segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

NASCIMENTO II.



Espiritualidade. Texto de Sri Prem Baba (1951-  ) Capítulo. I. NASCIMENTO II. CONTAMINAÇÃO PELA EDUCAÇÃO. Obviamente, a educação tem um papel fundamental na formação da personalidade infantil e também no processo de expansão da consciência humana. Através da educação, é possível facilitar ou dificultar esse processo. Por isso precisamos dar a devida importância para esse tema. Na minha visão, somente através da educação nós poderemos fomentar a transformação necessária para salvar nosso Planeta, que se encontra em processo de degradação. Mas para que uma mudança significativa aconteça no mundo, precisamos realizar uma grande reforma na educação , e essa reforma começa por nós, adultos. O processo de educação das nossas crianças deve começar através da reeducação do nosso eu inferior. Somente assim teremos de fato algo para dar. Caso contrário, isso que chamamos de educação continuará sendo somente uma reação ao passado, somente uma projeção das nossas dores infantis. Projetamos nossas mazelas nas crianças e queremos fazer delas aquilo que acreditamos ser o melhor. Mas nem sempre temos razão quanto ao que é o melhor, justamente porque trata-se de uma crença, ou seja, de uma imagem rígida a respeito de algo. A crença é construída a partir de situações negativas do passado. Isso significa que algo deu errado, alguma coisa te machucou, então você passou a acreditar que a vida é sempre assim. Trata-se de uma generalização. Portanto, temos um grande desafio pela frente. Precisamos curar nossas mazelas para que possamos educar nossos filhos adequadamente. Porque, se continuarmos agindo com base nos nossos traumas do passado, permaneceremos sabotando o desenvolvimento das nossas crianças e desviando-as do seu caminho natural, do seu propósito de vida. Isso será possível somente se estivermos dispostos a assumir nossa responsabilidade e a conhecer a nós mesmos. Porque, na medida em que nos conhecemos, vamos nos libertando de nossas crenças limitantes e da ideia de que somos vítimas e nos tornamos capazes de apoiar o desenvolvimento sustentável da personalidade infantil, o que implica em não projetar nossas misérias nas crianças e dar força para que sua visão e sua sabedoria sejam reveladas para o mundo. Precisamos abrir mão da necessidade de ter nossas expectativas e carências supridas através dos nossos filhos, pois essa é a raiz do problema. Sei que não é uma tarefa fácil, pois é muito difícil não repetir padrões e não impor pontos de vista para a criança. Não conhecendo a si mesmo e não tendo consciência das suas próprias carências e limitações, inevitavelmente você vai querer formatar a criança de acordo com suas expectativas. Se você foi muito machucado, desapoderado e humilhado, é muito provável que, estando numa posição de poder e autoridade perante a criança, você se perca e queira abusar desse falso poder. Dessa maneira, você acaba reeditando o seu passado no momento presente, o que significa que você repete a sua história através da criança e transmite para ela as suas misérias. A projeção das nossas carências e condicionamentos nas nossas crianças é uma das bases que sustentam a miséria humana. Dessa forma, temos sido canais de um poder destrutivo que age promovendo o esquecimento do propósito maior da vida. A criança tenta ser feliz da maneira como ensinamos que deve ser, mas ela nunca se sente encaixada, nunca se sente realmente confortável. Desde cedo, a criança é tomada pelo esquecimento e passa a carregar um vazio existencial do qual, até certo estágio, não tem consciência. Perdida no esquecimento, ela acredita que esse vazio (do qual inconscientemente está sempre tentando fugir) será preenchido com algo que está fora dela. Crê que a sua felicidade depende de circunstâncias externas, ou seja, de outras pessoas ou de bens materiais. Assim, acaba desenvolvendo a crença de que a felicidade pode ser comprada. Acredita que, se tiver bastante dinheiro, além de comprar tudo o que deseja, poderá dominar o outro e fazer com que ele faça e dê aquilo que espera. Nosso sistema