quarta-feira, 8 de junho de 2016

As "Quatro Verdades" do Budismo.



Teosofia. Texto de Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891). “Essa doutrina de um Deus que é a Mente Universal difundida em todas as coisas subjaz em todas as filosofias antigas. Os dogmas budistas – que nunca são bem compreendidos se não se estuda a Filosofia Pitagórica, o seu reflexo fiel – derivam dessa fonte, assim como a religião bramânica e o Cristianismo Primitivo. O processo purificador das transmigrações – a metempsicose – embora grosseiramente antropomorfizado num período posterior, deve ser considerado como uma doutrina suplementar, desfigurada pela sofisticaria teológica  com o objetivo de conseguir uma base mais sólida de ação sobre os crentes por meio duma superstição popular. Nem Gautama Budha nem Pitágoras (570 AC 495) pretenderam ensinar literalmente essa alegoria puramente metafísica. Esotericamente, ela está explicada no “Mistério do Kumbum” e refere-se às peregrinações puramente espirituais da alma humana. Não é na letra morta da literatura budista sagrada que os eruditos podem esperar encontrar a verdadeira solução das suas sutilezas metafísicas. Estas últimas fatigam o poder de pensamento pela inconcebível profundidade de seu raciocínio; e o estudioso nunca está mais distanciado da verdade do que quando se acredita estar o mais próximo possível da sua descoberta. A maestria de toda doutrina do desconcertante sistema budista só pode ser conseguida se se procede estritamente de acordo com o método pitagórico e platônico; dos universais para os particulares. A sua chave repousa nos dogmas refinados e místicos do influxo espiritual da vida divina. “Aquele que não estiver familiarizado com a minha lei”, diz o Budha, “e morre nessa condição, deve retornar à Terra até que se torne um samaneu perfeito. Para chegar a esse objetivo, ele deve destruir dentro de si a trindade de Maya. Deve extinguir as suas paixões, unir-se e identificar-se à lei (o ensinamento da doutrina secreta) e compreender a religião da aniquilação”. A aniquilação, aqui, refere-se apenas à matéria, tanto a do corpo visível quanto a do invisível; pois a alma astral é ainda matéria, embora sublimada. O mesmo livro diz que o que Fo (Budha) queria dizer é que “a substância primitiva é eterna e imutável. A sua revelação mais elevada é o éter luminoso, puro, o espaço infinito sem limites, não um vácuo resultante da ausência de formas, mas, ao contrário, a fundação de todas as formas, e anterior a elas. Mas a presença mesma das formas denota que ele é uma criação de Maya, e todas as suas obras são como o nada diante do ser incriado, o ESPÍRITO, em cujo repouso profundo e sagrado todo movimento deve cessar sempre”. Assim, aniquilação significa, na Filosofia Budista, apenas uma dispersão da matéria, sob uma forma ou aparência de forma qualquer; pois tudo que tem uma forma foi criado, e assim deve mais cedo ou mais tarde perecer, isto é, mudar essa forma. Por isso, como algo temporário, embora pareça ser permanente, ela é apenas uma ilusão, Maya; pois como a eternidade não tem começo nem fim, a duração mais ou menos prolongada de alguma forma particular ocorre, por assim dizer, como um clarão instantâneo de relâmpago. Antes que tenhamos tempo de nos darmos conta de que a vimos, ela ocorre e desaparece para sempre. Donde que, mesmo os nossos corpos astrais, feitos de éter puro, sejam apenas ilusões da matéria, desde que conservem o seu perfil terrestre. Esta última muda, diz o budista, de acordo com os méritos e os deméritos da pessoa durante a sua vida, e isto é a metempsicose. Quando a entidade espiritual se separa totalmente de toda partícula da matéria, só então ela entra no Nirvana eterno e imutável. Ela existe em espírito, no nada; como uma forma, uma aparência, ela está completamente