Judaísmo. www.morasha.com.br. A RESISTÊNCIA JUDAÍCA
DURANTE O HOLOCAUSTO. Recentemente os historiadores passaram a considerar o
número de judeus brutalmente assassinados pelo Terceiro Reich em torno de
7milhões – e não mais 6 milhões. A pergunta muitas vezes feita é por que estes
não resistiram? Por que não lutaram? Por que se deixaram levar “como ovelhas”?
Quem pergunta tem a objetividade do tempo transcorrido desde então e nenhuma
vivência pessoal de um horror que a mente humana não consegue assimilar. Mas a
pergunta precisa ser respondida. Uma guerra sem fronteiras havia sido declarada
pela Alemanha de Hitler contra o Povo Judeu, sem restrição de homens ou
armamentos. O fato colocava os judeus numa situação extremamente difícil. Eles não
possuíam um Estado, tampouco forças de combate treinadas; e nem aliados. Eram
uma minoria civil desarmada, espalhada em todos os países da Europa. No Leste
Europeu eram desprezados. Hoje, temos provas e testemunhos de que houve
centenas de atos, individuais e de grupo, de resistência judaica aos nazistas
nos países da Europa Ocidental e Oriental. Essa resistência se manifestou de
forma diferente dependendo do país, do grau de antissemitismo da população
local e do momento histórico. Um dos grandes desafios na historiografia da
resistência judaica durante o Holocausto é a definição do que deve ser
considerado como “resistência” a um poder opressor. Deve-se considerar apenas a
ação armada? Historiadores concordam que há duas categorias básicas: a resistência
civil, não violenta, e a armada. E, mesmo a armada é subdividida entre a
ofensiva e a chamada acorrentada. A resistência ofensiva inclui operações
armadas não convencionais, ações de guerrilheiros ou de sabotagem. Um exemplo
da resistência ofensiva foi a luta dos partisans1 nos
territórios sob domínio alemão. A acorrentada, por sua vez, implica em ações
armadas em situações em que são praticamente nulas as esperanças de
sobrevivência. O Levante do Gueto de Varsóvia, há 75 anos, em abril de 1943,
assim como os levantes ocorridos em outros guetos e campos de concentração, são
exemplos de resistência acorrentada. Há testemunhos sobre centenas de atos
individuais de mulheres e homens judeus, que, sendo levados à morte, tentaram
ferir seus algozes com facadas e até mesmo mordidas. E, é um fato histórico de
que dezenas de milhares de judeus participaram da resistência armada,
engrossando as fileiras dos movimentos nacionais de resistência, os partisans, na
luta contra o inimigo comum. (Apenas em território polonês, com raríssimas
exceções, os grupos de resistência não aceitavam judeus em suas fileiras). Nunca
é demais enfatizar que os partisan superavam apenas em ações de
guerrilhas. Um enfrentamento aberto, com armas em punho, contra os alemães
ocorreu em apenas três ocasiões – em Varsóvia, Paris e Eslováquia, no final do
verão europeu de 1944. Nas três ocasiões os resistentes sabiam que as forças
Aliadas estavam próximas. Em toda a Europa sob domínio nazista foram muito
frequentes os casos de ajuda por parte de judeus a seus correligionários “em
perigo ou em fuga”, de salvamento de crianças, de proteção aos que se
escondiam. E, enquanto aumentavam os esforços nazistas para erradicar os judeus
da História, dia após dia eles registravam a vida sob ocupação nazista,
inclusive nos campos de concentração. Escrever era uma forma de resistir, era
deixar a prova dos crimes nazistas. Na Polônia, trancafiados em guetos,
isolados e sem qualquer meio de comunicação com o exterior, os judeus criaram
uma ativa resistência civil, entre outras, organizações assistenciais,
religiosas e educacionais clandestinas. E conseguiram realizar levantes armados
em cinco dos principais guetos, em 45 dos menores, em cinco campos de
concentração e extermínio, e em 18 campos de trabalhos forçados. A fuga era uma
maneira de resistir. Mas, mesmo quando os judeus tinham os meios e a
oportunidade, as dificuldades eram enormes. A pergunta era “para onde ir? ”.