educacional está baseado nisto: ensinar a criança a ganhar dinheiro e a ter poder, justamente porque, na fundação da nossa sociedade, existe essa crença de que dinheiro é sinônimo de felicidade. Nada pode ser mais ilusório do que isso. E é por causa dessa grande ilusão que a depressão se tornou a doença do século e que nos tornamos dependentes de remédios para dormir e atenuar a ansiedade. Estamos criando uma humanidade dependente de terapia. E mesmo com terapia, não há garantia de que resolveremos o problema. Tem gente que faz terapia a vida inteira e continua igual. Muitos conseguem viver melhor, se aceitar mais e dar alguns passos no caminho do autoconhecimento, mas só através da espiritualidade é possível romper com esse círculo vicioso. Processos terapêuticos só podem trazer resultados positivos no que diz respeito à cura das nossas raízes (onde a doença está instalada) se puderem abordar e tratar o ser humano como um todo, incluindo sua dimensão espiritual. Esse cenário precisa ser modificado. Caso contrário, seguiremos procriando miséria. Cabe a nós, adultos, nos libertarmos dessas crenças limitantes e iniciarmos a busca da felicidade no lugar certo: dentro de nós. Esse é o único lugar em que a felicidade perene pode ser encontrada. Enquanto continuarmos buscando fora, projetando nossas carências no outro, exigindo que ele faça aquilo que queremos que ele faça; enquanto não curarmos nossas feridas infantis através do autoconhecimento, seguiremos procriando ignorância através dos nossos filhos. muitas vezes você acha que está amando o seu filho, mas está apenas tentando resolver o seu próprio problema. Na verdade, você está tentando se realizar através dele. Ao obrigar a criança a fazer do seu jeito, você acaba desviando-a do caminha dela. E qualquer caminho que não seja o da alma é um mau caminho, porque ela estará se afastando do dharma. Se pudéssemos evitar que essas crenças fossem instaladas na infância, tudo seria diferente. Na minha visão, isso seria possível se o autoconhecimento e a espiritualidade se tornassem parte do ensino fundamental. Enquanto adultos conscientes, o nosso trabalho é resgatar a inocência perdida, a espontaneidade e a pureza da criança em nós, pois assim poderemos resgatar também a alegria e a leveza de viver. Mas enquanto isso não acontece, que possamos zelar para que as nossas crianças não percam a inocência e a espontaneidade. Esse é um projeto para séculos, mas precisamos começar agora. Precisamos fazer com que uma educação baseada em valores humanos e espirituais se torne política pública. E, além disso, é necessário que os amantes se tornem realmente conscientes do significado de uma família, do significado de trazer uma criança para este mundo. Esse é um dos aspectos da nossa missão neste Planeta, porque isso faz parte do processo da expansão da consciência humana. Se olharmos mais profundamente para essa questão, veremos, inclusive, que é preciso refletir sobre a nossa necessidade compulsiva de gerar filhos, pois ela também nasce de crenças e condicionamentos. Percebo que esse assunto é quase um tabu na nossa sociedade, mas trata-se de um tema de grande importância, que precisa ser amplamente abordado e encarado de frente. Porque, ao colocar um filho neste mundo, você tem a responsabilidade de ajudar no desenvolvimento espiritual dessa alma ou pelo menos precisa aprender a não sabotá-la. Essas são questões muito importantes, mas precisaríamos de um outro livro para tratar delas. Por enquanto, quero apenas deixar algumas perguntas para aqueles que estão querendo ter filhos: quem em você quer ter um filho e para quê? De onde vem essa vontade? Vem da necessidade de cumprir um programa social, de suprir uma carência ou é um comando do coração: VENENOS PARA A CONSCIÊNCIA. Volto a dizer que essa tão necessária e desafiadora transformação só poderá ocorrer se estivermos de fato comprometidos com o autoconhecimento. E isso implica em estudar os mecanismos que nos levam a esquecer do propósito real da vida. Precisamos saber de que forma fomos contaminados pelo medo;  de que forma as crenças e os condicionamentos