I - O primeiro
elo, a ignorância interdependente AVYDIA, é um tipo
específico de ignorância. Trata-se de uma mente de auto agarramento que motiva
uma pessoa a criar ações causadoras de renascimento no Samsara. Essa mente é
chamada de ignorância, pois ignora a verdadeira natureza dos fenômenos e se
agarra a eles como se fossem inerentemente existentes. II - O elo das
ações de composição interdependente SANSKARAS, refere-se
a uma ação, ou carma, que é causa projetante de renascimento no Samsara. Seu
efeito é nos projetar, ou arremessar, em um renascimento Samsárico e, por isso,
também recebe o nome de carma arremessador (marcas mentais).
Embora a ação de composição seja motivada pela ignorância dependente relacionada,
o primeiro elo, ela pode ser virtuosa ou não virtuosa, dependendo da intenção
que a acompanha. As ações de composição virtuosas levam a renascimentos
cíclicos nos três reinos superiores; as não virtuosas, a renascimentos nos três
reinos inferiores. III - O terceiro elo, a consciência interdependente VIJNANA, não se refere à consciência em geral, mas a um tipo
específico de consciência: a que recebe a marca da ação de composição
interdependente. Cada ação de composição, como a ação não virtuosa de matar,
deixa uma marca em nossa consciência. Essa marca permanecerá no continum da
consciência Alayavijnana, como uma semente, ou potencial, até surgirem
circunstâncias favoráveis para seu amadurecimento. Então, a semente produzirá
seu efeito, um renascimento no Samsara. IV - O quarto elo, denominado nome
e forma interdependente NAMA-RUPA, é constituído pelos cinco
agregados da pessoa no momento do nascimento. Forma refere-se ao agregado
forma; nome, aos outros quatro agregados. Podemos tomar nosso próprio
renascimento como exemplo. Renascemos como ser humano quando a consciência
ingressa no óvulo fertilizado, no útero de nossa mãe. Nesse momento, já
possuímos cinco agregados rudimentares, o agregado forma é a forma física do
óvulo fertilizado, no entanto os outros agregados, como a sensação, também já
estão presentes. Esses quatro agregados denominam-se nome, porque servem de
base para nomear, ou identificar, uma pessoa, inclusive os seres do reino sem
forma. Os cinco agregados no momento da fecundação são um exemplo do elo nome e
forma interdependente. V - As seis fontes interdependentes SADAYATANA, o quinto elo, correspondem às cinco faculdades sensoriais
e à faculdade mental, que se desenvolvem logo após a concepção. No caso de
nosso renascimento atual, como ser humano, já possuíamos a faculdade mental e a
faculdade tátil desde o momento da concepção; as outras quatro fontes, visual,
auditiva, olfativa e gustativa, foram geradas gradualmente, conforme nos
desenvolvíamos no útero. VI - O sexto elo é o contato
interdependente SPARSA. Contato é um fator mental que acompanha cada
momento de consciência. Ele surge do encontro entre o objeto, a faculdade
sensorial e a consciência. Sua função é perceber o objeto como agradável,
desagradável ou neutro. VII - Na dependência do contato, geramos o
sétimo elo, a sensação interdependente VEDANA. Enquanto
o contato conhece um objeto como agradável, desagradável ou neutro, a sensação
é o fator mental que experiência o objeto como agradável, desagradável ou
neutro. Sempre que conhecemos um objeto geramos uma sensação agradável,
desagradável ou neutra. VIII - O anseio interdependente TANHA,
o oitavo elo, é uma forma específica de apego, cuja função é alimentar ou
ativar o potencial de renascer, deixado em nossa consciência por uma ação de
composição precedente. Esse tipo de apego acontece na hora da morte. Nessa
ocasião, normalmente, desenvolvemos um forte apego ao "eu", bem como
ao nosso corpo, aos amigos, às posses etc. Esse anseio ativa o potencial
para o próximo renascimento. IX - O nono elo é o agarramento
interdependente UPADANA. Também é um tipo de apego, porém mais intenso
que o anseio. O anseio compara-se ao forte desejo de fumar de alguém que
abandonou o vício há pouco; o agarramento seria uma intensificação desse
desejo, capaz de levar a pessoa a sair de casa para comprar cigarro. O
agarramento interdependente se desenvolve depois do anseio interdependente e
ativa com força ainda maior o potencial para o próximo renascimento. X -
O décimo elo, a existência interdependente BHAVA, é uma
ação mental, ou intenção, causada pelos dois elos anteriores, o anseio e o
agarramento. Denomina-se "existência" por ser a causa imediata de um
novo renascimento na existência cíclica; exemplifica uma causa que é chamada pelo
nome de seu efeito. Intenção, em geral, é uma ação mental e sua natureza
determina se a mente é virtuosa ou não. Se o fator mental intenção for
virtuoso, a mente que o acompanha, com certeza, será virtuosa; o inverso ocorre
no caso de um fator mental não virtuoso. Embora anseio e agarramento sejam
delusões (enganos), na hora da morte eles podem causar uma mente virtuosa como,
por exemplo, refugiar-se nos seres sagrados e orar. Nesse caso, o décimo elo, a
existência dependente relacionada, será uma ação virtuosa e, com certeza,
ativará alguma marca deixada por ações de composição virtuosas; o indivíduo
terá, então, um renascimento afortunado como humano ou deus. Por outro lado, se
o anseio e o agarramento causarem mentes não virtuosas, como a raiva, o décimo
elo será uma ação não virtuosa e ativará um potencial de renascer nos reinos
inferiores (mineral, vegeta ou animal). XI - O décimo primeiro elo é o nascimento
interdependente JATI. Refere-se ao instante em que a consciência
ingressa numa nova existência. No caso de um renascimento como ser humano, esse
elo refere-se ao ingresso da consciência num óvulo fertilizado no útero materno.
