quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

AS RAÍZES DA BÍBLIA SAGRADA.



Cristianismo. Ciência e Religião Juntas. AS RAÍZES DA BÍBLIA.  Muitos dos seguidores da Bíblia consideram seu conteúdo como metafórico. A Bíblia contém a Palavra de Deus codificada em 66 livros, sendo 39 do Velho Testamento e 27 do Novo Testamento. O guia de vida de milhões de pessoas no mundo todo e seus escritos são levados ao pé da letra por uma boa parcela dos seguidores do cristianismo. A unificação do Antigo com o Novo Testamento passou a ser chamada de Bíblia Sagrada pela primeira vez com São Jerônimo de Stridon (340-420), o padroeiro dos bibliotecários e o tradutor dos textos, que estavam no grego antigo e no hebraico, e passou para o latim. A edição produzida pelo santo é chamada de Vulgata, que ainda é usada pela Igreja Católica.  Essa tradução foi pedida pelo papa Damaso I (305-384), contemporâneo do famoso imperador Constantino, que tornou o cristianismo a religião oficial do Império Romano. Independentemente da língua original em que foi escrito, a Bíblia deve ser estudada em seu contexto original. Os deuterocanônicos (determinados livros, como os de Tobias, Judite, Eclesiástico e Baruque) são considerados pelas religiões que adotam a Bíblia, mas que não são católicas, como obras sem inspiração divina, porém reconhecem o valor histórico de criações como o Livro dos Macabeus (I e II). Calcula-se que, para sua redação, devem ter sido gastos 1600 anos e consumido o trabalho de 40 homens de diversas origens culturais, profissões e posições sociais. Como todo livro sagrado, há quem siga a Bíblia ao pé da letra e leve seus ensinamentos a ferro e fogo. Mas vale lembrar que nem todos os que adotam essa obra como mentora da vida comungam desse ponto de vista. De fato, a grande maioria daqueles que a seguem considera muito de seu conteúdo ou como sendo metafórico ou como registro de hábitos da antiguidade, hoje desatualizados. Uma análise mais profunda dos historiadores revela que o alfabeto fenício, do qual se derivou o hebraico, já existia no século XIII AC, quando os hebreus chegaram a Canaã (há documentos históricos que sugerem que o alfabeto fenício já existia na região no século anterior). Além dos componentes da Bíblia, há textos hebraicos antigos conhecidos que datam de épocas remotas como o Calendário de Gezér, uma espécie de “almanaque” que mostrava as datas em que os agricultores deviam fazer seu plantio. Esse documento datado de 1000 AC, é o mais antigo encontrado na Palestina. Há também inscrições datadas dos séculos XIV ou XV AC, no sarcófago do rei Airam na cidade fenícia de Biblos. Além desses, há textos semelhantes aos conhecidos Salmos datados do mesmo período desse sarcófago em tabuletas encontradas em Ugarit, atual Lataquia – Síria, uma antiga cidade portuária. OS IDIOMAS E AS VERSÕES.  Desde o começo, os idiomas que foram usados para registrar a Bíblia foram três: o hebraico, o grego e o aramaico. O Antigo Testamento foi inteiramente escrito no chamado hebraico consonantal (uma forma da língua que como diz o nome, é desprovida de vogais). A exceção é o grupo dos deuterocanônicos (que possuem alguns textos redigidos em grego) e alguns capítulos do livro de Daniel. Redigidos em aramaico. Já o grego também foi usado para escrever os livros do Novo Testamento, embora haja algumas discrepâncias. A tradição cristã, por exemplo, afirma que o Evangelho de Mateus foi redigido primeiro em hebraico, que seria a escolha mais lógica para alcançar a doutrina dos judeus. TRECHO DO PAI NOSSO DO CONCÍLIO DE NICEIA – aprovado em 19 de junho de 325, dizia: “Cremos em um só Deus, Pai Todo Poderoso, criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis. E em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, unigênito do Pai, da substância do Pai; Deus de Deus. Luz de luz. Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por quem foram criadas todas as coisas que estão no céu ou na Terra (...)”. O curioso é que mesmo o hebraico usado na Bíblia apresenta diferenças. Em alguns livros, há a predominância do hebraico clássico, como nos livros de Reis (I e II) e Samuel (I e II), enquanto em outros se pode ver um hebraico mais rudimentar e em outros é mais fácil de identificar influências de línguas da vizinha palestina. O grego usado no registro do Novo Testamento é chamado de grego “Koiné”, termo que significa “comum” ou vulgar, e que era o segundo idioma mais falado do Império Romano. Os pergaminhos mais antigos conhecidos como parte da Bíblia Sagrada datam em sua maioria dos séculos III e IV DC. DISCUSSÕES. Essa antiguidade toda leva as pessoas a admirarem a Bíblia também como um documento histórico. Os pergaminhos mais antigos conhecidos