foram instalados no nosso sistema, dando início a círculos viciosos que geram destruição e perpetuam a miséria, não somente em nossas vidas pessoais, mas na vida do Planeta como um todo. Ao identificarmos esses círculos viciosos e entendermos o seu funcionamento, temos a chance de interrompê-los. E quando isso acontece, a energia que até então estava sendo utilizada para manter o esquecimento pode ser redirecionada para a lembrança de quem somos. Os principais mecanismos que estão a serviço do esquecimento são a repressão e a negação. Eles atuam no nosso sistema como verdadeiros venenos para a consciência. Vejamos como: REPRESSÃO. Como mencionei anteriormente, quando nasce, a entidade humana, apesar de ainda ter a lembrança da sua identidade, apresenta limites que a tornam dependente. Portanto, ela precisa receber dos pais muitas coisas – dentre elas, três elementos são os mais vitais: o alimento, a proteção e o amor. Esses elementos são básicos para que a criança possa sobreviver e crescer de forma saudável. Além disso, existe um outro elemento que também é fundamental, mas que normalmente é desconsiderado: a liberdade. A liberdade é uma necessidade tão básica para a alma quanto o alimento é para o corpo. Na verdade, ela é intrínseca ao Ser, mas, ao encarnar neste plano, temos nossa liberdade restringida. Quando chegamos aqui, somos puros, não temos medo nem vergonha de ser quem somos. Não vemos perigo nem maldade em nada, por isso nos expressamos com total liberdade, espontaneidade e naturalidade. Mas essa nossa expressão natural nem sempre é considerada socialmente adequada e muitas vezes não corresponde às expectativas dos nossos pais em relação a nós. A verdade é que, na maioria das vezes, os pais não estão suficientemente maduros para aceitar e acolher a espontaneidade da criança e para permitir que ela se expresse com a liberdade de que precisa. Então desde cedo a criança começa a ser reprimida e a entrar em contato com o sentimento de inadequação que isso gera. Às vezes ela é reprimida de forma direta e aberta, quando ouve um “não faça isso” ou isso não pode”, e às vezes a repressão ocorre de forma indireta e sutil, através da retirada do amor. Se a criança faz alguma coisa que os pais não gostam ou consideram inadequada, ela é punida com frieza e indiferença. Em certas ocasiões ela apanha ou é humilhada. E quando a sexualidade começa a aflorar e a criança começa a brincar com o próprio corpo, a primeira coisa que ela escuta, normalmente, é: “pare com isso. Isso é feio”. A criança está ali, pura, sem maldade, simplesmente sendo espontânea, mas ela é recriminada nesse movimento natural e tem sua energia vital subitamente bloqueada. Assim, ela começa a ter medo de ser quem é e passa a acreditar que precisa ser outra coisa para agradar aos pais e para receber aquilo de que precisa. Ela deixa de ser espontânea e começa a criar máscaras, ou seja, passa a fingir ser algo que não é, porque sendo quem é não consegue o que deseja, que é ser aceita e amada. Dessa maneira, uma falsa identidade vai sendo construída. A oportunidade vai dando lugar à estratégia, o que significa que ela deixa de fazer aquilo que o seu coração determina e passa a fazer aquilo que agrada aos outros. Ela deixa de ouvir a voz do coração e passa a ouvir apenas a mente. A razão vai se sobrepondo à intuição, porém razão sem intuição é o mesmo que um pássaro sem asas. Ao agir puramente com base na razão e no raciocínio, você se torna uma máquina; e ao agir apenas com base no sentimento e no instinto, você se torna um animal. A intuição une pensamento e sentimento, raciocínio e instinto. Ela nos define como seres humanos. Compreenda que não estou dizendo que a mente e a razão devam ser ignoradas. Na verdade, a mente é um poder do Ser, mas esse poder tem sido muito mal utilizado. Na atual fase da nossa jornada evolutiva, a mente encontra-se completamente desgovernada, criando dificuldades e obstáculos para o desenvolvimento da consciência humana. É preciso haver um equilíbrio entre mente e coração, entre razão e intuição, pois isso é o que nos torna capazes de transcender nossas