Teosofia. Mosaico
Espiritual. O tema dessa reflexão é para suscitar questionamentos e
esclarecimentos em relação ao Inferno ou Danação Eterna. Ele foi extraído do
livro Ísis Sem Véu, volume III, da senhora Helena Petrovna Blavatsky
(1831-1899), fundadora da Sociedade Teosófica juntamente com Henry Steel Olcott
(1832-1909) em New York - USA no ano de 1875. Com alguns comentários e
inferências tentei aproximar o leitor da discussão proposta. Confio no juízo
ponderado e imparcial dos investigadores da sabedoria divina que poderão opinar
se fui coerente ou incoerente em meus silogismos. Que cada um tome seu caminho
pela Senda Espiritual, recorrendo para o bom senso, harmonia e interação com
todos os mundos e seres (micros e macros cosmos) visíveis e invisíveis, tendo a
bênção da Mãe Natureza e da Santíssima e Imaculada Virgem Maria. Segue a
transcrição. QUESTIONAMENTOS SOBRE O INFERNO ETERNO. “Podemos assim inferir que a única diferença característica entre
o Cristianismo moderno e as antigas fés pagãs é a crença do primeiro num
demônio pessoal e no inferno. As nações Arianas não tinham nenhum demônio, diz
Max Muller (1849-1874). Plutão deus dos mortos e das riquezas na mitologia
romana, embora de caráter sombrio, era um personagem respeitabilíssimo; e Loki
o escandinavo era o deus do fogo, da trapaça e da travessura, estando
relacionado a magia, podendo assumir a forma que quisesse, embora uma pessoa
maligna, não era um diabo. A deusa alemã Hel, Helheim, como Proserpina,
correspondente na mitologia grega a Perséfones, sendo filha de Júpiter com
Ceres; uma das mais belas deusas de Roma. Enquanto colhia flores, foi raptada
por Plutão, que fez sua esposa. Também havia conhecido dias melhores. Assim,
quando os alemães falavam na ideia de um semítico Seth, Satã ou diabolus
semita, não se lhes infundia temor algum. Pode-se dizer o mesmo do inferno. O
Hades era um lugar muito diferente de nossa região de Danação Eterna, e
poderíamos qualificá-lo antes como um estágio intermediário de purificação”.
Algumas das ponderações de Orígenes de Alexandria (182-254), conhecido como o
cristão. Em sua doutrina da Apocatástase dizia que todos os seres inclusive os
que estão no inferno estavam passando por um processo de salvação e redenção
final – pós apocalipse – para se encontrarem perfeitos com o Logos Divino.
“Tampouco Hel ou Hela escandinavos implica um período preparatório ou um lugar
de punição; pois quando Fríga, a deusa mãe da dinastia de Aesir. Essa era
esposa de Odin, o deus supremo dos nórdicos, e madrasta de Thor. Frigga a deusa
da fertilidade, do amor e da união; é também a protetora da família, das mães e
das donas de casa. Símbolo de doçura, a mãe de Balder, o deus branco que morreu
e se viu na morada tenebrosa das sombras – HADES – caída em desgraça, enviou
Hermond, um dos filhos de Thor que era o deus do trovão e protetor dos agricultores.
