Espiritualidade.
Texto de Sri Prem Baba (1951- )
Capítulo. I. NASCIMENTO II. CONTAMINAÇÃO PELA EDUCAÇÃO. Obviamente, a educação
tem um papel fundamental na formação da personalidade infantil e também no
processo de expansão da consciência humana. Através da educação, é possível
facilitar ou dificultar esse processo. Por isso precisamos dar a devida
importância para esse tema. Na minha visão, somente através da educação nós
poderemos fomentar a transformação necessária para salvar nosso Planeta, que se
encontra em processo de degradação. Mas para que uma mudança significativa
aconteça no mundo, precisamos realizar uma grande reforma na educação , e essa
reforma começa por nós, adultos. O processo de educação das nossas crianças
deve começar através da reeducação do nosso eu inferior. Somente assim teremos
de fato algo para dar. Caso contrário, isso que chamamos de educação continuará
sendo somente uma reação ao passado, somente uma projeção das nossas dores
infantis. Projetamos nossas mazelas nas crianças e queremos fazer delas aquilo
que acreditamos ser o melhor. Mas nem sempre temos razão quanto ao que é o
melhor, justamente porque trata-se de uma crença, ou seja, de uma imagem rígida
a respeito de algo. A crença é construída a partir de situações negativas do
passado. Isso significa que algo deu errado, alguma coisa te machucou, então
você passou a acreditar que a vida é sempre assim. Trata-se de uma
generalização. Portanto, temos um grande desafio pela frente. Precisamos curar
nossas mazelas para que possamos educar nossos filhos adequadamente. Porque, se
continuarmos agindo com base nos nossos traumas do passado, permaneceremos
sabotando o desenvolvimento das nossas crianças e desviando-as do seu caminho
natural, do seu propósito de vida. Isso será possível somente se estivermos
dispostos a assumir nossa responsabilidade e a conhecer a nós mesmos. Porque,
na medida em que nos conhecemos, vamos nos libertando de nossas crenças
limitantes e da ideia de que somos vítimas e nos tornamos capazes de apoiar o
desenvolvimento sustentável da personalidade infantil, o que implica em não
projetar nossas misérias nas crianças e dar força para que sua visão e sua
sabedoria sejam reveladas para o mundo. Precisamos abrir mão da necessidade de
ter nossas expectativas e carências supridas através dos nossos filhos, pois
essa é a raiz do problema. Sei que não é uma tarefa fácil, pois é muito difícil
não repetir padrões e não impor pontos de vista para a criança. Não conhecendo
a si mesmo e não tendo consciência das suas próprias carências e limitações,
inevitavelmente você vai querer formatar a criança de acordo com suas
expectativas. Se você foi muito machucado, desapoderado e humilhado, é muito
provável que, estando numa posição de poder e autoridade perante a criança,
você se perca e queira abusar desse falso poder. Dessa maneira, você acaba
reeditando o seu passado no momento presente, o que significa que você repete a
sua história através da criança e transmite para ela as suas misérias. A
projeção das nossas carências e condicionamentos nas nossas crianças é uma das
bases que sustentam a miséria humana. Dessa forma, temos sido canais de um
poder destrutivo que age promovendo o esquecimento do propósito maior da vida.
A criança tenta ser feliz da maneira como ensinamos que deve ser, mas ela nunca
se sente encaixada, nunca se sente realmente confortável. Desde cedo, a criança
é tomada pelo esquecimento e passa a carregar um vazio existencial do qual, até
certo estágio, não tem consciência. Perdida no esquecimento, ela acredita que
esse vazio (do qual inconscientemente está sempre tentando fugir) será
preenchido com algo que está fora dela. Crê que a sua felicidade depende de
circunstâncias externas, ou seja, de outras pessoas ou de bens materiais.
Assim, acaba desenvolvendo a crença de que a felicidade pode ser comprada.
