, a reflexão pela emoção, o distanciamento intelectual pela presença de sentimentos voláteis e superficiais; desvaloriza a escola (...). Podemos nos perguntar como tal “monstro” pode ainda se beneficiar da cumplicidade das autoridades civis, para não falar do próprio povo. Podemos nos perguntar como, cada noite, a imensa maioria dos cidadãos se divide entre os que estão diante da telinha e aqueles que, mesmo criticando-a, se interrogam quanto à maneira mais viável de ter acesso a ela da maneira mais fácil (...)”. O ensaio com ênfase bombástica, tem a intenção de chamar nossa atenção à um tema que passa desapercebido à maioria daqueles que se sentam tranquilamente diante da Televisão, computador e mídias sociais quando o assunto está relacionado a notícias ou entretenimentos. Infelizmente a realidade francesa, americana, alemã, brasileira e de outras nações, no espaço da televisão e mídias sociais advindas da internet, têm poucas variações, quando especificadas no sentido da massificação da comunicação e informação. Assim não seria exagero colocar o contexto do ensaio acima na realidade que nós brasileiros estamos inseridos no momento histórico atual. A contundência da crítica a televisão, nesse ensaio, é pertinente em praticamente quase todos os sentidos, salvo alguns casos que mencionarei ao final, aja vista, o que percebemos aqui no Brasil com as programações de TV chamadas abertas, com sinais gratuitos e as de programação fechadas, por serem oneradas. Pra começar as maiores emissoras detentoras de altos índices de audiências, sustentam sua programação principal em telenovelas, entretenimentos e telejornais. As telenovelas criam estereótipos de comportamentos e modelos individuais esclerosados, antiéticos e amorais; que “vendidos” aos telespectadores como heróis, passam inconscientemente a impressão de que o personagem do mal é o paladino. Outro aspecto que elas distorcem, imprimindo falsos paradigmas relacionados a classes sociais, se referem a encenações nos roteiros em que o ambiente social dos protagonistas, coadjuvantes e figurantes, são o ideal de felicidade à ser alcançado. Outro absurdo é quando esse contexto da trama é usado “inconscientemente” à fazer apologia ao crime e violência, tanto que, em alguns casos, ao final da novela os personagens representando o lado antiético e amoral são implicitamente recompensados. Coisas como essas, são um péssimo exemplo a nossas crianças e jovens, que, sem perceberam são capturadas pela armadilha da inversão de valores; expondo-as à uma via de insegurança e sem perspectiva de um futuro como cidadãos que contribuirão ao progresso da nação. Os pais e mães, que têm crianças, precisam atentar urgentemente à essa tão importante questão. Ficamos nos perguntando qual a utilidade moral ou prática dos entretenimentos televisivos? Não tenho medo de errar, ao dizer que, quase nenhuma. Ao contrário, um precioso tempo é perdido, sem objetividade produtiva e nenhum conhecimento é agregado para a edificação cultural daquele que assiste a esse tipo de programa. Aqui incluo não somente as crianças, mas principalmente os adultos, que também malgastam precioso tempo com essas vulgarizações, incluindo o besteirol de quadros sem conteúdo, ou qualquer proposta “decente” de cultura artística, histórica ou ecológica. Os telejornais de quase todas as emissoras de televisão, carecem de comprometimento imparcial das notícias que veiculam para o grande público. É claramente percebido, que as notícias e matérias das programações, são expressas numa linguagem específica e subliminarmente ideológica. Há interesses os mais diversos de governos, empresários, industriais, comerciários, associações de classes, partidos políticos, entidades civis, publicitários e demais corporações da sociedade. Nesse contexto, sobressaem os grupos organizados, que adquiriram voz ativa junto a sociedade, tendo a influência econômica como moeda de barganha à favorecer seus propósitos exclusivos. Como esses meios de comunicação são sustentados e têm demanda financeiras, parece óbvio imaginar, que aquelas entidades que mais são contempladas com publicidade relacionadas as suas corporações, sejam civis ou institucionais, terão uma influência maior nesses canais de comunicação. Assim, a informação acaba sendo filtrada por situações preestabelecidas pelo poder econômico e pelo poder político vigente. Numa situação intrincada como esta, a informação, o principalmente meio de comunicação com o público, que deveria também mencionar proposta sugerindo soluções de questões sociais, econômicas e políticas equitativamente, esbarra nesse mecanismo de atraso e retrocesso do desenvolvimento nacional. Isso sublima a vulgarização da imprensa televisiva, e num certo sentido, é razoável incluir a escrita onde nos debates que se comentam nos noticiários dos diversos setores sociais, os jornalistas emitem opiniões carregadas de ideologia partidária, seja a favor da situação ou contra ela. Isso dá a entender, que eles estão inseridos numa determinada corporação, defendendo um tipo de interesse que não é o da população, desse modo, não se expressam de forma livre ou neutra. Outro aspecto a destacar é que, a televisão, nesse contexto em que ela está inserida, representa uma parcela do poder dominante da sociedade. Tanto que, seus ancoras e protagonista nos telejornais, telenovelas