Ele controlava o clima e as colheitas, sendo um dos deuses mais conhecidos
devido aos seus longos cabelos ruivos e seu poderoso martelo chamado Mjolnir,
com o qual protegia os mortais do mal. A amada criança foi encontrada pelo
mensageiro na região inexorável, sentada confortavelmente numa rocha lendo um
livro. O Reino Nórdico da morte situa-se, ademais, nas latitudes mais altas das
regiões polares. É uma morada fria e desolada, e nem os gélidos átrios do
Hela, nem a ocupação de Balder apresentam a menor semelhança com o inferno
flamejante de fogo eterno e os miseráveis pecadores, danados, com que a Igreja
tão generosamente o povoa. Também não o é o Amenti Egípcio. Amenti era o nome
que os egípcios davam ao templo onde as almas dos mortos eram reunidas, depois
da morte, para serem julgadas por Osíris. Segundo os egípcios as almas eram
julgadas num tribunal. Osíris colocava as ações boas ou ruins num prato de uma
balança, e no outro, uma pena. Se os pratos se equilibrassem a alma da pessoa
estaria salva. Caso contrário, era enviada para uma região das Moradas dos
Deuses, segundo a Teogonia, genealogia e filiação dos deuses, Egípcia. Nem o
Andhera, o abismo de trevas dos hindus, pois mesmo os anjos caídos que nele
foram precipitados por Shiva são autorizados por Parabrahman a considerá-lo
como um estágio intermediário. No qual uma oportunidade lhes é concedida para
se preparem para graus mais elevados de purificação e redenção de seu miserável
estado. O GEHENA do Novo Testamento da Bíblia Cristã era uma localidade situada
fora dos muros de Jerusalém, e, ao mencioná-lo, Jesus empregava apenas uma
metáfora comum. Marcos 9,43-49 "E, se a tua mão te escandalizar, corta-a;
melhor é para ti entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para o
inferno (GEHENA), para o fogo que nunca se apaga. Onde o seu bicho não morre, e
o fogo nunca se apaga. E, se o teu pé te escandalizar, corta-o, melhor é para
ti entrares coxo na vida, do que, tendo dois pés, seres lançados no inferno
(GEHENA), no fogo que nunca se apaga. Onde seu bicho não morre, e o fogo nunca
se apaga. E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti
entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois, seres lançados no
fogo do INFERNO (GEHENA). Onde o seu bicho não morre, e o fogo não se
apaga". É impossível e ilógico pensar esse texto em sua literalidade. Na
mente do Mestre Jesus imagino que nunca se passou esse ensino exotérico –
exterior e parabólico – de decepar a mão, arrancar o pé ou extrair o olho para
ganhar a Vida Eterna. Mesmo que esses membros estivessem sendo pedra de tropeço
para a evolução da alma do discípulo. Aqui é claramente um ensino esotérico –
interno, profundo e místico – onde altruísmo e abnegação devem ser requisitos
indispensáveis para entrar na Vida Eterna. A superficialidade literal na
interpretação dessa passagem bíblica, desvirtua e corroí tudo que o Mestre
Jesus pregou de amor, fé e esperança. Donde então provêm o triste dogma
(verdade supostamente absoluta e inquestionável) do inferno, essa alavanca de
Arquimedes (287-212) da Teologia Cristã, com a qual se conseguiu sub julgar
milhões e milhões de cristãos por dezenove séculos? Seguramente não das
Escrituras Judaicas, e aqui chamamos em testemunho qualquer erudito hebreu bem
informado. Muitas pessoas têm duvidado da existência de Deus, quando ouvem o
ensino errôneo de que Deus criou um lugar de tormenta eterna para castigo dos
maus. Vejamos dois aspectos: quais as palavras hebraicas e gregas traduzidas
por INFERNO. Que significam no original e a dificuldade em bem traduzi-las. A
doutrina do inferno para um tormento, é de origem pagã, foi aceita pela igreja
dominante, nos séculos escuros da Idade Média, para intimidar os
"pagãos" a aceitarem a crença da Igreja Católica. O que levou o jovem
Martinho Lutero (1483-1546) para dentro do convento, a fim de tornar-se
sacerdote foi o medo do inferno. Pensava ele que aderindo as crenças e práticas
da Igreja Católica Romana, encontraria o único meio de escapar à morte eterna.
Na mitologia Grego Romana o INFERNO era o reino de Plutão. A ideia de um lugar
debaixo da Terra para tormento dos maus nasceu da mitologia romana, basta ler a
Eneida de Virgílio (70 AC 19) para nos certificarmos desta realidade. Daí a
origem da palavra inferno, do latim INFERI, inferior que vai para baixo. Esta
palavra normalmente foi usada pelos tradutores, para expressar o sentido do
termo hebraico SHEOL e dos Gregos: HADES, GEHENA e TÁRTARO. 1. SHEOL é um
vocábulo que aparece 62 vezes no Antigo Testamento. Era um lugar para onde iam
os mortos, por isso é sinônimo de sepultura, ou lugar de silêncio dos mortos.