Acredita que, se tiver bastante dinheiro, além de comprar tudo o que deseja,
poderá dominar o outro e fazer com que ele faça e dê aquilo que espera. Nosso
sistema educacional está baseado nisto: ensinar a criança a ganhar dinheiro e a
ter poder, justamente porque, na fundação da nossa sociedade, existe essa
crença de que dinheiro é sinônimo de felicidade. Nada pode ser mais ilusório do
que isso. E é por causa dessa grande ilusão que a depressão se tornou a doença
do século e que nos tornamos dependentes de remédios para dormir e atenuar a
ansiedade. Estamos criando uma humanidade dependente de terapia. E mesmo com
terapia, não há garantia de que resolveremos o problema. Tem gente que faz
terapia a vida inteira e continua igual. Muitos conseguem viver melhor, se
aceitar mais e dar alguns passos no caminho do autoconhecimento, mas só através
da espiritualidade é possível romper com esse círculo vicioso. Processos
terapêuticos só podem trazer resultados positivos no que diz respeito à cura
das nossas raízes (onde a doença está instalada) se puderem abordar e tratar o
ser humano como um todo, incluindo sua dimensão espiritual. Esse cenário
precisa ser modificado. Caso contrário, seguiremos procriando miséria. Cabe a
nós, adultos, nos libertarmos dessas crenças limitantes e iniciarmos a busca da
felicidade no lugar certo: dentro de nós. Esse é o único lugar em que a
felicidade perene pode ser encontrada. Enquanto continuarmos buscando fora,
projetando nossas carências no outro, exigindo que ele faça aquilo que queremos
que ele faça; enquanto não curarmos nossas feridas infantis através do
autoconhecimento, seguiremos procriando ignorância através dos nossos filhos.
muitas vezes você acha que está amando o seu filho, mas está apenas tentando
resolver o seu próprio problema. Na verdade, você está tentando se realizar
através dele. Ao obrigar a criança a fazer do seu jeito, você acaba desviando-a
do caminha dela. E qualquer caminho que não seja o da alma é um mau caminho,
porque ela estará se afastando do dharma. Se pudéssemos evitar que essas
crenças fossem instaladas na infância, tudo seria diferente. Na minha visão,
isso seria possível se o autoconhecimento e a espiritualidade se tornassem
parte do ensino fundamental. Enquanto adultos conscientes, o nosso trabalho é
resgatar a inocência perdida, a espontaneidade e a pureza da criança em nós,
pois assim poderemos resgatar também a alegria e a leveza de viver. Mas
enquanto isso não acontece, que possamos zelar para que as nossas crianças não
percam a inocência e a espontaneidade. Esse é um projeto para séculos, mas
precisamos começar agora. Precisamos fazer com que uma educação baseada em
valores humanos e espirituais se torne política pública. E, além disso, é
necessário que os amantes se tornem realmente conscientes do significado de uma
família, do significado de trazer uma criança para este mundo. Esse é um dos
aspectos da nossa missão neste Planeta, porque isso faz parte do processo da
expansão da consciência humana. Se olharmos mais profundamente para essa questão,
veremos, inclusive, que é preciso refletir sobre a nossa necessidade compulsiva
de gerar filhos, pois ela também nasce de crenças e condicionamentos. Percebo
que esse assunto é quase um tabu na nossa sociedade, mas trata-se de um tema de
grande importância, que precisa ser amplamente abordado e encarado de frente.
