quarta-feira, 14 de março de 2018

VERDADE OU IMAGEM DA VERDADE?


Espiritualidade. Texto de N. Sri Ham (1889-1973). VERDADE OU IMAGEM DA VERDADE? A VERDADEIRA forma de ocultismo não é algo exótico, revestido de fantasias, como muitas pessoas imaginam que seja. Desde os tempos mais remotos tem sido uma ciência que se ocupa com os fatos ou com a VERDADE. A imaginação é uma coisa, e os fatos são algo diferente. Mas esta ciência específica também se ocupa com a VIDA e a consciência, e é somente quando a vida da pessoa está baseada na VERDADE que ela adquire o aspecto de SABEDORIA. A SABEDORIA não pode ser separada da VIDA. Quando ela encontra o seu caminho na VIDA, esta começa a mostrar uma nova qualidade, um novo brilho e beleza diferentes daquilo que comumente se obtém. A VERDADE não admite compromissos, embora o comportamento de uma pessoa possa fazê-lo. Convenções e oportunidades também variam de acordo com as circunstâncias. Podemos estar unidos dentro de um espaço limitado. Eu, então, me acomodo às suas necessidades ou maneiras, e você faz o mesmo com relação a mim. Isso está certo e é necessário. Tal compromisso tem o seu lugar na VIDA. Porém não podemos tomar liberdades com o nosso entendimento ou qualificar uma VERDADE sem torna-la inverídica. Não se pode misturar a lógica com ideias que são apenas para satisfazermos a nós próprios.  A palavra VERDADE possui um significado tão extraordinário que poderíamos nem mesmo adivinhar a sua natureza. A fim de descobrir aquele significado, será necessário aplicar os mais rigorosos padrões à própria VIDA e a forma de pensar. Sem este procedimento será impossível atingir esta VERDADE na forma que precisa ser entendida em nós próprios, na forma em que se diferencia dos fatos externos às pessoas, que podem ser observados por qualquer um. Existem as coisas concretas ao nosso redor que podemos observar com as faculdades que normalmente usamos. Podemos compreender a sua natureza e propriedades ao menos superficialmente, mas a VERDADE significa muito mais do que tal compreensão e não deverá ser confundida com qualquer visão que se possa projetar, baseada em ideias preconcebidas ou em predileções pessoais. É fácil sucumbir aos grilhões de qualquer ilusão prazerosa, imaginando-a como VERDADEIRA. O que fundamentalmente causa a ilusão é a busca daquilo que proporciona prazer, daquilo que gratifica em qualquer nível que seja. Gostamos de aceitar algo mental ou fisicamente por proporcionar prazer, por ser conveniente fazê-lo ou por ser um pensamento confortante. É adequado a nossa forma habitual de pensar por assim dizer. Compreender a VERDADE não é a mesma coisa que assenhorar-se de uma ideia, e ater-se a ela com fervor. A mente é facilmente subornada pelo prazer. Com frequência damos prazer a alguma pessoa, a fim de conseguir que ela faça o que queremos que faça. Esta é uma prática que evidencia resultados em toda parte. A mente concordará voluntariamente com o doador do prazer. Portanto, é necessário sermos rigorosos conosco no que4 tange ao vivenciar a VERDADE – e esta é uma base necessária para o ocultismo. Aliás, poderia dizer que em país algum no mundo a importância de vivenciar a VERDADE foi tão enfatizada como na Índia, onde satyam (VERDADE) e ritam (RETIDÃO) foram proclamadas como sendo inalteráveis. “Somente a VERDADE conquista” é a antiga máxima adotada pelo governo indiano. É amplamente aceita enquanto palavra, mas poderíamos perguntar: até onde está sendo honrada na prática? Isso é algo que todos terão que descobrir em relação a si mesmo. Apenas se pode aplicar testes práticos à própria conduta para ver em que extensão a VERDADE está sendo vivenciada. A maioria de nós não compreende que há uma distinção importante a ser feita entre a VERDADE E A IMAGEM DA VERDADE. Em tantos temas, o que efetivamente é VERDADEIRO é uma coisa, mas nós agimos como se a conduta que entretém as cores da VERDADE também solucionasse a questão. A distinção entre estes pontos é destacada por Platão (428-347) em um de seus Diálogos. Não deveríamos fazer esta distinção de modo puramente metafísico, como fizeram os filósofos na Índia ao falar de Sat e Asat – aquilo que é o VERDADEIRO ou o EXISTENTE, e aquilo que não é o VERDADEIRO, uma ILUSÃO ou MITO. Tudo isso encontra-se em algum plano elevado, mas