limitações e de realizar o nosso potencial. Também é importante deixar clara a diferença ente isso que estou chamando de repressão e aquilo que são os limites necessários para a educação e para a proteção da criança. É claro que a criança precisa de limites, até mesmo para a sua própria proteção. E muitas vezes a criança até pede por limites, pois essa é uma forma de os pais darem atenção para ela. O limite, se colocado com amor e consciência, é uma forma de ajudar no desenvolvimento da criança. Já a repressão é o contrário: é como um veneno que age contaminando uma virtude que constitui a base, a fundação da árvore da consciência – a autoconfiança. A espontaneidade, que é uma expressão da autoconfiança, é bloqueada e contaminada pelo medo – o medo de não receber amor. Esta é a ilusão básica que sustenta a miséria no mundo: a ideia de que somos carentes e precisamos receber algo de fora. NEGAÇÃO.  O distanciamento da nossa verdadeira identidade vai se tornando cada vez maior, até que chega um momento em que ocorre uma cisão: perdemoa a conexão com aquilo que somos e passamos a acreditar que somos a máscara. Esse rompimento é extremamente doloroso, é como se fôssemos cortados ao meio ou um buraco se abrisse dentro de nós. Daí nasce o grande vazio interno que acompanha o ser humano em toda a sua existência. E para conseguirmos lidar com essa dor brutal, acionamos o mecanismo da negação. Assim como aliviamos a dor das feridas físicas com analgésicos, amenizamos as feridas emocionais através da negação. A negação é como um anestésico psicoemocional que pode agir por tempo indeterminado. Trata-se de um mecanismo que tem o poder de jogar para os porões do inconsciente todos os sentimentos negativos, todo o conteúdo interno que não queremos ver e sentir. Dessa forma, escondemos dos outros e de nós mesmos aquilo que não aceitamos e com o que não queremos entrar em contato. Essa  é a forma que encontramos para nos proteger e não mais entrar em contato com a realidade de que fomos reprimidos e machucados. Esse mecanismo sustenta a falsa identidade, porque fortalece a crença inconsciente de que somos vítimas carentes e que não somos aceitos pelo que realmente somos. O inconsciente, também conhecido na Psicologia como subconsciente, é uma parte da consciência que, por alguma razão, não queremos enxergar. Não se trata de algo que realmente não conhecemos, mas algo que, em algum momento, decidimos desconhecer. Assim como nascemos amando e fomos aprendendo a odiar (ou desaprendendo a amar), tudo aquilo que se torna inconsciente esteve, em algum momento, sob a luz da consciência. Portanto, o que costumo chamar de “eu inferior” ou “sombra” é justamente essa porção da consciência que nós decidimos não ver e por isso apagamos a luz. Apagar a luz significa fechar o coração, e fechar o coração significa desconectar-se de si mesmo. Essa desconexão gerada pela cisão com a verdadeira identidade gera a ilusão de que somos separados da fonte da vida. Em outras palavras a ilusão de que somos separados da fonte da vida. Em outras palavras, nós perdemos a consciência de que a fonte da vida nos habita e de que somos parte de uma corrente de energia Universal de onde recebemos tudo de que precisamos. Acreditando estar separados dessa fonte que nos nutre, nós passamos a acreditar que somos carente e com isso nos tornamos escravos de outro. Nós temos a fonte do amor dentro de nós, mas acreditamos que precisamos receber esse amor de alguém. A negação dos aspectos sombrios da personalidade é talvez a principal causa da miséria humana. Os sentimentos negados funcionam como âncoras que impossibilitam a ascensão. As mágoas e os ressentimentos que carregamos, mesmo que inconscientemente, nos mantêm prisioneiros da ilusão de separação, distorcendo a percepção da realidade e impedindo que os manifestemos nosso poder na forma dos nossos dons e talentos. Dessa maneira, somos impedidos de alcançar o propósito maior, que é a lembrança de quem somos e do que viemos fazer aqui. Livro: Propósito – A Coragem de Ser Quem Somos. Abraço. Davi.

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