Porque, ao colocar um filho neste mundo, você tem a responsabilidade de ajudar
no desenvolvimento espiritual dessa alma ou pelo menos precisa aprender a não
sabotá-la. Essas são questões muito importantes, mas precisaríamos de um outro
livro para tratar delas. Por enquanto, quero apenas deixar algumas perguntas
para aqueles que estão querendo ter filhos: quem em você quer ter um filho e
para quê? De onde vem essa vontade? Vem da necessidade de cumprir um programa
social, de suprir uma carência ou é um comando do coração: VENENOS PARA A
CONSCIÊNCIA. Volto a dizer que essa tão necessária e desafiadora transformação
só poderá ocorrer se estivermos de fato comprometidos com o autoconhecimento. E
isso implica em estudar os mecanismos que nos levam a esquecer do propósito
real da vida. Precisamos saber de que forma fomos contaminados pelo medo; de que forma as crenças e os condicionamentos
foram instalados no nosso sistema, dando início a círculos viciosos que geram
destruição e perpetuam a miséria, não somente em nossas vidas pessoais, mas na
vida do Planeta como um todo. Ao identificarmos esses círculos viciosos e
entendermos o seu funcionamento, temos a chance de interrompê-los. E quando
isso acontece, a energia que até então estava sendo utilizada para manter o
esquecimento pode ser redirecionada para a lembrança de quem somos. Os
principais mecanismos que estão a serviço do esquecimento são a repressão e a
negação. Eles atuam no nosso sistema como verdadeiros venenos para a
consciência. Vejamos como: REPRESSÃO. Como mencionei anteriormente, quando
nasce, a entidade humana, apesar de ainda ter a lembrança da sua identidade,
apresenta limites que a tornam dependente. Portanto, ela precisa receber dos
pais muitas coisas – dentre elas, três elementos são os mais vitais: o
alimento, a proteção e o amor. Esses elementos são básicos para que a criança
possa sobreviver e crescer de forma saudável. Além disso, existe um outro
elemento que também é fundamental, mas que normalmente é desconsiderado: a
liberdade. A liberdade é uma necessidade tão básica para a alma quanto o
alimento é para o corpo. Na verdade, ela é intrínseca ao Ser, mas, ao encarnar
neste plano, temos nossa liberdade restringida. Quando chegamos aqui, somos
puros, não temos medo nem vergonha de ser quem somos. Não vemos perigo nem
maldade em nada, por isso nos expressamos com total liberdade, espontaneidade e
naturalidade. Mas essa nossa expressão natural nem sempre é considerada
socialmente adequada e muitas vezes não corresponde às expectativas dos nossos
pais em relação a nós. A verdade é que, na maioria das vezes, os pais não estão
suficientemente maduros para aceitar e acolher a espontaneidade da criança e
para permitir que ela se expresse com a liberdade de que precisa. Então desde
cedo a criança começa a ser reprimida e a entrar em contato com o sentimento de
inadequação que isso gera. Às vezes ela é reprimida de forma direta e aberta,
quando ouve um “não faça isso” ou isso não pode”, e às vezes a repressão ocorre
de forma indireta e sutil, através da retirada do amor. Se a criança faz alguma
coisa que os pais não gostam ou consideram inadequada, ela é punida com frieza
e indiferença. Em certas ocasiões ela apanha ou é humilhada. E quando a
sexualidade começa a aflorar e a criança começa a brincar com o próprio corpo,
a primeira coisa que ela escuta, normalmente, é: “pare com isso. Isso é feio”.
A criança está ali, pura, sem maldade, simplesmente sendo espontânea, mas ela é
recriminada nesse movimento natural e tem sua energia vital subitamente
bloqueada. Assim, ela começa a ter medo de ser quem é e passa a acreditar que
precisa ser outra coisa para agradar aos pais e para receber aquilo de que
precisa. Ela deixa de ser espontânea e começa a criar máscaras, ou seja, passa
a fingir ser algo que não é, porque sendo quem é não consegue o que deseja, que
é ser aceita e amada. Dessa maneira, uma falsa identidade vai sendo construída.