SHEOL nunca teve em hebraico a ideia de suplício castigos corporais, tortura e
sevícia. Tudo o que provoca grande sofrimento moral, aflição intensa e
prolongada aos mortos. Sendo difícil traduzi-lo porque nenhuma palavra em
português dá ideia exata do significado do original, desse modo é melhor
mantê-la transliterada como fazem muitas traduções. A tradução brasileira não a
traduz nenhuma vez. Experimente traduzir SHEOL por inferno nessas duas
passagens bíblicas: Gênesis 42:38 "Ele, porém, disse: Meu filho não
descerá convosco; seu irmão é morto, e ele ficou só; se lhe sucede algum
desastre no caminho por onde fordes, fareis descer minhas cãs com tristeza a
sepultura". Impossível traduzir sepultura nesse versículo por INFERNO e
Jonas 2,1,2 "Então, Jonas, do ventre do peixe, orou ao Senhor, seu Deus, e
disse: Na minha angústia, clamei ao Senhor, e ele me respondeu; do ventre do
abismo, gritei, e tu me ouviste a voz". Ilógico e irracional traduzir a
palavra abismo por INFERNO aqui. 2. HADES é usado apenas 10 vezes no Novo
Testamento Mateus 11,23; Mateus 16,18; Lucas 16,23; Apocalipse 1,18; Apocalipse
6,8; etc. O emprego de HADES em I Coríntios 15:56 segundo Edilson Vallente numa
monografia sobre esse vocábulo página 27 (1978) declarou: "A passagem de
Paulo em I Coríntios 15,56 apresenta um problema de crítica textual. Na leitura
feita da Septuaginta, encontramos também nesse versículo a palavra HADES no
vocativo. As traduções mais antigas da Bíblia, antes das descobertas do século
XIX para cá, traziam a palavra "INFERNO" como sendo a tradução de
HADES. Com estudos feitos na área da crítica textual, valendo-se das
importantíssimas descobertas de Constantin Von Tischendorf (1815-1874), verificou-se
que a palavra usada não era HADES, mas a palavra Yanate (morte). Esse estudo
foi baseado nos mais fidedignos manuscritos descobertos até hoje. Com tudo isso
ficou claro que o apóstolo Paulo não usou nenhuma vez a palavra HADES em seus
escritos, provavelmente para não confundir com os conceitos deturpados do HADES
que existiam em sua época. Outra razão é dada por Edwards, dizendo que Paulo,
escrevendo em grego, procurava fugir do presságio negativo que acompanhava a
palavra causando terror ao povo. Cita Platão (428-347) para afirmar sua ideia:
"O povo em geral usa a palavra Pluto como eufemismo de HADES, com seus
temores de levá-los para as partes errôneas do invisível". É certo, que
Paulo não usou nenhuma vez a palavra Pluto, mas subentendendo o conceitualismo
bíblico, em Romanos 10:7 "Ou: Quem descerá ao abismo? isto é, para
levantar Cristo dentre os mortos", usa o termo abismo. Nas melhores
traduções da Bíblia, o termo INFERNO já foi substituído por morte. Isso é
maravilhoso e fantástico. A palavra HADES no Novo Testamento corresponde
exatamente a palavra SHEOL no Antigo Testamento. No Salmo 16:10 Davi disse:
"Pois não deixarás a minha alma na sepultura". O apóstolo Pedro
usando esta passagem profética do Antigo Testamento afirmou em Atos 2,27
"Porque não deixarás a minha alma no HADES". Nenhuma alma, de nenhum
ser dos mundos visível, ou invisível; hierarquias superiores ou inferior
(anjos, demônios, serafins, querubins, arcanjos ou almas humanas) ficarão
retidas, presas, no INFERNO. Esse lugar é provisório – uma disciplina
pedagógica para aperfeiçoamento da completude da centelha eterna
individualizada – quando o processo for concluído todos serão inseridos no
Logos Divino. Outra prova da exata correspondência – HADES sendo igual a Morte
– e encontra na Septuaginta, pois das 62
vezes que SHEOL é usado no Antigo Testamento, 61 vezes ela foi traduzida por
HADES. 3. GEHENA é uma palavra hebraica transliterada para o grego GEHENA,
encontrando-se nas seguintes passagens bíblicas: Mateus 5:22,29,30; Mateus
10,28; Mateus 18,9; Mateus 23:15,33; Marcos 9:43,45,47; Lucas 12,35; Tiago 3,6.
