Cristianismo.
Ciência e Religião Juntas. AS RAÍZES DA BÍBLIA.
Muitos dos seguidores da Bíblia consideram seu conteúdo como metafórico.
A Bíblia contém a Palavra de Deus codificada em 66 livros, sendo 39 do Velho
Testamento e 27 do Novo Testamento. O guia de vida de milhões de pessoas no
mundo todo e seus escritos são levados ao pé da letra por uma boa parcela dos
seguidores do cristianismo. A unificação do Antigo com o Novo Testamento passou
a ser chamada de Bíblia Sagrada pela primeira vez com São Jerônimo de Stridon
(340-420), o padroeiro dos bibliotecários e o tradutor dos textos, que estavam
no grego antigo e no hebraico, e passou para o latim. A edição produzida pelo
santo é chamada de Vulgata, que ainda é usada pela Igreja Católica. Essa tradução foi pedida pelo papa Damaso I
(305-384), contemporâneo do famoso imperador Constantino, que tornou o
cristianismo a religião oficial do Império Romano. Independentemente da língua
original em que foi escrito, a Bíblia deve ser estudada em seu contexto
original. Os deuterocanônicos (determinados livros, como os de Tobias, Judite,
Eclesiástico e Baruque) são considerados pelas religiões que adotam a Bíblia,
mas que não são católicas, como obras sem inspiração divina, porém reconhecem o
valor histórico de criações como o Livro dos Macabeus (I e II). Calcula-se que,
para sua redação, devem ter sido gastos 1600 anos e consumido o trabalho de 40
homens de diversas origens culturais, profissões e posições sociais. Como todo
livro sagrado, há quem siga a Bíblia ao pé da letra e leve seus ensinamentos a
ferro e fogo. Mas vale lembrar que nem todos os que adotam essa obra como
mentora da vida comungam desse ponto de vista. De fato, a grande maioria
daqueles que a seguem considera muito de seu conteúdo ou como sendo metafórico
ou como registro de hábitos da antiguidade, hoje desatualizados. Uma análise
mais profunda dos historiadores revela que o alfabeto fenício, do qual se
derivou o hebraico, já existia no século XIII AC, quando os hebreus chegaram a
Canaã (há documentos históricos que sugerem que o alfabeto fenício já existia
na região no século anterior). Além dos componentes da Bíblia, há textos
hebraicos antigos conhecidos que datam de épocas remotas como o Calendário de
Gezér, uma espécie de “almanaque” que mostrava as datas em que os agricultores
deviam fazer seu plantio. Esse documento datado de 1000 AC, é o mais antigo
encontrado na Palestina. Há também inscrições datadas dos séculos XIV ou XV AC,
no sarcófago do rei Airam na cidade fenícia de Biblos. Além desses, há textos
semelhantes aos conhecidos Salmos datados do mesmo período desse sarcófago em
tabuletas encontradas em Ugarit, atual Lataquia – Síria, uma antiga cidade
portuária. OS IDIOMAS E AS VERSÕES.
Desde o começo, os idiomas que foram usados para registrar a Bíblia
foram três: o hebraico, o grego e o aramaico. O Antigo Testamento foi
inteiramente escrito no chamado hebraico consonantal (uma forma da língua que
como diz o nome, é desprovida de vogais). A exceção é o grupo dos
deuterocanônicos (que possuem alguns textos redigidos em grego) e alguns
capítulos do livro de Daniel. Redigidos em aramaico. Já o grego também foi
usado para escrever os livros do Novo Testamento, embora haja algumas
discrepâncias. A tradição cristã, por exemplo, afirma que o Evangelho de Mateus
foi redigido primeiro em hebraico, que seria a escolha mais lógica para
alcançar a doutrina dos judeus. TRECHO DO PAI NOSSO DO CONCÍLIO DE NICEIA –
aprovado em 19 de junho de 325, dizia: “Cremos em um só Deus, Pai Todo
Poderoso, criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis. E em um só Senhor
Jesus Cristo, o Filho de Deus, unigênito do Pai, da substância do Pai; Deus de
Deus. Luz de luz. Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado,
consubstancial ao Pai. Por quem foram criadas todas as coisas que estão no céu
ou na Terra (...)”. O curioso é que mesmo o hebraico usado na Bíblia apresenta
diferenças. Em alguns livros, há a predominância do hebraico clássico, como nos
livros de Reis (I e II) e Samuel (I e II), enquanto em outros se pode ver um
hebraico mais rudimentar e em outros é mais fácil de identificar influências de
línguas da vizinha palestina. O grego usado no registro do Novo Testamento é
chamado de grego “Koiné”, termo que significa “comum” ou vulgar, e que era o
segundo idioma mais falado do Império Romano. Os pergaminhos mais antigos conhecidos
como parte da Bíblia Sagrada datam em sua maioria dos séculos III e IV DC.