aniquilada, e, assim, ela não morrerá jamais, pois só o espírito não é Maya, mas só a realidade é um universo ilusório de formas sempre transitórias. É neste conceito budista que se apoia a Filosofia Pitagórica, que neste ponto concreto assim expõe Whitelock Bulstrode (1605-1675): “Pode o espírito que dá vida e movimento, e participa da natureza da luz, ser reduzido a uma não entidade? perguntam eles. Pode o espírito sensitivo que, nas feras (animais), exercita a memória, uma das faculdades racionais, morrer e se reduzir a nada? Se dizeis que elas (as feras) exalam os seus espíritos no ar e então desaparecem, é exatamente isso o que nego. O ar, na verdade, é o lugar apropriado para receber o espírito dos brutos, porque, segundo Laércio (200-250), está povoado de almas e, segundo Epicuro (341 AC 270), cheio de átomos originários de todas as coisas (...). Pois mesmo esse espação, em que caminhamos e os pássaros voam (...) tem uma natureza mais espiritual, já que é invisível; por isso, ele pode muito bem ser o receptáculo das formas, dado que as formas de todos os corpos também o são. Não só podemos ouvir e ver os seus efeitos; o ar em si mesmo é muito sutil, e está acima da capacidade da visão. O que, então, é o éter que está na região superior? E quais são as influências ou as formas que descendem dele?” Os espíritos das criaturas, que são, como diziam os pitagóricos, emanações das porções mais sublimadas do éter, emanações, SOPROS, mas não formas. O éter é incorruptível, todos os filósofos estão de acordo quanto a este ponto; e o que incorruptível está tão longe de ser aniquilado quando ele se separa da forma, que este é um excelente argumento para a IMORTALIDADE. “Mas que coisa é esta que não tem corpo, não tem forma, que é imponderável (que não se consegue pesar), invisível; que existe e ainda não é ?” perguntam os budistas. O Nirvana é a resposta. Uma NÃO COISA, não um lugar, mas antes um estado. Uma vez atingido o Nirvana, o homem está isento dos efeitos das “quarto verdades”, pois um efeito só pode ser produzido por uma determinada causa, e toda causa está aniquilada nesse estado. Estas “Quatro Verdades” são a base de toda a doutrina búdhica do Nirvana. Elas são, diz o livro da Prajna Paramita: 1. A existência da dor. 2. A produção da dor. 3. A aniquilação da dor. 4. O caminho da aniquilação do dor. Qual é a fonte da dor? a existência. Ocorrido o nascimento, a decrepitude e a morte o seguem; pois onde existe uma forma, há ai uma causa para a dor e o sofrimento. Só o espírito não tem forma, e, assim não se pode dizer que ele existe. Quando o homem (o homem etéreo, interior) chega ao ponto que se torna completamente espiritual, por conseguinte, sem forma, é que ele alcançou um estado de bem aventurança perfeita. O HOMEM, na qualidade de ser objetivo, torna-se aniquilado, mas a entidade espiritual, que é vida subjetiva, viverá para sempre, pois o espírito é incorruptível e imortal. É pelo espírito dos ensinamentos do Budha e de Pitágoras que podemos reconhecer tão facilmente a identidade de suas doutrinas. A alma que tudo penetra, universal, a Anima Mundi, é o Nirvana; e Budha, como um nome genérico, é a Mônada antropomorfizada de Pitágoras. Quando repousa no Nirvana, a bem aventurança final, o Budha é a Mônada silenciosa, que vive nas trevas e no silêncio. Ele é também o Brahman sem forma, a sublime mas incognoscível Divindade, que penetra invisivelmente todo o universo. Quando ele se manifesta, desejando dar-se a conhecer à Humanidade sob uma forma inteligível ao nosso intelecto, quer o chamemos de Avatar ou rei Messias, ou de permutação do Espírito Divino, Logos, Christos, tudo isso é a mesma coisas. Em cada um desses casos, ele é “o Pai”, que está no Filho, e o Filho que está “no Pai”. O espírito universal obscurece o homem mortal. Entra