como parte da obra datam em sua maioria dos séculos III a IV DC. Isso se deve ao fato de muitos dos manuscritos serem trabalhos de monges copistas que faziam cópias de obras literárias. Esse é mais um aspecto que leva a discussões, visto que, por mais que um copista seja dedicado ao seu trabalho, está sujeito a erros e modificações, quer sejam voluntários ou involuntários. Imaginem só o que tamanha manipulação não produziria nem texto complexo como o das Escrituras. A prova é que os historiadores conseguiram identificar versões dos textos que permitem múltiplas interpretações de um mesmo trecho, o que derruba a tese de que a Bíblia se manteve intocada com o passar dos séculos. Esses especialistas, cujo trabalho é conhecido como Crítica Textual, tem por objetivo comparar as várias versões dos textos e a seleciona-las. Sabe-se, por exemplo, que o texto massorético (é o texto hebraico dá Bíblia utilizado com a versão universal da Tanake para o judaísmo moderno) é a grande fonte hebraica para o Antigo Testamento. Esse texto foi estabelecido como massoretas, que tinham por função realizar cópias do original com extrema fidelidade. Seu trabalho incluía  a vocalização das versões hebraicas e sua posterior cópia. Como o hebraico tornou-se uma língua morta por volta do século VII DC, tornou-se necessário marcar os locais das vogais com certos sinais. Até hoje, esse texto é considerado como a fonte mais confiável para o texto bíblico original. Porém, por mais perfeito que seja, o texto massorético, como é conhecido, possui certas deficiências que os pesquisadores procuraram suprir com o uso de outros textos de referência. Um dos mais conhecidos é o chamado Pentateuco Samaritano, originado entre os samaritanos, uma divisão dos hebreus que possuía comunidades étnicas e religiosas à parte com templos e cultos próprios. Eles só consideravam como sagrados os livros do Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levíticos, Números e Deuteronômio). Outro texto de referência complementar é o chamado septuaginta grega (sigla LXX = 70 em algarismo romano), ou versão dos setenta. É composta pela Bíblia Hebraica e pelos deuterocanônicos (refere-se a um conjunto de sete livros (Judite, Tobias, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruc e I e II Macabeus) que estão presentes na septuaginta, antiga tradução em grego dos livros da Antigo Testamento. Alguns grupos cristãos comumente os Protestantes, não aceitam por acreditarem que não são canônicos ou inspirados). Foi elaborada entre os séculos IV e II AC, e é a tradução grega do Antigo Testamento feita na célebre cidade de Alexandria, no Egito. Tem esse nome graças a uma (lenda) história que afirma que foi o resultado do trabalho de 70 eruditos judeus, cuja inspiração veio diretamente de Deus. Esta é a versão mais antiga do Velho Testamento conhecida e é importante por ter sido adotada pelos cristãos desde o início da religião e citada na maior parte no Novo Testamento. O Novo Testamento apresentou cerca de quatro mil manuscritos em grego. Esses documentos também apresentaram variantes, mas não há neste caso uma versão de referência como no Antigo Testamento. O pesquisador tem que se contentar com alguns manuscritos importantes que são a base da Crítica Textual. O importante é lembrar que, mesmo com todas as suspeitas e versões existentes, a Bíblia Sagrada foi traduzida para 2403 línguas diferentes no total, o que a torna também o livro mais traduzido do mundo. É um panorama bem diferente do que gerou a Reforma Protestante, por exemplo, quando a Igreja se preocupava com as traduções dos textos para outras línguas que não fossem o então adotado latim. PESSOA DIVINA? O Concílio de Nicéia (20 de maio a 19 de junho do ano de 325) ficou famosos por ter sido um ponto de virada, por assim dizer, na história do cristianismo e da própria Bíblia. Esse Concílio, oficialmente conhecido como o primeiro ocorrido naquela cidade (o segundo aconteceria no ano  787), aconteceu durante o reinado do primeiro imperador romano cristão Constantino. É considerado como a primeira conferência de caráter ecumênico (ou seja, mundial) dos bispos da então emergente Igreja Cristão. Nicéia (nome de origem grega) era uma cidade que fazia parte da Anatólia, região do sudoeste da Ásia que corresponde hoje a porção asiática da atual Turquia. Hoje possui o nome de Iznik. Corria então o ano de 325 quando os religiosos se reuniram para discutir algumas das questões que mais preocupavam a fé cristã, como a opinião dos arianos (nome dado a uma corrente de pensamento teológica liderada por Arius, um presbítero cristão oriundo da cidade de Alexandria no Egito), que simplesmente negavam a existência de uma mesma natureza entre Jesus e