XII - O processo de envelhecimento JARAMARANA
inicia-se no segundo instante do novo renascimento e prossegue até a morte. O
último elo, o envelhecimento e a morte interdependente, abarca esse processo de
envelhecimento e a morte. Os doze elos interdependentes revelam o processo pelo
qual nos mantemos acorrentados a um ciclo descontrolado de renascimentos e
mortes, com todos os seus sofrimentos associados. A causa fundamental
desse descontrole é o primeiro elo, a ignorância, a mente que se agarra à
existência inerente. Sob o jugo da ignorância, cometemos ações virtuosas e não virtuosas,
as causas de nossos renascimentos nos reinos superiores ou inferiores do Samsara.
Tais ações denominam-se de composição e constituem o segundo elo. Cada ação de
composição imprime uma marca em nossa mente e a consciência que recebe essa
marca é o terceiro elo Vijnana. Os três primeiros elos costumam ser
denominados causas projetantes, pois atuam como causas que nos
arremessam para um futuro renascimento descontrolado. Também são chamados de
causas distantes de renascimento, pois muitas vidas podem transcorrer
antes que esse renascimento se efetive. Os próximos quatro elos são efeitos
projetados e explicam como iremos nos desenvolver depois que formos
projetados em um novo renascimento. O quarto elo indica que os novos agregados,
nome e forma, constituem a base de imputação (atribuição) para essa recente
identidade. Na dependência dos agregados, forma-se o quinto elo, as seis
fontes. Elas são as seis faculdades e dão origem ao sexto elo, o contato.
Devido ao contato, geramos sensações agradáveis, desagradáveis ou neutras, que
constituem o sétimo elo Vedana. Os três elos seguintes mostram como o
potencial para um próximo renascimento se estabelece e, por isso, denominam-se causas
estabelecedoras. Também são chamados de causas próximas, pois antecedem
imediatamente o renascimento. Quando a morte se aproxima surgem, na dependência
das sensações anteriores, o oitavo e o nono elos, o anseio e o agarramento.
Eles ativam o potencial para o próximo renascimento, causando o desenvolvimento
do décimo elo, a existência, uma ação mental que nos transporta para o
renascimento seguinte. Os dois últimos elos são chamados de efeitos
estabelecidos, pois são os efeitos correspondentes às causas
estabelecedoras. Essas três causas ativam um potencial específico de renascer e
dão origem ao décimo primeiro elo, o nascimento. O último elo, o envelhecimento
e a morte, ocorre como resultado de termos nascido no Samsara. Os dois últimos
elos englobam todos os sofrimentos do Samsara entre o nascimento e a morte. Se
contemplarmos os doze elos nessa sequência, da ignorância ao envelhecimento e
morte, compreenderemos o processo do renascimento cíclico e de seus
sofrimentos. Se contemplarmos os doze elos interdependentes na ordem inversa,
poderemos rastrear as causas do sofrimento. O último elo reúne dois sofrimentos
densos, envelhecimento e morte, mas traz implícito todos os outros sofrimentos.
A causa desses sofrimentos é o renascimento descontrolado, o décimo primeiro
elo. O nascimento resulta do décimo elo, a existência, que, por sua vez, é
causado pelo agarramento e pelo anseio, o nono e o oitavo elos. Essas duas
formas de apego resultam das sensações anteriores, o sétimo elo. As sensações
dependem do contato, o sexto elo. Esse, por sua vez, depende das seis fontes, o
quinto elo. Essas fontes se desenvolvem a partir do quarto elo, nome e forma,
constituído pelos cinco agregados presentes na hora do nascimento. A causa que
nos faz assumir tais agregados é uma marca transportada pela consciência. A
consciência Vijnana que recebe essa marca é o terceiro elo. Quem deixa
essa marca na consciência é uma ação de composição, o segundo elo Sanskara.
