sábado, 11 de fevereiro de 2017

NASCIMENTO I.



Espiritualidade. Texto de Sri Prem Baba (1951-  ). Capítulo. I. NASCIMENTO I. NASCE UM POTENCIAL. Neste plano físico, para fazermos uma viagem, precisamos de um meio de transporte. No que diz respeito ao trânsito da alma rumo à consciência divina, precisamos passar pela consciência humana. E para vivermos essa experiência aqui na Terra, usufruindo de uma personalidade humana, se faz necessário um veículo, pois o espírito não teria como viver tal experiência sem uma estrutura psíquica projetada para desenvolver um ego. Ego e corpo formam um veículo, um instrumento projetado para que o espírito possa viver essa experiência material. PRINCÍPIO DA IDEIA DE EU. A alma é a porção individual do espírito que se manifesta através desse veículo. Ela é a ponte entre os planos material e espiritual. A alma acompanha o Ser em toda a sua jornada evolutiva, por meio dos ciclos de mortes e renascimentos, e deixa de existir quando a consciência individual se expande e se funde na consciência cósmica. Essa é a forma que a consciência encontra para se expandir através do ser humano no plano material. Assim como uma planta nasce e cresce a partir de uma semente, a consciência cósmica se manifesta e se expande através de uma consciência individual. Nesse sentido, o ego é como uma semente que é plantada na Terra com o objetivo de se desenvolver, amadurecer e gerar frutos. Essa semente traz consigo um potencial divino que irá se expressar de maneira particular por meio de cada um de nós. Existem muitas definições para a palavra ego. Aqui me refiro a ela como o princípio da individualização, ou ainda como o princípio da ideia de eu. Apesar de ter uma função muito importante no projeto divino de expansão da consciência (cuja meta, em última instância, é restabelecer o estado de Unidade), o ego também representa o nascimento de um senso de separação, ou seja, é o princípio da ideia de que somos separados uns dos outros. Por termos um corpo, uma forma, a mente cria essa ilusão de separação. De fato, no nível físico, que é o nível das aparências, nós estamos separados, mas no nível do espírito somos apenas um. Entretanto, essa ilusão faz parte do jogo divino aqui na Terra e está a serviço da expansão da consciência. Ela é o que, na cosmovisão hindu, é chamado de mahamaya, a grande ilusão. Ao mesmo tempo em que encobre nossa visão com o véu da dualidade, mahamaya é também a nossa grande professora. Através dela, aprendemos aquilo que precisamos aprender e aos poucos vamos começando a enxergar além dela. Mahamaya é uma distorção da realidade que pode tomar muitas formas, entre elas o egoísmo – a doença do ego. SEMENTES DE AMOR. Quando nos permitirmos contemplar e nos deixar envolver pela beleza da vida, observando os fenômenos da natureza, percebemos que tudo é fantástico e que, certamente, a vida vai muito além dessa realidade cotidiana que captamos através dos nossos olhos físicos. Você já se perguntou como é possível frutos e flores dos mais diversos tamanhos, cores, fragrâncias e sabores simplesmente brotarem de árvores? Isso é fantástico. Mesmo sabendo como a natureza funciona, se puder observar esses fenômenos com mais profundidade imediatamente você perceberá quão extraordinária ela é. A semente é um exemplo disso. De um pequeno grão nasce uma majestosa árvore. A semente contém em si uma porção mínima, um quantum de uma essência que é impressa em um código genético. Nesse código, estão as informações sobre o seu potencial máximo, que é também aquilo que ela vai realizar quando for plantada na Terra. E o seu potencial máximo são os frutos que ela vai dar. Da mesma maneira, nós, seres humanos, trazemos uma porção da consciência divina que deseja se expandir e se expressar através de nós. Também trazemos um código, um programa, algo a ser realizado. Esse programa é o propósito da alma. Nós viemos para este mundo justamente para realizar esse propósito, que também costumo chamar de visão – uma visão a ser compartilhada com o mundo. O propósito se manifesta de forma muito particular em cada um de nós. Cada alma individual chega aqui com um programa específico a ser realizado, e esse programa ou propósito individual está alinhado com o propósito maior da vida. Estou me referindo ao que, na sabedoria milenar do Yoga, é conhecido como dharma – a lei Universal que rega a vida e une todos os seres em torno do mesmo propósito. Em última instância, o dharma, ou propósito maior da humanidade, é a expansão da consciência, mas costumo dizer que é o despertar do amor, pois a consciência se expande através dele. Saber qual é o propósito é saber o que viemos fazer aqui. E o que viemos fazer aqui está intimamente relacionado àquilo que somos em essência, ou seja, o programa individual da alma está relacionado à consciência do Ser. Assim como a laranjeira só pode das laranjas, o ser humano só pode dar um tipo de fruto: o amor, pois o amor é a sua essência. Entretanto, o amor é um fruto que pode se manifestar