Teosofia.
Por Jiddu Krishnamurti (1895-1986). III. BOA CONDUTA. Os seis pontos sobre a
conduta, especialmente exigidos pelo Mestre, são: 1. Domínio da Mente. 2.
Domínio da Ação. 3. Tolerância. 4. Contentamento. 5. Perseverança (unidade de
ação para o fim visado). 6. Confiança. Sei que algumas dessas qualidades são
frequentemente expressas de modo diferente; porém, em todo caso, usei as
designações que o próprio Mestre empregou ao explica-las). 1. DOMÍNIO DA MENTE.
A qualidade da ausência do desejo mostra que o corpo astral precisa ser
dominado; o mesmo acontece em relação ao corpo mental. Isto significa domínio
do temperamento, de modo a não poderes sentir cólera ou impaciência; domínio da
própria mente, a fim de que o pensamento seja sempre calmo e sereno e, através
da mente, o domínio dos nervos, a fim de que sejam o menos irritáveis possível.
Este último objetivo é difícil de atingir, porque, quando tentas preparar-te
para a Senda Espiritual, não podes deixar de tomar o teu corpo mais sensitivo;
de sorte que os seus nervos podem ser facilmente abalados por um som ou um
choque, e sentir de modo agudo qualquer pressão. Faz, porém, o melhor que te
for possível. A mente calma implica, também, coragem, a fim de afrontares sem
medo as provas e dificuldades da Senda Espiritual; implica, outrossim, firmeza,
para suportares as pequenas perturbações inerentes à vida diária e evitar os
aborrecimentos incessantes, oriundos de pequenas coisas em que muita gente
consome a maior parte do seu tempo. O Mestre ensina que não tem a menor
importância o que ao homem acontece exteriormente; tristezas, perturbações,
doenças, perdas – tudo isso deve ser nada para ele e não deve permitir que lhe
afetem a calma mental. São o resultado das ações passadas e, quando chegam,
devem ser suportadas alegremente, com a lembrança de qe todo mal é transitório
e que é teu dever permanecer sempre contente e sereno. Pertencem às tuas vidas
anteriores e não a esta; não podes alterá-las, portanto é inútil que com elas
te preocupes. Pensa antes no que estás, agora, fazendo e que determinará os
acontecimentos de tua próxima vida, pois essa podes modificar. Não cedas nunca
à tristeza e ao desalento. O desalento é mau, porque contamina os outros e
torna as suas vidas mais difíceis, o que não tens o direito de fazer. Portanto,
sempre que venha a ti, deves repeli-lo imediatamente. Deves ainda dominar o teu
pensamento de outro modo; não o deixes vaguear. Fiz o teu pensamento naquilo
que estiveres fazendo, a fim de que seja feito com perfeição; não deixes a tua
mente ociosa, porém, mantém sempre bons pensamentos em reserva, prontos a
avançar quando ela estiver livre. Emprega, diariamente, o poder do teu
pensamento em bons propósitos. Sê uma força orientada para a evolução. Pensa
cada dia em alguém que saibas estar imerso na tristeza e no sofrimento, ou
necessitando de auxílio e derrama sobre ele teus pensamentos de amor. Preserva
a tua mente do orgulho, porque o orgulho provém somente da ignorância. O homem
que não sabe, pensa ser grande por ter feito alguma grande coisa; mas o homem
sábio compreende que só Deus é grande e que toda boa obra é feita só por Ele.
2. DOMÍNIO DA AÇÃO. Se o teu pensamento for o que deve ser, encontrarás pouca
dificuldade na ação. Lembra-te que para ser útil à humanidade, o pensamento deve
traduzir-se em ação. Nada de indolência, mas uma constante atividade no
trabalho útil. Deves, porém, cumprir o teu próprio dever e não o de outrem, a
não ser com a sua devida permissão e no intuito sempre de ajuda-lo. Deixa que
cada homem execute o seu trabalho a seu modo; mantém-te sempre pronto a
oferecer auxílio onde ele for necessário, porém nunca te intrometas. Para muita
gente a coisa mais difícil deste mundo é aprender a ocupar-se de seus próprios
negócios; é, porém, isto exatamente o que deves fazer. Pelo fato de
empreenderes um trabalho de ordem superior, não deves esquecer os teus deveres
comuns, pois enquanto os não cumprires, não estarás livre para outro serviço.