GEHENA vem da referência ao vale de Hinon. Nesse vale havia uma elevação onde
ímpios queimavam seus próprios filhos. Este vale se situava a sudeste de
Jerusalém; neste local antes da conquista de Canaã pelos filhos de Israel,
Cananitas ofereciam sacrifícios humanos. Posteriormente, judeus apóstatas
continuaram com esta prática nefanda e abominável, como nos relata II Crônicas
28,3 "Também queimou incenso no vale de Hinon, queimando a seus próprios
filhos no fogo, segundo as abominações dos gentios que o Senhor lançara fora de
diante dos filhos de Israel". Por estas circunstância, este vale se tornou
desprezível e amaldiçoado pelos judeus e símbolo do terror, da abominação e do
asco – repugnância natural direcionada ao que é excessivamente hediondo – e
mencionado por Jesus com essas características. Ser atirado à GEHENA após a
morte, era sinônimo de desprezo ao morto, abandonado pelos familiares, não
merecendo ao menos uma cova rasa, estando condenado a destruição eterna do
fogo. O vale de Hinon era um crematório das sujidades das cidades de Jerusalém.
O fogo ardia constantemente nesse sítio e com o objetivo de avivar as chamas e
tornar mais eficaz a sua força lançava ali enxofre. A ideia de que o fogo
queima constantemente em Hinon, não é razoável e nem admissível logicamente. 4.
TÁRTARO palavra grega que ocorre uma vez no Novo Testamento, encontrando-se em
II Pedro 2,4 "Ora, se Deus não poupou a anjos quando pecaram, antes precipitando-os
no INFERNO (TÁRTARO no original) os entregou a abismos de trevas, reservando-os
para juízo". A palavra TÁRTARO usada por Pedro se assemelha muito a
palavra "TARTARUS", usada na mitologia grega, com nome de um escuro
abismo ou prisão; porém, a palavra TÁRTARO, parece referir-se melhor a um ato
do que a um lugar. A queda dos anjos que pecaram foi do ponto de honra e
dignidade a desonra e condenação. Portanto, a ideia parece ser: Deus não poupou
aos anjos que pecaram, mas os rebaixou e os entregou as cadeias de trevas. O
argumento aqui logicamente é verossímil não existindo nenhuma ideia de fogo ou
tormento eterno nessa palavra. Este vocábulo, TÁRTARO, simplesmente declara que
esses anjos estão reservados para um julgamento futuro. Também se reserva as
trevas espirituais dos anjos caídos já que eles foram expulsos para a Terra e
não para um abismo literal. Apocalipse 12,9 "E foi expulso o grande
dragão, a antiga serpente, que se chama o diabo e Satanás, o sedutor de todo o
mundo, sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos". A única
menção, na Bíblia, a algo que se aproxima do INFERNO é o GEHENA ou Hinon, um
vale próximo a Jerusalém, onde se situava Tophet, local em que se mantinha
perpetuamente acesa uma fogueira queimando os detritos para fins de
higiene. O profeta Jeremias informa-nos que os Israelitas renegados fazia
sacrifícios humanos a Moloch – Hércules nessa região. E mais tarde descobrimos
os cristão substituindo calmamente essa divindade por seu Deus do perdão, cuja
ira não pode ser aplacada, a não ser que a igreja lhe sacrifique suas crianças
não batizadas e os seus filhos mortos em pecado no altar da "danação
eterna”. (Aqui é uma alusão a mortandade realizada pelo conquistador europeu em
cooperação com a Igreja – Jesuítas – na colonização das Américas portuguesas e
espanholas nos séculos XIV e XV. Crianças, mulheres, jovens, adultos indígenas
eram mortos, pois naquela época eles juntamente com os negros, não tinham
o reconhecimento de suas almas, assim supostamente "legitimando" os
sacrificados daqueles que não aceitassem a fé cristã. Como aceitar uma coisa
que não entendiam nem imaginavam a possibilidade disso em suas culturas. Mais
de 30 milhões de indígenas foram exterminados em nome de Deus e da
evangelização dos povos selvagens bárbaros e primitivos). E aqui está o que
Santo Agostinho (354-430) escreveu em sua famosa obra Confissões depois de sua
conversão: "Oh! meu Deus! Maravilhosa é a profundidade dessas tuas
palavras com que convidas os humildes. Amedronta-me tanta honra e me
estremeço de amor ante profundidade tão maravilhosa. A teus inimigos (os