nele e penetra todo o seu ser, faz dele um deus, que desce para o seu tabernáculo terrestre. Todo homem pode tornar-se um Budha, diz a doutrina. E assim, através da interminável série de épocas, vemos de um tempo a outro homens que são mais ou menos bem sucedidos em sua união “com Deus”, como se diz, com o seu próprio espírito, como devemos dizer. Os budistas chamam esses homens de Arhats. Um arhat é quase um Budha, e ninguém o iguala em ciência infusa, nem em poderes miraculosos. Certos faquires demonstram essa teoria na prática, como Louis Jacolliot (1837-1890) comprovou. Mesmo nas chamadas narrativas fabulosas de certos livros budistas, quando despojadas de seu significado alegórico, pode-se reconhecer a doutrina secreta ensinada por Pitágoras. Nos livros páli chamados Jatakas são fornecidas as 550 encarnações (alguns livros sagrados budistas descrevem que o Iluminado atingiu milhões de encarnações, não se conseguindo mensurar o número exato) ou metempsicoses do Budha. Elas narram como ele apareceu em cada forma de vida animal e como animou cada ente senciente sobre a terra, do inseto infinitesimal ao pássaro, à fera e finalmente ao homem, a imagem microscósmica de Deus sobre a Terra. Deve isto ser considerado literalmente; corresponde a uma descrição das transformações reais e da existência de um mesmo e único espírito individual, imortal, divino, que, cada uma por sua vez, animou toda espécie de ente senciente? Não devemos antes compreender, com os metafísicos budistas, que embora os espíritos humanos individuais sejam inumeráveis, coletivamente eles são apenas um. Assim como cada gota de água extraída do oceano, metaforicamente falando, pode ter uma existência individual e ainda continuar a formar uma unidade com o restante das gotas que formam esse oceano; pois cada espírito humano é uma centelha da luz que tudo penetra? Que esse espírito divino anima a flor, a partícula de granito da encosta da montanha, o leão, o homem? Os hierofantes egípcios, como os brâmanes, e os budistas do Oriente, e alguns filósofos gregos, afirmam originalmente que o mesmo espírito que anima as partículas de pó, permanecendo latente nelas, anima o homem, manifestando-se nele no mais elevado estado de atividade. A doutrina, também, da reabsorção gradual da alma humana na essência do espírito – fonte primordial era universal numa determinada época. Mas essa doutrina nunca implicou  a ideia de aniquilação do ego espiritual mais elevado – apenas a dispersão das formas externas do homem, depois da sua morte terrestre, bem como durante a sua permanência na Terra. Quem está mais qualificado para nos fazer conhecer os mistérios do além morte, tão erroneamente considerados impenetráveis, do que esses homens que, tendo conseguido pela autodisciplina e pureza de vida e de propósitos se unirem com o seu “Deus”, obtiveram alguns vislumbres, imperfeitos todavia, da grande Verdade. E esses videntes nos contam histórias estranhas sobre a variedade de formas assumidas pelas almas astrais desencarnadas. Formas de que cada uma é reflexo espiritual mas concreto do estado abstrato da mente e dos pensamentos do homem que viveu outrora. Acusar a Filosofia Budistas de rejeitar um Ser Supremo – Deus, e a imortalidade da alma – acusá-la de ateísmo, em suma, pois que, de acordo com as suas nada, é simplesmente um absurdo. O Ain Soph judaico também  significa Nihil ou Nada, o que não é (quod ad nos) o que nos diz respeito; mas ninguém ousou acusar os judeus de ateísmo. Em ambos os casos, o significado real do termo Nada comporta a ideia de que Deus é não uma coisa, não um se concreto ou visível ao qual um nome expressivo de qualquer objeto conhecido de nós na Terra possa ser aplicado com propriedade”. Do Livro Ísis Sem Véu. Abraços. Davi.

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