e demais programações, parecem, em muitos casos, pousar como celebridades. Isso distorce o profissionalismo, incutindo a vaidade e ostentação, fugindo à realização de um bom trabalho independente, seja jornalístico ou de encenação dramatúrgica independente. Esse paradigma da "banalização", infelizmente contaminou quase todas as emissoras. Como disse anteriormente, poucas emissoras televisivas se esforçam por enfatizar a cultura, educação, moral, ética, espiritualidade e interesse público em suas programações. Como esses veículos de comunicação não dão audiência, nem seus espaços recebem recursos da iniciativa privada para vender seus produtos, são sustentados ora pelo poder público, ora por doações de terceiros que reconhecem a importância de tal grade ser transmitida para comunidade em geral. Assim segue, para os brasileiros leitores do Mosaico, como dica de programação alternativa, algumas emissoras menos dogmáticas e que se restringem ao uso de argumento de autoridade em suas grades.  Dos poucos casos que conheço, temos a TV Supren, na Net Canal 2, com uma programação alternativa que costumo assistir, de alto padrão cultural e espiritual. "Ela é um canal de comunicação da União Planetária, uma ONG sediada em Brasília, que congrega e apoia o movimento mundial pela renovação das estruturas sociais e o exercício da cidadania solidária. Enfatiza a força dos exemplos de pessoas, organizações e movimentos que trabalham em prol da construção de um mundo melhor. Assim, alimenta a fé, a esperança e a sinergia coletiva para enfrentar os desafios emergentes de nossa época. A TV Supren é uma televisão educativa, plural e democrática, que valoriza a diversidade étnica, cultural e linguística, assim como a multiplicidade de ideias, de crenças e de saberes de cada nação. Alguns dos seus programas são: mundo yoga; em busca do auto conhecimento; diálogos com o filósofo oriental Jiddu Krishnamurti; mandala viva; palestras gravadas na Sociedade Teosófica, papo supren dentre outros. Tem um belíssimo projeto chamado Pedagogia das Virtudes, que promove fóruns e debates sobre os mais variados assuntos, sempre evidenciando a importância da mudança de paradigma social, para um modelo virtuoso de educação, ética, moralidade, fraternidade e humanismo responsável. Uma expressão do anseio de muitos por mudanças de paradigma". A TV ou Canal Futura também me parece recomendada dentro dessa linha alternativa de comunicação voltada ao conhecimento e valorização do ser humano. Sua grade inclui telecurso de ensino fundamental, ensino médio e curso técnico; estação saúde; sala de debate tratando de temas atuais; programação infantil contextualizada com fatos sociais; mundo da leitura onde é enfatizado a importância do contato com bons livros; um quadro chamado cidades e soluções. A TV Cultura é também uma referência em comunicação alternativa. Com seus programas, principalmente, telejornais diurnos e noturno interagem com os telespectadores ao vivo, nos debates com os convidados que comentam as notícias do cotidiano da política e economia, através das mídias social facebook, wathsapp e stargran. Mas ainda guardam os vícios do protagonismo personalista das grande redes de comunicação, com opiniões partidárias e ideológicas. Esta TV têm ótima grade para crianças com os quadros Castelo Ra Tim Bum, Shaun O Carneiro, Bubble e Guppies, e as famosas histórias de Monteiro Lobato (1882-1942) no Sítio do Pica Pau Amarelo. Fantasia, imaginação, quimera, sonho, ficção e magia, isso sim construí positivamente o inconsciente de nossas crianças. Fazendo-os seres totais integrados ao mundo visível e invisível. Aos cristãos, que desejam momentos de elevação espiritual, com reflexão de vontades e escolhas orientadas na divindade interior, sugiro assistirem  a TV Canção Nova. Nela encontrarão testemunhos de fé, experiências de vida, canções cristãs, homilias, pregações, mostrando a fragilidade humana e a grandeza da divindade, que nos leva a compreende o sofrimento de todos os seres. Tudo isso num ambiente de misticismo, evocação e contemplação, misturado a fraternidade religiosa e solidariedade humanas. Essas quadro emissoras, devem haver outras, estão incluídas nos chamados canais fechados. Já a TV Brasil, uma emissora do governo federal, transmitida nos canais abertos tem uma ótima grade de programação incorporando vida no campo, liberdade religiosa, opção de saúde, ciência e tecnologia, expedições à florestas despertando a consciência ecológica; conhecendo museus onde se valoriza a importância da memória cultura e memória iconográfica, e o conhecido café filosófico com acadêmicos da USP e de outras universidades, discutindo assunto relacionados ao ser (homem) e ao ente (coisas e objetos). Há também um quadro sobre filme nacionais antigos muito interessante. Ao assistirem perceberão as diferenças culturais e sociais da modernidade entediante e estressante em que vivemos. Os filmes em preto e branco, são da década de 50 e 60, destacando-se como ator Amácio Mazzaropi (1912-1981) um personagem aos moldes de Charles Chaplin (1889-1977) na ingenuidade e simplicidade. Mazzaropi foi protagonista de 32 filmes, que por sua beleza artística e cultura brasileira é atraente presenciar. As mídias sociais discutiremos num momento mais apropriado. Abraço. Davi.

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