Praticamente nenhum país lhes abrira suas portas. Os que tiveram tempo de
escapar para outros países da Europa não foram rápido ou longe o suficiente;
judeus alemães e austríacos foram capturados na França, Bélgica e assim por diante.
Sem ajuda era quase impossível se esconder, e sobreviver. A população não
judaica muitas vezes era hostil; no melhor dos casos, indiferente a eles e à
sua sorte. Em sua caça aos judeus, os nazistas contavam com a ajuda
entusiasmada de ucranianos, lituanos e poloneses. E aquele que decidisse ajudar
um judeu, sabia que, se descoberto, seria executado. Ademais, qualquer tipo de
resistência por parte de uma nacionalidade qualquer era fortemente inibido pela
polícia nazista e seus métodos de terror. Porém, aos judeus os nazistas
reservavam um “tratamento especial”. A punição a um não judeu suspeito de um
ato de resistência era, em muitos casos, a execução sumária; a tortura era
usada para extrair informações. Porém, para um resistente judeu a execução sumária
era a melhor opção, pois, via de regra, ele devia “ser morto da maneira que
mais conduzisse à disciplina e que impedisse qualquer outro tipo de
resistência”. O sadismo nazista não teve limites. No Leste da Europa, os
resistentes judeus eram esfolados, queimados vivos, jovens judias recebiam
injeções de veneno que provocavam espasmos musculares antes da morte. Em
Minsk, o comandante das SS cegava os judeus capturados com ferro em brasa e os
enviava de volta para seus companheiros, como um “alerta”. Mas, acima de tudo,
a resistência era inibida pela política alemã de “responsabilidade coletiva”.
Essa tática de retaliação atribuía a responsabilidade a famílias, até a
comunidades inteiras por atos individuais de resistência. No caso judaico, a
retribuição podia atingir todos os habitantes de um gueto. Caso um judeu fosse
encontrado fugindo, de posse de um rádio, um telefone ou uma arma, dezenas ou
até centenas de judeus eram assassinados em represália. E, na eventualidade de
um judeu ferir ou matar um alemão, os números chegavam a milhares. Portanto, a
pergunta a ser feita é “como pôde haver uma resistência? ”. NA EUROPA
OCIDENTAL. Nos países da Europa Ocidental são muitos os exemplos de
resistência judaica – individual e organizada, civil e armada. Na França, por
exemplo, às vésperas da eclosão da 2ª Guerra, quando as autoridades francesas
anunciaram que evacuariam crianças francesas de Paris, os líderes dos Éclaireurs
Israélites, (Escoteiros Judeus) organizaram a saída das crianças judias das
famílias de imigrantes e montaram lares de infância coletivos no sul da França.
Os Éclaireurs Israélites e outros movimentos judaicos juvenis
tiveram papel crucial quando a perseguição ativa aos judeus chega ao país. Por
toda a Europa havia judeus engajados em ajudar seus correligionários “em perigo
ou em fuga”. A partir da França, a entidade judaica Oeuvre de Secours
aux Enfants (OSE), adotando o lema “Il faut sauver les enfants!