pagãos) eu os odeio veementemente. Digna-te atravessá-los com tua espada de
dois gumes para que deixem de ser teus inimigos, porque me comprazeria vê-los
mortos". São palavras que envergonham e entristecem qualquer cristão, e
quando pensamos que tipos de argumentos como esse fomentaram tanto ódio,
“orgulho” e mortandade de pessoas inocentes, caímos em si, pedindo a
misericórdia divina. Maravilhoso espírito do Cristianismo; e isso oriundo de um
maniqueu. O Maniqueísmo era uma doutrina religiosa Persa que, difundida no
Império Romano, afirmava existir um conflito entre o Bem, designado como reino
de luz, e o Mal, o reino das trevas. Assim, o homem deveria auxiliar no êxito
do Bem através de práticas espirituais, esquivando-se da procriação e dos
alimentos de proveniência animal. De acordo com esse ensino o mundo teria sido
criado e tem sido dominado, basicamente, por dois princípios: o Bem, Deus e o
Mal, diabo. Não é difícil imaginar quem eram os inimigos do Senhor,
de acordo com os cristãos; as raras ovelhas no rebanho de Santo Agostinho eram
seus novos filhos e favoritos, que suplantaram em sua afeição os filhos de
Israel (Judeus), seu povo eleito. O resto da humanidade eram seus inimigos
naturais. As inumeráveis multidões de gentios consistiam em bom alimento para
as chamas do inferno; só os poucos da comunhão cristã eram os herdeiros da
salvação; isso é inacreditável. Como chegaram os padres a conhecer tão bem as
condições do INFERNO, a ponto de dividir as suas tormentas em duas categorias,
a POENA DAMNI (a dor da perda) e a POENA SENSU (sensação da dor). Sendo a
primeira a privação da visão beatífica; e a segunda, as penas eternas num lago
de fogo e enxofre? Se eles responderem que foi através de Apocalipse 20,10
"E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde
estão a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para
todo o sempre". Estamos preparados para demonstrar de onde o próprio teólogo
(apóstolo João) retirou a ideia. Deixando de lado a interpretação esotérica de
que o diabo ou o demônio tentador significa o nosso próprio corpo terrestre,
que depois da morte certamente se dissolverá nos elementos ígneos (que tem as
qualidades do fogo) ou etéreos (que tende a ser volátil, fluido). A palavra
"eterna" pela qual os nossos teólogos interpretam as palavras
"para todo o sempre" não existe na língua hebraica, nem como palavra
nem como sentido. Não há nenhuma palavra hebraica que expresse exatamente
a eternidade; segundo Le Clerc de La Bruere (1714-1754), significa apenas um
tempo cujo começo e cujo fim não são conhecidos. Embora demonstre
que essa palavra não significa duração infinita, e que no Antigo Testamento a
expressão para sempre significa apenas um longo espaço de tempo. O
arcebispo John Tollotson (1630-1694) deturpou completamente o sentido, no que
toca a ideia das tormentas do inferno. De acordo com a sua doutrina, quando se
diz que Sodoma e Gomorra pereceram no "fogo eterno", devemos entender
a expressão apenas no sentido de que o fogo não se extinguiu até as duas
cidades terem sido inteiramente consumidas. Quanto ao fogo do INFERNO, deve-se
entender as palavras no sentido estrito da duração infinita. Tal é a sentença
do sábio teólogo Tollotson. Pois a duração da punição dos depravados deve ser
proporcional a beatitude eterna dos justos. Diz ele que, esses (depravados)
terão punição eterna; mas os justos a vida eterna. O reverendo T. Swinden
(1793-1881), comentando as especulações de seus predecessores, preenche todo um
volume com argumentos, segundo ele incontestáveis, visando mostrar que o
INFERNO se localiza no Sol. Suspeitamos que o reverendo comentador leu o
Apocalipse na cama e teve em consequência um pesadelo. Há dois versículos do
Apocalipse de São João que dizem o seguinte: "E o quarto anjo derramou sua
taça sobre o Sol, e concedeu-lhe o poder de abrasar os homens pelo fogo. E os
homens então abrasados por um calor intenso puseram-se a blasfemar contra o
nome de Deus". Isto é simplesmente uma alegoria Pitagórica e Cabalística.