deveríamos tentar aplicar a distinção no PLANO DA VIDA e do PENSAMENTO PRÁTICO. Sem o que os termos metafísicos tornam meros instrumentos para o jogo e a diversão. Na diplomacia, é a imagem da VERDADE que está sempre sendo praticada para agradar, e todos os envolvidos sabem que isso é uma REALIDADE. Um diplomata bem-sucedido precisa ser agradável em seus modos, do contrário não lhe será possível conquistar as suas finalidades. Ele deverá sorrir, sorrir e sorrir, muito embora seus propósitos possam ser vis. A habilidade de insinuar-se e agradar é considerada requisito para o êxito naquela profissão. Geralmente os cortesãos dos reis e príncipes tinham modos perfeitos, mas com frequência os exibiam exageradamente, ou para afirmarem melhor a sua posição, ou porque todos nós temos a tendência de exagerar em tudo que achamos ser bom em nós. Mas ao mesmo tempo os cortesãos, enquanto uma classe, eram intrigantes e mentirosos, com algumas exceções. Os modos encantadores nem sempre podem representar boas intenções ou uma mente e coração belos. O comerciante também precisa ser bem habilidoso em seu discurso e afável para poder fechar os seus contratos. Podem existir alguns comerciantes que, tendo-se elevado até o topo, podem permitir-se ser francamente ásperos. Também deve haver alguns que são retos em suas opiniões, não obstante todas as tentações. Mas, falando de modo geral, a tendência seria de agir de tal maneira a fazer com que o cliente realize aquilo que o comerciante dele deseja, do último ser simpático a fim de agradar ao primeiro. Grandes importâncias financeiras são fornecidas como subsídios para grandes executivos do comércio para o entretenimento e agrado de clientes potenciais. No campo do Direito é comum, para o advogado que visa ganhar o seu caso, argumentar de tal maneira que “a pior razão se configure como sendo a melhor”. Isso está sendo feito constantemente. O juiz precisa ser incisivo e bem instruído para que não seja dominado por esta argumentação habilidosa. Falando de uma maneira geral, a busca do êxito, na medida em que depende de outros, exige um padrão de comportamento adequado. Quando os reis estão no poder, somos monarquistas. Quando a monarquia caí, poderemos tornar-nos republicanos, mas, se ela for restaurada, então teremos novamente de penetrar no campo da monarquia. Este tipo de conduta tem sido praticado por algumas pessoas muito famosas. Elas têm sido capazes de permanecer na crista de toda onda de mudança, embora outros ao seu redor sejam vencidos e obrigados a sucumbir. Viver uma VIDA DE VERDADE não consiste meramente em falar a VERDADE. Pretender ser aquilo que não somos é tão corruptivo quanto a INVERDADE no discurso. Em nosso coração precisa reinar o AMOR GENUÍNO pela VERDADE. Somente podemos ser integralmente VERDADEIROS se valorizarmos a VERDADE e atribuirmos importância a ela em nossa VIDA e PENSAMENTO, ou então precisamos estar tão plenos de amor que não podemos nutrir o menor desejo de enganar. Quando vivemos uma VIDA DE VERDADE, e toda a nossa natureza das coisas. O mero conhecimento não criará esta harmonia. O AMOR pelo CONHECIMENTO não é o mesmo que o AMOR PELA VERDADE, sem a qual não há possibilidade de SABEDORIA. Esta é a era da propaganda para diferentes finalidades. A tentativa da propaganda é sempre a de construir uma imagem atraente. A palavra IMAGEM está muito em voga atualmente, porque as pessoas se preocupam não com a VERDADE, mas com o êxito e a IMAGEM que está sendo apresentada. Existe uma tentativa para criar uma IMAGEM da própria pessoa ou de outros, seja como presidente, líder, instrutor religioso, candidato, etc. Também é criada uma IMAGEM dos produtos para que as pessoas os adquiram. Todos os especialistas em publicidade buscam criar nas mentes dos leitores de jornais e revistas, ou através de televisão e cartazes, uma IMAGEM que fará com que as pessoas se deixem levar pelos objetos que estão sendo anunciados. Mas a IMAGEM é apenas um FANTASMA, uma aparência, e a menos que ela reflita o que realmente é, a atração criada será uma atração falsa. Se a humanidade, ou qualquer parte dela, tiver de progredir em qualquer medida real, isso apenas poderá ser feito por uma mudança verdadeira, através de forças que geram melhorias nas mentes das pessoas, nos seus gostos, nas suas