” (É preciso salvar as crianças), organizou uma rede clandestina de
resgate de crianças judias de toda Europa, que ficou conhecida como Circuit
Garel. A OSE os transportava para o sul da França, acomodando-os em lares e
orfanatos. Em 1943, com a intensificação das deportações, conseguiram
contrabandeá-las para a Suíça. Como mencionamos acima, milhares de judeus
combateram nas fileiras dos movimentos nacionais de resistência na França,
Bélgica, Itália, Iugoslávia, Grécia e Eslováquia. Na França, foi grande o
número de judeus na Resistência Francesa, La Résistance. Muitos
inclusive ocuparam posições de liderança. Um dos grupos da Résistance era
a Armée Juive (Exército Judeu), que operava no sul da França. Quando
os britânicos criaram a Special Operations Executive (SOE)
para espionar os inimigos e organizar os movimentos de resistência, entre os
agentes de campo infiltrados atrás das linhas alemãs havia muitos judeus,
principalmente mulheres. Na Grécia, o rabino Barzilai e os líderes comunitários
que faziam parte do Judenrat de Atenas decidiram não atender
nenhuma exigência nazista e agiram rapidamente. Foram queimadas todas as
informações sobre a comunidade, o rabino raspou a barba, juntando-se aos partisans nas
montanhas e incentivando todos os judeus a fugir. Entre os que se juntaram
aos partisans gregos, destacam-se 40 indivíduos integrantes do
grupo que explodiu a ponte da principal ferrovia, ligando o norte ao sul da
Grécia. A RESISTÊNCIA NÃO ARMADA NO LESTE EUROPEU. Os guetos no Leste
Europeu eram centros de morte lenta. Os judeus morriam de fome e de frio, pois
a quantidade oficial de alimentos e combustível que os nazistas destinavam a
eles era ínfima e constantemente reduzida. Morriam nas ruas por nenhum motivo
além de serem judeus. Em Varsóvia, a taxa de mortalidade chegou a mil por
semana. Os judeus procuraram resistir à política nazista de inanição e
desumanização. No início do seu confinamento – quando ninguém podia sequer
imaginar a possibilidade de um extermínio em massa ou de câmaras de gás – a
preocupação girava em volta da sobrevivência física, moral e espiritual. Na
maioria dos guetos maiores, uma “comunidade paralela”, uma rede de organizações
sócias, assistências, e políticas underground, incluindo movimentos juvenis,
passou a funcionar. Seus líderes haviam saído das fileiras das instituições
judaicas, dos movimentos juvenis sionistas e dos partidos de esquerda do
pré-guerra. Alimentos, mercadorias e medicamentos eram contrabandeados para
dentro dos muros do gueto, muitas vezes por crianças. Era o contrabando que
mantinha o gueto vivo. A “comunidade paralela” criou refeitórios, orfanatos,
clínicas e abrigos para refugiados e os mais pobres. Organizava ensino
clandestino e atividades culturais. Em Varsóvia, os “comitês das residências”
atuavam para cuidar dos que moravam em seus complexos habitacionais. Em muitos
casos, as atividades sociais davam cobertura a movimentos políticos ilegais. Sendo
a prática da religião judaica proibida, uma resistência religiosa entra em ação
para ajudar os judeus a observarem leis e feriados religiosos. Em casa de
orações clandestinas havia diariamente minyanim; apenas em Varsóvia
eram cerca de 600. Os rabinos continuavam a lecionar, a escrever comentários, a
realizar casamentos, Brit milot, Bar Mitzvás. Jovens
continuaram a estudar em yeshivot clandestinas. Os médicos
judeus não tinham acesso a medicamentos para salvar os doentes já enfraquecidos
pela fome. Ao se dar conta de que a guerra contra a fome estava perdida,
passaram a estudar os efeitos da inanição em seu próprio corpo e nos cadáveres.