de infinitas formas. Cada alma traz consigo dons e talentos que são a maneira única por meio da qual o amor se expressa através de nós. DESAFIOS DE CRESCIMENTO. Ao mesmo tempo em que cada alma traz consigo dons e talentos, que são suas virtudes e potencialidades a serem desenvolvidas, ela traz também desafios que servirão para o seu crescimento. Certos desafios são parte do próprio programa da alma e encontram-se impressos no DNA, como as doenças genéticas e determinadas limitações físicas. Outros serão gerados a partir das escolhas que a alma fizer no decorrer da encarnação. Mas, independentemente de sua natureza, os desafios são instrumentos de aprendizado. Também comparo esses desafios ou obstáculos a lugares de parada na jornada da alma em evolução. A viagem é longa e muitas vezes nos sentimos cansados. Às vezes parar para abastecer e nos alimentar, às vezes para cumprir acordos em lugares específicos. Mas toda parada serve para, de alguma maneira, nos recuperarmos e absorvermos aprendizados. As pausas servem para revermos o mapa da vida e nos situarmos na jornada. Nesses momentos, também podemos rever os lugares por onde andamos e os buracos pelos quais passamos, a fim de evitar novas quedas. Mas paramos, principalmente, para resgatar partes nossas que ficaram presas no passado e para absorver determinadas lições. E, dessa forma, vamos nos fortalecendo para seguir rumo ao destino final. Esses lugares de parada, onde a alma estaciona temporariamente para absorver determinados aprendizados e se libertar da cadeia de reações geradas pelas ações equivocadas do passado, são o que chamamos de Karma. Essa palavra em sânscrito significa literalmente “ação”, mas se refere a uma lei cósmica – a lei de causa e efeito (ação e reação), que determina que todo efeito tem uma causa: tudo que se manifesta agora em nossas vidas é um produto das nossas ações do passado. Para toda ação, existe uma reação. Assim, o Karma envolve não somente a ação, mas também a reação inerente a ela. Uma via do Yoga, chamada de Karma Yoga (o yoga da ação), fala sobre a prática da “não ação”, que é uma ação que não gera reação – uma causa sem efeito. Entretanto, para uma ação não gerar reação, ela precisa ser desprovida de interesses egoístas. Esse é o fundamento básico do Karma Yoga (yoga da ação), cujo principal instrumento é a ação ou o serviço desinteressado. Muito se fala em Yoga hoje em dia, mas pouco se sabe de verdade sobre ele. Yoga não é simplesmente um sistema de posturas físicas e meditação. Yoga é um grande conjunto de técnicas e ferramentas capazes de atuar em todos os níveis do nosso sistema (físico, mental, psicoemocional, energético e espiritual) que tem a função de nos ajudar a reconectar com a realidade maior, com a nossa essência, ou ainda com a nossa verdadeira identidade. Por isso Yoga é um caminho de auto realização ou de libertação. Ao reconhecermos nossa verdadeira identidade, nos tornamos livres para ser quem somos. Karma Yoga é o caminho da liberdade através da ação, é a via do Yoga que conduz à auto realização por meio do serviço desinteressado. A ação desinteressada nos liberta, pois ela possibilita que deixemos de produzir reações e, consequentemente, que nos libertemos da teia do Karma. Mas isso é possível somente quando Karma (ação) e dharma (propósito) estão alinhados, o que significa que nossas ações correspondem ao que de fato viemos fazer aqui. Quanto mais alinhadas estiverem com o propósito maior, menos efeitos nossas ações causarão e mais consciência elas trarão ao Planeta, pois o propósito da alma individual está diretamente ligado ao dharma e ao Karma coletivo. INFLUÊNCIAS EXTERNAS. Vimos que existe um propósito interno (da alma), um programa que nasce com a pessoa. Mas também existe um outro propósito, que é externo – um programa que é formado no decorrer da vida, juntamente com o desenvolvimento do ego e através do contato com a sociedade. Esse programa que é elaborado com base em influências externas é o que chamarei aqui de “programa do ego”. O programa do ego, além de depender de fatores externos, também vai depender do Karma, pois é ele que determina as condições nas quais a criança chega neste plano. Dependendo das condições sociais, do nível de conhecimento do desenvolvimento espiritual da família, a criança poderá aprender determinadas lições, desenvolver determinadas habilidades e consolidar valores e virtudes da alma.  