A força raiz motivadora das ações de composição é a ignorância, a mente que se
agarra a existência inerente. Dessa maneira, torna-se possível rastrearmos a
causa do sofrimento: a ignorância, o primeiro dos doze elos. Assim, ao
contemplar os doze elos em ordem inversa, compreendemos que o renascimento
cíclico é o motivo de nossos repetidos sofrimentos e que a ignorância é a causa
fundamental desse doloroso processo. Entender que a causa do sofrimento é o
renascimento cíclico, nos permite gerar a mente que deseja escapar de uma vez
por todas do Samsara. Essa mente denomina-se "mente do definitivo
emergir" ou renúncia. Entender que a causa raiz do renascimento cíclico é
a ignorância, nos faz compreender que afastar nossa ignorância é o método para
alcançar a libertação do Samsara. O antídoto direto à ignorância é a
sabedoria que realiza a vacuidade. Recorrendo a métodos corretos e investindo
esforço persistente poderemos desenvolver essa sabedoria. Se continuarmos,
então, a meditar sobre a vacuidade com a motivação de renúncia e bodhichitta,
nossa ignorância interdependente, o primeiro dos doze elos, irá diminuir
gradualmente e, por fim, cessar. A cessação completa da ignorância
interdependente é a extinção da ignorância. Ao atingi-la, nossas ações deixam
de ser controladas por delusões (enganos) e, portanto, obtemos a extinção
interdependente das ações de composição. Isso conduz à extinção interdependente
da consciência e assim por diante, até a extinção interdependente do elo
envelhecimento e morte. Desse modo, ao atingir a extinção da ignorância,
superamos o renascimento cíclico e interrompemos o continum do
sofrimento. A cessação desse continum é a libertação, ou o nirvana, o
estado além da dor. Existe, portanto, uma segunda série de doze elos, desde a
extinção da ignorância até a extinção do envelhecimento e morte. A primeira sequência
denomina-se doze elos interdependentes do lado da delusão (engano); a segunda
denomina-se doze elos interdependentes do lado perfeitamente purificado. A
primeira explica o desenvolvimento do renascimento cíclico e do sofrimento; a
outra explica sua cessação e a conquista da libertação. Os doze elos do lado
perfeitamente purificado são a mera cessação dos doze, elos do lado da delusão.
Por exemplo, a extinção interdependente da consciência não é a cessação da
consciência em geral, mas a completa cessação da consciência que recebe as
marcas das ações de composição. A extinção interdependente da sensação é a
cessação das sensações contaminadas por delusões (engano); depois de atingir a
libertação, continuamos a ter sensações, entretanto elas não são contaminadas e
não resultam em anseio e agarramento na hora da morte. Quando atingirmos a
libertação não seremos mais projetados em renascimentos controlados pelas
delusões, contudo, experienciaremos renascimentos incontaminados. O
renascimento incontaminado não tem a natureza do sofrimento e não causa
sofrimentos futuros. A maioria dos Destruidores de inimigos Hinayana obtém esse
tipo de renascimento numa Terra Pura e ali permanece, por longos períodos, em
estado de tranquila paz. Por outro lado, os elevados Bodhisattvas continuam a
renascer entre os seres no Samsara, a fim de poder beneficiá-los. Esse
tipo de renascimento não é contaminado, pois é causado por compaixão, não por
delusões (enganos). Se um elevado Bodhisattva renascer como ser humano, aos olhos
dos outros, ele, ou ela, parecerá um ser humano comum. No entanto, esse Bodhisattva
estará totalmente livre dos sofrimentos do Samsara e trabalhará com alegria
para beneficiar os outros. Ao contemplar os doze elos interdependentes do lado
perfeitamente purificado, nossa mente tornar-se-á mais elevada, pois nos
sentiremos capazes de superar, por completo, o sofrimento e suas causas.
Faremos isso ao abandonar totalmente a ignorância que se agarra à existência
inerente dos fenômenos. Embora o Sutra refira-se extensamente às instruções
sobre a natureza convencional dos doze elos interdependentes, seu ensinamento
principal é que nenhuma das sequências de doze elos aparece à excelsa percepção
do equilíbrio meditativo de um Ser Superior. Isso ocorre porque elas são
verdades convencionais. Ainda que a compreensão dos doze elos seja muito
importante, devemos entender que são fenômenos meramente imputados (atribuídos),
ou seja, carecem de existência inerente. Coração da Sabedoria. Geshe Kelsang
Gyatso. Fonte: Shunya. Grupo de Estudo e Prática Budista. Abraço. Davi.
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