Suas conclusões foram publicadas após a guerra, em Paris. Sob domínio nazista
era “ilegal” que os judeus possuíssem rádio, telefone ou que publicassem um
jornal. No entanto, a maioria dos grupos políticos clandestinos lutava contra o
isolamento judaico publicando jornais e boletins clandestinos. As notícias eram
compiladas de transmissões soviéticas ou da BBC, em rádios escondidos. Muitos,
judeus e não judeus, registram a vida sob julgo nazista, mas os arquivos mais
completos foram coletados pelo grupo “Oyneg Shabbes “, fundado em
Varsóvia pelo historiador Emanuel Ringelblum (1900-1944). As palavras de ordem
de Ringelblum eram “reunir material, juntar impressões e registrá-las,
imediatamente”. Ele acreditava que os arquivos permitiriam ao mundo pós-guerra
ouvir as vozes dos que foram silenciados. Eram registros dos crimes cometidos
pelos nazistas, e da vida, e morte dos judeus no gueto de Varsóvia e no resto
da Polônia. Um parêntese precisa ser aberto a respeito dos Judenrats,
os Conselhos Judaicos criados pelos nazistas para executarem suas ordens. As
atitudes de vários desses Conselhos são até hoje questionadas e criticadas, mas
não cabe aqui analisar suas ações ou razões. Porém, é preciso ressaltar que
muitos foram forçados a assumir o cargo, sob pena de morte, e que os Conselhos
eram impotentes frente aos nazistas. Suas tentativas de aliviar as condições de
vida nos guetos raramente tinham sucesso. O PONTO DE INFLEXÃO. A
operação Barbarossa, a invasão da União Soviética iniciada em junho de 1941,
marcou o ponto de inflexão da política alemã em relação aos judeus. Com a
invasão, dá-se início à matança rápida e indiscriminada de todo e qualquer
judeu, independente de idade ou sexo. Crianças de colo não eram poupadas. A
velocidade, e sigilo e ardis usados pelos alemães e seus colaboradores eram
essenciais para o “bom andamento das operações”. Quando havia qualquer tipo de
resistência, esta era brutal e imediatamente silenciada. Dia após dia, cidade
após cidade, os nazistas destruíram sistematicamente comunidades judaicas
inteiras. Não foram poucas as vezes em que foram “ajudados” pela população
local. Os alemães sabiam e exploraram ao máximo o antissemitismo reinante no
Leste europeu. Apesar do esforço alemão para manter a “Solução Final” em sigilo
absoluto, alguns judeus rastejaram com vida das valas onde os nazistas os havia
jogado junto com centenas de outros que haviam sido mortos a tiro. Eles
revelavam aos judeus que os encontraram “o crime sem nome” que vivenciaram. A
princípio, a maioria dos líderes dos movimentos judaicos clandestinos receberam
os relatos dos assassinatos em massa com ceticismo; os que acreditaram não conseguiram
interpretar o verdadeiro alcance dos acontecimentos. Em 1942, os testemunhos de
judeus que haviam fugido de campos de extermínio fizeram-nos estremecer. A
resistência polonesa também alertara seus contatos em Varsóvia sobre o que
acontecia com os judeus em Treblinka. Um dos membros do Bund é então enviado
para investigar, e volta com a confirmação de que se tratava de um campo de
morte, onde os judeus eram assassinados em câmaras de gás. Outros couriers,
foram despachados paraaveriguar e repassar as informações. Eles também voltam
com a confirmação dos massacres. Esses jovens, em sua maioria mulheres, haviam
criado uma rede de comunicação para conectar vários guetos. Com documentos
falsos viajavam por toda a Polônia levando informações, jornais clandestinos e
dinheiro; compravam e contrabandeavam armas para dentro dos guetos e
organizavam rotas de fuga. Ao receber confirmação dos assassinatos em massa e
das câmaras de gás, as lideranças compreenderam a realidade da “Solução Final”.
Perceberam que para evitar uma revolta em massa, os judeus eram ludibriados de
forma a pensar que apenas estavam sendo levados a campos de trabalho. Os
nazistas eram “ajudados” pela tendência do ser humano de racionalizar e de
negar o pior. “Por que os nazistas nos matariam se podiam explorar nossa mão de
obra? Vamos trabalhar nas piores condições possíveis, como escravos, mas vamos
sobreviver”. Para os movimentos clandestinos, a estratégia de não-provocação
até então adotada, facilitava os planos dos nazistas. Decidiram que era
imprescindível convencer outros judeus a resistir às deportações,
convencendo-os de que eram o passo inicial para a liquidação judaica. E
decidiram que era preciso enviar as informações para os Aliados, na esperança
de que algo fosse feito em seu socorro. Iludiam-se pensando que a falta de
ajuda decorria da falta de conhecimento (...). RESISTÊNCIA ARMADA. Vimos
acima que a ferramenta nazista mais potente contra a resistência era a tática
da “responsabilidade coletiva”. A pessoa podia estar decidida a lutar, a
enfrentar a tortura e a morte. Mas estaria preparado para ver que suas decisões
levaram os nazistas a assassinar seus familiares, seus amigos, quem sabe, o
gueto inteiro? Os inimigos eram implacáveis e as represálias, selvagens. E, o
crime supremo – matar um alemão – era vingado com rios de sangue judaico. Os
exemplos não terminam. Em Dolhyhnov, próximo a Vilna, toda a população do gueto
foi assassinada após a fuga de dois meninos que se recusaram a voltar atrás. Em
Bialystok os alemães atiraram em 120 judeus, em plena rua do gueto, após um
judeu ter matado um policial alemão, e ameaçaram destruir o gueto inteiro se
ele não se rendesse – o que acabou acontecendo (...). Os movimentos juvenis e
os partidos de esquerda e o Judenrat – que diferiam em muitos
assuntos – estavam de acordo em que uma resistência armada só poderia acabar em
morte para os judeus. E, enquanto houvesse a possibilidade de sobrevivência,
ainda que para uma minoria, teriam que aguardar. Mas eles se preparariam (...).