A ideia não é nova nem para Pitágoras (571 AC 495) nem para São João. Pitágoras
colocava a "esfera de purificação no Sol", Sol esse que, com a sua
esfera, ele localizava, ademais, no centro do Universo, tendo a alegoria um
duplo sentido. 1. Simbolicamente, o Sol físico representa a Divindade Suprema,
o Sol Espiritual Central. Chegando a essa região, todas as almas purificam-se
dos seus pecados, e unem-se para sempre com seu espírito, depois de sofrerem anteriormente
em todas as esferas inferiores. 2. Colocando a esfera do fogo visível no centro
do universo, Pitágoras insinuou o sistema heliocêntrico – os corpos celeste,
inclusive a Terra girava em torno do Sol. Comprovado posteriormente por Galileu
Galilei 1564-1642), que fazia parte dos mistérios, sendo comunicado apenas no
grau elevado de iniciação. São João dá a seu Verbo (Logos) um significado
puramente Cabalístico, que nenhum "padre", exceto aqueles que
pertenceram à Escola Neo Platônica, foi capaz de compreender. Por ter sido um
discípulo de Amônio Saccas (175-242), Orígenes de Alexandria (182-254) o
entendeu, devido a essa razão o vemos NEGAR CORAJOSAMENTE a PERPETUIDADE das
TORMENTAS do INFERNO. Ele sustenta que não apenas os homens, mas inclusive os
demônios – e por esse termo ele entendia os pecadores humanos desencarnados.
Após um período mais ou menos longo de punição, serão perdoados e finalmente
reconduzidos ao céu. Em consequência dessas e de outras supostas heresias,
Orígenes de Alexandria foi, naturalmente exilado e posteriormente morte,
tornando-se um dos primeiros mártires da Igreja Primitiva. Numerosas foram as
especulações eruditas e verdadeiramente inspiradas sobre a localização do
INFERNO. As mais populares foram as que o colocaram no centro da Terra.
Entretanto, numa certa época, algumas dúvidas céticas que perturbaram a
placidez da fé nessa doutrina altamente consoladora surgiram como consequência
da intromissão dos cientistas daqueles dias. Como observa o Senhor Swinden
(1866) em nosso próprio século, a teoria é inadmissível por duas
objeções: 1. É impossível supor que possa existir uma reserva suficiente de
combustível ou enxofre para manter um fogo tão furioso e constante. 2. Faltam
as partículas nitrosas do ar necessárias para mantê-lo em combustão. E como ele
diz: "pode um fogo ser eterno, quando toda a substância da Terra seria
desse modo gradualmente consumida". O cavaleiro cético esqueceu-se
evidentemente de que Santo Agostinho (354-430) solucionou há séculos a dificuldade.
Temos a palavra desse sábio doutor da Igreja de que o INFERNO, não obstante
estas dificuldades, está no centro da Terra, pois "Deus fornece ar ao fogo
central por mercê de um milagre". O argumento do pai da Igreja é
irresponsável e ilógico, de sorte que não procuraremos refutá-lo. É isso ai
amigos. Abraço. Davi.
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