sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

i. AVE MARIA CHEIA DE GRAÇA.



Cristianismo. Ciência e Religião Juntas. AVE MARIA CHEIA DE GRAÇA. A intrigante trajetória da mãe de Jesus suscita pendências históricas, teológicas e até mesmo científicas. Há mais de dois mil anos, na vila de Nazaré, na Galileia, o cotidiano do povoado colonizado pelos romanos era um tanto quanto simples. Enquanto os homens saíam para a árdua rotina da labuta, as mulheres permaneciam em suas casas para os afazeres do lar. E, entre uma ou outra tarefa doméstica, o papel de mãe zelosa e dedicada também era um dos mais bem vistos pela sociedade. Não que a jovem Maria não tenha vivenciado todas essas situações. Contudo, no caso dela, a responsabilidade era muito maior. Afinal, seu filho não era um menino como os demais da vizinhança. O anjo que a visitara tempos antes havia dado o recado de maneira clara: de seu ventre nasceria o Messias, o filho de Deus enviado à Terra para salvar e redimir os pecados da humanidade. Descrita na Bíblia, a história mais conhecida do mundo fez de Maria a figura feminina mais venerada de todos os tempos. E as incógnitas acerca de sua imagem residem justamente ai: não há fontes que remontem ou comprovem sua trajetória além das Sagradas Escrituras e dos evangelhos apócrifos – estes, por sua vez, refutados pela igreja por não serem considerados de inspiração divina. PERFIL BÍBLICO – Ficção para uns, realidade para outros, a verdade é que o conteúdo da Bíblia é – ou pelo menos deveria ser – a única regra de fé para os cristãos. Assim, antes de qualquer questionamento sobre o Culto à Maria, bem como dogmas construídos ao seu redor, torna-se imprescindível resgatar o que os evangelhos canônicos (Mateus, Marcos, Lucas e João) descrevem acerca da mãe terrena de Jesus. Diferentemente do que acontecia com os personagens do Antigo Testamento, Maria não tem a totalidade de sua vida abordada pelos escritores, pois sua trajetória é relatada a partir do momento em que a jovem é designada a se casar com o carpinteiro José. Não há nenhuma indicação de quantos anos ela tinha, mas à época, a tradição judaica prezava que as moças fossem destinadas ao matrimônio ainda virgens, logo aos 13 anos de idade. A SANTÍSSIMA VIRGEM NOS APÓCRIFOS – Se nas Escrituras Sagradas o papel concedido à Maria é de uma importante coadjuvante, alguns dos evangelhos apócrifos a apresentam como protagonista. Inclusive, muitas das tradições religiosas criadas ao seu redor são provenientes desses escritos: liderança sobre os primeiros cristãos (sobretudo os apóstolos); a palma e o véu de Nossa Senhora; as roupas que ela confeccionou para usar no dia de sua morte; sua assunção ao céu; os nomes de seus pais (Ana e Joaquim). Outros relatos, no entanto, são vistos como possíveis fantasias, como por exemplo, a descrição sobre o parto de Jesus, bem como algumas histórias supostamente contadas pela própria Maria acerca da infância do pequeno Messias. MÃE DE JESUS – Desde o princípio a personalidade mariana foi caracterizada por atributos apreciáveis. Nas conversas com o anjo Gabriel, por exemplo, suas falas demostram humildade e obediência à missão confiada por Deus, mesmo com a repercussão polêmica que uma gravidez por concepção através do Espírito Santo poderia lhe causar. “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim, segundo a Tua palavras”, disse ela, de acordo com Lucas 1,38. Aliais, por falar nos documentos lucanos (tanto o evangelho como o livro dos Atos dos Apóstolos) são neles que a figura de Maria surge como presença constante na vida de seu filho Jesus. É verdade que os devotos acreditam que as narrativas bíblicas foram divinamente inspiradas, mas a riqueza de detalhes faz com que alguns estudiosos coloquem a própria Maria como uma das fontes às quais o evangelista recorreu para compor os quadros de uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra, como ele mesmo definiu. Um dos melhores exemplos disso é quando a mãe de Cristo, ainda nos primórdios da gravidez, decide visitar sua prima Isabel, que por sua vez aguardava o nascimento de seu filho João Batista. “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebê agitou-se em seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Em alta voz exclamou: Bendita é você entre as mulheres, e bendito é o filho que você dará à luz”, isso é dito em Lucas 1,41-42. Afinal, quem poderia ter lhe contado a intimidade do diálogo se não a própria protagonista do cena? DIVERSIDADE SOBRE A IMACULADA CONCEIÇÃO – Sejam crentes ou céticos, boa parte das pessoas não entende a quantidade de nomeação que se atribuem a Maria. Muitos questionam: é a mesma? Ora, se Maria era judia, é provável que possuísse a pele morena. Então porque as famosas “Nossas Senhoras possuem diferentes raças, roupas e causas? A resposta da Igreja é: sim, todas elas remetem à Maria. Segundo as tradições, seu culto e presença ao longo do desenvolvimento da Igreja propiciaram o nascimento de devoções particulares e locais, além de outras representações simbólicas com aspectos condizentes com as causas pela qual foi invocada. A mesma coisa pode ser dita em relação ao evangelho do publicano Mateus. Neste caso, o destaque fica por conta de todos os pormenores que envolvem o canto natalino – desde a fuga para o Egito até a ilustre visita dos três magos. Já no evangelho do apóstolo João, o relato dos sinais operados por Cristo tem início nas bodas de Cana da Galileia, quando Maria desempenha um papel fundamental na realização daquele que é tido como o primeiro milagre de Jesus, instigando-o a desfrutar de seus poderes sobrenaturais. “E faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não tem vinho. Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Sua mãe disse aos serventes. Fazei tudo quanto ele vos disser”, estando o texto em João 2,3-5. Apesar de sua resposta demonstrar contrariedade à ideia, a sequência da narrativa revela que o filho obedece a mãe e transforma a água em vinho para a alegria dos presentes na festa de casamento. Outro momento crucial no qual sua presença é relatada diz respeito à crucificação. Sem abandonar Jesus (como muitos dos discípulos fizeram), Maria cumpre sua função de mãe fiel e piedosa ao acompanhar o filho por todo seu martírio. Em síntese, entre os cristãos não há  discordância acerca dos conceitos sobre a pessoa de Maria, já que sob a ótica da fé, é reconhecida como um ser especial. Uma verdadeira escolhida de Deus que teve êxito na mais sublime missão que um mortal poderia receber. No entanto, apesar da evidente relevância, a institucionalização da Igreja primitiva instaurou alguns preceitos que motivam controvérsias até os dias de hoje. DE ACORDO COM A HISTÓRIA – Embora a Igreja Católica proclame a si mesma como a igreja pela qual Cristo morreu, uma leitura – ainda que superficial – do Novo Testamento não encontra alusões à sucessão apostólica, ao papado, ou ainda à veneração a Maria e outros santos. De fato, os primeiros 280 anos após a morte de Jesus foram marcados por uma terrível perseguição aos seus seguidores por parte do Império Romano. Porém, o panorama dramático passou a se alterar quando o imperador Constantino resolveu se “converter” ao Cristianismo. Apesar de o discurso oficial defender que o romano havia abraçado uma nova fé, os historiadores acreditam que a ação escondia segundas intenções. NOSSA SENHORA APARECIDA – Situada na região do Vale do Paraíba, no estado de São Paulo – Brasil, a cidade de Guaratinguetá foi o palco da primeira aparição da imagem. Apesar de partirem para a pesca durante uma temporada não muito propícia, alguns pescadores rezaram para Maria pedindo uma providência dos céus. Segundo os relatos, após algumas tentativas infrutíferas, o barco desceu o curso do rio para que a rede fosse jogada novamente. Dessa vez, em vez de peixes, teriam apanhado a famosa imagem de terracota que, segundo a crença, remetia à figura da mãe de Jesus. A partir daquele momento, os três pescadores conseguiram tantos peixes que se viram forçados a retornar ao porto. E, obviamente, além de descarregarem o resultado da pesca, difundiram esta que é considerada a primeira intercessão atribuída a Santa. Naquela altura, o vasto e diversificado Império Romano começava a se fragmentar. Assim, Constantino supôs que a religião poderia ser sustentação para restaurar a unidade. A princípio, a iniciativa até parecia ser favorável também para a Igreja Cristã – e realmente foi, se considerado apenas o privilégio e o prestígio adquiridos com as mudanças. Contudo, no que diz respeito aos ensinamentos, pode-se dizer que as consequências não foram das mais positivas. E segundo boa parte dos teólogos, a imagem de Maria não escapa dessas deturpações. Seria ingenuidade acreditar que a população abandonaria seus credos religiosos e professariam o Cristianismo em sua totalidade. Portanto, o imperador promoveu uma verdadeira mistura com crenças pagãs e absolutamente não bíblicas. O henoteísmo (crença em Deus único, mesmo aceitando a existência possível de outros deuses), por exemplo, era um prática muito comum na época, cuja essência baseava-se na existência de muitos deuses, mas dando atenção especial a um deus em particular. Entre esse “segundo escalão” de entidades, uma das mais populares era a deusa Ísis. O culto à deusa mãe do Egito se alastrou por todas as partes do mundo grego romano. Através das histórias da mitologia, os pagãos a consideravam um modelo de mãe e esposa, protetora da natureza, além de amiga dos escravos, pescadores e oprimidos. Entre as muitas designações que lhe foram conferidas, destaque para “Rainha dos Céus” ou “Mãe de Deus”. Desta maneira, foi natural que Ísis tivesse sua imagem absorvida pelo Cristianismo – obviamente, atrelada à de Maria, afim de atrair os adoradores da deusa para uma fé que, em outras circunstâncias não abraçariam. Percebendo isto. Constantino e os outros imperadores que o seguiram não hesitaram em potencializar o sincretismo (mistura), visto que a exaltação da mãe de Jesus além do que prediz a Bíblia seria benéfica para a nova fé. Não à toa, muitos templos que eram consagrados a Ísis acabaram dedicados à Maria. Basta ver que a primeira indicação clara dá Santidade da Virgem Maria é  brilhantemente apresentada nos escritos de Orígenes (185-254), escritor e teólogo cristão cuja Terra natal era Alexandria (historicamente, o lugar principal de adoração à deusa egípcia). Livro: Mistérios da Bíblia – O Lado Oculto do Livro Sagrado. Abraço. Davi.

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