Em 1942 são criadas organizações de resistência armada. A primeira delas, a
FPO, Organização dos Partisans Unidos, foi formada em Vilna.
Um de seus comandantes, o poeta Abba Kovner, foi um dos primeiros a entender as
intenções nazistas. Num discurso inflamado em uma reunião underground,
Kovner conclama seus irmãos, judeus, a resistir. “Não acredite naqueles que
pretendem enganar-nos (...). O plano de Adolf Hitler (1889-1945) é eliminar
todos os judeus da Europa. É melhor cair como guerreiros do que viver à mercê
dos assassinos. Levantem-se! Ergam-se com suas últimas forças” O ZOB (Zydowska
Organizacja Bojowa, Organização de Combatentes Judeus, em polonês) deu seus
primeiros passos em Varsóvia, em 1942, após a Grande Deportação. Esse movimento
de resistência seria decisivo na organização do Levante do Gueto de Varsóvia. A
finalidade e velocidade da Solução Final deixava duas opções aos grupos de
resistência – que sobreviveram às deportações: organizar fugas em massa ou
ficar nos guetos e lutar. Os que optaram pela fuga, procuraram abrigo nas
florestas. Alguns juntaram-se às unidades de partisans soviéticos,
outros conseguiram formar grupos separados. Mas, muitos morreram de fome ou
pelas mãos de partisans ou camponeses poloneses: o ódio da
população em relação aos judeus era mais forte do que o ódio que nutriam pelos
alemães. A situação dos que ficaram para lutar era desesperadora e o tempo
corria contra eles. Rodeados por uma força militar alemã treinada e equipada
estavam em inferioridade numérica e seu “armamento” era irrisório; e era
extremamente difícil e perigoso obter armas. Os combatentes judeus não recebiam
armas, alimentos ou remédios “caídos dos céus”, jogados pelos Aliados, como os
demais grupos de resistência. Os couriers ou os judeus que
viviam no lado “ariano” tinham que comprar ou roubar armas, e contrabandeá-las
para dentro dos guetos sem serem detectados. No entanto, estavam preparados
para lutar e morrer; sua honra e a honra do Povo Judeu estavam em jogo. Sabiam
que não sobreviveriam, mas “por que não resistir quando a alternativa era a
morte em momento e local escolhidos pelos nazistas? escreveu um dos combatentes
do Levante do Gueto de Varsóvia, “Estamos sendo impelidos pelo desespero aliado
ao desejo de vingança. Nossos familiares foram abatidos como gado e atirados em
covas sem nome. O simples pensamento de dar um fim à vida de alguns alemães,
que fosse, já é um poderoso incentivo”. Nos guetos maiores, os combatentes das
organizações clandestinas sabiam que não podiam contar, de modo geral, com o
apoio dos Judenrat, nem com a população geral do gueto. Muitos
líderes desses conselhos eram ambivalentes quanto a ajudar a resistência porque
esperavam que a maior parte da população do gueto pudesse ser salva com seu
trabalho, e viam a rebelião armada como um plano suicida. Apenas em Kovno e Minsk,
os líderes do Judenrat cooperaram com o movimento clandestino.