Deus, que os igualasse. Para os arianos, Cristo era um homem, não uma “pessoa divina” por definição. Outras questões foram motivos de debate, como estabelecer os parâmetros para a celebração da Páscoa, o destino dos prisioneiros feitos durante a perseguição aos cristãos estabelecidas pelo imperador Licínio, cunhado de Constantino e que foi retirado por este do poder; o batismo dos heréticos, que na época começavam a se mostrar em grande número, e, claro, a escolha dos evangelhos inspirados que figurariam com oficiais na Bíblia. ALGUNS LIVROS APÓCRIFOS CONHECIDOS DO NOVO TESTAMENTO: Evangelho Árabe de Infância de Jesus – Atos de André – Atos de Pedro – Atos de Pedro e André – Atos de Pedro e Paulo – Atos de Tadeu – Atos de Tomé – Epístola aos Laodicenses – Epístola de Herodes – À Pôncio Pilatos – Epístola de Jesus ao rei – Epístola de Pedro a Filipe – Evangelho de Nicodemos – Evangelho de Pedro e outros. Além de oferecer as bases para a crença cristão o Concilio de Nicéia também foi importante justamente porque as perseguições, que não foram poucas, haviam recentemente terminado. Tudo parecia caminhar para o estabelecimento de uma Igreja forte e poderosa como ficou conhecida nos anos seguintes. Para muitos historiadores que pesquisam não só a Bíblia, mas também a história da Igreja, este é um momento que leva a muitas desconfianças sobre as verdadeiras intenções do recém convertido imperador. O surgimento do chamado Credo de Nicéia, também chamado de credo Niceno Constantinopolitano, é outro produto daquela reunião. Aceito pelas Igrejas católicas, ortodoxa, anglicana e pelas principais Igrejas protestantes, marca o pensamento que predominava na reunião e o único deste tipo em que ortodoxos e católicos concordaram em todos os pontos que aparecem na oração. A Igreja Católica sofreu vários cismas (divisões); o principal foi o de 1054, colocando em lados oposto da autoridade de Roma, as Igrejas Apostólica Ortodoxa Russa, a Igreja de Constantinopla, A Igreja Copta do Egito e a Igreja Grega todas com seus (papas) patriarcas. A POLÊMICA DOS APÓCRIFOS. Mas o que levou os livros apócrifos a terem toda a fama que possuem hoje? Bem, se analisarmos, friamente os canônicos, veremos que, apesar de serem muito parecidos uns com os outros, há discrepâncias neles, principalmente quando abordam o período entre a infância de Jesus e o início de seu ministério. Além disso, os quatro oficiais (Mateus, Marcos, Lucas e João) não dão muitos detalhes sobre a vida dos demais integrantes da família de Jesus. Muitos dos especialistas acreditam que a mola propulsora que levou os primeiros cristãos, desde eles Orígenes de Alexandria (185-254) a adotarem os apócrifos foi justamente a vontade de deixar o relato mais completo com a adição de vários detalhes biográficos sobre os quais os canônicos simplesmente se calam. Assim, esses textos recusados traziam detalhes como o fato de José ser viúvo e ter vários filhos; a Virgem Maria, quando criança, não tocar o chão ao caminhar; ou ainda o Menino fazer milagres para esconder suas travessuras. Vejamos um dos episódios mais interessante narrado pelos apócrifos. É uma versão bem diferente do nascimento de Jesus, basta reparar nos detalhes da narrativa. Quando o imperador Augusto ordenou a realização de um censo em todo o império romano, José foi de Nazaré a Belém para recensear-se. Levou consigo Maria, que contava com nove meses de gravidez e que ia montada num asno (jumento). Quando já estavam perto de Belém, um anjo apareceu a Maria e disse que a hora do parto havia chegado. José interrompeu a caminhada e, sem ter onde acomodar a esposa, instalou-a numa gruta e partiu em busca de uma parteira. Nesse interim, apareceu na gruta uma luz muito intensa que, quando se foi, deixou Maria com o menino Jesus em seus braços. Quando José voltou com a parteira, de nome Salomé, Maria contou como foi o parto e que ela permanecia virgem. Salomé, descrente, disse que jamais acreditaria se não introduzisse seu dedo e comprovasse. Maria permitiu e ela assim o fez. Mas quando retirou sua mão viu que a mesma estava carbonizada. A parteira chorou desoladamente e Maria a fez acariciar o menino. Foi quando viu que a mão ficara curada. Foi por causa de episódios assim que os textos apócrifos seriam considerados perigosos. Porém, sua utilidade para entender a então nascente religião cristã foi discutida exaustivamente por pesquisadores e religiosos em diversas oportunidades com o passar dos anos, da descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, em 1947 e 1956, ao recentemente divulgado Evangelho de Judas, em 2006. Livro O Mistério da Bíblia – O Lado Oculto do Livro Sagrado. Abraço. Davi.

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