Hinduísmo. Texto de
Madhava Smullen. Poderia Guerra nas Estrelas ser baseado na literatura Védica.
A Obra “O Jedi no Lótus” tem uma opinião. Satyaraja Dasa (Steven J. Rosen
(1955- ), um estudioso erudito da
Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna e escritor popular no
meio do Yoga e da autor realização, investiga a conexão entre dois mundos – Star Wars e a tradição hindu. Ou, talvez
mais precisamente, Star Wars e a família de tradições
religiosas frequentemente designada “hindu”, como o vaishnavismo, shaivismo e shaktismo. Neste momento, você
talvez esteja estranhando essa proposta. “Espere. Você se refere a Star Wars, a série imensamente
popular de filmes de ficção científica, criada puramente como entretenimento, e
o hinduísmo, uma antiga tradição espiritual que objetiva o desenvolvimento do
amor a Deus e a obtenção da liberdade deste mundo material? Não esfregue os
olhos ou se belisque. Se a fusão dessas duas coisas lhe causa estranhamento,
não há nada de errado com você, pois mesmo Satyaraja, antes de escrever seu
livro The Jedi in the Lotus “O Jedi
no Lótus”, ainda sem tradução
para o português, não era muito familiarizado com a série de filmes e não
estava ciente da ligação entre ela e a tradição religiosa da Índia. Assim
permaneceu até que Rajiv Malhotra (1950-
), presidente da organização hindu Infinity Foundation, contatou-o.
Malhotra era familiarizado com os muitos livros anteriores de Satyaraja sobre a
temática do “hinduísmo” e sua reputação como um estudioso da tradição. Ele,
então, convidou-o a documentar as muitas similaridades entre Star Wars e hinduísmo que hindus em
toda parte do mundo apontavam-lhe. Satyaraja aceitou o convite. “Contudo, eu
lhe expliquei que eu teria que explicar ao começo do livro que a palavra
‘hinduísmo’ é um nome inapropriado”, ele diz. “Eu disse que ficaria feliz em
usar o subtítulo “Star Wars and the Hindu Tradition” (Star Wars e a Tradição Hindu) para
atrair o interesse da comunidade hindu, mas meu interesse seria em demonstrar
como Star Wars reflete o Sanatana Dharma, a função
eterna da alma descrita no vaishnavismo, em vez da tradição hindu
que surgiu mais tarde e tem um caráter sectário. Como é de sua personalidade,
Satyaraja imergiu-se no trabalho, assistindo todos os seis filmes de Star Wars um após o outro e lendo
todo livro com que se deparava sobre as séries. Sem demora, ele notou muitos
paralelos entre Star Wars e a Tradição Védica, e
inspirou-se. “Foi empolgante a escrita porque, embora houvesse livros sobre Star Wars a partir da perspectiva
cristã, budista e taoista, ninguém escrevera um livro sobre os óbvios paralelos
da série com a tradição hindu”, ele diz. Satyaraja explica que George Lucas
(1944- ), o bilionário cineasta
americano, com fortuna avaliada em mais de US$ 5 bilhões de dólares, o criador
de Star Wars, foi influenciado por
Joseph Campbell (1904-1987), o famoso mitólogo, de quem era amigo. George Lucas
até mesmo disse: “Não existiria Star Wars sem ele”. O “estoque
favorito de mitos” de Campbell, como ele dizia, incluía o Ramayana e o Mahabharata, antigas histórias
védicas sobre os Avataras de Deus escritas milhares
de anos atrás. Embora nunca tenha mencionado especificamente esses livros,
George Lucas disse: “Peguei da ‘mitologia hindu”. E depois do lançamento do
primeiro Star Wars, em 1977, ele afirmou
que sua história fora moldada, em parte, pelas ideias descritas no livro de
Campbell O Herói de Mil Faces, no qual os principais
exemplos do “mono mito” - espécie de
história arquetípica de herói – são tirados das histórias da Índia antiga. No The
Jedi in the Lotus, Satyaraja demonstra que essa influência rendeu
em Star Wars muitos
paralelos surpreendentes com os épicos Védicos. Por exemplo, ele compara o
enredo da trilogia original de Star Wars com o enredo do Ramayana.