Não tomes sobre ti novos deves para com o mundo; porém, daqueles que já te encarregaste,
desempenha-te perfeitamente – os deveres definidos e razoáveis, que tu próprio
reconheces, e não os deveres imaginários que porventura alguém pretenda
impor-te. Se queres pertencer ao Mestre, deves executar o teu trabalho comum
melhor e não pior do que os outros, porque deves fazer também isto por amor a
Ele. 3. TOLERÂNCIA. Deves sentir perfeita tolerância por todos e um sincero
interesse pelas crenças dos de outras religião, tanto quanto pelas tuas
próprias. Pois a religião dos outros é um Caminho para o Supremo, da mesma
forma que a tua. E, para auxiliar a todos, é preciso tudo compreender. Mas a
fim de alcançares esta perfeita tolerância, deves tu próprio, em primeiro
lugar, libertar-te da superstição e da beatice. Precisas aprender que não há cerimônias
indispensáveis; de outro modo te suporias
um pouco melhor do que aqueles que as não cumprem. Não condenes, porém,
os que ainda se apegam às cerimônias. Deixa-os fazer o que lhes aprouver,
contanto que se não intrometam no que concerne a ti que conheces a verdade
- pois não devem tentar forçar-te àquilo
que já ultrapassastes. Sê indulgente com todos; sê benévolo em tudo. Agora que
os teus olhos foram abertos, algumas das tuas antigas crenças e cerimônias podem
parecer-te absurdas; talvez, na realidade, o sejam. Apesar, porém, de não
poderes mais tomar parte nelas, respeita-as por amor às boas almas para quem
elas são ainda importantes. Têm o seu lugar e a sua utilidade, assemelham-se às
dupla linhas que, quando criança, te guiavam para escrever em linha reta e na
mesma altura, até que aprendeste a escrever muito melhor e mais livremente sem
elas. Houve tempo em que delas necessitaste; esse tempo, porém, já passou. Um
grande Instrutor escreveu certa vez: “Quando eu era criança, falava como
criança, entendia como criança; porém, quando me tornei homem, abandonei os
modos infantis”. No entanto, aquele que esqueceu a sua infância e perdeu a
simpatia pelas crianças não é o homem que as possa instruir e ajudar. Assim,
olha a todos bondosamente, gentilmente, tolerantemente; porém, a todos da mesma
forma, quer sejam budistas, jainos, hindus, judeus, cristãos ou muçulmanos. 4.
CONTENTAMENTO. Deves suportar o teu Karma alegremente, qualquer que ele seja,
tendo o sofrimento como uma honra, pois demonstra que os Senhores do Karma te
acham digno de auxílio. Por muito duro que ele seja, mostra-te agradecido por
não ser ainda pior. Lembra-te que de muito pouca utilidade serás para o Mestre,
enquanto o teu mau Karma não for esgotado e não estiveres livre. Oferecendo-te
a Ele, pediste que o teu Karma fosse apressado e assim, em uma ou duas vidas
esgotas aquilo que, de outro modo, exigiria uma centena delas. Para maior
proveito, porém, deves suportá-lo alegremente. Há outro ponto de importância.
Abandona todo sentimento de posse. O Karma pode arrebatar-te aquilo de que mais
gostas, mesmo as pessoas que mais amas. Ainda assim deves ficar contente –
pronta a separar-te de tudo e de todos. Frequentemente, o Mestre necessita
transmitir Sua força a outros através do Seu servo. Ele não o poderá fazer se o
servo ceder ao desânimo. Assim, o contentamento é indispensável. 5.
PERSEVERANÇA. A coisa única que deves manter sempre presente, em tua mente, é o
trabalho do Mestre. Qualquer outra coisa que surja em teu caminho, não te deve
fazê-lo esquecer. Na verdade, nenhuma outra coisa poderá surgir diante de ti,
pois todo trabalho útil e desinteressado é trabalho do Mestre e tu deves
executá-lo por amor a Ele. E precisas dedicar-lhe toda a tua atenção, a fim de
ser o que de melhor possas fazer. O mesmo Instrutor escreveu também: “O que
quer que faças, faze-o de boa vontade, como sendo para o Senhor e não para os
homens”. Pensa como executarias um trabalho se soubesses que o Mestre viria
vê-lo imediatamente. É justamente nestas condições que deves executar tudo.
Aqueles que sabem, melhor compreenderão o significado deste versículo. Há um
outro, semelhante porém muito mais antigo: “Em tudo o que a tua mão fizer
aplica toda a tua força”. A perseverança significa, também, que nada deverá
afastar-te por um momento sequer da Senda Espiritual em que entraste. Nem
tentações, nem os prazeres do mundo, nem as afeições mundanas, mesmo, devem
jamais desviar-te. Pois tu mesmo deves unificar-te com a Senda Espiritual; ela
deve tornar-se de tal modo parte da tua própria natureza que a percorras sem
nisso teres que pensar e sem te desviares. Tu, a Mônada, assim o decidiste;
separares-te da Senda Espiritual equivaleria a te separes de ti mesmo. 6.
CONFIANÇA. Deves confiar em teu Mestre; deves confiar em ti mesmo. Se já viste
o Mestre, nele confiarás plenamente através de muitas vidas e mortes. Se ainda
não O viste, deves tentar averiguar a Sua existência e confiar Nele – porque se
o não fizeres, nem mesmo Ele te poderá ajudar. Sem que haja perfeita confiança
não poderá haver perfeita efusão de amor e poder. Necessitas confiar em ti
mesmo. Dizes que te conheces muito bem? Se assim pensas, não te conheces;
conheces apenas o débil envoltório externo que frequentemente tem caído na
lama. Porém tu – Eu Real – és uma centelha do fogo Divino e Deus, que é Todo
Poderoso, está em ti e, por este motivo, nada existe que não possas fazer, se
quiseres. Dize a ti mesmo; “O que o home fez, o homem pode fazer. Eu sou um
homem, porém sou também o Deus que está no homem; eu posso fazer isto e quero
fazê-lo”. Pois se quiseres trilhar a Senda Espiritual, a tua vontade deve ser
como aço de boa têmpera. Do Livro Aos Pés do Mestre. Abraço Davi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário