As ponderações se embasarão num texto do filósofo francês
Régis Debray (1940- ), contido no livro L’Etat Séducteur (O Estado
Sedutor), Gallimard, 1993. “Eu fiz o teste, quase disse a prova: ler os 15 ou
20 livros recentemente dedicados aos malefícios da sociedade midiática. A lista
é impressionante, e poderíamos crer que a televisão tomou o lugar do próprio
diabo. A seguir, sem nenhum acréscimo de minha parte e nem exagero de qualquer
tipo, desordenadamente, o que pude trazer desse mergulho antimidiático. A
televisão aliena os espíritos; mostra a todo mundo a mesma coisa; veicula a
ideologia de quem a fabrica; deforma a imaginação das crianças; empobrece a
curiosidade dos adultos. Adormece os espíritos; é um instrumento de controle
político; fabrica nossas formas de pensamentos; manipula a informação; impõe
modelos culturais dominantes, para não dizer burgueses. Só mostra de maneira
sistemática uma parte do real, esquecendo a realidade urbana, as classes
médias, o trabalho terciário, a vida no campo, o mundo operário. Marginaliza as
línguas e as culturas regionais; engendra a passividade; destrói as relações
interpessoais nas famílias, mata o livro e toda cultura “difícil”. Incita à
violência, promiscuidade, subversão; assim como à vulgaridade, à pornografia;
impede as crianças de si tornarem adultas. Concorre de maneira desleal com os
espetáculos vivos, circo, teatro, espetáculo ou cinema; gera a indiferença e a
apatia dos cidadãos por intermédio da sobre informação inútil. Abole as
hierarquias culturais; substitui a informação pela comunicação, a reflexão pela
emoção, o distanciamento intelectual pela presença de sentimentos voláteis e
superficiais; desvaloriza a escola (...). Podemos nos perguntar como tal
“monstro” pode ainda se beneficiar da cumplicidade das autoridades civis, para
não falar do próprio povo. Podemos nos perguntar como, cada noite, a imensa
maioria dos cidadãos se divide entre os que estão diante da telinha e aqueles
que, mesmo criticando-a, se interrogam quanto à maneira mais viável de ter
acesso a ela da maneira mais fácil (...)”. O ensaio com ênfase bombástica, tem
a intenção de chamar nossa atenção à um tema que passa desapercebido à maioria
daqueles que se sentam tranquilamente diante da Televisão, computador e mídias
sociais quando o assunto está relacionado a notícias ou entretenimentos.
Infelizmente a realidade francesa, americana, alemã, brasileira e de outras nações, no espaço da
televisão e mídias sociais advindas da internet, têm poucas variações, quando
especificadas no sentido da massificação da comunicação e informação. Assim não
seria exagero colocar o contexto do ensaio acima na realidade que nós
brasileiros estamos inseridos no momento histórico atual. A contundência da
crítica a televisão, nesse ensaio, é pertinente em praticamente quase todos os
sentidos, salvo alguns casos que mencionarei ao final, aja vista, o que
percebemos aqui no Brasil com as programações de TV chamadas abertas, com
sinais gratuitos e as de programação fechadas, por serem oneradas. Pra começar
as maiores emissoras detentoras de altos índices de audiências, sustentam sua
programação principal em telenovelas, entretenimentos e telejornais. As
telenovelas criam estereótipos de comportamentos e modelos individuais
esclerosados, antiéticos e amorais; que “vendidos” aos telespectadores como
heróis, passam inconscientemente a impressão de que o personagem do mal é o
paladino. Outro aspecto que elas distorcem, imprimindo falsos paradigmas
relacionados a classes sociais, se referem a encenações nos roteiros em que o
ambiente social dos protagonistas, coadjuvantes e figurantes, são o ideal de
felicidade à ser alcançado. Outro absurdo é quando esse contexto da trama é
usado “inconscientemente” à fazer apologia ao crime e violência, tanto que, em
alguns casos, ao final da novela os personagens representando o lado antiético
e amoral são implicitamente recompensados. Coisas como essas, são um péssimo
exemplo a nossas crianças e jovens, que, sem perceberam são capturadas pela
armadilha da inversão de valores; expondo-as à uma via de insegurança e sem
perspectiva de um futuro como cidadãos que contribuirão ao progresso da nação.
Os pais e mães, que têm crianças, precisam atentar urgentemente à essa tão importante
questão. Ficamos nos perguntando qual a utilidade moral ou prática dos
entretenimentos televisivos? Não tenho medo de errar, ao dizer que, quase
nenhuma. Ao contrário, um precioso tempo é perdido, sem objetividade produtiva
e nenhum conhecimento é agregado para a edificação cultural daquele que assiste
a esse tipo de programa. Aqui incluo não somente as crianças, mas
principalmente os adultos, que também malgastam precioso tempo com essas
vulgarizações, incluindo o besteirol de quadros sem conteúdo, ou qualquer
proposta “decente” de cultura artística, histórica ou ecológica. Os telejornais
de quase todas as emissoras de televisão, carecem de comprometimento imparcial
das notícias que veiculam para o grande público. É claramente percebido, que as
notícias e matérias das programações, são expressas numa linguagem específica e
subliminarmente ideológica. Há interesses os mais diversos de governos,
empresários, industriais, comerciários, associações de classes, partidos
políticos, entidades civis, publicitários e demais corporações da sociedade.
Nesse contexto, sobressaem os grupos organizados, que adquiriram voz ativa
junto a sociedade, tendo a influência econômica como moeda de barganha à
favorecer seus propósitos exclusivos. Como esses meios de comunicação são
sustentados e têm demanda financeiras, parece óbvio imaginar, que aquelas
entidades que mais são contempladas com publicidade relacionadas as suas
corporações, sejam civis ou institucionais, terão uma influência maior nesses
canais de comunicação. Assim, a informação acaba sendo filtrada por situações
preestabelecidas pelo poder econômico e pelo poder político vigente. Numa
situação intrincada como esta, a informação, o principalmente meio de
comunicação com o público, que deveria também mencionar proposta sugerindo
soluções de questões sociais, econômicas e políticas equitativamente, esbarra
nesse mecanismo de atraso e retrocesso do desenvolvimento nacional. Isso
sublima a vulgarização da imprensa televisiva, e num certo sentido, é razoável
incluir a escrita onde nos debates que se comentam nos noticiários dos diversos
setores sociais, os jornalistas emitem opiniões carregadas de ideologia
partidária, seja a favor da situação ou contra ela. Isso dá a entender, que
eles estão inseridos numa determinada corporação, defendendo um tipo de
interesse que não é o da população, desse modo, não se expressam de forma livre
ou neutra. Outro aspecto a destacar é
que, a televisão, nesse contexto em que ela está inserida, representa uma
parcela do poder dominante da sociedade. Tanto que, seus ancoras e protagonista
nos telejornais, telenovelas e demais programações, parecem, em muitos casos,
pousar como celebridades. Isso distorce o profissionalismo, incutindo a vaidade
e ostentação, fugindo à realização de um bom trabalho independente, seja
jornalístico ou de encenação dramatúrgica independente. Esse paradigma da
"banalização", infelizmente contaminou quase todas as emissoras. Como
disse anteriormente, poucas emissoras televisivas se esforçam por enfatizar a
cultura, educação, moral, ética, espiritualidade e interesse público em suas
programações. Como esses veículos de comunicação não dão audiência, nem seus
espaços recebem recursos da iniciativa privada para vender seus produtos, são
sustentados ora pelo poder público, ora por doações de terceiros que reconhecem
a importância de tal grade ser transmitida para comunidade em geral. Assim segue,
para os brasileiros leitores do Mosaico, como dica de programação alternativa,
algumas emissoras menos dogmáticas e que se restringem ao uso de argumento de
autoridade em suas grades. Dos poucos casos que conheço, temos a TV
Supren, na Net Canal 2, com uma programação alternativa que costumo assistir,
de alto padrão cultural e espiritual. "Ela é um canal de comunicação da
União Planetária, uma ONG sediada em Brasília, que congrega e apoia o movimento
mundial pela renovação das estruturas sociais e o exercício da cidadania