Em Star Wars, a princesa Léia é raptada
e mantida presa por um tirano maligno, Darth Vader. Seu pedido desesperado de
socorro é levado por uma misteriosa entidade não humana – o android R2-D2 – ao jovem herói Luke
Skywalker. O herói, então, vai ao resgate da princesa, auxiliado por uma
criatura devotada e nobre que é meio homem, meio animal, Chewbacca, natural de
outro planeta. Ao final da trilogia original de Star Wars, Luke, ajudado pelo
místico cavaleiro Jedi de nome Obi-Wan Kenobi e legiões de soldados ursos
antropomórficos, trava uma grande guerra. Darth Vader e seu império nefasto são
derrotados, a princesa retorna em segurança, e a paz e a retidão são
restabelecidas. Em paralelo, no Ramayana, a princesa Sita também é
raptada e mantida prisioneira do demônio Ravana. Seu pedido de socorro é levado
por uma misteriosa entidade não humana – o abutre falante de nome Jatayu – ao
jovem herói Rama. Rama, então, vai ao resgate da princesa, auxiliado por uma
criatura devotada e nobre que é meio homem, meio animal, o homem macaco
Hanuman, natural de outro planeta. Rama também trava uma guerra para resgatar
Sita, liderando um exército de vanaras (ursos e
macacos que têm características antropomórficas), e, finalmente, livra-a do
domínio de Ravana. Com as forças do submundo derrotadas, o reinado de Rama, de
verdade e retidão, se faz soberano. Satyaraja diz que George Lucas não
exatamente nega todas essas similaridades, mas é muito cauto em relação a
revelar suas influências. Enigmaticamente, ele disse: “Estou contando um velho mito
de uma maneira nova”. Existem muitos outros paralelos entre Star Wars e a cultura védica. A
relação entre Yoda e Luke é muito similar ao tradicional relacionamento guru/discípulo, e Satyaraja diz
que as instruções que Yoda apresenta são “quase literalmente tiradas do Bhagavad-gita”, o antigo guia espiritual
falado pelo Senhor Krishna a Arjuna. “Yoda ensina autocontrole a Luke, e a
importância de restringir os sentidos”, ele explica. “Todo Jedi, Yoda diz, tem
que superar o desejo e a ira. Similarmente, no Bhagavad-gita, está escrito: ‘Quando a
morte chega, o sujeito tem de ser capaz de tolerar os ímpetos dos sentidos
materiais e superar a força do desejo e da ira. Se alguém o faz, estará bem
situado”. Yoda também descreve “a Força” como a fonte da força dos Jedis, e, de
fato, a fonte de todas as habilidades. Krishna Se descreve da mesma forma
no Bhagavad-gita: “Eu sou a habilidade no
homem. Eu sou a força dos fortes, desprovida de paixão e desejo. De tudo o que
material e espiritual, saiba por certo que Eu sou a origem e a dissolução”. A
Força também é descrita como um tipo de divindade que é energia pura – ela
penetra e permeia tudo que existe, e mantém a galáxia unida. Isso é similar ao
Brahman, a manifestação impessoal de Deus. O aspecto pessoal da Força é
destacado em O Retorno do Jedi, no qual Yoda nos diz que
a Força é seu “aliado” e faz alusão ao “amor da Força”. Isso aponta para
Bhagavan, Deus, haja vista que uma energia estritamente impessoal não pode
comportar atributos como “amor” e “aliança”. E Yoda também fala sobre a
importância de nos harmonizarmos com nosso próprio eu superior, descrevendo em
essência o terceiro aspecto de Deus descrito nos Vedas: Paramatma. Além disso, a
forma nobre da arte da guerra imbuída de ética e espiritualidade ensinada por
Yoda aos cavaleiros Jedis é tal qual aquela dos nobres guerreiros kshatriyas dos antigos tempos
védicos. Assim como Yoda ensina os Jedis a serem não agressivos porém valentes,
Dronacharya, no Mahabharata, treina os heróis Pandavas
para serem protetores honrados dos inocentes. É claro, alguns podem dizer que
os paralelos apontados em The Jedi in the Lotus são meras