visões, valores e comportamentos. E não através da criação de ilusões prazerosas e atribuição de virtudes imaginárias a homens ou objetos, seja para lucro, para fins tirânicos ou de glória. Criar impressões que não correspondem a verdade deixam as coisas como estão e dão origem a ações da parte da própria pessoa e da de outros que positivamente impossibilitam qualquer real mudança para melhor. Qualquer glorificação, que não se origine de um sentimento real pela pessoa e apreço pelas suas qualidades, é apenas um truque de feitiçaria e produz hipnotismo de massa, como foi o caso na Rússia, na Alemanha e outros lugares. A bolha, por mais colorida que ela possa afigurar-se em determinada ocasião, eventualmente terá que romper-se e depois haverá desilusão e uma forte reação àquilo que se realizou anteriormente. Falando de AMOR ou AFEIÇÃO, o mundo seria melhor pela realidade do AMOR NO CORAÇÃO das pessoas, ou pela simulação do AMOR que pode revestir-se de muitas formas enganosas? Pode-se criar uma impressão de AMIZADE, como é feito pela estrutura política portentosa, mas isso é apenas parte do jogo diplomático. O que conta é o sentimento ou o espírito de AMOR dentro da pessoa e isso é o que ajuda os demais. Eu não sei a extensão do bem de “fingir uma virtude, se você não a tem”. Podemos satisfazer-nos facilmente com o fingimento e não atentar para a realidade. Se o substituto opera bem, por que preocupar-nos em encontrar a peça genuína? A palavra “DEUS” é um substituto comum para o DEUS REAL OU A REALIDADE ÚLTIMA. DEUS é algo sobre o que nada sabemos, mas sobre o qual podemos formar as noções que quisermos. Existem todos os tipos de ideias sobre DEUS, muito embora na prática a sociedade, o estado e a religião nem sempre permitam que se tenha ideias próprias. Tempos houve em que as pessoas foram perseguidas por defenderem ideias diferentes daquelas da comunidade, envolvendo DEUS, a natureza do UNIVERSO ou qualquer outro assunto, por mais desligado que estivesse de sua conduta e VIDA. Eles eram considerados hereges e queimados por mera suspeita. Herege era alguém que não apenas não se conformava externamente com padrões estabelecidos, ou professava abertamente uma ideia contrária àquilo que constituía a ordem. Mas até mesmo o fato de parecer está nutrindo determinados pensamentos, era considerado pecaminoso e subversivo. Não se pode dizer que um símbolo está destituído de valor. Pode não haver outra forma de nos referirmos objetivamente à realidade, mas um símbolo não passa a ser aquela REALIDADE. Ele poderá ter o seu valor desde que compreendamos que é apenas um indicador ou um substituto da coisa REAL. A partir de um ponto de vista, um símbolo é uma sombra, e a luz está por trás do homem que está olhando. No MITO DA CAVERNA de Platão, a luz está por trás dos homens que estão olhando para as densas sombras na parede na frente da qual se encontram. A sombra tem o valor de indicar a presença da luz e de dar um esboço do objeto que a obstrui. Mas é necessário olharmos na direção adequada em busca da luz em si. É importante VIVER o tipo de VIDA implícita na palavra ESPIRITUAL, ou ser conhecido como alguém que obteve êxito em um campo desconhecido, sustentando um rótulo envolto por um halo artificial? Pensar em algo considerando-o espiritual é uma coisa. E realmente ser ESPIRITUAL, sem nisso pensar de modo algum, é algo inteiramente diferente. Um homem, que é conscientemente ESPIRITUAL, não pode ser ESPIRITUAL na realidade. Deveria alguém renunciar àquilo que se pode renunciar facilmente, sem fazer disso um problema, ou ser conhecido como uma pessoa que renunciou? Neste país, a Índia, temos muitos exemplos de renunciantes ostensivos. Eles enfeitam as margens do rio Ganges e também podem ser encontrados em outros lugares. Mas um homem que verdadeiramente renunciou a determinadas coisas não terá prazer em chamar qualquer atenção aquele fato. Quando uma pessoa fala em renúncia, pode ser que ela renunciou a algumas coisas, como tomar café pela manhã. Mas definitivamente não renunciou à coisa primária, que é o seu eu. Toda tendência da mente humana atualmente é de materializar e degradar tudo que é VERDADEIRO ou REAL, reduzindo-o ao nível meramente mundano. Temos tanta habilidade de usar a palavra ESPIRITUAL com uma mente material e em um