solidária. Enfatiza a força dos exemplos de pessoas, organizações e movimentos
que trabalham em prol da construção de um mundo melhor. Assim, alimenta a fé, a
esperança e a sinergia coletiva para enfrentar os desafios emergentes de nossa
época. A TV Supren é uma televisão educativa, plural e democrática, que
valoriza a diversidade étnica, cultural e linguística, assim como a
multiplicidade de ideias, de crenças e de saberes de cada nação. Alguns dos
seus programas são: mundo yoga; em busca do auto conhecimento; diálogos com o
filósofo oriental Jiddu Krishnamurti; mandala viva; palestras gravadas na
Sociedade Teosófica, papo supren dentre outros. Tem um belíssimo projeto
chamado Pedagogia das Virtudes, que promove fóruns e debates sobre os mais
variados assuntos, sempre evidenciando a importância da mudança de paradigma
social, para um modelo virtuoso de educação, ética, moralidade, fraternidade e
humanismo responsável. Uma expressão do anseio de muitos por mudanças de
paradigma". A TV ou Canal Futura também me parece recomendada dentro dessa
linha alternativa de comunicação voltada ao conhecimento e valorização do ser
humano. Sua grade inclui telecurso de ensino fundamental, ensino médio e curso
técnico; estação saúde; sala de debate tratando de temas atuais; programação
infantil contextualizada com fatos sociais; mundo da leitura onde é enfatizado
a importância do contato com bons livros; um quadro chamado cidades e soluções.
A TV Cultura é também uma referência em comunicação alternativa. Com seus
programas, principalmente, telejornais diurnos e noturno interagem com os
telespectadores ao vivo, nos debates com os convidados que comentam as notícias
do cotidiano da política e economia, através das mídias social facebook,
wathsapp e stargran. Mas ainda guardam os vícios do protagonismo personalista
das grande redes de comunicação, com opiniões partidárias e ideológicas. Esta
TV têm ótima grade para crianças com os quadros Castelo Ra Tim Bum, Shaun O
Carneiro, Bubble e Guppies, e as famosas histórias de Monteiro Lobato
(1882-1942) no Sítio do Pica Pau Amarelo. Fantasia, imaginação, quimera, sonho,
ficção e magia, isso sim construí positivamente o inconsciente de nossas
crianças. Fazendo-os seres totais integrados ao mundo visível e invisível. Aos
cristãos, que desejam momentos de elevação espiritual, com reflexão de vontades
e escolhas orientadas na divindade interior, sugiro assistirem a TV Canção Nova. Nela encontrarão
testemunhos de fé, experiências de vida, canções cristãs, homilias, pregações,
mostrando a fragilidade humana e a grandeza da divindade, que nos leva a
compreende o sofrimento de todos os seres. Tudo isso num ambiente de misticismo,
evocação e contemplação, misturado a fraternidade religiosa e solidariedade
humanas. Essas quadro emissoras, devem haver outras, estão incluídas nos
chamados canais fechados. Já a TV Brasil, uma emissora do governo federal,
transmitida nos canais abertos tem uma ótima grade de programação incorporando
vida no campo, liberdade religiosa, opção de saúde, ciência e tecnologia,
expedições à florestas despertando a consciência ecológica; conhecendo museus
onde se valoriza a importância da memória cultura e memória iconográfica, e o
conhecido café filosófico com acadêmicos da USP e de outras universidades,
discutindo assunto relacionados ao ser (homem) e ao ente (coisas e objetos). Há
também um quadro sobre filme nacionais antigos muito interessante. Ao
assistirem perceberão as diferenças culturais e sociais da modernidade
entediante e estressante em que vivemos. Os filmes em preto e branco, são da
década de 50 e 60, destacando-se como ator Amácio Mazzaropi (1912-1981) um
personagem aos moldes de Charles Chaplin (1889-1977) na ingenuidade e
simplicidade. Mazzaropi foi protagonista de 32 filmes, que por sua beleza artística e cultura brasileira é atraente presenciar. As mídias sociais discutiremos num momento mais apropriado.
Abraço. Davi.
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