A resistência mais bem-sucedida, uma fuga em massa, ocorreu em Minsk. Entre 6
mil a 10 mil judeus fugiram para as densas matas, e alguns milhares
sobreviveram até o final da guerra. Em muitos guetos menores, nos territórios
ocupados no leste da Polônia e da então URSS, os membros dos Judenrat eram
atuantes no movimento ou cooperavam com a resistência. Em muitos desses guetos
irromperam revoltas espontâneas durante sua liquidação final. O exemplo mais
famoso e dramático de resistência judaica armada durante o Holocausto foi o
Levante do Gueto de Varsóvia, em abril e maio de 1943, que assumiu um
significado muito além da revolta em si. Tornou-se um momento decisivo na
História Judaica, como reconheceu Mordechai Anielewicz, líder da ZOB, ao
escrever sua derradeira carta duas semanas antes de sua morte. REVOLTA NOS
CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO. Durante a Guerra, no período de 1939-1945, milhões
de pessoas passaram por uma extensa rede de milhares de diferentes campos erguidos
na Alemanha e nos países europeus ocupados por esse poder. Acredita-se que 5,7
milhões de judeus, entre homens, mulheres e crianças foram mortos nos campos
nazistas. A maioria foi envenenada por gás Zyklon-B logo após sua chegada em um
dos seis campos de extermínio estabelecidos em território polonês: Chelmno,
Belzec, Sobibor, Treblinka, Auschwitz-Birkenau e Majdanek. A atmosfera de total
terror e isolamento, nos campos, bem como a inanição crônica da maioria dos
prisioneiros inibiram completamente sua vontade e suas possibilidades de
resistir. A rotina diária nos campos era organizada de forma brutal. Incluía um
sistema elaborado de duros castigos pelas menores “infrações”, vigilância
acirrada e intermináveis chamadas para a contagem dos prisioneiros. Cercas de
arame farpado e de alta voltagem, cães selvagens amestrados e torres de
segurança deixavam pouca esperança de fuga. Quem tentava resistir ou fugir era
morto de imediato. Mas, apesar desses enormes obstáculos, houve vários atos de
resistência em diversos campos. Mesmo nos de extermínio, à sombra das câmaras
de gás e crematórios, os judeus encontraram formas de resistir a seus
opressores: lutar contra a desumanização. Havia tentativas organizadas pelos
movimentos clandestinos para informar ao mundo a brutalidade nazista, as cruéis
condições físicas e a sistemática aniquilação de judeus nesses campos do
inferno. Os judeus rezavam, acendiam velas de Chanucá; um par
de tefilin era um bem precioso (...). Três levantes corajosos
e ousados ocorreram nos centros de morte de Treblinka, Sobibor e
Auschwitz-Birkenau. De forma semelhante às rebeliões nos guetos, as revoltas
organizadas nesses centros, onde a humanidade chegou ao seu nível mais baixo,
surgiam do puro desespero e desesperança. Yehuda Bauer (1926- ), Professor Emérito de História e Estudos do
Holocausto na Universidade Hebraica de Jerusalém, e Consultor Acadêmico no Yad
Vashem, é um dos historiadores e pesquisadores que, em seu livro Rethinking
the Holocaust (“Repensando o Holocausto”), respondeu à pergunta: “Por
que os judeus não resistiram? ”. Ele escreveu: “A análise sobre a reação ativa
judaica à opressão nazista poderia resumir-se de maneira quase triunfalista:
havia uma resistência não armada, havia a santificação da vida, havia a
resistência armada (...). Ao se revoltar contra o regime hitlerista, que visava
exterminar toda a população judaica, os judeus não se envolveram em um ato de
heroísmo. Eles simplesmente quiseram preservar a substância moral e material de
nosso povo. Seu sucesso lhes garantiu a imortalidade”. www.morasha.com.br. Abraço. Davi
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