A oportunidade vai dando lugar à estratégia, o que significa que ela deixa de
fazer aquilo que o seu coração determina e passa a fazer aquilo que agrada aos
outros. Ela deixa de ouvir a voz do coração e passa a ouvir apenas a mente. A
razão vai se sobrepondo à intuição, porém razão sem intuição é o mesmo que um
pássaro sem asas. Ao agir puramente com base na razão e no raciocínio, você se
torna uma máquina; e ao agir apenas com base no sentimento e no instinto, você
se torna um animal. A intuição une pensamento e sentimento, raciocínio e
instinto. Ela nos define como seres humanos. Compreenda que não estou dizendo
que a mente e a razão devam ser ignoradas. Na verdade, a mente é um poder do
Ser, mas esse poder tem sido muito mal utilizado. Na atual fase da nossa
jornada evolutiva, a mente encontra-se completamente desgovernada, criando
dificuldades e obstáculos para o desenvolvimento da consciência humana. É
preciso haver um equilíbrio entre mente e coração, entre razão e intuição, pois
isso é o que nos torna capazes de transcender nossas limitações e de realizar o
nosso potencial. Também é importante deixar clara a diferença ente isso que
estou chamando de repressão e aquilo que são os limites necessários para a
educação e para a proteção da criança. É claro que a criança precisa de
limites, até mesmo para a sua própria proteção. E muitas vezes a criança até
pede por limites, pois essa é uma forma de os pais darem atenção para ela. O
limite, se colocado com amor e consciência, é uma forma de ajudar no
desenvolvimento da criança. Já a repressão é o contrário: é como um veneno que
age contaminando uma virtude que constitui a base, a fundação da árvore da
consciência – a autoconfiança. A espontaneidade, que é uma expressão da
autoconfiança, é bloqueada e contaminada pelo medo – o medo de não receber
amor. Esta é a ilusão básica que sustenta a miséria no mundo: a ideia de que
somos carentes e precisamos receber algo de fora. NEGAÇÃO. O distanciamento da nossa verdadeira
identidade vai se tornando cada vez maior, até que chega um momento em que
ocorre uma cisão: perdemoa a conexão com aquilo que somos e passamos a
acreditar que somos a máscara. Esse rompimento é extremamente doloroso, é como
se fôssemos cortados ao meio ou um buraco se abrisse dentro de nós. Daí nasce o
grande vazio interno que acompanha o ser humano em toda a sua existência. E
para conseguirmos lidar com essa dor brutal, acionamos o mecanismo da negação.
Assim como aliviamos a dor das feridas físicas com analgésicos, amenizamos as
feridas emocionais através da negação. A negação é como um anestésico psicoemocional
que pode agir por tempo indeterminado. Trata-se de um mecanismo que tem o poder
de jogar para os porões do inconsciente todos os sentimentos negativos, todo o
conteúdo interno que não queremos ver e sentir. Dessa forma, escondemos dos
outros e de nós mesmos aquilo que não aceitamos e com o que não queremos entrar
em contato. Essa é a forma que
encontramos para nos proteger e não mais entrar em contato com a realidade de
que fomos reprimidos e machucados. Esse mecanismo sustenta a falsa identidade,
porque fortalece a crença inconsciente de que somos vítimas carentes e que não
somos aceitos pelo que realmente somos. O inconsciente, também conhecido na
Psicologia como subconsciente, é uma parte da consciência que, por alguma
razão, não queremos enxergar. Não se trata de algo que realmente não
conhecemos, mas algo que, em algum momento, decidimos desconhecer. Assim como
nascemos amando e fomos aprendendo a odiar (ou desaprendendo a amar), tudo
aquilo que se torna inconsciente esteve, em algum momento, sob a luz da
consciência. Portanto, o que costumo chamar de “eu inferior” ou “sombra” é
justamente essa porção da consciência que nós decidimos não ver e por isso
apagamos a luz. Apagar a luz significa fechar o coração, e fechar o coração
significa desconectar-se de si mesmo. Essa desconexão gerada pela cisão com a
verdadeira identidade gera a ilusão de que somos separados da fonte da vida. Em
outras palavras a ilusão de que somos separados da fonte da vida. Em outras
palavras, nós perdemos a consciência de que a fonte da vida nos habita e de que
somos parte de uma corrente de energia Universal de onde recebemos tudo de que
precisamos. Acreditando estar separados dessa fonte que nos nutre, nós passamos
a acreditar que somos carente e com isso nos tornamos escravos de outro. Nós
temos a fonte do amor dentro de nós, mas acreditamos que precisamos receber
esse amor de alguém. A negação dos aspectos sombrios da personalidade é talvez
a principal causa da miséria humana. Os sentimentos negados funcionam como
âncoras que impossibilitam a ascensão. As mágoas e os ressentimentos que
carregamos, mesmo que inconscientemente, nos mantêm prisioneiros da ilusão de
separação, distorcendo a percepção da realidade e impedindo que os manifestemos
nosso poder na forma dos nossos dons e talentos. Dessa maneira, somos impedidos
de alcançar o propósito maior, que é a lembrança de quem somos e do que viemos
fazer aqui. Livro: Propósito – A Coragem de Ser Quem Somos. Abraço. Davi.
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