Ao mesmo tempo, ela poderá sofrer traumas e criar imagens (cenários psicológicos fixos ou congelados) e crenças limitantes que farão parte dessa programação. O propósito do ego, o propósito externo, é como a casca de uma fruta, é uma camada superficial que encobre o verdadeiro programa da alma. A casca, no entanto, também tem uma função. Ela serve como uma proteção para que o ego possa se desenvolver e construir o que for necessário para a sua experiência. Mas chega um momento em que essa camada externa precisa ser retirada para que o verdadeiro propósito possa se manifestar plenamente. Da mesma forma que precisamos retirar a casca da fruta para saboreá-la, esse programa externo precisa ser removido para que o programa interno se revele. A entidade humana chega a este plano livre, amando e confiando. Ao nascer, a criança ainda tem uma lembrança de quem ela é e do que veio fazer aqui. Mas com o passar do tempo, através do contato com o mundo, ela vai cedendo a influências externas, adquirindo crenças e reprimindo sua expressão natural. Como sabemos, a fundação da personalidade acontece depois, nos próximos sete anos, mas a fundação é feita nos sete primeiros anos. E as crenças instaladas nesse período irão permear toda a vida da pessoa. Então logo cedo a criança começa a sentir-se carente e insegura: ela começa a sentir ciúme, raiva e inveja (...). E isso não acontece por acaso. Ela aprende isso com aqueles que estão ao seu redor, prioritariamente com os pais, mas também com os educadores e demais familiares próximos. Essas pessoas participam do processo de desenvolvimento da personalidade daquela alma. E, por ignorância, acabam transferindo para a criança as suas misérias e carências. Com isso é estabelecido um círculo vicioso no qual ignorância procria ignorância. Quando a criança começa a frequentar a escola e inicia uma vida social, ela recebe novos inputs, entrada (além dos que chegam através dos pais e familiares) sobre aquilo que, supostamente, é certo ou errado; sobre aquilo que ela deveria ser e fazer na vida (o que em geral não é o que ela gostaria de ser e fazer). Novos limites e regras são impostos, novas ideias (preconceitos, opiniões, crenças) são transmitidas. É verdade que, para o seu próprio bem, o jovem precisa de limites e regras, mas ninguém ensina que determinadas regras precisarão ser abandonadas, pois elas devem estar a serviço do desenvolvimento da consciência, e não o contrário. Todo ser humano traz consigo uma visão em prol do desenvolvimento sustentável do Planeta. Ele traz uma sabedoria, um poder. Mas, normalmente, devido a essas influências externas, sua visão vai sendo esquecida, e seu poder vai sendo contido. E na medida em que seu poder é contido, isso se volta contra ele. Forças contrárias ao seu propósito são criadas. O programa da alma impele a pessoa a se mover numa direção, mas a mente condicionada por fatores externos faz com que ela siga em outra. Essa contradição gera sofrimento. ESQUECIMENTO DA VISÃO. Podemos, de forma sintética, dizer que estamos aqui para realizar um trânsito do estado de esquecimento para o estado de lembrança – lembrança de quem somos e do que viemos fazer aqui, pois, como já vimos, ao chegarmos nesta Terra, somos envoltos por um véu de ilusão que atua através do esquecimento. Normalmente, até o início da juventude, uma pessoa ainda tem a visão clara daquilo que veio fazer: carrega um forte anseio, traz consigo sonhos que são expressões do seu propósito, mas aos poucos vai se esquecendo e acreditando nas vozes externas que insistem em dizer que esse sonho é impossível de ser realizado, que esse caminho não é bom, ou, ainda que a pessoa não tem capacidade para isso. Aos poucos, ela vai cedendo a essas vozes até que desiste e se esquece completamente dos seus sonhos e passa a sonhar o sonho dos outros. Se já teve a oportunidade de acompanhar o crescimento de uma criança, você sabe que ela nasce confiando e amando com toda a sua pureza. A criança que ainda não foi corrompida e contaminada pelas crenças e misérias dos adultos à sua volta simplesmente segura na mão do pai e da mãe e vai com eles, sem saber par onde a estão levando. Contudo, aos poucos, ela deixa de confiar. Começa a ser atingida pelo medo na forma da desconfiança e da insegurança, e pelo ódio na forma da raiva e da vingança. Mas por que isso acontece? Porque ensinam isso para ela. Desde cedo, a criança aprende que é uma vítima das circunstâncias externas e com isso também aprende que precisa se defender. Aos poucos, vai criando os mais variados mecanismos de defesa e adquirindo crenças e condicionamentos limitantes. Tais mecanismos são limitantes, porque, ao mesmo tempo em que servem para proteção, geram separação e esquecimento. Os muros que você constrói ao seu redor para se proteger são os mesmos que o mantêm isolado no mundo. Esse conjunto de mecanismos de proteção e esquecimento constitui o que costumo chamar de “natureza inferior” ou “eu inferior” ou ainda “maldade”. Isso que conhecemos como maldade nada mais é do que um conjunto de mecanismos de defesa que o humano desenvolve desde cedo na vida para se proteger da dor dos choques de humilhação, rejeição e exclusão. Ao falar de maldade, não estou me referindo ao comportamento exclusivo dos criminosos e corruptos, pois todos nós sofremos choques dessa natureza. Portanto, todos nós carregamos um tanto de maldade. E quanto mais maldade uma pessoa manifesta, mais dor ela carrega no seu sistema. Livro: Propósito – A Coragem de Ser Quem Somos. Abraço. Davi.

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