DISCUSSÕES. Essa antiguidade toda leva as pessoas a admirarem a Bíblia também
como um documento histórico. Os pergaminhos mais antigos conhecidos como parte
da obra datam em sua maioria dos séculos III a IV DC. Isso se deve ao fato de
muitos dos manuscritos serem trabalhos de monges copistas que faziam cópias de
obras literárias. Esse é mais um aspecto que leva a discussões, visto que, por
mais que um copista seja dedicado ao seu trabalho, está sujeito a erros e
modificações, quer sejam voluntários ou involuntários. Imaginem só o que
tamanha manipulação não produziria nem texto complexo como o das Escrituras. A
prova é que os historiadores conseguiram identificar versões dos textos que
permitem múltiplas interpretações de um mesmo trecho, o que derruba a tese de
que a Bíblia se manteve intocada com o passar dos séculos. Esses especialistas,
cujo trabalho é conhecido como Crítica Textual, tem por objetivo comparar as
várias versões dos textos e a seleciona-las. Sabe-se, por exemplo, que o texto
massorético (é o texto hebraico dá Bíblia utilizado com a versão universal da
Tanake para o judaísmo moderno) é a grande fonte hebraica para o Antigo
Testamento. Esse texto foi estabelecido como massoretas, que tinham por função
realizar cópias do original com extrema fidelidade. Seu trabalho incluía a vocalização das versões hebraicas e sua
posterior cópia. Como o hebraico tornou-se uma língua morta por volta do século
VII DC, tornou-se necessário marcar os locais das vogais com certos sinais. Até
hoje, esse texto é considerado como a fonte mais confiável para o texto bíblico
original. Porém, por mais perfeito que seja, o texto massorético, como é
conhecido, possui certas deficiências que os pesquisadores procuraram suprir
com o uso de outros textos de referência. Um dos mais conhecidos é o chamado
Pentateuco Samaritano, originado entre os samaritanos, uma divisão dos hebreus
que possuía comunidades étnicas e religiosas à parte com templos e cultos
próprios. Eles só consideravam como sagrados os livros do Pentateuco (Gênesis,
Êxodo, Levíticos, Números e Deuteronômio). Outro texto de referência
complementar é o chamado septuaginta grega (sigla LXX = 70 em algarismo
romano), ou versão dos setenta. É composta pela Bíblia Hebraica e pelos
deuterocanônicos (refere-se a um conjunto de sete livros (Judite, Tobias, Sabedoria
de Salomão, Eclesiástico, Baruc e I e II Macabeus) que estão presentes na
septuaginta, antiga tradução em grego dos livros da Antigo Testamento. Alguns
grupos cristãos comumente os Protestantes, não aceitam por acreditarem que não
são canônicos ou inspirados). Foi elaborada entre os séculos IV e II AC, e é a
tradução grega do Antigo Testamento feita na célebre cidade de Alexandria, no
Egito. Tem esse nome graças a uma (lenda) história que afirma que foi o
resultado do trabalho de 70 eruditos judeus, cuja inspiração veio diretamente
de Deus. Esta é a versão mais antiga do Velho Testamento conhecida e é
importante por ter sido adotada pelos cristãos desde o início da religião e
citada na maior parte no Novo Testamento. O Novo Testamento apresentou cerca de
quatro mil manuscritos em grego. Esses documentos também apresentaram
variantes, mas não há neste caso uma versão de referência como no Antigo
Testamento. O pesquisador tem que se contentar com alguns manuscritos
importantes que são a base da Crítica Textual. O importante é lembrar que,
mesmo com todas as suspeitas e versões existentes, a Bíblia Sagrada foi
traduzida para 2403 línguas diferentes no total, o que a torna também o livro
mais traduzido do mundo. É um panorama bem diferente do que gerou a Reforma
Protestante, por exemplo, quando a Igreja se preocupava com as traduções dos
textos para outras línguas que não fossem o então adotado latim. PESSOA DIVINA?