espírito materialista. Quando falamos acerca dos caprichos da “MENTE” e não de uma pessoa em particular, podemos ser bastante impessoais. Pensamos na MENTE como sendo um dos elementos da existência com determinada natureza. Ela está sujeita a ilusões, mas é possível para ela encontrar a VERDADE e LIBERTAR-SE. Não precisamos identifica-la com alguém em particular e dirigir-lhe críticas, aberta ou veladamente. Pode-se criticar a si próprio bem como aos demais. Porém, a crítica, até mesmo dirigida para alguém, não precisa visar à descoberta de falhas, ela pode ser uma simples compreensão daquilo que não está certo ou daquilo que está errôneo ou falso no pensamento e comportamento da pessoa. É simplesmente como avaliar um quadro: é belo ou não? Este tipo de crítica é de valor, porém não visa à descoberta de falhas, culpando alguém ou si mesmo – tudo isso, por ser vão e infrutífero, torna-se mera auto decepção. Referi-me ao julgamento de um quadro, mas aqui também deve-se fazer uma distinção entre o REAL e o IRREAL. O quadro pode ser realmente belo ou pode apenas ter uma assim chamada beleza superficial. A beleza de ordem mais elevada surge de uma profunda compreensão, surge da própria VIDA ou de uma fonte desconhecida em seu interior. Então terá o selo da VERDADE, mas poderá também existir aquela BELEZA que é sintética, que é apenas uma aparência, uma mera apresentação. Para nos aproximarmos ainda mais do cerne da questão: quando usamos a palavra AMOR em relação a outro, será que realmente AMAMOS, ou apenas achamos que AMAMOS aquele outro? Existe uma grande distinção entre pensar que AMAMOS e AMAR de fato. Meramente ensaiar a ideia do AMOR E usufruir o prazer que causa, não traz o AMOR, é apenas um exercício. Mas somos tão capazes de nos iludirmos, pensando que AMAMOS toda a humanidade, até mesmo quando não AMAMOS os indivíduos que a compõem. Precisamos traçar uma distinção clara entre aquilo que é REAL ou VERDADEIRO e aquilo que é apenas forjado pela mente. Isto requer uma inteligência muito aguçada e um constante discernimento da diferença entre o REAL e o IMAGINÁRIO. Será realmente importante para uma grande causa possuir propriedades enormes, um império e toda a parafernália envolvida, ou as pessoas que a seguem possuírem a forma correta de sentimento e entendimento? O espírito necessário nunca pode ser ostentado, exibido permanentemente ou divulgado de nenhuma maneira. Ninguém pode dele obter dinheiro. Tais distinções podem abranger todos os campos da VIDA, todas as nossas atividades e pensamentos. Será apenas quando a mente estiver suficientemente alerta para perceber essas distinções, para separar a luz da escuridão, que ela poderá chegar na VERDADE das coisas. Constitui a grande assertiva dos instrutores espirituais que podemos conhecer a VERDADE ABSOLUTA e não apenas argumentar a seu respeito, chegar a ela através do raciocínio, ponderar sobre ela ou postulá-la. Podemos conhece-la, assim como conhecemos a nós próprios. Podem existir algumas hipóteses que ajudam a explica; são valiosas, desde que plausíveis e esclarecedoras. Podem até mesmo ser necessárias para ligar as lacunas em nossa observação e pensamento. Quando não conseguir, a ligação ou a suposição nos possibilita conectar aqueles fatos que são percebidos. Como não vemos a conexão na natureza entre um evento específico e outro, mas vemos que deve haver uma conexão, tal suposição será um substituto temporário para uma VERDADE que se é incapaz de perceber no momento. Eu iniciei este capítulo com a palavra OCULTISMO. OCULTISMO é um empreendimento muito mais exigente e rigoroso do que poderíamos pensar. Não é simplesmente contar histórias de fadas e nelas acreditar – esse é OCULTISMO para crianças. Deve haver, especialmente numa sociedade que se interessa naquilo que é chamado o OCULTO, uma orientação que a fará progredir até a VERDADE ABSOLUTA em todas as coisas sem satisfazer-se com as aparências. Precisamos ser muito cuidadosos em cada etapa para ver que estamos prosseguindo no CAMINHO DA VERDADE, que é também o CAMINHO DO VERDADEIRO AMOR, não nos satisfazendo com ilusões com relação a nós próprios ou com a natureza das coisas porque elas são confortantes ou agradáveis. Livro A Busca da Sabedoria. Abraço. Davi

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