coincidências. Talvez isso seja produto do exercício a que os praticantes da
tradição vaishnava estão acostumados:
tentar conectar tudo a Krishna. E algumas das similaridades descritas por
Satyaraja parecem, sim, “forçosas” – por exemplo, seu comentário de que “o nome
Yoda é próximo do termo sânscrito yuddha, que significa
‘guerra’. Ou sua empolgação quanto ao fato de que, como estudante em um filme,
Luke Skywalker exibe uma cabeça raspada e um shikha, um tufo de cabelo similar
ao utilizado por devotos de Krishna e que os indica como “servos do guru”. O próprio Satyaraja
admite que monges em tradições chinesas e japonesas também têm esse corte de
cabelo. E ele não teme dizer que muitos dos paralelos que ele aponta
provavelmente são coincidências. Todavia, ele está convencido de que muitos
deles são mais do que isso. “No posfácio do livro, digo que agora que o leitor
considerou todos os paralelos que eu trouxe, ele pode decidir por si mesmo se
são coincidência ou se realmente há cruzamentos o bastante para termos como
evidente que Lucas foi influenciado pelos textos védicos”, ele explica. “Eu,
como alguém que pesquisou isso meticulosamente, estou convencido, sem sombras
de dúvida, que ele foi”. Apoiando a declaração de Satyaraja no prefácio de The Jedi in the Lotus está Jonathan Young Ph.D.,
psicólogo e curador fundador do Joseph Campbell Archives. Próximo tanto de
Campbell quanto de Lucas, Young diz que o livro “revela como a sabedoria da
Índia permeia os filmes de Star Wars” e “nos leva para dentro
das histórias dos Jedis para documentar os profundos ensinamentos orientais que
George Lucas transmite nas séries”. Independe de você compartilhar ou não da
convicção de Satyaraja de que Star Wars foi influenciado pelos
textos védicos, não há dúvidas de que The Jedi in the Lotus é um texto bem composto e
fascinante. Em entrevista à revista Times, George Lucas disse: “Coloquei a
Força no filme para tentar despertar certo tipo de espiritualidade nos jovens”.
É exatamente essa abertura que Satyaraja tenta explorar: “A série Star Wars é capaz de fazer as pessoas
se abrirem à ideia de que existe algo além da superfície. E eu aponto meus
leitores para os textos antigos e para as religiões que se originaram a partir
deles para obterem o ponto crucial da espiritualidade”. É bastante possível que The Jedi in the Lotus possa prover a base para
milhares de pessoas se aprofundarem na espiritualidade oriental. Em 2001, mais
de 70.000 pessoas na Austrália, 53.000 na Nova Zelândia e quase 40.000 no Reino
Unido declararam em seus respectivos census que são seguidores da fé Jedi, a
“religião” criada pelos filmes Star Wars. Embora se acredite que
alguns disseram isso apenas para fazer uma brincadeira com o census ou como um ato de protesto
contra o mesmo, existem muitos adeptos genuínos da fé Jedi. “Star Wars pode ser uma história
ficcional criada para entretenimento, mas os princípios de um Jedi são
princípios que qualquer um pode apreciar”, diz Satyaraja, “e eles são muito
similares àqueles descritos por Krishna no Bhagavad-gita como pertencentes a um
transcendentalista: ‘Aquele que não tem a mente perturbada mesmo em meio às
três classes de misérias ou que não tem a mente tomada de regozijo quando há
felicidade, e que é livre de apego, medo e ira, chama-se um sábio de mente
estável’. Satyaraja conclui: “Espero que, pela leitura de The Jedi in the Lotus ou pela leitura desta
matéria, os fãs de Star Wars sintam-se encorajados a investigar a literatura védica para
conhecer ainda mais e encontrem uma descrição de um Jedi ainda mais
detalhada do que encontrada nos próprios filmes”. www.voltaaosupremo.com.br. Abraço.
Davi
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