O Concílio de Nicéia (20 de maio a 19 de junho do ano de 325) ficou famosos por
ter sido um ponto de virada, por assim dizer, na história do cristianismo e da
própria Bíblia. Esse Concílio, oficialmente conhecido como o primeiro ocorrido
naquela cidade (o segundo aconteceria no ano
787), aconteceu durante o reinado do primeiro imperador romano cristão
Constantino. É considerado como a primeira conferência de caráter ecumênico (ou
seja, mundial) dos bispos da então emergente Igreja Cristão. Nicéia (nome de
origem grega) era uma cidade que fazia parte da Anatólia, região do sudoeste da
Ásia que corresponde hoje a porção asiática da atual Turquia. Hoje possui o
nome de Iznik. Corria então o ano de 325 quando os religiosos se reuniram para
discutir algumas das questões que mais preocupavam a fé cristã, como a opinião
dos arianos (nome dado a uma corrente de pensamento teológica liderada por
Arius, um presbítero cristão oriundo da cidade de Alexandria no Egito), que
simplesmente negavam a existência de uma mesma natureza entre Jesus e Deus, que
os igualasse. Para os arianos, Cristo era um homem, não uma “pessoa divina” por
definição. Outras questões foram motivos de debate, como estabelecer os
parâmetros para a celebração da Páscoa, o destino dos prisioneiros feitos
durante a perseguição aos cristãos estabelecidas pelo imperador Licínio,
cunhado de Constantino e que foi retirado por este do poder; o batismo dos
heréticos, que na época começavam a se mostrar em grande número, e, claro, a
escolha dos evangelhos inspirados que figurariam com oficiais na Bíblia. ALGUNS
LIVROS APÓCRIFOS CONHECIDOS DO NOVO TESTAMENTO: Evangelho Árabe de Infância de
Jesus – Atos de André – Atos de Pedro – Atos de Pedro e André – Atos de Pedro e
Paulo – Atos de Tadeu – Atos de Tomé – Epístola aos Laodicenses – Epístola de
Herodes – À Pôncio Pilatos – Epístola de Jesus ao rei – Epístola de Pedro a
Filipe – Evangelho de Nicodemos – Evangelho de Pedro e outros. Além de oferecer
as bases para a crença cristão o Concilio de Nicéia também foi importante
justamente porque as perseguições, que não foram poucas, haviam recentemente
terminado. Tudo parecia caminhar para o estabelecimento de uma Igreja forte e
poderosa como ficou conhecida nos anos seguintes. Para muitos historiadores que
pesquisam não só a Bíblia, mas também a história da Igreja, este é um momento
que leva a muitas desconfianças sobre as verdadeiras intenções do recém
convertido imperador. O surgimento do chamado Credo de Nicéia, também chamado
de credo Niceno Constantinopolitano, é outro produto daquela reunião. Aceito
pelas Igrejas católicas, ortodoxa, anglicana e pelas principais Igrejas
protestantes, marca o pensamento que predominava na reunião e o único deste
tipo em que ortodoxos e católicos concordaram em todos os pontos que aparecem
na oração. A Igreja Católica sofreu vários cismas (divisões); o principal foi o
de 1054, colocando em lados oposto da autoridade de Roma, as Igrejas Apostólica
Ortodoxa Russa, a Igreja de Constantinopla, A Igreja Copta do Egito e a Igreja
Grega todas com seus (papas) patriarcas. A POLÊMICA DOS APÓCRIFOS. Mas o que
levou os livros apócrifos a terem toda a fama que possuem hoje? Bem, se
analisarmos, friamente os canônicos, veremos que, apesar de serem muito
parecidos uns com os outros, há discrepâncias neles, principalmente quando
abordam o período entre a infância de Jesus e o início de seu ministério. Além
disso, os quatro oficiais (Mateus, Marcos, Lucas e João) não dão muitos
detalhes sobre a vida dos demais integrantes da família de Jesus. Muitos dos
especialistas acreditam que a mola propulsora que levou os primeiros cristãos,
desde eles Orígenes de Alexandria (185-254) a adotarem os apócrifos foi
justamente a vontade de deixar o relato mais completo com a adição de vários
detalhes biográficos sobre os quais os canônicos simplesmente se calam. Assim,
esses textos recusados traziam detalhes como o fato de José ser viúvo e ter
vários filhos; a Virgem Maria, quando criança, não tocar o chão ao caminhar; ou
ainda o Menino fazer milagres para esconder suas travessuras. Vejamos um dos
episódios mais interessante narrado pelos apócrifos. É uma versão bem diferente
do nascimento de Jesus, basta reparar nos detalhes da narrativa. Quando o
imperador Augusto ordenou a realização de um censo em todo o império romano,
José foi de Nazaré a Belém para recensear-se. Levou consigo Maria, que contava
com nove meses de gravidez e que ia montada num asno (jumento). Quando já
estavam perto de Belém, um anjo apareceu a Maria e disse que a hora do parto
havia chegado. José interrompeu a caminhada e, sem ter onde acomodar a esposa,
instalou-a numa gruta e partiu em busca de uma parteira. Nesse interim,
apareceu na gruta uma luz muito intensa que, quando se foi, deixou Maria com o
menino Jesus em seus braços. Quando José voltou com a parteira, de nome Salomé,
Maria contou como foi o parto e que ela permanecia virgem. Salomé, descrente,
disse que jamais acreditaria se não introduzisse seu dedo e comprovasse. Maria
permitiu e ela assim o fez. Mas quando retirou sua mão viu que a mesma estava
carbonizada. A parteira chorou desoladamente e Maria a fez acariciar o menino.
Foi quando viu que a mão ficara curada. Foi por causa de episódios assim que os
textos apócrifos seriam considerados perigosos. Porém, sua utilidade para
entender a então nascente religião cristã foi discutida exaustivamente por
pesquisadores e religiosos em diversas oportunidades com o passar dos anos, da
descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, em 1947 e 1956, ao recentemente
divulgado Evangelho de Judas, em 2006. Livro O Mistério da Bíblia – O Lado
Oculto do Livro Sagrado. Abraço. Davi.
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